Trigo e Loba Japonesa

Tradução: Virtual Core


Volume 3

Capítulo 5

Lawrence espirrou grandiosamente.

É claro, não fazia diferença quando ele viajava sozinho, mas ultimamente ele tinha uma certa companheira atrevida e irritante, então Lawrence sempre tomava cuidado ao espirrar. Agora, no entanto, parecia que ele tinha relaxado — por isso o espirro.

Ele freneticamente verificou para ver se a outra ocupante do cobertor ainda estava dormindo — só para perceber que o outro lado estava frio.

E então ele se lembrou de que estava sozinho, dormindo sobre os sacos de trigo próximos a tenda de Mark.

“...”

Ele tentou se preparar para isso, afinal, ele tinha escolhido dormir sozinho, mas ao acordar, ele ainda sentia uma enorme sensação de perda.

Lawrence estava acostumado com alguém ao seu lado quando acordava.

Ele rapidamente se tornou tão acostumado com isso que só agora se deu conta de seu valor.

Lawrence superou sua relutância em sair de seu cobertor quente e se levantou de repente.

O ar frio o atacou imediatamente.

O céu da manhã ainda estava escuro, mas o aprendiz de Mark já estava varrendo a área em frente à barraca.

“Oh, bom dia, senhor.”

“Bom dia,” disse Lawrence.

Não parecia que isto era algo feito para agradar um conhecido do seu mestre; sem dúvida era hábito do garoto acordar tão cedo, a fim de preparar a barraca para a abertura. Ele casualmente cumprimentou alguns outros rapazes que passavam.

Ele era um aprendiz admirável.

Mais qualquer que seja o treinamento que Mark tinha lhe dado, o menino simplesmente parecia uma excelente pessoa.

“Ah, isso me lembra —”

O menino se virou assim que Lawrence falou.

“Você ouviu de Mark que está acontecendo hoje?”

“Er, não... não estamos empurrando o vilão covarde para uma armadilha?” perguntou o aprendiz.

O menino abaixou a voz e falou de maneira tão exageradamente grave que Lawrence ficou surpreso por um momento. Com a disciplina de um verdadeiro mercador, ele conseguiu manter uma cara séria e assentiu. “Eu não posso te dizer todos os detalhes, mas é mais ou menos isso. Talvez eu tenha que pedir um grande favor para você no processo.”

O menino segurou a vassoura ao seu lado como uma espada e engoliu em seco.

Ver o menino fez Lawrence ter certeza de uma coisa.

Ele poderia muito bem ser o jovem aprendiz mais promissor de um vendedor de trigo, mas em seu coração ele ainda sonhava com a vida de um cavaleiro.

Afinal de contas, só se veem “vilões covardes” em contos de fadas.

Lawrence teve a sensação de estar olhando para sua juventude.

“Qual é o seu nome, rapaz?”

“Ah, er, é —”

Quando um mercador pedia outra pessoa pelo seu nome, era como um reconhecimento do estado da pessoa.

Provavelmente nunca tinham perguntado o nome do menino.

Apesar de seu alvoroço visível, ele realmente era um rapaz admirável, Lawrence sentiu.

O menino se levantou e respondeu. “Landt. Meu nome é Eu Landt.”

“Nascido em terras do norte, não é?”

“Sim, em uma aldeia congelada na neve e no gelo.”

Lawrence viu que a descrição de Landt não era apenas uma maneira fácil de transmitir a sensação de sua cidade natal, mas uma descrição literal de como deve ter parecido quando ele a viu pela última vez.

Era assim que as coisas eram no norte.

“Entendo. Bem, eu estou contando com você hoje, Landt.” Lawrence estendeu a mão direita, e Landt limpou sua própria mão em sua túnica antes de pegar a mão estendida de Lawrence.

A palma do menino era áspera e calejada, quem sabia que tipo de futuro ele poderia agarrar?

Lawrence sabia que ele ia conseguir.

Ele soltou a mão do menino.

“Pois bem, primeiro vamos encher nossas barrigas, hein? Existe algum lugar nas proximidades que ainda esteja vendendo comida?”

“Há uma barraca que vende pão seco para os viajantes. Devo ir comprar algum?”

“Sim,” Lawrence disse e colocou duas moedas de irehd manchadas que estavam tão escuras que pareciam quase de cobre.

“Er, uma moeda deve ser suficiente,” disse Landt.

“A outra é um adiantamento por sua ajuda hoje. Naturalmente, vou te pagar uma consideração adequada quando tudo acabar.”

O menino estava surpreso.

Sorrindo, Lawrence acrescentou “Se você demorar, Mark pode chegar. Sem dúvida, ele vai reclamar que café da manhã é uma luxúria, você não acha?”

Landt assentiu apressadamente e depois saiu correndo.

Lawrence viu sua silhueta desaparecer e então voltou seu olhar para os espaços entre as muitas barracas outro lado da rua.

“Ei você, não bajule meu aprendiz.”

“Você poderia ter me parado.”

A forma de Mark apareceu pelo espaço entre caixas. Sua expressão parecia irritada, e ele suspirou. “Começou a esfriar recentemente. Se ele fica doente porque eu não o deixei comer o suficiente seria mais um problema para mim.”

Ficou claro o suficiente que Mark tinha uma boa dose de carinho com Landt.

Mas fazer Landt comprar o café da manhã não era um simples ato de bondade; era uma parte importante do plano de Lawrence.

Os mercadores não eram santos. Quaisquer que fossem suas ações, eles sempre tinham segundas intenções.

“O tempo hoje estar bom,” disse Mark. “Bom para as vendas,” ele terminou com um aceno de cabeça.

Lawrence respirou fundo.

O ar revigorante da manhã fez ele se sentir bem.

Quando ele exalou, todos os pensamentos desnecessários em sua mente pareceram sair com a respiração.

Tudo o que ele tinha que pensar agora era fazer o seu plano ser um sucesso.

Uma vez que conseguisse, ele podia ficar pensando e duvidando desnecessariamente sobre tudo o que quisesse.

“Agora, é hora de encher o meu estômago,” disse Lawrence cordialmente quando avistou Landt voltando.

 

A própria atmosfera estava diferente.

Essa foi a primeira coisa que se abateu sobre Lawrence quando ele chegou ao mercado.

O que à primeira vista parecia estar tão tranquilo quanto a superfície de um lago cristalino, era só tocar para ver a agitação na superfície começar a ferver.

Desde o nascer do sol, um único lugar do mercado foi o foco de uma multidão excepcionalmente densa, e os olhares de cada pessoa estavam em torno de uma única barraca.

Era o único vendedor de pedra na cidade de Kumersun, e o único detalhe que a multidão se importava era a placa improvisada com os preços escritos nela.

Na placa de preços estavam escritas as descrições de peso e forma da pirita, e ao lado de cada linha de descrição tinha um cartaz de madeira com o preço e o número de pessoas na fila para comprá-lo.

Havia uma outra coluna na placa que listava os vendedores, mas parecia improvável que haveria uma chance para esses cartazes ficarem lá por muito tempo.

A placa tornava óbvia a oferta e a procura de pirita, e a demanda era elevada.

“Parece que o preço médio é.... oitocentos irehd.”

Isso era oitenta vezes o preço antigo.

Ele só poderia ser descrito como absurdo. Como um cavalo desgovernado sem alguém em cima dele, o preço continuava subindo e subindo.

Se mostrando com uma oportunidade de dinheiro fácil, a razão humana era como rédeas de lama — completamente incapaz de parar esse cavalo desgovernado.

Embora o sino do mercado não tocasse há algum tempo, parecia haver um acordo tácito para fazer ofertas mais cedo que o normal. Assim que Lawrence alcançou sua posição, ele avistou os mercadores ocasionalmente se aproximando do mestre para sussurrar algumas palavras. Uma vez que um certo número de negócios fosse fechado, o mestre calmamente substituía os cartazes de madeira relevantes.

O mestre não atualizou os preços e números de linha imediatamente, provavelmente para evitar que outras pessoas soubessem exatamente quem tinha comprado pirita e a que preço.

Mas em qualquer caso, o número de pessoas esperando para comprar continuava subindo.

Assim que Lawrence estimou o valor total a ser gasto, uma figura apareceu na borda de sua visão.

Ele olhou. Era Amati.

Lawrence viu Amati antes que ele o tivesse visto na noite anterior, mas o jovem mercador era perspicaz o suficiente para não deixar que as chances de lucro fugissem. Seu olhar era tão afiado como o de Lawrence, e ele logo viu seu rival.

Uma saudação amigável dificilmente teria sido adequada.

Mas já que Lawrence tinha acertado recolher o dinheiro que lhe era devido após o soar do sino que abria o mercado, ele dificilmente poderia ignorar Amati.

Enquanto que ele considerava isso, Amati revelou um sorriso e acenou ligeiramente com a cabeça.

Lawrence foi pego de surpresa por um momento, mas logo entendeu o motivo.

Ao lado de Amati estava Holo.

Por alguma razão estranha, ela não estava vestida como uma garota da cidade, em vez disso ela usava suas vestes de freira. Três penas brancas puras e vivas o suficiente para serem visíveis à distância estavam afixadas em seu capuz.

Ela olhou fixamente para os vendedores de pedra, sem olhar para Lawrence uma única vez.

O calor subiu em suas entranhas ao ver o sorriso de Amati.

Holo sussurrou algo no ouvido de Amati antes do jovem mercador fazer o seu caminho em direção Lawrence através dos mercadores que se reuniram. Lawrence fingiu total serenidade, como se a raiva que sentia não existisse.

Ele tinha certeza de que, desde que não tivesse que enganar Holo, sua farsa passaria em branco.

“Bom dia, Sr. Lawrence.”

“Pra você também.”

Lawrence teve que fazer algum esforço para manter sua face calma diante da saudação agradável de Amati.

“As coisas vão ficar muito agitadas por aqui uma vez que o sino tocar, então pensei que seria melhor entregar isto a você agora,” disse Amati, entregando um pequeno saco para Lawrence.

Em tamanho parecia mais uma bolsa de moedas do que qualquer outra coisa. “O que é isso?” perguntou Lawrence, esperando que Amati lhe desse o acordado em moedas de prata.

A bolsa era muito pequena para ter trezentas moedas de prata.

“Este é o dinheiro prometido,” disse Amati.

Sem outra escolha, Lawrence aceitou o saco desconfiado.

Quando ele o abriu e olhou para dentro, seus olhos se arregalaram.

“Poderia ter sido um pouco presunçoso da minha parte,” disse Amati “mas trezentas moedas de prata seria muito complicado, então tomei a liberdade de remeter em moedas limar de ouro.”

Apesar de ter sido difícil imaginar como ele conseguiu obtê-las, o saco estava realmente cheio de moedas de ouro.

A moeda limar de ouro não era tão valiosa quanto a lumione, mas era uma moeda de grande circulação dentro de Ploania, o país em que Kumersun estava situado. Ela valia cerca de vinte trenni.

Mas conseguir obter esse montante tão rápido — a taxa de serviço deve ter sido extremamente exorbitante.

A única razão para Amati fazer isso era para provar o quanto de moeda ele tinha em mãos — isso era um ataque psicológico.

Amati também tinha Holo ao seu lado, provavelmente, como outra forma de desviar a atenção de Lawrence.

Lawrence tinha, inadvertidamente, arregalado os olhos surpreso, por isso não poderia esconder sua perturbação.

“Eu usei a taxa de câmbio de hoje para preparar a quantidade. Quatorze moedas de limar de ouro”

“... Entendido. Eu aceito.”

“Você não gostaria de contar as moedas? Eu não me sentiria ofendido.”

Normalmente dizer “Não há necessidade,” como Lawrence fez, demonstrava confiança, mas agora só parecia que ele estava fingindo ser forte.

“Nesse caso, eu gostaria do contrato de trezentos trenni de prata.”

Lawrence só o fez depois de ser pedido.

Amati ainda estava um passo à frente dele.

Uma vez que o dinheiro e o contrato parcialmente cumprido foram trocados, Amati foi o primeiro a dizer, “Muito bem.”

Enquanto observava a forma de Amati recuando, uma ideia doentia após a outra passou pela cabeça de Lawrence.

Quando eles assinaram o contrato no dia anterior, Amati poderia ter alegado não ter dinheiro suficiente como desculpa para dar os cavalos em vez das moedas.

Sempre mantendo uma certa quantidade de dinheiro na mão era um traço compartilhado por todos os mercadores.

O que era pior, Amati tinha certamente procurado e comprado pirita assim como Lawrence.

Se Amati reunisse o suficiente, tudo o que seria necessário era um pequeno aumento no preço para ele ganhar.

Pensando sobre como Amati tinha se curvado tão graciosamente e se virado depois de aceitar o contrato, Lawrence não podia acreditar que tinha sido um blefe.

Quanta pirita o garoto tinha conseguido comprar?

Lawrence fingiu esfregar o nariz e em vez disso, mordeu seu dedo.

Seu plano original era observar cuidadosamente e, em seguida, começar a vender quantidades de pirita a partir do meio-dia para verificar o aumento do preço.

De repente, Lawrence se perguntou se não deveria se mover mais rapidamente.

Mas o mensageiro de Diana ainda não tinha chegado.

Até que ele soubesse se seria ou não capaz de obter a quantidade necessária, Lawrence não poderia agir.

Ele poderia comprar mais pirita com o ouro que Amati tinha pagado, mas se as negociações com Diana em seu nome fossem bem sucedidas e ele recebesse outras quatrocentas moedas de prata, também seria um problema.

Ele havia reservado dinheiro para pagar Diana, mas teria mineral demais.

É claro que ele estava comprando pirita para poder ser capaz de forçar uma queda no preço, e ele tinha tido o cuidado de comprar apenas o suficiente para ser capaz de controlar essa queda, a fim de evitar sua própria falência.

É certo que, se Lawrence estivesse disposto a ir à ruína para parar Amati por causa de Holo, ela poderia finalmente aceitar sua sinceridade.

É claro que a história não iria acabar tão facilmente — ele ainda precisava viver depois disso.

O peso da realidade que se abateu sobre ele era mais pesado do que as moedas de ouro em sua mão.

O preço na placa de pedra loja foi atualizado novamente.

Parecia que alguém tinha acabado de comprar uma grande quantidade de pirita; tanto os preços e os números das linhas saltaram drasticamente.

Qual o preço da pirita de Amati após este salto?

Lawrence se sentiu incapaz de simplesmente esperar e não fazer nada.

Mas perder a calma poderia levar à derrota.

Ele fechou os olhos, baixou a mão da qual estava roendo as unhas, e respirou fundo.

Ele só estava pensando tudo isso devido ao blefe de Amati.

Apesar de tudo, atrás de Amati estava Holo. Se Lawrence pudesse discernir as segundas intenções de todos, seria ótimo.

Só então, o som claro de um sino tocando varreu a praça.

Era o sinal para o mercado abrir.

A batalha havia começado.

 

A atmosfera carregada parecia induzir todos a ficarem escrupulosamente honestos e calmos.

Eles estavam esperando algum tempo na frente dos vendedores de pedra, mas só começaram a se mover uma vez que o sino tocou.

Um exame da multidão revelava viajantes e agricultores que vendiam furtivamente pequenas quantidades de pirita — mas a venda em pequena escala só servia para aquecer ainda mais o mercado.

Numa situação em que ninguém estava disposto a vender, as únicas pessoas com uma vantagem eram os que já tinham um grande estoque de pirita — era graças à venda em pequena escala, juntamente com os novos compradores que as pessoas se mantinham animadas e perto da frente da tenda.

Uma vez que cada pessoa achava que tinha a chance de lucrar, nenhuma iria embora.

Dado tal ambiente, seria necessário uma enorme quantidade de pirita, a fim de forçar o preço para baixo — nada mais o faria.

A placa de preço, que de vez em quando desaparecia atrás das cabeças das pessoas na multidão, era um termômetro para o mercado, e constantemente aumentava.

O mensageiro de Diana ainda não tinha chegado.

Se suas negociações falhassem, ele teria que agir rapidamente.

Os pensamentos o esgotavam, enquanto olhava para o quadro de preços, Amati de repente apareceu em seu campo de visão em frente à tenda.

O pânico tomou conta de Lawrence, ele queria correr para frente, segurando o saco de pirita que tinha no peito.

Mas se esse era o plano de Amati para confundi-lo, tal movimento poderia ser desastroso. Se Lawrence vendesse apenas uma quantidade medíocre, isso apenas para aumentaria a demanda de compradores assumindo que eles ainda seriam capazes de comprar pirita desde que esperassem um bom tempo, e se a fila crescesse ainda mais, o preço continuaria a subir.

Lawrence controlou a vontade de vender, rezando para que isto fosse um plano de Amati.

Então ele percebeu algo.

Holo tinha ido embora.

Lawrence olhou em volta e viu que em algum momento Holo havia saído da multidão de pessoas e estava olhando para ele.

Quando seus olhos se encontraram, ela estreitou os dela em desgosto, em seguida, se virou e começou a se afastar.

Ao ver isso, suor surgiu sobre as costas de Lawrence.

Isso tinha que ser uma armadilha que Holo estava insinuando.

Se ela tivesse ouvido sobre as circunstâncias da pirita de Amati, era perfeitamente possível que tivesse inventado uma armadilha para prender Lawrence. Alguém tão inteligente quanto Holo certamente notaria as coisas que Amati não notasse, mesmo se ele fosse quem explicasse a situação para ela.

E Holo se destacava em discernir o que estava no coração das pessoas.

Ela era incomparável em tais ocasiões.

Assim que ele pensou nisso, Lawrence foi agredido pela visão do atoleiro que o cercava.

Não importava por onde andasse, ele afundaria na lama; não importava quais movimentos observasse, eles seriam ilusões.

Lawrence suspeitava sombriamente que tudo isso era parte do plano de Holo.

O terror de ter uma loba astuta o cercando se aprofundava em seu corpo.

No entanto, Lawrence não podia abandonar a esperança de que Holo estava apenas fazendo isso por alguma teimosia perversa.

Os males das dúvidas e suposições penetravam sua mente.

Ele olhou fixamente para a placa de preço, embora esta não fosse sua intenção. Era simplesmente tudo o que ele podia fazer no momento.

O preço da pirita continuava a subir.

Felizmente, uma vez que o preço estivesse absurdamente inflado, a taxa de crescimento era muito lenta.

Ainda assim, se o preço continuasse a aumentar a este ritmo, ao meio-dia certamente chegaria nos 20 por cento necessários para Amati.

Para conhecimento de Lawrence, o estoque atual de pirita de Amati valia oitocentas moedas de prata, se o preço subisse mais vinte por cento, ele precisaria de apenas mais quarenta moedas de prata para alcançar as mil necessárias.

E se tudo o que ele precisar for quarenta moedas, Amati certamente seria capaz de consegui-las.

Ele poderia vender algo de sua fortuna e concluir o contrato no local.

 Se isso acontecesse, o esquema da margem de venda com que Lawrence contava, sem dúvida, teria pouco efeito.

Onde estava o mensageiro de Diana?

Lawrence murmurou para si mesmo, um pânico consumia seu estômago.

Mesmo que fosse começar a comprar pirita agora, o quanto ele seria capaz de recolher?

Não era como na noite anterior, onde o mercado já tinha fechado e ninguém sabia se o preço iria subir ou cair — não, agora era completamente óbvio que o preço estava subindo.

Qualquer um que tivesse pirita sabia que era como o dinheiro fácil — ninguém iria vender para ele em tais circunstâncias.

A ideia o atingiu — seu plano só poderia ter sucesso se tivesse a pirita de Diana, a este ritmo, ele poderia acabar levando um grande golpe de Amati por causa do contrato de margem de venda.

Lawrence coçou o olho e pensou muito. Ele havia planejado perseguir seu objetivo com frieza e lógica, mas ele estava começando a sentir como se tivesse sido forçado a completo um beco sem saída.

Não, ele disse a si mesmo.

Ele sabia qual era o problema.

Não era por causa do preço flutuante de pirita.

Por trás disso estava o fato de que ele agora olhava Holo com desespero ao invés de confiança.

Ela chegou com Amati no mercado — era possível que, em vez de se encontrarem pela manhã, eles tenham passado a noite juntos.

Holo pode ter convidado Amati para a estalagem depois de Lawrence ter arranjado o contrato de margem de venda com ele.

Dependendo das circunstâncias, ela poderia até ter mostrado suas orelhas e cauda e ter dito a verdade sobre sua existência.

Lawrence queria acreditar que tal coisa era impossível, mas ele lembrou que Holo havia revelado sua verdadeira natureza para ele no mesmo dia em que a conheceu. Era o auge da loucura acreditar que ela tinha marcado somente ele como alguém de mente aberta.

Amati estava claramente e loucamente apaixonado por Holo; sem dúvida, ela pode avaliar alguém tão rapidamente quanto ela tinha avaliado Lawrence.

E se Amati tinha aceitado ela?

Ele se lembrou do sorriso do jovem mercador apenas alguns momentos atrás.

Holo temia ficar sozinha.

E Lawrence não tinha certeza de que ela queria estar com ele e só com ele.

A percepção de que ele não deveria estar pensando desta forma o atingiu, e suas pernas quase entraram em colapso sob seu comando com o choque do mesmo.

Foi por pura sorte que ele não caiu.

De repente, um murmúrio percorreu a multidão, trazendo Lawrence volta a si mesmo.

Ele se virou para olhar para os oohs! que surgiram, só para ver que o preço da pirita mais cara pular significativamente.

Alguém tinha colocado em um grande lance.

Sua aceitação significava que os outros em breve seguiriam o exemplo.

Poderia já ser impossível impedir Amati de cumprir o contrato.

O fato de que ainda não havia nenhum sinal de Diana sugeria que a outra parte poderia estar sendo teimosa; se o preço da pirita continuasse a subir, isso só a tornaria mais relutantes em vender.

Cada vez mais parecia que Lawrence deveria abandonar essa esperança e agir agora.

As armas que ele tinha em mão eram quatrocentas moedas de prata no valor de pirita, juntamente com o boato que Landt iria espalhar.

Era um arsenal tão patético que Lawrence queria rir. Ele agora duvidava seriamente da ideia da qual tinha tanta fé no dia anterior, que um mero rumor poderia fazer qualquer dano. Ainda ontem tinha sido sua arma secreta, o produto de seus anos de experiência.

Tornava-se cada vez mais claro para ele o quão bêbado ele deveria estar.

Ele percebeu que já estava tentando pensar em um plano de contingência.

Se não fizesse nada, ele ainda receberia mil moedas de prata de Amati, que iria deixá-lo no lucro, mesmo depois de subtrair as perdas decorrentes da venda de margem.

Lawrence ficou revoltado ao perceber o quanto isso o fazia se sentir bem.

...Se você pudesse receber mil moedas de prata por mim, não se arrependeria de me deixar ir — a acusação de Holo o atingiu.

Lawrence se lembrou da carta de Diana, que estava escondida perto do seu peito.

Era a informação que o ajudaria a encontrar a casa de Holo, Yoitsu. Talvez ele já não tivesse o direito de manter esta carta.

Eu sou apenas um mísero mercador. Lawrence pensou consigo mesmo enquanto olhava ao redor buscando por Holo.

Os eventos que aconteceram na cidade portuária de Pazzio e a cidade santa de Ruvinheigen tinham sido apenas um sonho.

Assim que o pensamento lhe ocorreu, ele percebeu que parecia ter sido exatamente isso.

Lawrence sorriu fracamente enquanto olhava para a multidão com veemência, mas Holo agora estava aqui para ser encontrada, então, se mudou para outro lugar.

Algum tempo havia se passado desde a abertura do mercado, mas o festival do dia ainda não tinha começado, por isso mais e mais pessoas pareciam chegar no local onde estava.

Holo permaneceu evasiva.

Amaldiçoando sua incapacidade de encontrá-la agora — justo agora! — ele percebeu algo.

Depois encontrar seu olhar no meio da multidão, Holo se afastou.

Será que ela simplesmente foi embora?

Se sim, para onde ela tinha ido? Teria ela decidido que seu fracasso era óbvio, Lawrence se perguntou, e voltou para a estalagem?

Faria sentido.

A ideia era tão humilhante que Lawrence se sentiu quebrado apenas pensando nisto — e mesmo assim ela acreditou na ideia.

Ele queria um pouco de vinho.

Imediatamente após esse pensamento lhe ocorrer, ele soltou um pequeno som em dúvida. “Huh?”

Ele começou a buscar em uma área relativamente pequena, de modo que seus olhos não podiam deixar de eventualmente notar o detalhe.

Amati entrou em seu campo de visão, o que fez Lawrence fazer um barulho de confusão e surpresa.

A mão direita de Amati estava pressionada contra seu peito, provavelmente segurando um saco de moedas e pirita.

O problema não era no que ele estava fazendo, mas sim a expressão de preocupação no rosto dele e a maneira que ele olhava aqui e ali, procurando por algo — assim como Lawrence.

Lawrence suspeitou que Amati estivesse fingindo.

Mas, então, por algum milagre, a multidão entre eles diminuiu, e Amati notou Lawrence. Ele ficou surpreso ao ver seu rival claramente.

E, em seguida, Lawrence vislumbrou uma expressão de alívio no rosto de Amati. Apesar de a multidão ter se fechado rapidamente em volta deles e bloqueado a visão de Lawrence novamente, não havia dúvida de que ele tinha visto.

Um único pensamento dominou Lawrence.

Amati — assim como ele — estava à procura de Holo. Não só isso, Amati estava aliviado ao ver que Holo não estava com Lawrence.

Lawrence sentiu um baque, como se o ombro de alguém esbarrasse nele por trás.

Ele se virou para ver um companheiro de aparência mercantil falando animadamente com outro.

Isso é estranho, ele disse a si mesmo, quando sentiu o mesmo baque no peito.

Então ele percebeu.

Era o seu coração batendo.

Amati estava procurando Holo freneticamente e estava obviamente muito preocupado dela estar Lawrence.

O jovem mercador não confiava nela inteiramente.

Que por sua vez sugeria que havia uma razão para a sua dúvida.

Mas o que era?

“Não pode ser —,” Lawrence disse.

Se Amati estava procurando por ela, isso significava que ela não tinha dito a ele para onde estava indo.

E se isso era suficiente para causar estresse em Amati, era muito improvável que ela tinha revelado suas orelhas e cauda para ele.

Era o suficiente para fazer Lawrence querer abandonar suas conclusões sombrias, que o dominavam apenas há alguns instantes atrás, e se voltar para suposições mais brilhantes.

No entanto, ele não tinha confiança em sua capacidade de dizer se isso era ou não uma ilusão.

Era vergonhoso o suficiente para deixá-lo enjoado.

De repente, houve outro grito da multidão.

Lawrence olhou rapidamente na direção da barraca do vendedor de pedras e viu que em algum lugar ao longo da linha, o cartaz para o maior valor de pirita havia sido removido.

O que significava que ele tinha vendido a esse preço.

E isso não era o motivo dos gritos.

As placas que marcavam os maiores valores para os vários tipos de pirita foram todos retirados, e houve uma queda no número da placa de compradores na fila.

Alguém tinha vendido uma quantidade considerável.

Lawrence lutou contra a náusea que surgiu e olhou em volta freneticamente, tentando encontrar Amati.

Ele não estava na frente da tenda.

Ele não estava nem perto dela.

Quando Lawrence finalmente o viu, Amati estava no meio da multidão.

Ele estava observando a tenda com uma expressão de choque.

Portanto, não havia sido Amati, quem tinha feito a grande venda.

Lawrence sentiu um momento de alívio fugaz antes de mais cartazes para espera de mais compradores aparecessem, juntamente com uma nova rodada de gritos da multidão.

Quase todo mundo aqui tinha pelo menos, uma pequena quantidade de pirita; eles estavam esperando apenas o momento certo para comprar ou vender. O mercado estava começando a flutuar, o que era mais um fator a ser considerado.

Essencialmente, agora era o momento certo para vender.

Lawrence estava à beira da desistência — o pensamento de que ele ainda poderia fazer alguma coisa, com o seu plano de vender cuidadosamente uma grande quantidade, o empurrava na direção oposta.

Mas ele logo repensou, como uma espécie de lebre covarde.

Lawrence não tinha ideia do que Holo estava pensando ou para onde ela tinha ido. Os corações das pessoas não eram tão facilmente compreendidos. Pensar de outra forma convidava a ruína.

E mesmo assim — Lawrence não podia deixar de pensar.

Expectativa, suspeita, suposições e a realidade eram quatro ganchos que rasgavam os pensamentos de Lawrence.

O que Holo, a Sábia Loba, diria em um momento como este?

Pateticamente, Lawrence não podia deixar de perguntar.

Ele sentiu que poderia tomar uma decisão baseado em sua observação mais casual.

Ele confiava nela.

Só então —

“Hum, com licença —”

Lawrence sentiu um puxão em sua manga quando as palavras chegaram aos seus ouvidos.

Ele girou como se tivesse sido atingido, esperando ver uma certa garota atrevida atrás dele.

Mas era um menino — Landt, para ser mais exato.

“Um, Sr. Lawrence, posso ter um momento?”

Lawrence se virou com tanta velocidade que Landt foi pego de surpresa por um momento, mas a expressão do menino deixou claro que o assunto era urgente.

A ansiedade tomou conta de Lawrence enquanto olhava ao redor; em seguida, se ajoelhou para trazer seu rosto mais perto do Landt e acenou com a cabeça.

“Um cliente veio a nossa loja e deseja pagar o trigo com pirita.”

Lawrence compreendeu imediatamente. Mark estava disposto a aceitar a oferta e em seguida, vender aquela pirita para Lawrence, assumindo que Lawrence poderia pagar em dinheiro.

“Quanto?”

Se Mark mandou o menino até aqui, tinha que ser uma quantia considerável.

Lawrence engoliu em seco e esperou pela resposta.

“Duzentos e cinquenta moedas de prata,” disse Landt.

Lawrence cerrou os dentes para evitar gritar por esse momento inesperado.

A loba deusa da colheita podia ter abandonado ele, mas a deusa da fortuna ainda estava do seu lado.

Lawrence imediatamente empurrou o pequeno saquinho que tinha obtido de Amati para mãos de Landt. “Vá, tão rápido quanto puder.”

Landt assentiu, e depois correu como se enviasse uma mensagem vital.

Enquanto isso, o mercado continuava a flutuar.

Talvez indicando que o preço havia chegado ao limite, o número de compradores nos cartazes de fila mudou surpreendentemente rápido.

Ficou claro que os compradores e vendedores estavam começando a ficar completamente um contra o outro.

Com o preço alto, alguns começam a vender e os que necessitavam que o preço fosse mais alto iriam comprar.

Ocasionalmente Lawrence avistaria Amati do outro lado da multidão; ele não tinha nenhuma dúvida de que Amati estava olhando para ele.

O fato de que Amati manteve um olhar atento, tanto no vendedor de pedra quanto em Lawrence, sugeria que ele ainda não tinha levantado as mil moedas que ele precisava.

Não, não é isso — Lawrence se corrigiu.

Ele já poderia ter levantado o dinheiro, mas estava preocupado que, se ele vendesse a pirita que tinha na mão, a negociação poderia dar errado e fazer com que o preço caísse antes que ele pudesse vender todo o seu estoque.

E porque Amati fazia parte do contrato de margem de venda de Lawrence, uma queda no preço iria acertá-lo com uma enorme perda.

Havia um outro fato importante.

As quinhentas moedas de prata no valor de pirita que Amati ainda possuía só existiam na forma de um contrato.

Ele poderia ser comprado ou vendido sim, mas a pirita física do contrato representado não poderia ser recolhida até aquela noite.

O mercado começou a flutuar em vez de simplesmente aumentar, e a possibilidade de uma queda era agora muito mais real. Se Amati fosse vender o certificado, o que aconteceria?

As transações de margem envolviam um intervalo de tempo entre a troca de dinheiro e os bens.

Em um ambiente onde a queda no preço era antecipada, um certificado de margem de venda — que prometia futuros bens em troca de dinheiro imediato — era um coringa, uma carta inútil com uma bruxa sorridente nela.

Uma vez que o valor de mercado de um produto realmente caía, quem segurava esse coringa estaria arruinado.

O veneno de agir lentamente na margem de venda de Lawrence estava começando a fazer efeito.

Amati ainda estava olhando de um lado para o outro, desesperado.

Ele estava obviamente procurando Holo.

Holo provavelmente tinha adivinhado o que Lawrence estava planejando e disse para Amati a armadilha.

Os ventos pareciam prestes a mudar; ataque e defesa se inverteram.

Se Lawrence não atacasse, ele estaria deixando a oportunidade de um milênio passar.

As pessoas estavam quase atacando os vendedores de pedra, e os cartazes de preços eram trocados um após o outro.

Lawrence segurou firmemente à pirita no bolso, esperando desesperadamente o retorno de Landt.

Não demorava muito tempo para ir até tenda de Mark e voltar.

Só então —

Uma voz ecoou pela multidão. “Uma compra!”

Alguém foi incapaz de conter sua excitação.

Neste momento, como se o mercado fosse um barco sacudido por uma onda que de repente recuperou a sua estabilidade, o clima mudou novamente.

Alguém havia comprado uma grande quantidade de pirita. Isto sugeria que o preço iria continuar a subir.

Animada com a expectativa, a multidão parecia se acalmar.

Landt ainda não tinha voltado.

Quanto mais o tempo passava, mais o mercado parecia se acalmar.

Mas o número de possíveis compradores estava caindo — Lawrence poderia aproveitar esta oportunidade para vender uma quantidade de pirita e acabar com essa estabilidade.

Se fizesse isso, ele pode ser capaz de limpar a linha de compra, mesmo que apenas por um breve período de tempo.

Fazer isso neste momento preciso, certamente teria um efeito profundo.

Lawrence fez o seu movimento.

Ele deslizou por entre a multidão, puxando o saco de pirita do bolso do peito antes de chegar ao estande dos vendedores de pedra.

“Estou aqui para vender!”

Enquanto todo mundo observava, Lawrence jogou o saco de pirita na frente do vendedor pedra.

O vendedor de pedra e seus aprendizes ficaram atordoados por um momento, mas logo retornaram aos seus sentidos e retomaram os negócios.

Lawrence tinha jogado uma pedra em um lago calmo; agora vinha o efeito de ondulação.

A medição foi feita rapidamente, de onde os aprendizes que seguravam cartazes da fila de pirita e as levaram para os vários compradores que tinham encomendado.

Lawrence recebeu seu pagamento imediatamente.

Sem se preocupar em contar, ele agarrou o saco de moedas com força e olhou para trás em direção ao público.

Ele teve um vislumbre do rosto ferido de Amati.

Lawrence não sentia nem dó nem piedade.

Sua única preocupação era o seu objetivo.

Ele havia vendido toda a pirita ele tinha em mãos. Quaisquer novos ataques teriam que esperar até que ele tivesse mais.

Onde estava Landt? Onde estava o mensageiro de Diana?

Se ele tivesse pirita no valor de quatrocentas moedas de prata que ele estava esperando de Diana, não havia dúvidas de que seria capaz de revirar o mercado de cabeça para baixo.

Ele estava na encruzilhada do destino.

E então ele ouviu uma voz.

“Sr. Lawrence.”

Era Landt, sua testa estava brilhando por causa do suor por ter corrido até Lawrence e o ofereceu outro saco.

Era pirita no valor de 250 moedas de prata.

Lawrence estava dividido entre voltar imediatamente para os vendedores de pedra e vender a pirita que ele tinha em mãos agora ou esperar pelo mensageiro de Diana para que ele pudesse ter certeza.

Ele se amaldiçoou.

Ele ainda não havia desistido de Diana?

As negociações se arrastaram por tempo demais. Havia um limite para o quão otimista Lawrence podia se dar ao luxo de ser.

Ele teve que se arriscar.

Lawrence se virou e preparou para se aventurar novamente.

Então houve um grito alto que o congelou em seu caminho.

“Ooooh!”

A multidão bloqueou sua vista; ele não podia ver o que estava acontecendo.

Mas no instante em que o ânimo aumentou, a intuição de Lawrence quase o obrigou a gritar e correr — ela lhe dizia que o pior tinha acontecido.

Ele abriu caminho através da multidão até um lugar onde pudesse ver a placa de preço.

Era admirável o fato de que ele não tenha caído de joelhos no local.

O preço mais alto na placa tinha sido renovado.

A demanda tinha empurrado o preço para cima.

Parecia que alguns dos compradores no mercado decidiram que a perturbação de um momento atrás era uma flutuação temporária, e tinham colocado uma onda de ordens de compra.

A fila de placas de compra foi colocada de volta na mesa.

Lawrence suprimiu a vontade de vomitar. A decisão de se deve ou não vender a pirita novamente pressionava ele.

Havia ainda uma pequena chance de sucesso se ele tomasse uma ação rápida.

Não — a decisão certa seria esperar pelo mensageiro de Diana.

A quantidade de pirita que ele estava negociando com ela eram quatrocentas moedas de prata, então — já poderia estar valendo quinhentas agora.

Se Lawrence pudesse acrescentar o que ele já tinha, seria o suficiente para outra grande venda maciça.

Enquanto Lawrence estava colocando todas as suas esperanças em uma pequena chance, ele viu Amati, aparentando estar muito mais à vontade, caminhando para fora da tenda.

O jovem mercador estava planejando vender.

Não estava claro se ele estava ou não vendendo tudo o que tinha.

Lawrence não tinha como saber o plano do rapaz de trocar apenas uma fração de sua pirita por moeda. Amati provavelmente havia percebido a natureza do plano de ação lento de Lawrence, então ele iria vender o certificado primeiro.

Por que o mensageiro de Diana ainda não veio? Lawrence se perguntava se ele finalmente tinha sido abandonado pelos deuses.

Em sua mente, ele gritava.

“Com licença, você é o Sr. Lawrence?”

Em seu desespero, Lawrence achava que tinha ouvido errado.

“Sr. Lawrence, eu suponho?”

Uma pequena figura estava ao lado de Lawrence, o rosto dele — ou possivelmente o rosto dela, pois era impossível dizer o sexo da pessoa — estava escondido atrás de um véu que cobria tudo menos os olhos.

Claramente não era Landt.

O que significava que era a pessoa Lawrence estava esperando.

“Eu tenho uma mensagem da senhorita Diana.”

Os pálidos olhos verdes do mensageiro tinham uma tranquilidade completamente diferente da comoção do turbilhão que os rodeava.

Havia uma aura misteriosa sobre o mensageiro; Lawrence não podia deixar de sentir que essa pessoa realmente era um mensageiro dos deuses.

E se for isso mesmo — talvez um milagre estivesse prestes a acontecer.

“Ela gostaria dizer que as negociações falharam.”

Um momento se passou.

“O quê?”

“A outra parte não estava disposta a vender. A senhorita Diana pede desculpas por não ser capaz corresponder às suas expectativas,” disse o mensageiro com uma voz clara, como se estivesse anunciando a morte de alguém.

Era assim — então era assim que seria? Lawrence ponderou.

O verdadeiro desespero não vinha da desesperança.

Não, quando sua última esperança era esmagada no último momento — isso era desespero.

Lawrence não podia responder.

O mensageiro parecia entender e se virou silenciosamente.

De alguma forma, a imagem do mensageiro recuando para a multidão se confundiu na mente de Lawrence com a memória de Holo, de quando ela tinha se afastado dele nos túneis sob Pazzio.

Lawrence se sentiu como um cavaleiro de armadura antiga e enferrujada enquanto olhava para o quadro de preços novamente.

A linha de compra tinha voltado ao normal, e o preço continuava a subir.

Era possível acompanhar as mudanças do mercado, mas somente os deuses podiam controlá-las.

Lawrence se lembrou das palavras de um mercador famoso.

Com apenas um pouco mais de sorte — só um pouco mais — um mercador poderia ser um deus.

Depois de ter trocado certa quantidade de sua pirita por moeda, Amati caminhou para fora da tenda e voltou para parte externa.

Lawrence esperava que o jovem mercador o encarasse de forma arrogante, com um sorriso triunfante, mas Amati não fez mais do que lançar um rápido olhar para Lawrence.

Deve haver outro alguém chamando sua atenção.

Holo havia voltado para o lado de Amati.

“Sr. Lawrence...?”

Agora era Landt que falava com Lawrence; Holo estava falando com Amati e não olhava para nenhum outro lugar.

“Oh, er, desculpe... você... você ficou correndo pela cidade toda por mim. Obrigado.”

“Ah, não, de jeito nenhum.”

“Você poderia enviar uma mensagem minha para Mark? Diga ele que o meu plano falhou,” disse Lawrence, surpreso com o quão fácil era dizer isso.

No entanto, apesar do “fracasso,” do ponto de vista de um mercador era um resultado muito bom.

Lawrence ainda tinha alguma pirita em mãos. Tudo o que ele precisava fazer era comprar um pouco mais para ter o que precisava para entregar para Amati à noite e, em seguida, subtrair o custo do dinheiro que ele tinha feito com a venda do lote anterior de pirita — a quantidade restante muito provavelmente seria positiva.

Além disso, ele estaria recebendo mil moedas de prata de Amati, o que não poderia ser chamado de nada além de um enorme golpe de sorte.

Tal lucro seria o suficiente para fazer qualquer mercador feliz, mas Lawrence sentia apenas um grande vazio.

Landt ficou momentaneamente perdido enquanto ele olhava em volta, mas apenas quando Lawrence estava prestes a entregar sua compensação, os olhos do menino foram preenchidos com uma vontade de ferro.

“Sr. Lawrence.”

A expressão de Landt foi suficiente para parar a mão de Lawrence, que segurava algumas moedas de prata.

“Você — você está desistindo?”

Lawrence se lembrou de seus dias como um aprendiz — qualquer hora que quisesse fazer um comentário, ele tinha que estar pronto para uma surra.

Landt, igualmente estava preparado para ser atingido. Seu olho esquerdo se contorceu como se esperasse que um punho viesse em sua direção a qualquer momento.

“Meu mestre sempre me disse que os mercadores nunca desistem.”

Lawrence tirou a mão da bolsa e o ombro de Landt se contraiu como resposta.

Mas o menino não desviou o olhar.

Ele estava totalmente sério.

“Meu mestre sempre diz que — que a deusa da riqueza não vem para aqueles que rezam. Os teimosos que nunca desistem são os que ela abençoa.”

Lawrence não discordou.

Mas o que ele buscava não era riqueza.

“Sr. Lawrence.” O olhar de Landt o perfurou.

Lawrence olhou para Holo por um momento antes de olhar de volta para Landt.

“Eu...” Landt começou. “Eu gostei da H-Holo desde a primeira vez que a vi. Mas meu mestre me disse —” disse o aprendiz fiel. Ele concluía todas as tarefas que lhe eram dadas sem questionar, mas agora Landt era completamente um jovem garoto. “Ele disse que se eu falasse isso na sua frente, você me daria uma surra.”

Landt estava à beira das lágrimas quando Lawrence levantou a mão para o alto.

“—!” Landt suspirou e se encolheu.

Mas com o punho, Lawrence só bateu o rapaz levemente em sua bochecha, sorrindo. “Sim, suponho que eu deveria te dar uma surra. Uma bela surra,” ele disse com uma risada — apesar de querer chorar.

Landt parecia ser cerca de dez anos mais jovem do que Lawrence.

No entanto, do jeito que as coisas estavam, ele não se sentia diferente do menino.

Droga, ele amaldiçoou.

Parecia que diante Holo, qualquer homem se transformaria em um rapaz com o nariz escorrendo.

Lawrence balançou a cabeça.

Os teimosos que nunca desistem, hein?

Era uma frase engraçada, e ele suspirou com o quão sedutor ela era, olhando para o céu.

As palavras de um menino, que era 10 anos mais novo que ele, haviam apagado de sua mente o turbilhão de suposições e dúvidas.

Landt estava certo.

Ele tinha chegado tão longe, e o lucro que permanecia em suas mãos era apenas uma prova de sua verdadeira perda — ele poderia gastá-lo sem pesar.

Não havia nenhuma razão para não repensar tudo uma última vez antes de agir.

As coisas de valor nem sempre vêm com esforço árduo.

Mark o tinha feito perceber isso faz pouco tempo.

Lawrence abriu a porta de sua enorme memória, retirando os materiais de que precisava para construir uma nova abordagem.

O pilar de seu novo plano era algo que ele tinha esquecido até há pouco.

“Os que simplesmente não podem desistir — eles são os mesmos que simplesmente não conseguem deixar de ser inacreditavelmente otimistas,” disse Lawrence.

A expressão feliz de Landt era ainda mais atraente do que o comportamento normal do menino, que geralmente tendia a ser bastante agradável.

Não havia dúvida de que Mark considerava o rapaz como se fosse seu próprio filho.

“Um mercador faz planos, prevê o resultado, e sempre mantém os resultados realistas. Entendeu?”

Landt assentiu educadamente para o que parecia ser uma declaração sem conexão como resto.

“Se vender algo faz com que algo mude então, outro item vai provocar outra mudança. Tais hipóteses são igualmente importantes, entende.”

Landt assentiu novamente. Lawrence se ajoelhou para que ele ficasse perto do rosto do rapaz e falou.

“Mas se eu sou honesto, essas hipóteses podem ser qualquer coisa que você desejar que elas sejam. Se pensar demais, você vai ficar perdido, vendo o perigo e o risco em cada negócio que você faz. Para evitar isso, é preciso de algo que possa te guiar — algo em que acreditar, é a única coisa que todos os mercadores precisam.”

O jovem Landt parecia como um verdadeiro mercador quando ele assentiu. “Eu entendo,” ele falou.

“Se você pode acreditar nisso, então não importa o quão absurda seja essa ideia que te guia...”

Lawrence olhou para cima, fechando os olhos.

“...Você pode confiar nela.”

Mesmo assim, uma voz na cabeça de Lawrence dizia que era impossível.

E mesmo assim, quando ele olhou para Holo, ele estava quase convencido.

Havia uma chance — uma pequena chance — que a escolha de vestimenta de Holo dissesse algo.

Apesar da ideia absurda, se ele fosse colocá-la à prova, ela poderia muito bem vir a ser verdade.

Mas essa ideia precisava de uma condição que tinha que ser cumprida.

Era o que Lawrence tinha esquecido mais cedo — ou seja, a possibilidade de que Holo de fato não o tinha abandonado.

Considerar isso agora era algo típico de um mercador teimosamente otimista, que nunca desiste.

Nesta fase do jogo, parecia muito melhor pensar nisso do que continuar tentando parar Amati — era o suficiente para fazer Lawrence achar que ele estava em algum tipo de sonho fantástico.

Ele não tinha ideia do que Landt tinha ouvido de Mark que fez o menino estar tão disposto a ajudá-lo.

De qualquer forma, ficou claro que Landt disse a verdade quando ele falou que gostava de Holo.

Era impressionante que ele tinha sido capaz de admitir isso na frente de Lawrence. Trocando suas posições, Lawrence não tinha certeza de que conseguiria ter feito o mesmo.

Diante de tal exposição de coragem, isso era o mínimo que Lawrence poderia fazer para viver de acordo com essa ideia de mercador destemidamente otimista.

Lawrence deu um tapinha no ombro de Landt, respirou fundo e falou. “Depois que eu vender minhas pedras no estande, comece a espalhar o boato que eu pedi para você.”

O rosto de Landt se iluminou. Ele acenou com a cabeça, ele era mais uma vez o aprendiz bem treinado.

“Bom garoto.”

Lawrence estava prestes a se virar, mas parou de repente.

Os olhos de Landt estavam cheios de perguntas, mas Lawrence foi quem perguntou, “Você acredita em deuses?”

O menino ficou obviamente mudo.

Lawrence riu e repetiu. “É um bom rapaz,” ele disse antes de ir embora.

Ele tinha pirita no valor de 250 moedas de prata na mão. Os marcadores da fila de compra revelavam que já havia demanda da ordem de quatrocentas moedas de prata em pirita — mesmo que Lawrence vendesse tudo o que tinha de pirita na mão, isso não teria efeito real.

Mas não — isso teria um efeito. Se a sua nova hipótese estivesse correta, ele tinha que vender. Ele olhou de volta para Holo só por um momento; ela ainda estava de pé do lado de Amati.

Apenas um segundo seria suficiente — se Holo apenas olhasse em sua direção por um segundo já seria o suficiente.

E então —

Lawrence ficou na frente da tenda do vendedor de pedra. O fluxo de ordens tinha abrandado; o lojista, tendo finalmente recuperado a calma, olhou para Lawrence com uma cara que dizia “Pois não?” Ele então sorriu com uma expressão que parecia adicionar, “Você está fazendo bastante bem hoje.”

Apesar de nenhuma palavra ter sido trocada, Lawrence assentiu. Ele estava prestes a fazer muito mais.

Ele empurrou o saco de pirita que tinha recebido de Landt em direção ao vendedor de pedra e falou. “Eu estou vendendo.”

O lojista recebia uma taxa por cada transação, portanto ele sorriu e acenou cordialmente, mas logo depois ele parecia estranhamente atordoado.

Lawrence fechou os olhos e sorriu.

Ele tinha razão.

“Mestre, eu também irei vender.”

A voz realmente fez Lawrence se sentir nostálgico.

Com um baque forte, um saco de pirita com pelo menos duas vezes o tamanho do de Lawrence bateu no balcão.

Lawrence olhou para o lado e lá estava Holo, parecendo pronta para arrancar sua cabeça fora.

“Seu tolo,” ela falou.

A única resposta de Lawrence para a acusação dela foi um sorriso e um sincero “Sinto muito.”

O lojista ficou parado, espantado por um tempo, e então ele rapidamente ordenou para seus aprendizes removerem todas as placas da fila de compra da placa de preço.

Os dois sacos juntos valiam a pelo menos 650 moedas de prata.

A quantidade que Holo tinha era avaliada antes da colisão no preço, por isso provavelmente valeria mais do que isso. A parte misteriosa que havia comprado pirita de Diana era, naturalmente, Holo.

Simplificando, quase mil moedas de prata no valor de pirita haviam sido vendidas de uma só vez.

Não havia espaço para a demanda empurrar os preços para cima diante disso.

Lawrence puxou uma das penas brancas afixadas no capuz de Holo. “Ela possui uma beleza adulta, ao contrário de alguém que eu conheço,” disse.

Holo socou o lado de Lawrence com seu punho.

Mas sua mão permaneceu lá.

Isso era o suficiente, Lawrence pensou.

Embora uma multidão enlouquecida se empurrasse atrás deles, Lawrence não soltaria a mão de Holo.

Ele queria se amostrar para Amati.

Lawrence sorriu consigo mesmo por ser tão infantil.



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