Volume 3
Capítulo 4
Lawrence se dirigiu para a cidade apenas para descobrir que não havia lugar para ele lá.
O festival, que começou ao pôr do sol era exatamente o oposto do dia e faltava toda a parte da diversão.
Cada boneco de palha ou madeira agora estava armado, para não falar de todos os foliões fantasiados. Os bonecos maiores, que não tinha armas, eram usados como armas enquanto a luta se propagava.
Os bonecos de palha colidiam em meio a gritos de raiva, a multidão gritando toda vez que pedaços voavam. Ao redor deles, instrumentos tocavam músicas estridentes para não serem abafados pelo clamor da luta. As pessoas de vestes negras cantavam um hino de guerra sinistro.
Lawrence evitou a multidão e se dirigiu para o norte. O terrível estrondo cresceu cada vez mais em sua cabeça de forma insuportável.
Não importava quanto tempo andasse pela longa avenida, o barulho do festival parecia não ter fim. Isso corroía seus nervos, como feitiço de uma bruxa, fazendo com que a sua conversa com Holo ecoasse em sua mente. Ele podia vê-la diante dele. Ele queria gritar com sua própria inutilidade, mas conseguiu se conter.
Se tivesse energia suficiente para gritar, Lawrence pensou, ele poderia tentar melhorar essa situação.
No entanto, avaliando de forma racional, ele não conseguia encontrar tais possibilidades.
Dado o estado em que Holo estava, Lawrence viu que era perfeitamente possível que ela aceitasse a proposta de Amati.
Amati provavelmente foi o primeiro mercador a se aproveitar da pirita, por isso era seguro assumir que ele já tinha conseguido uma boa quantidade de dinheiro.
No pior dos casos, Amati poderia nem precisar esperar até o anoitecer de amanhã para trazer o dinheiro e declarar o contrato cumprido.
Lawrence sabia que ele não estava apenas sendo pessimista.
“...”
A ansiedade revirou seu estômago e um gemido escapou de seus lábios.
Ele olhou para o céu escuro e cobriu os olhos.
Se ele não conseguia parar os lucros de Amati, ele poderia pelo menos voltar para a estalagem e tentar fazer as pazes com Holo.
Mas Lawrence tinha toda a certeza que a conciliação com Holo seria ainda mais difícil do que parar Amati.
O que eu sou para você? A pergunta de Holo o tinha deixado em reflexão.
Mesmo agora, depois de ter tido um pouco de tempo para analisar a questão, ele não conseguia responder.
Queria que ela continuasse a viajar com ele — isso ele sabia — e não suportava nem pensar sobre ela ser a noiva de Amati.
No entanto, após imaginar a cena, seu rosto se contorcia com terrível ideia.
Ele sabia que Holo era preciosa para ele, mas preciosa de que maneira? Ele se perguntava. Não era algo que pudesse articular claramente.
A sua mandíbula estava cerrada, Lawrence esfregou o rosto para tentar relaxá-la.
Como isso pode ter acontecido?
A diversão que eles tiveram no festival parecia um sonho fugaz. Mesmo um deus onisciente nunca poderia ter previsto que as coisas acabariam assim isso em poucas horas.
À frente dele, Lawrence viu uma procissão de dançarinos de espada em movimento pela rua. A atmosfera selvagem e sinistra era completamente diferente dos festejos do dia. Relembrava a mudança no relacionamento de Lawrence com Holo, ele apressou o passo, desviando os olhos.
Ele lamentou ter deixado a carta sobre a mesa. Sentia que nada disso teria acontecido se tivesse levado a carta consigo. Se tivesse encontrado o momento certo para falar com ela, sem dúvida, a sábia Holo não ficaria perturbada.
Além disso, as palavras de Holo haviam exposto seu próprio egoísmo e falta de determinação. Ele não se imaginava capaz de falar com ela corretamente agora.
Eventualmente Lawrence percebeu que tinha atravessado todo o caminho para zona norte de Kumersun sozinho e sem ter notado.
Ele estava andando devagar e já fazia algum tempo, mas ele não tinha nem sequer notado.
Apesar da sensação de que a cidade estava lotada em todos os lugares que se pudesse ir, aqui na zona norte, haviam poucos pedestres. As festividades não se estendiam até aqui.
Ali, no silêncio, ele finalmente foi capaz de se acalmar e respirar profundamente.
Ele se virou e começou a andar para trás, repensando a situação.
Primeiro —
Sinceridade por si só não seria suficiente para convencer Holo a ouvi-lo. De qualquer forma ele nem sequer tinha confiança suficiente para olhar nos olhos dela.
Deixando de lado a questão se ele poderia ou não ser capaz de salvar seu relacionamento com ela, ele poderia pelo menos evitar dar um bom motivo para ela o deixar e ficar com Amati.
Enquanto Amati fosse incapaz de conseguir mil moedas de prata, a dívida da Holo com Lawrence ainda permaneceria. Não havia como dizer se isso seria suficiente para fazê-la ficar com ele, mas poderia pelo menos tentar fazer essa afirmação.
Então, o problema estava em impedir Amati de cumprir o contrato.
Foi devido ao estranho estado de espírito do festival que o preço da pirita tinha subido tão alto, e segundo Mark, o preço ia subir ainda mais. Lawrence não sabia o quanto de pirita Amati tinha na mão ou o quanto de lucro que ele tinha conseguido. Uma vez que a pirita estava vendendo a um preço muitas vezes — até mesmo dez vezes — maior que seu preço de custo, dependendo de quanto dinheiro Amati tinha sido capaz de investir, ele já poderia ter levantado as mil moedas.
No entanto, havia um fator que trabalhava em favor de Lawrence — pirita tendia a existir em grandes quantidades.
Mesmo que pudesse ser vendida por dez vezes o preço de compra, a pessoa tinha que ter a pirita em grande quantidade antes de fazer quantias verdadeiramente grandes de dinheiro.
Claro, Amati não iria necessariamente depender exclusivamente de pirita para levantar o dinheiro, mas o pensamento de que ele poderia ter problemas para obter a quantidade suficiente para fazê-lo foi um consolo para Lawrence.
Lawrence tinha que evitar que Amati fizesse tal coisa. Mais precisamente, ele tinha que forçá-lo a sofrer uma perda, porque se Amati fosse pressionado e não se preocupasse com o futuro do seu negócio, ele poderia liquidar todos os seus bens apenas para levantar o dinheiro.
Mas se Lawrence encontrasse dificuldades para impedi-lo de conseguir um lucro enorme, força-lo a sofrer uma perda era quase impossível.
Um ataque frontal estava fora de questão. A crescente demanda por pirita significava que não havia necessidade de fazer quaisquer negócios pela força; o lucro viria naturalmente.
Se não havia urgência, não havia nenhuma possibilidade de fraude.
Então o que fazer...?
Ele revirou o problema várias vezes em sua mente, sempre esbarrando nas mesmas dificuldades. Eventualmente, sem pensar, Lawrence falou, “Diga, Ho—”
Ele conseguiu não dizer “lo,” mas um artesão que passava o olhou estranhamente.
Mais uma vez, ele percebeu como a pequena figura de Holo e seu sorriso invencível pesava em sua mente.
Parecia impossível que tivesse se dado bem por conta própria por tanto tempo antes de conhece-la.
Holo certamente seria capaz de ter a algumas boas ideias, ou pelo menos colocá-lo no caminho certo.
Em algum lugar ao longo da linha de pensamento Lawrence percebeu, ele se tornou muito dependente dela.
O que eu sou para você?
Ele simplesmente não conseguia responder à pergunta com qualquer traço de confiança.
“Se eu fosse Holo, o que eu faria?”
Lawrence não achava que fosse capaz de imitar o processo de pensamento infinitamente misterioso de Holo perfeitamente.
Mas ele era um mercador.
Quando um mercador tinha uma nova ideia, era seu trabalho dominar a ideia e chegar à frente de seus concorrentes.
Holo sempre considerava todos os aspectos de uma situação.
Dada as circunstâncias diante dele, Lawrence sabia que ela olharia para o problema de todos os ângulos possíveis.
Parecia fácil, mas não era. Às vezes a ideia mais brilhante pareceria óbvia em retrospecto.
Amati estava lucrando sobre a crescente demanda de pirita. Lawrence precisava fazê-lo sofrer uma perda.
Qual era maneira mais simples, mais óbvia para que isso ocorresse?
Lawrence ponderou.
Sem se limitar ao senso comum, ele pensou.
Uma resposta lhe ocorreu.
“A demanda por pirita precisa diminuir.”
Lawrence disse em voz alta, depois riu como um tolo.
Então, isso é o que acontece quando ele tenta imitar Holo?
Se o valor da pirita caísse, realmente seria algo para celebrar.
Mas a demanda estava subindo e não mostrava sinais de queda. Os preços já inflacionaram mais de dez vezes, vinte vezes. Ele iria subir e depois —
“...E depois?”
Lawrence ficou imóvel enquanto a ideia tomava forma.
“Dez vezes? Vinte vezes e depois o quê... trinta? E depois disso?”
Ele sentiu como se pudesse ver Holo zombando dele.
O preço não subiria para sempre. A demanda terminaria como sempre terminava.
Lawrence quase sentiu que iria chorar novamente. Ele pôs a mão sobre a boca para abafar.
Havia duas questões que ele precisava responder:
A primeira era quando esta queda ocorreria, e a segunda era se seria possível fazer Amati perder com isso?
Lawrence começou a andar novamente, a mão ainda sobre sua boca.
Mesmo que o preço da pirita fosse cair, será que Amati realmente afundaria junto com ele? Lawrence duvidava. Assumir isso seria subestimar o garoto.
Então, o problema seria criar essa situação. Se ele pudesse articular o problema de forma concreta, seu raciocínio não estaria tão distante do de Holo.
A situação ideal apareceu em sua mente, se estabelecendo de forma pesada e fria em seu estômago. Ele tinha experimentado essa sensação antes. Não era lógica, mas a intuição de que uma disputa importante pesava sobre ele.
Ele respirou fundo e pensou em um ponto crítico: Quando a queda ocorreria?
Era óbvio que o preço não poderia continuar subindo para sempre, mas quando ele iria cair — e mais importante, ele cairia em algum momento antes do final do dia seguinte, quando o contrato entre Lawrence e Amati encerrava?
Mesmo uma cartomante acharia impossível prever tal coisa, assim como qualquer pessoa.
Lawrence retratou em sua mente os agricultores em uma região produtora de trigo, usando sua própria engenhosidade para realizar as colheitas que já foram apenas da competência dos deuses.
Ao invés de esperarem aterrorizados para que os deuses derrubassem o preço, por que não se tornarem esses deuses?
Um momento depois que a arrogância ultrajante da ideia lhe ocorreu, um grande clamor surgiu e ele se virou para olhar.
Lawrence percebeu que tinha andado todo o caminho de volta para a cidade e chegou novamente no centro do grande cruzamento.
Os bonecos de palha ainda colidiam uns com os outros em meio a gritos de raiva, cada colisão trazendo uma chuva de galhos e gritos. Era como uma guerra real.
Lawrence deixou seus esquemas por um momento para apreciar a intensidade da cena, e viu algo que imediatamente o trouxe de volta a seus sentidos.
Ele sentiu os cabelos da parte de trás do seu pescoço se levantar.
Amati.
Amati estava logo ali.
A princípio, ele pensou que era algum tipo de piada cruel dos deuses, mas em seguida ponderou — mesmo essa coincidência poderia ser significativa de alguma forma.
Lawrence estava no coração de Kumersun, no cruzamento das principais ruas norte-sul, leste-oeste.
As costas de Amati davam para a estalagem onde Holo presumivelmente ainda estava.
Amati parou e olhou para trás lentamente.
Por um momento, Lawrence estava com medo que Amati o tivesse visto, mas não, Amati não o viu.
Lawrence seguiu o olhar do garoto.
Sua direção era óbvia.
Mas o que estava lá? Lawrence tinha que saber.
E ali, em uma janela no segundo andar da estalagem, de frente para a larga avenida, com o cachecol de pele de raposa enrolada em volta do pescoço, estava Holo.
Uma terrível ansiedade embrulhou o estômago de Lawrence que estava amargo de raiva e com uma certa impaciência.
Holo acariciava o cachecol e, em seguida, assentiu.
Lawrence viu Amati colocar a mão sobre o peito em resposta, como se fizesse um juramento diante de Deus.
Se Holo o havia convidado ou se Amati forçou sua entrada, Lawrence não sabia.
No entanto, com base no que estava vendo, Lawrence não via razões para ser otimista.
Amati virou as costas para a estalagem e foi embora. Ele se inclinava para a frente e parecia apressado, como se estivesse fugindo, o que só aumentou a desconfiança de Lawrence.
Em um instante, Amati desapareceu no meio da multidão e Lawrence olhou para a janela da estalagem.
Ele prendeu a respiração.
Holo estava claramente olhando diretamente para ele.
Se Lawrence era capaz de detectar Amati na multidão, Holo não teria dificuldade nenhuma em detectar Lawrence com seus olhos aguçados.
Holo não desviou o olhar imediatamente, nem sorriu. Ela simplesmente olhou para ele com firmeza.
Eles ficaram assim por algum tempo. Lawrence estava prestes a suspirar quando finalmente Holo se retirou da janela.
Se ela tivesse fechado a janela, talvez ele tivesse ficado lá, congelado.
Mas ela não o fez. A janela ficou aberta.
Ela parecia a exercer uma atração sobre ele, o levando para perto da estalagem.
Lawrence não era ingênuo a ponto de pensar que Holo e Amati haviam simplesmente falado através da janela.
Holo não era uma mera garota da cidade, e os sentimentos de Amati por ela estavam longe de serem frios. Não havia nenhuma razão para pensar que eles não tiveram uma conversa no quarto.
Holo pareceu calma e despreocupada, provavelmente porque ela não tinha sido vista fazendo nada com o que precisasse se preocupar.
O que significava que ela o estava provocando.
Lawrence pensou na conversa que teve com ela em Ruvinheigen. Ele acreditava que se falasse com ela honestamente, ela entenderia.
Ele se preparou e, em seguida, se dirigiu para a estalagem.
Imediatamente após entrar na estalagem, Lawrence foi recebido por uma festa animada.
As mesas estavam cheias com todo tipo de comida e os convidados estavam bebendo, conversando, e até mesmo cantando.
Lawrence pensou que ele e Holo deveriam estar em uma dessas mesas se divertindo e, apesar de sentir aversão ao arrependimento como um mercador, ele ainda sentiu uma pontada.
Mas ainda havia uma chance. Se Holo quisesse rejeitá-lo absolutamente, ela teria fechado a janela.
Lawrence se agarrou a essa tênue ideia, o que lhe deu confiança, e subiu as escadas ao lado do balcão, que levavam ao segundo andar.
Imediatamente, alguém o chamou.
“Sr. Lawrence —”
Lawrence, que já não estava particularmente sereno, começou a se virar; o gerente também ficou surpreso, piscando ao olhar para Lawrence enquanto se inclinava sobre o balcão.
“... Me desculpe, algum problema...?”
“Ah, sim, me disseram para te entregar uma carta.”
A menção de uma carta enviada trouxe uma onda de mal-estar no peito de Lawrence. Ele a sufocou com uma tosse.
Descendo as escadas, ele caminhou até o balcão e pegou a carta oferecida.
“Quem mandou?”
“Sua companheira a deixou faz pouco tempo.”
Admiravelmente, Lawrence conseguiu esconder sua surpresa.
Não era preciso dizer que o estalajadeiro tinha conhecimento de todas as idas e vindas dos hóspedes de sua estalagem.
Lawrence tinha deixado a estalagem, e Holo havia permanecido. Enquanto Lawrence estava fora, Amati fez uma visita para Holo e Holo agora escolhia se comunicar com Lawrence não diretamente, mas por meio de uma carta.
Nenhum estalajadeiro podia observar esses eventos e supor que tudo estava bem.
No entanto, o estalajadeiro não demonstrou nada quando olhou para Lawrence.
As ligações entre os mercadores desta cidade como esta eram profundas.
Se Lawrence se comportasse de forma indecente aqui, os rumores estariam por toda a cidade quase que instantaneamente.
“Posso pegar algo para iluminar?” Lawrence disse cautelosamente. O estalajadeiro assentiu e trouxe um castiçal de prata dos fundos.
A vela brilhante não era de sebo, e Lawrence sentiu que a sua agitação interna poderia ser exposta sob uma luz forte.
Em sua mente, ele sorriu ironicamente para si mesmo por ter tais pensamentos, e então abriu o envelope com o punhal na cintura.
O gerente se afastou, como que percebendo que seria rude ler o conteúdo da carta, mas Lawrence poderia dizer que o homem ainda o olhava de vez em quando.
Ele tossiu levemente e tirou a carta do seu envelope.
Uma folha era de pergaminho; a outra era de papel normal.
Seu coração batia forte. Hesitar aqui significava que não confiava completamente em Holo.
Ele esperava pela possibilidade de que na carta Holo tentasse uma reconciliação.
Ele abriu a carta — que fora dobrada em dois — lentamente, e um pouco de areia caiu da superfície do papel.
Provavelmente isso tinha sido usado para fazer a tinta secar mais rapidamente, o que significava a carta foi escrita recentemente.
Seria uma carta que repararia ou destruiria o seu relacionamento com ela?
As palavras no papel saltaram aos olhos de Lawrence.
Dinheiro em mãos, duzentas moedas de prata. Pirita em mãos, no valor de trezentas moedas de prata. Bens vendáveis —
Ele olhou para cima, surpreso com a lista de ativos que começava sem uma introdução.
Dinheiro? Pirita?
Ele esperava uma carta que ecoasse em sua mente com a voz dela, mas o que ele segurava aqui era uma folha de papel com uma lista de números e nada mais.
Lawrence olhou para o papel de novo e, cerrando os dentes, continuou a ler.
...em mãos, no valor de trezentas moedas de prata. Bens vendáveis brutos no valor de duzentas moedas de prata.
Isto era obviamente uma lista dos ativos de Amati.
Lawrence sentiu seus ombros afrouxarem, como se fossem pães velhos polvilhados com água.
Holo havia permitido que Amati entrasse no quarto para que ela pudesse obter essa informação diretamente dele.
Ela tinha que ter feito isso para Lawrence.
Era sua forma de reconciliação indireta.
Lawrence sorriu abertamente. Ele nem sequer se preocupou em tentar esconder o sorriso.
No final da nota estava escrito “Este conteúdo foi transcrito por outro.”
Haviam muitas pessoas que sabiam ler, mas não escrever. Holo tinha conseguido esta informação, saído do quarto sob o pretexto de ir ao banheiro, talvez, e fez com que um mercador ou um outro alguém escrevesse a lista para ela. Lawrence se lembrou da letra de Amati que viu no contrato. Esta não era a sua escrita.
Lawrence cuidadosamente dobrou a nota, que agora, de repente tinha um valor além do comum para ele, e a colocou perto do peito, e então pegou o pergaminho.
Talvez ela tivesse usado suas artimanhas para enganar Amati a assinar algum tipo de contrato ridículo.
Lawrence brilhou à memória do rosto satisfeito de Amati após seu encontro com o Holo.
Holo ainda quer viajar comigo, Lawrence pensou consigo.
Inundado com uma sensação de alívio incrível, ele desdobrou o pergaminho sem hesitação.
Em nome de Deus...
A escrita galante de Amati era inconfundível.
Lawrence anulou a onda de emoção que veio e continuou lendo.
Ele leu a primeira linha, a segunda, a terceira —
E então —
Por estes termos estes dois estão unidos em casamento.
Quando ele chegou no final do documento, parecia que o mundo estava girando em volta dele.
“...O qu...?”
Ele ouviu-se murmurar com uma voz que parecia muito distante.
Ele fechou os olhos, mas o conteúdo do pergaminho, as palavras que ele tinha acabado de ler, permaneceram em sua visão.
Era uma certidão de casamento.
No pergaminho, que jurava em nome de Deus, havia escritos os nomes de um jovem peixeiro chamado Fermi Amati e Holo.
A linha para a assinatura do guardião de Holo estava em branco.
Mas uma vez que tivesse sido assinado e selado por seu guardião e entregue a uma igreja, Amati e Holo seriam marido e mulher.
O nome de Holo tinha sido escrito com uma mão incerta.
A assinatura dela parecia a de alguém que podia ler, mas que só podia escrever por imitação.
Uma imagem passou pela mente de Lawrence — Holo observando Amati escrever o contrato e, em seguida, desajeitadamente assinando seu próprio nome.
Lawrence puxou a primeira folha de papel do bolso do peito — que era um papel desesperadamente valioso — e a releu.
Tinha que ser uma lista dos bens de Amati. Os valores eram inteiramente plausíveis.
Ela deve ter composto a lista não para ajudar Lawrence, mas sim para mostrar a ele quão crítica era situação.
Por que ela faria isso? Era tolice até mesmo perguntar.
Levando em conta a certidão de casamento, Lawrence pensou que a resposta era óbvia.
Amati estava à beira de cumprir seu contrato com Lawrence, a quem Holo estava planejando deixar.
O encontro dele com Holo e Lawrence foi puro acaso.
Apesar de Amati ser jovem, imprudente e honesto ao extremo, Holo talvez tivesse considerado o garoto pretencioso um parceiro mais adequado.
Não havia nenhuma razão para não pensar assim.
Mesmo que Lawrence corresse até as escadas e pedisse para ela não se casar, segurando o certificado de casamento na mão, Holo simplesmente viraria as costas para ele. Ela era boa nisso.
Ele não tinha escolha a não ser agir por conta própria.
Holo havia revelado os ativos de Amati para Lawrence; talvez ela estivesse dizendo que se conseguisse derrotar o jovem peixeiro, ela iria ouvi-lo. Por outro lado, se Lawrence falhasse — seria o fim.
Havia uma maneira de derrotar Amati. Havia esperança.
Lawrence rapidamente colocou a nota e o contrato de lado, e em seguida, se virou para o estalajadeiro.
“Me dê todo o dinheiro que eu deixei com você, por favor.”
Continuar viajando com Holo valia todo o ouro que tinha.
Lawrence sabia que era possível levar Amati a falência legalmente.
O problema residia em fazer com que Amati aceitasse um acordo que realizasse tal coisa.
Lawrence suspeitava que Amati não estava familiarizado com o tipo de negócio que ele iria propor. Não por que ele parecesse um garoto; mas simplesmente porque o negócio de Amati não envolvia operações como a que Lawrence tinha em mente.
Afinal, ninguém quer se envolver em negócios que não entende completamente.
Lawrence tinha a desvantagem adicional de ser inimigo de Amati.
Diante de tudo isso, ele considerava que as chances de Amati aceitar o negócio eram de uma em cada nove, aproximadamente. Lawrence não se importava se tivesse que provocar o rapaz — ele tinha que fazer Amati morder a isca.
Infelizmente, não importa o quão normal o negócio aparentasse ser na superfície, Amati ia notar o quão desvantajoso ele era.
A provocação que Lawrence tinha em mente era inteiramente justificada.
Isso não era um negócio, pois Lawrence não tinha intenção de obter lucro.
A qualquer momento que pensamentos de um mercador se desviassem dos ganhos e perdas, as perdas se tornariam inevitáveis. Mas Lawrence há muito havia abandonado seu senso comum de mercador.
Ele perguntou ao estalajadeiro que tabernas Amati frequentava e começou a procurar por ele, uma por uma. Apesar das festividades que continuavam nas ruas, ele encontrou Amati bebendo sozinho tranquilamente.
O garoto parecia fatigado; talvez fosse a ressaca da tensão de negociar seu casamento tão esperado com Holo, ou talvez ele ainda não tivesse levantado as mil moedas de prata.
Em todo caso, o estado emocional de Amati era completamente irrelevante.
Lawrence sabia que nem sempre podia contar com condições de negociação completamente favoráveis. Quando vinha para isso, um mercador tinha apenas suas próprias habilidades para depender.
Se ele esperasse até amanhã, as negociações poderiam se tornar ainda mais difícil.
O acordo que iria propor a Amati não podia esperar.
Ele respirou fundo e entrou no campo de visão de Amati antes que ele notasse Lawrence.
“Ah —”
“Boa noite.”
Aparentemente, Amati não era tão ingênuo a ponto de demonstrar sua irritação com a chegada de Lawrence.
Ele ficou surpreso o suficiente para ficar sem palavras por um momento, mas o jovem peixeiro logo recuperou sua conduta profissional.
“Não há necessidade de qualquer suspeita. Estou aqui apenas para falar de negócios.” Lawrence surpreendeu a si mesmo, gerando um sorriso fácil.
“Se você está aqui a negócios, é mais uma razão para eu não baixar a minha guarda,” Amati falou em tom de irritação.
“Ha-ha, é justo. Pode me dar momento?”
Amati assentiu e Lawrence se sentou à mesa com ele. “Vinho,” Lawrence simplesmente disse ao taberneiro de aparência irritada.
Lawrence se lembrou de não subestimar o pequeno garoto delicado que estava sentado à mesa com ele. Amati havia deixado sua casa e estava em seu caminho para o sucesso com seu negócio de venda de peixe.
Ao mesmo tempo, ele não poderia deixar Amati se manter em guarda.
Lawrence limpou sua garganta casualmente, olhando em volta antes de falar. “Este é um lugar agradável, tranquilo.”
“Você não pode beber tranquilamente na maioria das tabernas. Este lugar é especial.”
Lawrence se perguntou se Amati estava implicando que a sua paz tinha sido perturbada por um determinado personagem desagradável, que seria ele próprio, mas decidiu que estava exagerando.
Assim como Amati, ele queria terminar a conversa o mais rápido possível.
“Então, eu sei que você deve estar surpreendido ao me ver, mas não mais surpreso do que eu estava hoje cedo, então acho que posso pedir sua indulgência.”
Lawrence não sabia o que Amati havia dito para fazer Holo assinar o contrato. Não importa o quão inteligente e impulsiva ela fosse, ele não conseguia imaginar o que realmente a fez assinar.
O que significava que de alguma forma Amati a convenceu a assinar o contrato, e ela concordou.
No entanto, Lawrence sabia que ele não tinha o direito de culpá-la.
Aquele que tinha deixado Amati entrar no quarto era Holo, mas quem tinha causado todo esse problema em primeiro lugar era Lawrence.
Ele não sabia o que Holo tinha ouvido Amati falar. Amati abriu a boca, provavelmente para se explicar, mas Lawrence levantou a mão e cortou o garoto.
“Não, esse não é o assunto que estou aqui para discutir. Porém, informo que a minha intenção é de falar apenas de negócios com você, isso é tudo. Holo é totalmente livre para agir como ela quiser.”
Amati olhou para Lawrence com raiva por um momento e depois assentiu.
Era claro que ele ainda tinha suspeitas sobre Lawrence, mas por sua vez, Lawrence não gastaria mais seu esforço para dissipar essas suspeitas.
Afinal, o que ele ia dizer a seguir só iria aumentar as mesmas.
“No entanto, dada à razão da minha proposta de negócio, eu não posso chamá-la exatamente de normal.”
“O que é que você está planejando?” Amati perguntou.
Imperturbável, Lawrence continuou “Eu vou direto ao ponto, então. Eu gostaria de lhe vender pirita.”
Os olhos azuis de Amati pareceram olhar através de Lawrence para algum lugar distante por um momento. “O quê?”
“Eu gostaria de vender pirita para você. Ao valor de mercado atual, são mais ou menos quinhentas moedas de prata.”
Amati, de boca entreaberta e olhos desfocados, recuperou sua compostura. Ele riu e depois suspirou. “Certamente você está brincando.”
“Eu estou completamente sério.”
O sorriso de Amati desapareceu, seus olhos penetrantes, quase com raiva.
“Você deve estar ciente de que eu tenho me dado muito bem revendendo pirita. O que você está pensando ao tentar vendê-las para mim? Quanto mais eu tiver, mais dinheiro eu posso fazer. Não posso acreditar que você poderia me ajudar nisso. A não ser que” — Amati fez uma pausa, seu olhar agora estava definitivamente com raiva — “é verdade que desde que ganhe dinheiro, você não se importa o que venha acontecer com a senhorita Holo.”
“Longe disso. Holo é muito importante para mim.”
“Nesse caso, por que—”
“É claro que não quero simplesmente vender para você de imediato.”
Amati poderia ter sido o melhor quando o assunto eram negócios frenéticos de ativos, mas na negociação de um contra um, Lawrence tinha confiança em suas próprias habilidades.
Mantendo o mesmo tom, ele continuou com sua proposta.
“Eu gostaria de vendê-la na margem.”
“Na margem...?” Amati repetiu a frase desconhecida.
“Sim.”
“E o que isso—”
“Isso significa que vou te vender quinhentos trenni de pirita amanhã à noite no seu valor de mercado atual.”
Holo às vezes se gabava de ser capaz de ouvir o som de alguém consternado franzindo a testa — Lawrence sentia agora que ele tinha ouvido esse som, dado o completo estado de incompreensão de Amati.
“Nesse caso, basta vir até mim amanhã à noite—”
“Não, eu gostaria de receber o pagamento agora.”
A expressão duvidosa de Amati cresceu ainda mais.
A não ser que ele fosse tão bom em atuar como Holo, Amati obviamente não sabia nada sobre vendas na margem.
Um mercador que não tem conhecimento pode muito bem estar entrando em um campo de batalha de olhos vendados.
Lawrence puxou a corda do arco, se preparando para disparar sua flecha.
“Em outras palavras, eu vou aceitar quinhentas moedas de prata a partir de agora, e amanhã eu vou te dar pirita equivalente a quinhentas moedas de prata no valor de hoje.”
Amati pensou bastante. Mas na realidade, não era algo difícil de entender.
Depois de um tempo, ele parecia estar pensando nas implicações.
“Então, o que isto significa é que, amanhã à noite, mesmo se o valor da pirita no mercado subir, eu ainda vou receber o que eu teria conseguido ao preço de hoje.”
“Correto. Por exemplo, se eu te vender um único pedaço de pirita no valor de mil e duzentos irehd na margem esta noite, mesmo se o preço amanhã for de dois mil irehd, eu ainda tenho que te dar a pirita.”
“...E o contrário, se o valor cair para duzentos irehd até amanhã, eu ainda receberei a mesma quantidade, apesar de ter pago mil e duzentos na noite anterior.”
“Correto.”
O garoto era esperto.
No entanto, Lawrence ainda se preocupava se Amati entenderia o verdadeiro significado das transações de margem.
Em certo sentido, elas não eram diferentes de quando um mercador vendia uma mercadoria no local.
Se o preço de um bem estava a subir depois de ter sido vendido, um mercador iria se arrepender por não esperar para vendê-lo. Da mesma forma, se caísse, ele ficaria aliviado por ter conseguido um acordo melhor.
Mas o intervalo de tempo entre a operação em dinheiro e a transação de mercadorias era um passo importante.
Lawrence queria que Amati entendesse isso.
Se Amati não conseguisse ver o significado disso, muito provavelmente ele rejeitaria a proposta.
Amati falou.
“Como isso é diferente de uma transação normal?”
Ele não entendeu.
Lawrence sufocou o impulso de estalar sua língua em irritação e se preparou para dar uma explicação sobre a margem de compra.
Mas Amati o cortou antes que ele pudesse começar.
“Não, espere. É diferente.” Amati sorriu em compreensão, seu rosto jovem representava em cada centímetro um mercador que calculava ganhos e perdas. “Você, Sr. Lawrence, está tentando obter algum lucro, apesar de ter chegado tarde ao jogo. Estou certo?”
Parecia que a explicação seria desnecessária.
Um mercador não iria propor um acordo sem sentido. Ele só parecia sem sentido quando visto com ignorância.
Amati continuou “Se a compra na margem permite que você obtenha uma mercadoria sem ter o dinheiro na mão, então vender na margem te permite ganhar dinheiro sem ter o produto na mão. Compra na margem produz lucro quando os bens aumentam de preço, mas vender na margem permite lucrar quando o valor de mercado dos bens cai.”
Ao vender na margem, não é preciso ter os bens em mãos até que eles sejam entregues, uma vez que o acordo foi feito com a promessa de entregar as mercadorias em um momento posterior.
“Este é um bom negócio, sem dúvida. Parece que meu foco em peixes me deixou ignorante. Você me escolheu para este negócio, por que... Não, não é preciso dizer. Se eu comprar quinhentas moedas de prata em pirita com você, eu ganharia se o valor de mercado da pirita subisse, mas se ele cair, minhas perdas aumentam. Quando você lucra — é quando eu perco.”
Amati estufou seu peito, com o rosto cheio de confiança.
Lawrence estava ciente de sua expressão idêntica.
Sua mão tremia sobre a corda do arco.
Amati continuou, “Então, em outras palavras, isto é—”
Lawrence o cortou e deixou a flecha voar.
“Sr. Amati, estou te desafiando para um duelo.”
Os lábios do peixeiro se curvaram em um sorriso.
Era um sorriso de mercador em cada centímetro.
“Certamente isso não pode ser chamado de um ‘duelo.’ Um duelo pressupõe que ambos os lados são iguais, mas nós não somos iguais. Tenho certeza de que você não está sugerindo que essa transação seja significativa apenas entre nós dois?”
“E com isso você quer dizer...?”
“Certamente você não pretende conduzir o negócio sem um certificado, e eu suponho que este certificado possa ser vendido para outra pessoa, certo?”
Fora das áreas remotas, era bastante comum as obrigações de dívidas serem compradas e vendidas.
Certificados de venda em margem não eram exceção.
“Eu não esperei que você aceitasse a minha proposta,” respondeu Lawrence. “Seria um risco muito grande pra você, você nunca aceitaria.”
“Isso mesmo. Mesmo supondo que o valor da pirita caia até amanhã à noite, como você está prevendo que vai, desde que ele atinja o valor que preciso em algum momento durante o dia, eu vou vender o certificado. Se não for permitido que eu faça isso, duvido que eu aceite o acordo. Mas mesmo que eu tenha essa possibilidade, o negócio continua injusto.”
Lawrence ouviu em silêncio enquanto Amati continuou.
“É injusto com você, Sr. Lawrence, uma vez que tudo o que eu preciso é de um ligeiro aumento no preço da pirita para alcançar meu objetivo. Ainda assim, não posso aceitar um negócio que se incline a seu favor.”
Então, de qualquer forma, Amati não estava disposto.
Mas nenhum mercador que se preze desistiria após uma única recusa.
Lawrence se acalmou e respondeu.
“Isso pode ser verdade, se você olhar para essa transação por si só, mas se prestar atenção verá que a quantidade de injustiça é na verdade bastante justa.”
“...E com isso você quer dizer...?”
“O que eu quero dizer é que é possível que Holo simplesmente rasgue o certificado de casamento. Presumo que você tenha uma cópia?”
Amati empalideceu.
“Mesmo que você me pague as mil moedas de prata para pagar a dívida de Holo, não há nenhuma maneira de que você possa evitar o risco de ela simplesmente balançar a cabeça negativamente. Comparado a esse risco, a injustiça marginal que eu enfrento não é nada.”
“Hah. Você não acha que a preocupação é infundada? Soube que teve uma briga feia com ela,” Amati revidou com um grunhido e uma risada.
Lawrence sentiu seu corpo esquentar como se fosse empalado por trás com uma barra de ferro em brasa, mas ele convocou cada grama de seu autocontrole de mercador e não revelou nada. “Em nossas viagens juntos, Holo chorou nos meus braços três vezes.”
Era agora o rosto de Amati que traía sua emoção.
Ele tinha um sorriso, mas seu rosto agora estava congelado, e ele deu um suspiro longo e lento.
“Ela é de fato muito charmosa,” continuou Lawrence. “Porém, é uma pena que ela geralmente é tão teimosa quanto uma mula. Ela sempre diz e faz coisas que são contrárias aos seus verdadeiros sentimentos. Em outras palavras —”
Amati interrompeu Lawrence com força, como um cavaleiro desafiado para um duelo.
“Eu aceito!! Eu aceito a sua proposta, Sr. Lawrence.”
“Tem certeza?”
“Digo mais uma vez: eu aceito. Eu estava... se me permite, eu estava preocupado em ser muito cruel tirar absolutamente tudo de você, Sr. Lawrence. Mas se é isto que você quer, eu aceito. Eu vou tirar de você a sua fortuna e tudo o que você tem!”
O rosto de Amati estava vermelho de raiva.
Lawrence teve que sorrir.
Quando ele estendeu a mão direita para Amati, seu sorriso era o de um caçador que chega na armadilha para pegar sua presa. “Então você vai aceitar esses termos?”
“Irei!”
As duas mãos que se agarram firmemente planejavam tirar tudo uma da outra.
“Nesse caso, vamos assinar o contrato e acabar com isso.”
Lawrence permaneceu de cabeça fria e chegou a uma conclusão.
Os dois, Lawrence e Amati, estavam em pé de igualdade quando negociaram neste momento. Amati pode até estar assumindo um risco levemente maior.
Mas estava longe de estar claro se Amati percebia isso. Não, era justamente porque ele não tinha percebido que ele estava disposto a concordar.
Mas, mesmo se ele fosse perceber agora, seria tarde demais.
Eles, pegaram emprestado a caneta e o papel do taberneiro e assinaram o contrato no local.
Amati não tinha as quinhentas moedas de prata, portanto Lawrence o deixou substituir as duzentas moedas restantes por três cavalos. A moeda seria entregue pela manhã no toque dos sinos do mercado. Os cavalos logo à noite.
Se a informação de Holo fosse verdadeira, Amati tinha duzentas moedas de prata, pirita no valor de trezentas moedas de prata, e mais duzentas moedas de prata em bens vendáveis.
Evidentemente, ele devia ter mais do que uma centena de moedas de prata além disso, e as duzentas moedas de prata em bens vendáveis eram claramente os três cavalos.
Tudo isso fez com que Amati tivesse o equivalente a oitocentas moedas de prata em pirita.
Se o valor da pirita aumentasse em até 25 por cento, ele teria mais do que as mil moedas de prata que ele precisava. Se Amati tivesse mais recursos que Holo havia relatado, o preço não precisaria subir muito.
“Então nós vamos resolver isso amanhã à noite,” disse Amati, visivelmente animado quando o selo final foi carimbado no papel. Lawrence assentiu calmamente.
Tudo o que ele tinha a fazer era falar que Holo tinha chorando em seus braços.
Mercadores realmente eram inúteis, uma vez que os assuntos desviavam dos negócios.
“Então vou me despedir. Aproveite o seu vinho,” disse Lawrence uma vez que o contrato estava assinado e completo.
A flecha foi verdadeiramente enterrada no peito de Amati. Amati deve ter sentido isso, mas havia algo que Lawrence deixou de mencionar.
A flecha tinha derrubado um veneno de ação lenta conhecido apenas por aqueles que estavam familiarizados com a margem de venda.
A caça do mercador estava entre a verdade e o engano.
Não havia nenhuma obrigação de dizer toda a verdade.
Os mercadores eram todos traiçoeiros.
Assim que ele terminou o contrato de venda com margem de Amati, Lawrence foi direto para o mercado.
Embora o horário comercial tivesse acabado muito tempo atrás, o mercado estava tão animado quanto esteve durante o dia. Os mercadores bebiam vinho e faziam uma festa em plena luz da lua, e as festividades logo se estenderam para incluir os vigias noturnos.
Era assim que Mark ainda estava, em sua tenda e não em casa, como costumava estar em um horário tão tardio.
Ele estava bebendo sozinho, apenas com o ruído das festividades de companhia para o vinho, provando que uma vez ele já foi um mercador itinerante.
“O que é isso? Será que a princesa não exige uma escolta?” Foram as primeiras palavras que saíram da boca de Mark.
Lawrence deu de ombros, sorrindo tristemente.
Mark riu. “Bem, não importa — tome uma bebida,” ele disse, derramando cerveja a partir de uma garrafa de barro em um copo vazio.
“Eu não estou incomodando?”
“Você vai estar se continuar sóbrio!”
Lawrence se sentou na cadeira de madeira serrada e deixou de lado o saco contendo moedas de ouro e prata. Ele levou a cerveja oferecida aos lábios. Sua fragrância espumosa encheu sua cabeça enquanto o material amargo molhou sua garganta.
Os lúpulos foram bons nesta safra.
Lawrence supôs que era normal um mercador de trigo conhecer uma boa cerveja.
“É uma cerveja boa.”
“Tem sido uma boa colheita este ano para todo o trigo. Quando há uma má colheita, a cevada, que normalmente vai para a cerveja é colocada no pão. Vou ter que agradecer ao deus da colheita.”
“Hah, sim,” disse Lawrence, colocando o copo cerveja em cima da mesa.
“Olha, esse pode não ser o melhor assunto para acompanhar uma boa cerveja, mas...”
Mark engoliu em seco e arrotou. “Envolve lucro?”
“É difícil dizer. Pode haver um ganho, apesar de não ser meu objetivo.”
Mark colocou um pedaço de peixe salgado na boca, falando enquanto mastigava.
“Você é muito honesto, amigo. Deveria dizer que envolve. Eu teria prazer em te ajudar.”
“Eu vou te pagar pelo esforço, e ainda pode haver lucro nisso.”
“Diga.”
Lawrence limpou um pouco de espuma do canto de sua boca.
“Depois que o festival termina é quando a compra de trigo realmente começa, não é?”
“Oh, sim.”
“Eu gostaria que você espalhasse um boato para mim.”
A expressão de Mark ficou séria, como se estivesse avaliando trigo. “Eu não vou fazer nada arriscado.”
“Pode ser arriscado para você espalhar, mas seu aprendiz pode fazer isso sem nenhum problema.”
Era um rumor insignificante.
Mas os boatos podem exercer um poder terrível.
Havia um conto de um reino há muito tempo que se destruiu por causa de um simples boato de que o rei estava doente, que foi iniciado por um jovem rapaz da cidade. O rumor eventualmente circulou além das fronteiras do reino, levando à dissolução de alianças e, finalmente, à invasão.
Acontece que as pessoas não têm muito o que falar sobre suas vidas diárias.
Parecia que seus ouvidos só existiam para pegar pequenos rumores, para então poderem gritar para o mundo.
Mark fez um gesto com o queixo, como se dissesse: “Continue.”
“Ao meu sinal, eu quero alguém comece dizer que parece que está na hora do preço do trigo subir.”
Mark congelou, seus olhos desviaram de Lawrence. Ele estava considerando as implicações do que Lawrence tinha dito.
“Você está tentando baixar o preço daquele mineral.”
“Exatamente.”
Lawrence imaginou que a maioria das pessoas que estavam tentando pôr suas mãos no negócio da pirita tinha chegado à cidade para vender alguma coisa, e eles estariam comprando algo antes de saírem.
E quando eles saíssem, o produto que iriam comprar na maioria das vezes, sem dúvida alguma, era o trigo.
Se as pessoas ouvissem que o trigo estava subindo de preço, eles certamente venderiam suas piritas a fim de comprar o que tinham originalmente vindo à cidade para comprar.
E, como resultado, a demanda por pirita iria cair.
Quando o preço caísse, com menos demanda, chegaria a um certo ponto e depois mergulharia de forma incontrolável para baixo.
O mercador de trigo bebeu profundamente do seu copo de cerveja antes de falar. “Eu nunca imaginaria que você viria com uma ideia tão simples.”
“E se eu te dissesse que estou planejando vender uma quantidade considerável de pirita ao mesmo tempo?”
Mark piscou, e após de um momento de reflexão, ele perguntou “Quanto?”
“No valor de mil moedas trenni.”
“O quê—! Mil? Você está louco? Você tem alguma ideia de quanto você pode perder no processo?”
Mark fez uma careta e coçou a barba, murmurando enquanto olhava para Lawrence. A julgar pela sua reação, ele não tinha ideia do que Lawrence estava pensando.
“Desde que eu tenha pirita equivalente a quinhentas moedas de prata quando tudo isso acabar, não importa se o preço subir ou cair.”
Era Amati que tinha o maior risco no negócio que Lawrence estava fazendo.
E esta foi a razão.
“Maldito. Você está vendendo na margem, não é?”
Obviamente, ninguém reclamaria quando uma mercadoria que tinha em mãos subisse de preço, mas não havia muitas situações em que alguém não se importaria se os seus bens perdessem valor.
Se os produtos vendidos na margem forem depreciados, tudo o que tinha a fazer era recomprar o produto com o preço inferior, para garantir o lucro.
Se o produto aumentou de valor, desde que ficasse pareado com uma operação convencional, Lawrence poderia criar uma situação onde ficaria com o mesmo valor.
Sua vantagem decisiva era a queda do preço da pirita, uma vez que era vendida em grandes quantidades, mas Amati precisava necessariamente que o preço subisse para conseguir lucrar.
O plano de Lawrence era, em essência, usar as quinhentas moedas de prata que tinha recebido de Amati, mais seus próprios recursos para comprar o máximo de pirita possível; em seguida, ele iria vendê-lo de uma só vez, a fim de fazer o preço cair.
Só era possível fazer isto abandonando qualquer noção de lucro.
Mark, que já foi um mercador viajante, logo entendeu tudo — inclusive quem era a vítima.
“Devo dizer que me sinto mal por aquele pobre peixeiro ignorante.”
Lawrence deu de ombros em resposta.
Embora o plano parecesse perfeito, havia uma razão para que Lawrence não estivesse completamente confortável com ele.
Não havia tal coisa como um plano perfeito.
“Você acha que ele entende o quanto é perigoso participar de um negócio que não está acostumado,” disse Mark.
“Não — ele sabe os riscos, e ele aceitou. Eu expliquei.”
Mark deu uma risada rouca e continuou tomando sua cerveja. “Então, era tudo o que você precisava?”
“Não, tem mais uma coisa.”
“Eu sou todo ouvidos.”
“Eu quero que você me ajude a comprar pirita.”
Mark olhou fixamente para Lawrence. “Você não assegurou uma fonte antes de fazer o contrato de margem?”
“Não tive tempo. Você vai me ajudar?”
Esta era a falha em seu plano.
Não importa o quão perfeito o plano fosse, sem todos os componentes no lugar ele não daria em nada.
E o que Lawrence precisava fazer não era fácil.
Ele podia esperar até o amanhecer para comprar pirita no mercado como qualquer outro mercador. Mas, se comprasse centenas de trenni em pirita ao mesmo tempo, um aumento repentino no preço seria inevitável.
Ele tinha que trabalhar nos bastidores e comprar pirita de forma que a sua compra não perturbasse o valor de mercado.
Para fazer isso, a melhor forma seria fazer muitas pequenas compras com vários mercadores na cidade.
“Os pagamentos serão efetuados em dinheiro. Vou chegar a pagar acima do valor de mercado. Se a quantidade for suficiente, eu posso até pagar em lumione.”
Se o trenni de prata era uma espada, então o lumione de ouro era uma falange de lanças. Ao comprar mercadorias de valor elevado, uma arma mais poderosa não existia.
Lawrence tinha moeda, mas lhe faltava conexões, e fora Mark, ele não tinha ninguém a quem pudesse recorrer para pedir ajuda.
Se Mark recusasse, Lawrence não teria outra escolha senão reunir pirita por conta própria.
Ele não podia sequer considerar o quão difícil seria comprar o mineral da forma mais honesta nesta cidade, onde ele só fazia negócios durante alguns dias no ano.
Mark estava imóvel, com o olhar perdido em alguma direção incerta.
“Eu vou pagar pelo trabalho que vai dar,” acrescentou Lawrence. Era claro que ele estava oferecendo mais do que uma simples taxa de serviço.
Mark o encarou ao ouvir essas palavras.
Afinal, ele era um mercador. Não iria trabalhar de graça.
A resposta de Mark foi curta. “Eu não posso.”
“Ótimo, então... Espere, o quê?”
“Eu não posso,” ele disse de novo, olhando Lawrence nos olhos.
“O qu—”
“Eu não posso te ajudar com isso,” ele falou, sem rodeios.
Lawrence se inclinou para frente. “Eu vou te pagar uma quantia considerável e não uma taxa de serviço insignificante. Você não tem nada a perder. É um bom negócio, não é?”
“Eu não tenho nada a perder?” Ele franziu a testa, a barba de corte quadrado fazendo seu rosto parecer ainda mais duro.
“Mas você não tem, não é? O que eu estou pedindo para você é que me ajude a encontrar e comprar pirita, não arcar com um investimento de risco. O que você tem a perder?”
“Lawrence.” O som do seu nome cortou Lawrence.
No entanto, Lawrence não entendia o que Mark estava pensando. Não fazia sentido para um mercador recusar um acordo que prometia uma recompensa considerável e sem risco.
Então por que a recusa?
Ele se perguntou se Mark estava tentando tirar vantagem dele, e algo parecido com raiva revirou em suas entranhas.
Mark continuou “Você seria capaz de me pagar, digamos, dez lumiones no máximo, estou certo?”
“Bem, já que você está simplesmente fazendo algumas compras para mim, isso é mais do que generoso, eu acho. Não é como se eu estivesse te pedindo para atravessar uma cadeia de montanhas sozinho e trazer de volta o valor de uma caravana inteira de minério.”
“Mas você está me pedindo para ir no mercado e comprar pirita, não é? Isso equivale à mesma coisa.”
“Como é que—?” Lawrence parou de repente, batendo na cadeira de madeira com um baque. Ele estava a ponto de agarrar o corpo do mercador de trigo quando recuperou a compostura.
Mark não se comoveu.
Sua expressão de negócios também não mudou.
“Er — quero dizer, como é que a mesma coisa? De forma alguma estou te pedindo para correr a noite toda ou para atravessar algumas passagens traiçoeiras nas montanhas. Estou simplesmente te pedindo para me ajudar a comprar pirita com suas conexões.”
“É a mesma coisa, Lawrence,” Mark falou pacientemente. “Você é um mercador viajante que atravessa as planícies; minha luta é no mercado. Os perigos que você vê, eles são os perigos de um mercador viajante.”
“Então...” Lawrence engoliu seu protesto. O rosto de Mark também estava tenso, como se tivesse engolido algo amargo.
Mark continuou, “Para um mercador da cidade, pegar todas as chances de fazer um lucro rápido não é uma virtude. Fazer uma vida estável através de um negócio honesto, confiável, isso faz a minha reputação e não fazer grandes lucros com negócios secundários e fugazes. Eu posso ser o proprietário desta barraca, mas a reputação não é só minha, se estende à minha esposa, meus parentes e qualquer pessoa ligada a mim. Ter um lucro extra certamente não é uma coisa ruim...”
Mark fez uma pausa, dando outro gole na cerveja. Sua testa franzida certamente não se devia ao gosto amargo da cerveja. “...Mas ajudá-lo a encontrar e comprar quinhentos trenni de pirita é outra questão. Como você acha que as pessoas da cidade irão me ver? Eles vão pensar em mim como um vilão, que não se importa com o seu verdadeiro negócio e só tem olhos para as riquezas fáceis. Você pode me pagar o bastante para eu correr esse risco? Eu já fui um mercador viajante, e eu me atreveria a dizer que as somas insignificantes que um mercador viajante consegue não podem ser comparadas com os valores que os mercadores da cidade lidam.”
Lawrence não podia dizer nada.
Mark fez sua declaração final. “Esta loja pode parecer pequena, mas o valor de seu nome é surpreendentemente alto. Se o nome for manchado, dez ou vinte moedas de ouro estariam longe de ser o suficiente para cobrir isso.”
Era uma afirmação convincente.
Lawrence não tinha nada a dizer em resposta e olhou para a mesa.
“Sinto muito velho amigo, mas não posso ajudá-lo com isso.”
Mark não estava nem se aproveitando nem zombando de Lawrence.
Era simplesmente a verdade.
Lawrence viu que embora ele e Mark fossem mercadores, eles viviam em mundos diferentes.
“Eu sinto muito,” Mark falou.
Lawrence ainda não tinha uma resposta.
Não valia nem a pena contar o número de aliados que ainda restavam.
“N-não, eu que deveria pedir desculpas por pedir o impossível.”
Lawrence tentou pensar em quem mais ele poderia recorrer; somente Batos veio à mente.
Já que Mark não iria ajudá-lo, Batos era a única opção.
Mas Lawrence se lembrou de quando Batos o avisou sobre o plano de Amati, ele disse que o plano do garoto não era exatamente louvável.
Batos transportava minério através das passagens das montanhas perigosas... ele, sem dúvida, considerava a compra e venda rápida de pirita algo bastante odioso.
Ele duvidava que Batos fosse ajudá-lo, mas Lawrence não tinha escolha a não ser deixar de lado suas dúvidas e perguntar mesmo assim.
Lawrence se preparou e olhou para cima.
Foi só então que Mark falou novamente. “Então, mesmo o elegante Lawrence fica assim às vezes, não é?”
O rosto de Mark não estava nem chateado nem divertido; ele simplesmente parecia surpreso.
“Ah, desculpa,” Mark continuou. “Não fique com raiva. Parece apenas incomum,” ele disse, se explicando às pressas. Lawrence também ficou surpreso com seu próprio comportamento e estava longe de ficar com raiva.
“Eu não posso dizer que estou surpreso que a sua companheira ser quem ela é. Mas você não precisa fazer todo esse esforço para parar Amati, não é? Certamente ela não vai deixá-lo tão facilmente. Pensei em tudo isso na primeira vez que a vi ao seu lado. Tenha mais confiança, cara!”
Mark finalmente sorriu, mas Lawrence estava inexpressivo quando respondeu “Ela me deu um certificado de casamento assinado. A outra parte é do Amati, naturalmente.”
Os olhos de Mark se arregalaram e ele percebeu que tinha dito a coisa errada. Ele coçou a barba sem jeito.
Lawrence viu isso e afrouxou seus ombros. “Se nada tivesse acontecido, com certeza, eu teria mais confiança. Mas alguma coisa aconteceu.”
“Então, isso aconteceu depois que você veio aqui? Nós nunca sabemos o que está um passo à frente na vida, não é? Mas você ainda tem esperança, por isso ainda está lutando — entendo.”
Lawrence assentiu, Mark esticou o lábio inferior e suspirou.
“Mesmo assim,” Mark falou, “Eu sabia que ela era uma pessoa a ser reconhecida, mas não posso acreditar que ela seja tão ousada... Enfim, você tem alguma ideia do que fazer?”
“Acho que vou falar com o Sr. Batos em seguida.”
“Batos, hein? Ah, então você está indo pedir para ele falar com a mulher para você,” Mark murmurou.
“...A mulher?” Lawrence perguntou em resposta.
“Huh? Oh, então você não vai pedir para ele conversar com ela para você? A cronista, quero dizer. Você a conheceu, certo?”
“Se você quer dizer a senhorita Diana, eu me encontrei com ela, mas não vejo o que ela tem a ver com isso.”
“Desde que você não esteja preocupado com as consequências, você pode tentar fazer negócios com ela.”
“Olha, do que você está falando?” Lawrence perguntou.
Mark olhou por cima do ombro de forma suspeita, em seguida, baixando a voz, ele falou. “Ela praticamente coordena as regiões do norte. Especialmente os alquimistas — você pode considera-la a porta de entrada. É por causa dela que os alquimistas que conseguiram escapar da perseguição se reuniram aqui, do nosso ponto de vista. Naturalmente, apenas a nobreza local e os anciãos da Câmara Municipal sabem os detalhes. Oh, e—”
Mark tomou um gole de cerveja e continuou: “Todo mundo sabe que os alquimistas têm pirita, mas ninguém quer se envolver, então ninguém faz negócios com eles. No caso do velho Batos, ele lida principalmente com os alquimistas e raramente outras pessoas. Não — é mais correto dizer que ele não pode lidar com qualquer outra pessoa justamente porque ele lida com os alquimistas. Então, se você puder arriscar o efeito colateral, fazer Batos falar com a mulher para você é uma opção.”
Não estava claro para Lawrence se esta revelação súbita era a verdade, mas Mark não tinha nada a ganhar mentindo.
“Dependendo das circunstâncias, pode valer a pena tentar. O tempo está se acabando, não é?”
Era patético, mas Lawrence teve que admitir que com a recusa de Mark para ajudá-lo, a situação era bastante desesperadora.
“Estou realmente muito contente que você veio pedir a minha ajuda, mas isso é tudo que eu posso fazer por você,” disse Mark.
“Não, eu agradeço. Eu quase deixo passar uma grande oportunidade.”
Até mesmo Lawrence sentia que a razão da recusa de Mark era completamente justificada.
Mark era um mercador da cidade e Lawrence era um mercador viajante. As capacidades e limitações de cada um eram naturalmente muito diferentes.
“Eu sei que eu recusei você... mas estarei orando por seu sucesso.”
Agora era a vez de Lawrence sorrir. “Você me ensinou algo valioso. Só isso já valeu a pena o meu tempo,” ele disse com toda a sinceridade. No futuro, quando ele lidasse com os mercadores da cidade, Lawrence teria essa experiência de apoio. Era algo realmente valioso.
Lawrence não sabia se isso era ou não uma resposta às suas palavras, mas Mark coçou a barba ruidosamente.
Ele franziu a testa e olhou para o lado enquanto ele falava. “Eu posso não ser capaz de ajudá-lo diretamente, mas posso ser capaz de sussurrar a condição da carteira de alguém em seu ouvido.”
Lawrence estava visivelmente surpreso, com isso Mark fechou os olhos.
“Venha na loja mais tarde. Pelo menos posso te dizer de quem comprar.”
“...Muito obrigado, de verdade” Lawrence falou com toda a honestidade.
Mark balançou a cabeça como se estivesse perdido, suspirando. “Quando você faz essa cara, eu acho que entendo por que aquela garota seria tão ousada.”
“...O que você quer dizer?”
“Ah, nada. Só que os mercadores devem manter a mente apenas nos negócios.”
Lawrence queria que Mark (que estava rindo) se explicasse, mas ele já estava se concentrando em Batos e Diana.
“Boa sorte para você,” disse Mark.
“Obrigado.”
O peito de Lawrence ainda estava apertado com a ansiedade, e se ele estava indo negociar, quanto mais cedo fosse, melhor.
Ele agradeceu a Mark novamente e deixou a barraca de Mark para trás.
Era comum dizer que o mercador viajante não tem amigos. Enquanto caminhava pelas ruas, Lawrence decidiu que não era verdade.
Lawrence se dirigiu diretamente para a guilda comercial.
Ele tinha dois objetivos: primeiro, descobrir se Batos tinha um estoque de pirita em mãos ou quaisquer ligações para comprar algumas, e segundo, fazer Batos levar ele até Diana.
Ele se lembrou da cena de Batos sobre o plano de Amati para arrecadar dinheiro — não é totalmente louvável, ele tinha dito.
O homem carregava minério e pedras preciosas das minas pelas mais perigosas trilhas nas montanhas. Ele pode muito bem achar este negócio de especulação de pirita algo absolutamente vergonhoso.
Mesmo sabendo que poderia estar pedindo o impossível, Lawrence ainda tinha que ir.
Ele fez o seu caminho através dos becos até a sede da guilda, fazendo vista grossa para o festival, que mesmo a esta hora tardia continuava com uma atmosfera quase que excitante.
Ele finalmente chegou ao seu destino — uma rua repleta de guildas comerciais. Todas as guildas tinham acendido as lanternas, e havia grupos de pessoas dançando aqui e ali. Agora e alei, Lawrence avistou funcionários continuado com as festividades, simulando as batalhas de espadas desajeitadas.
Forçando seu caminho através da rua congestionada, Lawrence se aproximou do prédio da Guilda Rowen de Comércio. Ele silenciosamente deslizou pelas portas abertas e passou por entre os membros da guilda que estavam bebendo por lá.
A delimitação entre aqueles que queriam beber tranquilamente lá dentro, e aqueles que queriam se juntar ao clamor do lado de fora, parecia bastante clara. Sob o brilho das lâmpadas de óleo com cheiro de peixe, o Hall da guilda estava cheio de conversas tranquilas e risos agradáveis.
Alguns pareceram notar a chegada de Lawrence e o olharam com curiosidade, mas a maior parte estava totalmente preocupada em se divertir.
Lawrence avistou o homem que estava procurando entre os presentes e foi direto em sua direção.
O homem estava sentado em uma mesa com vários outros mercadores mais velhos.
Sob a luz da lâmpada fraca, ele parecia um eremita.
Era Gi Batos.
“Peço desculpas por interromper sua celebração,” disse Lawrence calmamente. Os mercadores mais velhos, com suas décadas de experiência, imediatamente entenderam que ele estava aqui a negócios.
Eles beberam o vinho em silêncio, olhando para Batos.
Batos sorriu brevemente. “Oh, olá Sr. Lawrence. O que posso fazer por você?”
“Sinto que isso bastante repentino, mas preciso falar com você.”
“Sobre negócios, não é?”
Depois de uma breve hesitação, Lawrence assentiu.
“Vamos conversar para lá. Nós não podemos deixar que esses velhotes roubem todo o nosso lucro.”
Os outros mercadores na mesa riram, levantando seus copos, como se dissessem, “Vamos continuar sem você.”
Lawrence deu uma rápida reverência e depois seguiu Batos, que foi mais para dentro da guilda.
Em nítido contraste com o animado saguão, os corredores da guilda eram como becos, à luz da lâmpada logo não os alcançava e o clamor de pessoas reunidas desaparecia como um fogo queimando em uma praia distante do rio.
Batos parou e se virou. “Então, sobre o que é que você quer falar?”
Não havia nenhum motivo para rodeios. Lawrence falou de forma simples e direta. “Eu estou tentando colocar minhas mãos em pirita. Estou à procura de alguém com um estoque, e eu pensei que você poderia ter alguma ideia de por onde começar.”
“Pirita?”
“Sim.”
Os olhos de Batos eram de um azul escuro que beirava a preto. Eles pareciam cinza sob a luz amarela e fraca da lâmpada.
Aqueles olhos fitavam Lawrence uniformemente.
“Você tem alguma dica?” Lawrence perguntou novamente.
Batos suspirou e esfregou os olhos. “Sr. Lawrence, você—”
“Sim?”
“Você se lembra do que eu disse quando falei sobre o que o jovem Amati estava planejando?”
Lawrence concordou imediatamente. É claro que ele se lembrava.
“Não só isso, me lembro de que a senhorita Diana odeia discussões de negócios.”
Batos tirou a mão de seus olhos e depois parou, seu olhar pela primeira vez era o que se esperava de um mercador.
Era o olhar de um homem cuja vida foi dedicada à segurança do transporte de mercadorias através incríveis adversidades, sem se preocupar com o quanto de lucro seria feito.
Aqueles olhos pareciam de alguma forma, como os de um lobo.
“Então você está de olho no estoque do alquimista, não é?”
“Isso facilita essa conversa — sim. No entanto, ouvi dizer que sem a permissão da senhorita Diana, nenhum negócio pode ser feito. É por isso que eu vim falar com você.”
Lawrence de repente se lembrou de quando ele estava apenas começando como um mercador — sem conexões, ele visitava sem aviso prévio e dizia o que fosse preciso para aumentar o seu negócio.
Os olhos de Batos se ampliaram ligeiramente em surpresa, antes de forçá-los de volta à sua expressão habitual. “A pirita é tão lucrativa que mesmo sabendo de tudo isso, você ainda deseja lidar com eles?”
“Não, não é isso.”
“Então... você quer saber a sua sorte ou afastar alguma doença com a pirita, como os rumores dizem?” Batos sorriu com indulgência, como se estivesse brincando com uma criança crescida. Era a sua maneira de provocar.
Lawrence não estava nem zangado nem impaciente.
Se fosse para seu próprio ganho, um mercador poderia olhar para uma balança pendendo a noite toda se fosse preciso. “Eu estou agindo pelo meu próprio interesse. Não vou negar.”
Batos olhou com os olhos arregalados, imóvel.
Se ele fosse rejeitado aqui, sua melhor chance de encontrar um estoque de pirita teria falhado.
Lawrence não tinha o luxo de permitir que isso acontecesse.
“Mas não porque estou tentando lucrar com a pirita. Meu objetivo é mais... mais básico.”
Batos não o interrompeu, e Lawrence tomou isso como uma deixa para continuar.
“Sr. Batos, você é um mercador viajante, então certamente já teve momentos em que seus bens que estava transportando caíram em uma fenda.”
O silêncio continuou.
“Quando a nossa carroça afunda num lamaçal, pesamos a dificuldade de salvá-la contra a de abandoná-la para a lama. O valor dos bens, o ganho, a quantidade de dinheiro na mão, o custo de obtenção de assistência — até mesmo o perigo de ser atacado por bandidos — nós pesamos tudo e decidimos se abandonamos a carga ou não.”
Batos falou devagar. “E você se encontra nesta situação agora, não é?”
“Sim.”
A visão aguçada de Batos aparentava poder ver até o final de uma estrada escura.
Ele viajou pelo mesmo caminho por toda a vida e foi até Diana para ouvir contos de estradas que não tinha tomado.
Aqueles olhos certamente veriam através de qualquer mentira.
Mas Lawrence não vacilou.
Ele não estava dizendo nenhuma mentira.
“Estou determinado a não abandonar a minha carga. Desde que eu possa coloca-la de volta na minha carroça, não me importo de me arriscar a enfrentar problemas.”
Batos imaginou qual era a “carga” e por que Lawrence estava tão desesperado.
Mas o velho mercador apenas fechou os olhos, sem dizer nada.
Havia algo mais a dizer? Lawrence perguntou. E se ele pressionar demais?
O riso que ecoava do hall soava irônico e zombeteiro.
Um tempo precioso estava sendo gastado.
Lawrence se preparou para falar.
E no último momento possível, ele parou.
Ele se lembrou de seu mestre dizendo que esperar era a arma mais poderosa quando se pedia um favor para outra pessoa.
“Isso é o que eu queria ver,” disse Batos, naquele momento, com um pequeno sorriso. “Um bom mercador que pode esperar, mesmo que o tempo seja curto, quando essa é a única opção que resta para ele.”
Lawrence percebeu que tinha sido testado; suor frio percorreu suas costas, fazendo-o tremer.
“Claro, eu já fui mais impaciente nos velhos tempos.”
“Er...”
“Ah, sim. Eu não tenho nenhum estoque de pirita, sinto dizer. Mas certamente os alquimistas têm.”
“Então —”
Batos assentiu levemente. “Tudo que você precisa dizer é ‘Eu vim comprar uma caixa de penas brancas.’ Isso deve levá-lo até a porta. O resto é com você. Você vai ter que ser muito inteligente com a Diana. Duvido que alguém tenha comprado pirita por lá.”
“Muito obrigado. Para te recompensar —”
“Desde que você conte outro bom conto, nós ficaremos quites. O que você acha? Eu pareço tão digno quanto Diana?”
Batos sorriu infantilmente; Lawrence não pôde deixar de rir.
Batos continuou: “Você nunca sabe quando ela está dormindo, então você deve ir para lá agora. E se você está indo, você deve ir logo. Tempo é dinheiro e tudo mais.” Ele apontou para a parte de trás da guilda comercial. “Se pegar o caminho por trás da guilda, você pode sair sem responder as perguntas.”
Lawrence agradeceu a Batos e se dirigiu para o corredor. Ele olhou para trás para ver o velho mercador ainda sorrindo.
Lá, de costas para a luz da lâmpada do hall, Batos parecia um pouco com seu antigo mestre, Lawrence pensou.
Saindo da guilda e indo em direção ao norte, Lawrence logo deu de cara com a parede de pedra.
Ele não teve a sorte de chegar na entrada, então correu ao longo da parede por um tempo até que a encontrou, alavancando a porta e deslizando para dentro.
É claro, não havia luzes, mas enquanto Lawrence corria, seus olhos se adaptaram à escuridão, e como um mercador viajante que acampava na estrada, ele estava acostumado a um pouco de escuridão.
No entanto, os raios de luz que passavam por entre as rachaduras das portas de madeira do distrito, o miado de gatos à distância e o súbito bater ocasional das asas de aves, eram muito mais perturbadores do que haviam sido durante o dia.
Sem o senso de direção, comum entre os mercadores viajantes, Lawrence poderia se perder e acabar correndo para longe com medo.
Quando ele finalmente encontrou a casa de Diana, seu alívio era genuíno.
Era como se tivesse chegado a uma cabine de lenhadores amigáveis depois de uma longa caminhada através de uma floresta sinistra.
Mas do outro lado da porta, que Lawrence estava de frente, talvez não fosse um amigo que iria recebê-lo.
Mesmo que tivesse conseguido a senha de Batos, quando Lawrence pensava em sua conversa com Diana, ele sentia que ela realmente odiava fazer negócios.
Ele se perguntava se seria realmente capaz de comprar alguma pirita.
A incerteza cresceu em seu peito, mas ele respirou fundo e se aproximou da porta.
Ele tinha que obter o mineral.
“Com licença, tem alguém em casa?” Lawrence perguntou hesitante, batendo de leve na porta.
O silêncio da casa de alguém que está dormindo é sutilmente diferente do silêncio de quando ninguém está em casa.
Quando é o primeiro, era difícil de levantar a voz.
Não houve reação por trás da porta.
Um pouco de luz brilhou por entre as fendas, por isso, mesmo que Diana estivesse dormindo, ela parecia estar lá.
A cidade tinha uma punição severa para aqueles que deixavam as lâmpadas acesas enquanto dormiam, mas era difícil imaginar as patrulhas noturnas se aventurarem neste distrito.
Assim como Lawrence estava prestes a bater na porta outra vez, ele ouviu alguém se mover por trás dela.
“Quem é?” A voz parecia sonolenta, cansada.
“Peço desculpas por incomodá-la nesta hora tardia. Sou Lawrence, eu te visitei ontem com o Sr. Batos.”
Uma breve pausa, em seguida, ele ouviu o farfalhar de tecido. Logo a porta se abriu bem devagar.
A luz saia para fora da casa, juntamente com o ar de dentro da sala.
Os olhos de Diana estavam irritados e sonolentos.
Ela usava o mesmo estilo de vestes de quando ele a visitou antes. Sendo uma ex-freira, ela provavelmente usava esse estilo durante o ano todo, de manhã e à noite, o que tornava impossível para Lawrence dizer a partir de seu vestido se ele a tinha acordado.
Em todo o caso, era extremamente rude visitar uma mulher que vive sozinha no meio da noite; Lawrence sabia disso, mas ele falou sem hesitação.
“Eu sei que é muito rude, mas eu tinha que vir.” Ele continuou: “Eu gostaria de comprar uma caixa de penas brancas.”
Os olhos de Diana se estreitaram por um momento ao ouvir a senha que Batos havia dito para Lawrence. Ela se moveu para o lado e, em silêncio, fez um gesto para ele entrar.
O interior de sua casa — que estava livre do mau cheiro de enxofre — parecia estar ainda mais confusa do que tinha estado no dia anterior.
Mesmo o único vestígio de organização do quarto — as estantes — estavam uma bagunça, com a maioria dos livros agora fora das prateleiras, deixados abertos, com suas páginas encarando o teto.
E havia ainda mais canetas de pena brancas espalhadas do que antes.
“Meu Deus, tantos convidados todos no mesmo dia. O festival realmente atrai todo o tipo de pessoa,” disse Diana, para si mesma. Ela se sentou e, como antes, ela não ofereceu uma cadeira para Lawrence.
Lawrence estava prestes a se sentar de qualquer maneira em uma das cadeiras não atulhada por coisas, mas então ele percebeu algo.
Tantos convidados.
Então havia pessoas que vieram antes de Lawrence.
“Imagino que tenha sido o Sr. Batos que te disse para pedir uma caixa de penas brancas?”
Lawrence ainda estava preocupado com quem tinha vindo aqui antes, mas ele balançou a cabeça para esquecer isso por um momento. “Ah, sim. Lamento dizer que forcei o assunto e fiz ele me dizer como falar com você...”
“Meu Deus, é mesmo? É difícil imaginar alguém forçar Batos fazer qualquer coisa,” Diana falou com um sorriso divertido.
Lawrence não tinha nada a dizer sobre isso.
Suas personalidades eram diferentes, mas algo em Diana lembrava Lawrence de Holo.
“Então, qual é o negócio que é tão urgente que você conseguiu convencer aquele velho teimoso?”
Havia uma boa quantidade de pessoas que desejavam as habilidades e produtos que os alquimistas possuíam por uma variedade de razões.
Diana era uma barragem que avaliava esses desejos.
Lawrence não sabia por que, mas Diana — sentada em sua cadeira e olhando para ele uniformemente — de alguma forma, parecia como um grande pássaro, guardando seus ovos com asas de ferro.
“Eu preciso comprar pirita,” disse Lawrence, apesar de ter sido esmagado pelo semblante de Diana.
Diana colocou uma mão branca no rosto. “Ouvi dizer que o preço subiu bastante.”
“Não é —”
“É claro, o Sr. Batos nunca teria ajudado você se fosse algo tão simples como mero lucro. Portanto, deve haver alguma outra razão, não?”
Ele sentia que Diana estava sempre um passo à frente dele. Ela era mais rápida do que Lawrence e parecia totalmente disposta a demonstrar isso.
Não devo ficar com raiva, Lawrence disse a si mesmo. Ele estava sendo testado.
Ele assentiu com a cabeça. “Não é para negócios. Preciso pirita para um duelo.”
Os olhos de Diana se estreitaram enquanto ela sorria. “Um duelo com quem?”
“É —”
Ele hesitou em mencionar o nome de Amati. Não porque ele pensou que seria inapropriado.
Foi porque ele se perguntou se Amati era seu verdadeiro adversário neste duelo.
Ele balançou a cabeça. “Não, é —” Lawrence voltou a olhar para Diana. “É contra a minha carga.”
“Sua carga?”
“Um mercador viajante é sempre inimigo da sua carga. Estimar seu valor, o planejamento para o seu transporte, decidir sobre seu destino. Se ele errar em sequer uma dessas coisas, ele a perderá. Neste exato momento, estou tentando recuperar uma peça que caiu da minha carroça. Tendo reavaliado o valor, o transporte e o destino, tenho percebido que esta é uma carga que não posso me dar ao luxo de perder.”
A franja de Diana vibrou no que parecia ser a brisa — mas não, era sua própria respiração quando ela exalava.
Ela sorriu suavemente e pegou uma caneta de pena que estava a seus pés.
“Comprar uma caixa de penas brancas não é nada mais do que uma senha glorificada. Tudo isto significa que eu não me importo, desde que eu seja capaz de ter um pouco de diversão. Será que um pássaro não deixa cair penas quando bate suas asas animadamente? Sou a minha senha para algumas pessoas me ajudarem a escolher meus visitantes com cuidado, então tudo o que preciso fazer é olhar para eles para perceber. Se é apenas pirita que você deseja, você pode comprar o quanto quiser.”
Lawrence ficou de pé. “Obriga—”
“No entanto,” Diana falou, interrompendo-o. Lawrence, de repente teve uma sensação muito ruim.
Vários visitantes em um único dia. Uma cadeira sem ter nada empilhada sobre ela.
Não pode ser — as palavras negras flutuavam na mente de Lawrence.
O rosto de Diana era agora de desculpas. “Outro alguém já comprou pirita.”
Assim como ele temia.
Ele fez imediatamente as perguntas que qualquer mercador gostaria de fazer.
“Quanto eles compram? E a que preço?”
“Se acalme. O cliente em questão comprou a crédito e foi embora sem a pirita. Pode-se dizer que ele simplesmente fez um pedido. Pela minha parte, eu não me importaria em deixar você ter o material em seu lugar. Vamos tentar negociar com a primeira parte, não é? Quanto à quantidade, eu me lembro de ser dezesseis mil irehd no valor do mercado atual.”
Isso era quatrocentos trenni. Se ele pudesse adquirir tanto assim, seria uma benção gigante para seus planos. “Eu entendo. Você pode me dizer quem é o comprador...?”
Se Diana fosse dizer que era Amati, as esperanças de Lawrence seriam anuladas.
Mas ela apenas balançou a cabeça ligeiramente. “Eu vou lidar com a negociação. Por razões de segurança, não permitimos que os outros saibam a identidade de quem faz negócios com alquimistas.”
“M-mas—”
“Você tem alguma objeção?” Ela sorriu friamente.
Lawrence estava aqui para pedir um favor; ele só poderia permanecer em silêncio.
“Você disse que este é um duelo, então eu presumo que as circunstâncias não são comuns. Vou ajudar você em tudo o que posso e deixar você saber os resultados o mais rápido possível. Onde eu serei capaz de encontrá-lo amanhã?”
“Ah, er... no mercado em frente ao estande do vendedor pedra. Estarei lá o tempo todo enquanto o mercado estiver aberto. Caso contrário, se você entrar em contato com Mark, o vendedor de trigo, sua localização é...”
“Eu conheço o lugar. Vou mandar um mensageiro assim que eu for capaz.”
“Obrigado.” Lawrence não conseguia pensar em mais nada para dizer.
No entanto, o fato é que, dependendo dos resultados das negociações de Diana, ainda era possível que ele não seria capaz de comprar qualquer pirita. As consequências seriam quase fatais.
Não havia muito o que dizer.
“Eu não hesitaria em pagar uma quantia considerável. Não posso pagar o dobro do valor de mercado ou qualquer coisa assim, mas por favor, informe a eles que serei muito generoso.”
Diana sorriu e acenou com a cabeça, se levantando da cadeira.
Lawrence percebeu que era hora de se despedir. O fato de que ele não havia sido rejeitado depois de aparecer sem ser convidado a esta hora ridícula já era um milagre.
“Peço desculpas por aparecer assim de repente, a esta hora.”
“Não se preocupe. A noite e o dia não são diferentes para mim.”
De alguma forma, ele sabia que ela não estava brincando, mas ele riu de qualquer modo.
“Desde que traga histórias interessantes, você poderia ficar a noite toda e eu não me importaria nem um pouco.”
Suas palavras poderiam ter sido interpretadas como sedutoras, mas Lawrence sabia que ela estava sendo sincera.
Infelizmente, ele já havia dito a única história interessante que ele conhecia.
Em vez disso, uma pergunta apareceu espontaneamente em sua mente.
“Tem alguma coisa errada?” Diana perguntou.
Lawrence parou com a ideia que o atingiu.
Atordoado, ele alegou que não era nada antes de se dirigir para a porta.
A pergunta era absurda. Ele não poderia fazê-la.
“Ser tão misterioso ao sair da casa de uma mulher — honestamente, você vai ter sorte se os deuses não o punirem,” Diana falou de forma bastante feminina. Seu sorriso divertido o fez pensar que ela realmente responderia qualquer pergunta que ele se importasse em fazer.
E ela era, provavelmente, a única que podia responder.
Ele se virou para falar ao mesmo tempo em que estendia a mão para a porta.
“Eu... tenho uma pergunta.”
“Pergunte o que quiser,” ela falou sem hesitar.
Lawrence limpou sua garganta. “Existe alguma história sobre deuses pagãos... e humanos, que se... se apaixonaram e se tornaram um casal?”
Ele sabia que não seria capaz de responder se Diana perguntasse por que ele queria saber isso.
No entanto, apesar dos riscos, Lawrence tinha que perguntar.
Holo chorou, dizendo que se tivesse um filho, ela não estaria mais sozinha.
Se isso fosse possível, ele queria dizer isso a ela e, talvez, dar a ela uma pequena esperança.
Diana ficou surpresa por um momento com a pergunta, mas logo recuperou a compostura e respondeu com uma voz lenta e calma.
“Existem muitas.”
“Sério?” Lawrence falou surpreso.
“Sim, por exemplo — ah, me desculpe, você está com pressa.”
“Ah, er, sim. Talvez outra hora... se não se importar, eu gostaria muito de ouvir os detalhes.”
“Certamente.”
Felizmente, ela não pediu explicações do porque ele queria saber disso.
Lawrence agradeceu profundamente e se preparou para deixar a casa de Diana.
Assim que ele estava fechando a porta, ela pensou ouvi-la dizer algo bem baixinho: “Boa sorte”
Quando ele se virou para perguntar, a porta já estava fechada.
Ela sabia do duelo entre ele e Amati?
Algo estava estranho nessa conversa, mas Lawrence não tinha tempo para pensar nisso.
Em seguida, ele precisava voltar para a barraca de Mark e então, procurar outras pessoas que pudessem possuir pirita em grandes quantidades.
Ele tinha pouco tempo — e como se isso não fosse ruim o suficiente, ele praticamente não tinha nenhuma pirita em mãos.
Se continuasse assim, nem seria uma competição. Seu único recurso seria orar por intervenção divina.
Mesmo que isso significasse depender do seu amigo, Lawrence esperava que Mark lhe desse alguns nomes, e mesmo que tivesse que pagar mais do que valesse a pena, ele tinha que conseguir pirita.
Lawrence perguntou a si mesmo se suas negociações noturnas e frenéticas lhe trariam para mais perto de Holo, e sua única resposta era a incerteza.
Quando ele chegou na barraca de Mark, Lawrence o encontrou sentado na mesma mesa, ainda bebendo cerveja, mas agora seu aprendiz estava ao lado dele, devorando um pedaço de pão.
Assim que Lawrence pensou que era um momento estranho para o menino jantar, Mark percebeu sua presença.
“Teve sorte?” ele perguntou.
“Apenas o que você vê,” disse Lawrence, acenando com a mão um pouco enquanto olhava Mark nos olhos. “Falei com Diana, mas alguém chegou primeiro. Não tem como dizer como isso vai acabar.”
“Alguém chegou lá primeiro?”
“Eu não tenho escolha a não ser depositar minhas esperanças no que você me disser.”
Dada a disposição de Diana em cooperar, Lawrence adivinhou que as chances eram de 70 em 30 disso funcionar.
Mas ele achava que agir como se não houvesse esperança faria Mark ter um pouco de simpatia.
Em sua conversa anterior com Mark, Lawrence tinha entendido que o seu pedido de ajuda era um pouco irracional dada a perspectiva de um mercador da cidade.
O que deixou como única opção um apelo emocional.
No entanto, a resposta de Mark demorou a chegar.
“Ah... sim, sobre isso.”
Lawrence ouviu a declaração evasiva com o sangue drenando do seu rosto.
Mark bateu na cabeça do seu aprendiz, gesticulando com o queixo. “Então? Vamos ouvir os resultados.”
O menino engoliu um pedaço de pão e rapidamente se levantou da cadeira de madeira. “Se pagar em trenni de prata, então... trezentas e setenta moedas em pi—”
“Não diga isso na frente de todo mundo!” Mark olhou em volta rapidamente enquanto fechava a mão sobre a boca do menino. Se a conversa fosse ouvida, seria um problema. “Então, é isso.”
Lawrence estava confuso.
Pagar em trenni? No valor de trezentas e setenta moedas?
“Ha-ha, eu não posso ajudar, mas gosto quando você faz essa cara. Então, depois que você saiu, eu pensei sobre isso.”
Mark tirou a mão da boca do menino e pegou sua caneca de cerveja, se divertindo.
“Recusei o seu pedido porque eu tenho uma reputação a zelar. Qualquer outro mercador da cidade faria o mesmo. Mas mesmo eu comprei algumas “coisinhas” para fazer algum dinheiro extra — e muitos já fizeram o mesmo. A razão pela qual eu só posso comprar uma quantidade limitada é que eu tenho muito pouco dinheiro em mãos. O preço do trigo deve estar caindo já que as pessoas que retornaram de suas viagens com bens não compraram trigo. E mesmo assim, as pessoas que vieram para vender trigo já estão vendendo, que é para onde todo o meu dinheiro se foi. Então...”
Mark engoliu um pouco de cerveja, arrotando confortavelmente antes de continuar.
“Então, e as pessoas que têm dinheiro? Eu não posso acreditar que elas seriam capazes de resistir. Eles provavelmente comprarão você-sabe-o-que em grandes quantidades nos bastidores. E aqui é onde você precisa de um suporte. Sabe, esses mercadores não são lobos solitários como você. Cada um tem o seu negócio, a sua posição e a sua reputação. Eles compraram essas coisas, mas o preço tem subido tanto que está ficando difícil vender. Tudo o que você precisa fazer é vender um pouco para conseguir um lucro surpreendente, mas isso faz com que alguns deles fiquem ainda mais nervosos. Então, o que acontece a seguir? Tenho certeza que um homem inteligente como você pode descobrir isso.”
Lawrence acenou com a cabeça depois de um momento.
Mark deve ter feito seu aprendiz correr por toda a cidade, espalhando um rumor — um rumor que deveria ser mais ou menos assim: Há um mercador viajante louco na cidade que quer comprar pirita com dinheiro. Por que não aproveitar a oportunidade para dar vazão a um pouco dessa pirita que não está vendendo?
Seria uma oportunidade perfeita para os mercadores.
E não havia dúvida de que Mark tinha assinado um contrato prometendo uma taxa de serviço para intermediar a transação oculta.
Era brilhante — realizar um acordo com pirita sob o pretexto de fazer um favor a alguém.
Mas ser capaz de reunir 370 moedas trenni — claramente havia uma pressão para se vender no mercado.
“Então é isso. Se você quiser, vou mandar o menino espalhar o rumor imediatamente.”
Não havia nenhuma razão para recusar.
Lawrence desfez o laço do saco de estopa que tinha nas costas.
Mas então ele parou. “Mesmo assim —”
Mark olhou para ele com ar de dúvida.
Lawrence voltou a si e rapidamente pegou uma bolsa de moedas de prata do saco e a colocou sobre a mesa. “Desculpe,” ele murmurou.
Mark parecia momentaneamente perdido com o estranho comportamento de Lawrence. “Essa é a hora em que você me agradece, certo?”
“Ah, sim, desc... não, quero dizer —” Lawrence de repente sentiu como se estivesse falando com Holo. “Quero dizer, obrigado.”
“Bwa-ha-ha-ha! Se eu soubesse que você era um cara tão divertido, eu teria... Na verdade, acho que não.”
Mark pegou a bolsa com as moedas de prata de Lawrence e rapidamente olhou para ela; então ele desfez a corda e entregou o saco a seu aprendiz, que rapidamente esvaziou o seu conteúdo e começou a contar as moedas de prata.
“Você mudou,” Mark falou.
“...É mesmo?”
“Muito. Você não costumava ser um excelente mercador, mas sim um mercador completamente às avessas. Você nunca pensou em mim realmente como um amigo, não é?”
Mark estava certo. Lawrence não tinha resposta.
O vendedor de trigo apenas sorriu. “Mas e agora? Eu sou apenas um mercador conveniente de se lidar?”
Lawrence ficou momentaneamente atordoado. Ele não poderia concordar com esta declaração.
Se sentindo como se estivesse preso no centro de uma estranha ilusão, ele balançou a cabeça negativamente.
“É por isso que eu nunca pude me contentar com a vida de um mercador viajante. Mas há algo ainda mais interessante.”
Mark estava assim porque ele tinha bebido demais? Ou haveria algum outro motivo?
Mark continuou, soando como se realmente estivesse se divertindo. Seu rosto estava redondo como uma castanha agora, apesar do corte quadrado de sua barba.
“Deixe-me perguntar uma coisa. Se você enfrentasse a possibilidade de nunca mais me ver, você estaria correndo por toda a cidade freneticamente como você está agora?”
O menino, que vivia cada dia com Mark como seu mestre, olhou para os dois homens.
Lawrence achou tudo isso muito misterioso.
Embora ele certamente pensasse em Mark como um amigo, ele não poderia acenar honestamente com a cabeça e dizer “sim” a essa pergunta.
“Ha-ha-ha-ha. Bem, estou ansioso pelo futuro. Mesmo assim —” ele fez uma pausa, depois continuou calmamente — “é pela sua companheira que você está tão desesperado.”
Lawrence sentiu como se tivesse engolido alguma coisa quente e sentiu isso indo para dentro do seu estômago.
Mark olhou para o aprendiz. “Isto é como um homem se parece quando ele está obcecado por uma mulher. Mas é o ramo inflexível que quebra em um vento forte.”
Um único ano sozinho era insignificante em comparação a meio ano com uma companhia.
Então, quanto mais velho Mark era em comparação a Lawrence?
“Você não é diferente de mim. Você tem a maldição do mercador viajante,” disse Mark.
“M-maldição?”
“Mas está quase quebrada, que é o que está te tornando tão divertido. Você não vê? Você começou a viajar com a sua companheira por pura sorte?”
Holo tinha se escondido em sua carroça cheia de trigo enquanto Lawrence passava pela aldeia dela.
Ter ficado tão próximo a ela era nada mais nada menos do que um presente de boa sorte.
“Bwa-ha-ha! Me sinto como se estivesse olhando para mim mesmo quando conheci Adele! Você tem a maldição, ok.”
Lawrence sentiu que finalmente entendeu.
Embora Holo fosse muito importante para ele, havia uma parte dele que sempre preservava uma certa distância entre eles.
Ele não tinha percebido o quão cego ele tinha se tornado com as coisas a sua volta por causa do Holo.
Era uma situação de desequilíbrio.
“A maldição... Você quer dizer que a famosa ‘queixa dos mercadores viajantes’?”
Mark deu uma gargalhada, em seguida, bateu em seu aprendiz — que tinha parado de trabalhar — na cabeça. “Os poetas vão te dizer que o dinheiro não pode comprar o amor, e os padres lhe dirão que há coisas mais preciosas do que o dinheiro. Mas se é assim, por que é que trabalhamos tão duro para ganhar dinheiro? Para ganhar algo ainda mais precioso?”
Lawrence tinha pensado tão pouco sobre o que exatamente Holo era para ele, porque ela estava sempre ali ao lado dele.
Se a sua presença tinha sido algo que tinha ganhado apenas depois de trabalhar muito, ele não teria sido tão desleixado.
Ele sempre acreditou que algo verdadeiramente precioso precisaria de muito esforço para conseguir.
Se ela perguntasse para ele “O que eu sou para você?” agora, Lawrence tinha certeza de que ele poderia responder.
“Ah, um belo conto que eu não conto há um longo tempo. Combinado com a informação sobre as condições no norte do país, por tudo isso, dez lumiones parecem uma pechincha!”
“Se você inventou tudo isso, será extorsão,” Lawrence falou indignado. Mark só sorriu, o que, por sua vez, provocou um sorriso em Lawrence.
“Espero que tudo corra bem para você.”
Lawrence assentiu, seu humor estava claro como um céu noturno sem nuvens.
“Embora eu suponha que só depende de você como tudo isso vai acabar...”
“Hm?”
“Ah, nada,” Mark falou com um aceno de cabeça. Ele apontou para o menino, que tinha acabado de contar as moedas de prata. O aprendiz era um modelo de competência quando fez os preparativos e ficou pronto para partir em instantes.
“Certo, pode ir.” Mark enviou o aprendiz em sua tarefa e, em seguida, se virou para Lawrence. “Então, onde você vai dormir esta noite?”
“Ainda não decidi.”
“Bem, então —”
“Espere, eu decidi. Posso dormir aqui?”
Mark deu a Lawrence um olhar vazio. “Aqui?”
“Sim — você tem bastante sacos de trigo. Me empreste alguns.”
“Certamente eu posso te emprestar alguns, mas venha para minha casa. Eu nem vou cobrar.”
“Ah, mas isso vai trazer sorte.” A prática era algo que muitos mercadores viajantes acreditavam.
Mark desistiu de pressionar o seu convite. “Eu vou voltar aqui, amanhã ao amanhecer.”
Lawrence assentiu, e Mark levantou sua caneca.
“Um brinde aos seus sonhos.”
Lawrence percebeu que ele não tinha motivos para recusar.