Seu nome. Japonesa

Tradução: Virtual Core


Volume Único

Capítulo 3: Dias

Um alarme desconhecido.

Esse pensamento passou pela minha cabeça ainda adormecida. Um despertador? Mas eu ainda estou com sono. De qualquer forma, vou dormir um pouco mais. Com os olhos ainda fechados, senti o smartphone que deveria estar ao lado do futon.

Hã?

Estendi minha mão ainda mais longe. Este alarme está realmente ficando chato... onde diabos eu coloquei?

— Ow!

Com um baque, minhas costas bateram com toda força no chão. Aparentemente, caí da minha cama... eh? Espere um segundo... cama?

Finalmente abri meus olhos e levantei a metade superior do corpo.

Hã?

Um quarto totalmente desconhecido.

Estou em um quarto totalmente desconhecido.

Será que eu passei a noite em algum lugar?

— ...Onde estou? — Assim que essas palavras saíram da minha boca, notei que minha garganta parecia estranhamente pesada. Instintivamente, coloco minha mão contra ela. Meus dedos sentiram um caroço duro e proeminente.  — Hmm? — Minha voz soou estranhamente profunda. Deixei meu olhar descer para o meu corpo.

… sumiram.

Uma camiseta desconhecida se esticava até o meu estômago. Sumiram.

Meus peitos... sumiram.

E bem no meio das minhas pernas, havia algo, emitindo uma presença tão grande que ofuscou a ausência dos meus seios.

O que... é isso?

Lentamente, movi minha mão para perto dessa coisa. Sentia como se a pele e o sangue de todo o meu corpo estivessem sendo sugados para esse ponto.

…Isto…. poderia ser…

.......

.....

....

Minha mão fez contato.

Eu quase perdi a consciência.

✧ ✧ ✧

Quem é esse cara?

Em pé, na frente do espelho em um banheiro estranho, eu olhava fixamente para o reflexo de um rosto desconhecido. O cabelo ligeiramente desleixado descendo até as sobrancelhas tinham uma taxa de 6:4 de tentar não se esforçar. As sobrancelhas davam uma impressão de teimosia, mas os olhos abaixo delas, que eram um pouco grandes, pareciam os de uma pessoa amável. Mais para baixo estavam os lábios ásperos que pareciam estar completamente isolados do conceito de hidratação, e por trás de tudo isso estava um pescoço duro.

Por alguma razão, em uma das bochechas estava preso um grande curativo e, ao tocá-lo suavemente, uma dor maçante percorreu todo o meu rosto. Doeu, e mesmo assim não acordei. Minha garganta estava severamente seca. Abri a torneira e bebi a água juntando as mãos. Estava desconfortavelmente quente e cheirado a água de piscina.

— Taki, você está acordado?

Ao ouvir de repente a voz de um homem, soltei um gritinho. Taki?

— ...Hoje era sua vez de cozinhar, não era? Que diabos está fazendo? — Enquanto olho timidamente para o que parece a sala de estar, um homem de meia-idade vestindo um terno olha para mim brevemente voltar o olhar para a sua refeição e me lançar aquela pergunta.

— D-desculpa! — Falei por reflexo.

— Eu vou sair. Tem sopa de miso, então sirva-se.

— Ah, ok.

— Mesmo que esteja atrasado, certifique-se de ir para a escola — disse o homem quando rapidamente reuniu seus pratos, os colocou no balcão da cozinha, passou por mim congelado na entrada, calçou seus sapatos, abriu a porta, saiu e então fechou a porta. Tudo aconteceu em um flash, mais rápido do que um milhafre poderia cantar.

— ... Que sonho estranho — eu disse em voz alta, em seguida, olhei ao redor da sala mais uma vez.

Por toda a parede, imagens de desenhos de pontes ou edifícios ou várias outras estruturas estavam penduradas. No chão, revistas, sacos de papel e caixas de papelão estavam espalhados. Contrastava com a família Miyamizu, que ostentava a limpeza (apesar de ser por causa da vovó), deu a impressão de ser um deserto sem lei. O quarto em si era bastante pequeno, então imaginei que deveria ser um apartamento.

Não sei de onde veio toda a ideia para este sonho, mas parecia bastante realista. Minha imaginação deve ser grande. Talvez eu pudesse ser um artista ou algo assim no futuro?

Pirorin!

Como se respondendo a minhas reflexões, o toque eletrônico de uma mensagem sendo recebida tocou pelo corredor. Em pânico, engoli em seco e corri de volta para o quarto. Um smartphone tinha caído ao lado das folhas, e na tela uma mensagem curta era exibida.

Você ainda está em casa? Corra! — Tsukasa

Eh? O quê, o quê? Quem é Tsukasa?!

Antes de mais nada, preciso ir para a escola. Olhei em volta e vi um uniforme masculino suspenso pela janela. Mas no momento em que o peguei, percebi uma questão ainda mais urgente.

Ahh... por que tem que ser agora?

Eu preciso ir ao banheiro!

Soltei um suspiro pesado o suficiente para fazer todo o meu entrar em colapso. Qual o problema com os corpos dos meninos?! De alguma forma terminei o serviço, mas meu corpo ainda estava tremendo de raiva. Por que é que, quanto mais eu tentava mijar, quanto mais eu tentava ajustar o alvo, mais e mais difícil era não deixar nada cair fora do vaso?! Eu sou idiota?! Ou esse cara é estranho? Ahh, eu nunca tinha visto antes! Apesar de toda a reclamação, ainda sou uma dama do santuário!

Suportando a desgraça insuportável e segurando as lágrimas, ou melhor, não chorando completamente, mas derramando um pouco, troquei para o uniforme escolar e abri a porta do apartamento. De qualquer forma, vamos sair daqui, pensei, e levantei os olhos.

...E então.

Pela visão diante de mim,

Minha respiração foi roubada.

Engoli em seco.

Eu estava de pé no que parecia ser um corredor elevado de um prédio residencial. Sob os meus olhos estava a extensão verde de um parque. O céu perfeitamente imaculado era uniformemente pintado de um azul vívido. E na fronteira onde o verde de baixo e o azul de cima se chocavam, edifícios de todos os tamanhos estavam alinhados, quase como fileiras de origami bem dobrado. Em cada um desses prédios eram detalhadas janelas elaboradas, esculpidas como padrões costurados. Algumas janelas refletiam o azul do céu, algumas carregavam o verde profundo das árvores, e algumas brilhavam sob os raios do sol da manhã. O pequeno edifício vermelho visível à distância, o edifício arredondado prateado, de certa forma parecido com uma baleia, e o edifício brilhante, que parecia cortado de bloco de obsidiana pura, certamente eram todos famosos, guardados vagamente em algum lugar no fundo da minha memória. Também ao longe, carros parecendo brinquedo formavam um fluxo ordenado, tecendo entre os edifícios.

A cena diante de mim era muito mais bonita do que tinha imaginado, ou qualquer coisa que tinha visto na TV ou em filmes. Ou talvez nunca tinha tentado visualizar seriamente, mas lá estava: o ambiente da maior metrópole do Japão. Profundamente comovida, eu não podia fazer nada além de pronunciar uma única palavra.

— Tóquio.

Eu respirei fundo e cerrei os olhos contra o brilho, o mundo radiante em minha frente, como se estivesse olhando diretamente para o sol.

✧ ✧ ✧

“Ei, ei, onde você comprou isso?” “Em Nishi-Azabu, a caminho de casa depois da escola.” “No ato de abertura de seu próximo show...” “Ei, vamos faltar a prática de hoje e ver um filme...” “Sobre a festa de hoje à noite...”

O-o que são essas conversas? Essas pessoas são realmente estudantes modernas do ensino médio? Não só leem posts de celebridades no Facebook ou algo assim?

Eu estava meio que me escondendo atrás da porta, observando a sala de aula e esperando o momento certo para entrar. No momento em que cheguei na escola, depois de horas de ficar horas perdido mesmo usando o GPS o caminho inteiro, o som que marcava o início da pausa para o almoço tinha tocado.

Mas sério, este prédio da escola... com todas as suas paredes feitas de vidro e portas de ferro colorido com pequenas janelas redondas - o que é isso, a feira mundial ou algo assim? É assim que o moderno e elegante se parece. Então, este era o mundo que este garoto, Tachibana Taki, que tinha a mesma idade que eu, vivia. Confirmei o nome na lista da turma e o rosto indiferente na foto do ID na minha mente. De alguma forma isso me irritou um pouco.

— Taaaki!

“!!” Meus ombros foram repentinamente agarrados por trás, um pouco de ar que quase se transformou em um uivo escapou dos meus lábios. Virando a cabeça, vi um menino com óculos e uma a boa aparência de um representante de classe com um largo sorriso, seu rosto tão perto que nossos cabelos quase se tocaram. Ahh! Este é o mais próximo que já estive de um cara!

— Vindo para a escola durante o almoço, hein? Vamos comer — disse o menino de óculos, e depois caminhou comigo pelo corredor, com as mãos ainda presas nos meus ombros.

Whoa, whoa, muito perto!

— Ignorando meus textos... — ele murmurou.

Ah, isso mesmo. — ...Tsukasa-kun?

— Haha, kun? É sua maneira de se desculpar?

Não sabendo como responder, por enquanto me contorci para escapar de seus braços.

✧ ✧ ✧

— ...você se perdeu? — Perguntou um garoto de aparência amável, chamado Takagi, incapaz de esconder a descrença em seu rosto. — Como diabos você se perdeu no caminho para a escola?

— Um... — me atrapalhei com as palavras. Nós três estávamos sentados no canto do telhado largo do prédio da escola. Talvez porque quiséssemos evitar os raios quentes do sol do verão, embora fosse uma pausa para o almoço não havia quase ninguém ao nosso redor. — Uh... watashi¹...

Watashi?

Takagi e Tsukasa me olhavam com suspeita. Ups. Agora, sou Tachibana Taki.

— Ah, um... watakushi!

— Hã?

Boku!

— Haa?

— ...Ore?

Finalmente, os dois concordaram, embora a suspeita não deixasse seus olhos. Entendo. Ore . Entendi!

— …Foi divertido. Tóquio é tão animada e emocionante, parece um festival.

— ...Você está falando com um sotaque? — Takagi perguntou.

— Ehh! — Devo concordar? Meu rosto ficou vermelho.

— Taki, cadê seu almoço? — Tsukasa continuou o interrogatório.

— Ehhhh! — Não tenho um!

— Você está doente ou algo assim? — Eles me encararam enquanto procurava freneticamente na minha bolsa com suor escorrendo pelo meu rosto, os dois riram.

— Tsukasa, você tem alguma coisa aí?

— Sanduíche de ovo. Coloque seu croquete junto ele.

— Obrigado... — eu disse, um pouco impressionada o improvisado sanduíche croquete de ovo. Quem sabia que os caras poderiam ser tão elegantes e gentis? Ahh, espere, espere Mitsuha, não pode se apaixonar pelos dois ao mesmo tempo! Bem, eu não vou... mas de qualquer maneira, Tóquio é muito incrível!

— Então, quer parar naquela lanchonete novamente depois da escola?

Ao ouvir Takagi falar essas palavras, meu olhar se congelou em sua boca, que estava prestes a morder um sanduíche.

— Ah, com certeza — disse Tsukasa, depois tomou um gole de água.

Eh? O que ele disse? Parar... onde?

— Taki? Você também vem?

— Eh!?

— A lanchonete...

— L-l-lanchonete!? Sem prestar atenção para a crescente desconfiança nos seus rostos, não poderia me impedir de gritar de emoção. Agora era a hora da vingança para aquela parada de ônibus!

✧ ✧ ✧

Dois cães pequenos vestindo roupas de idol estavam sentados em cadeiras próximas, olhando para mim com seus olhos brilhando e sacudindo as caudas preguiçosamente. Havia um espaço anormalmente grande entre cada mesa, metade dos clientes eram estrangeiros, um terço usava óculos de sol, três quintos tinham chapéu, nem uma única pessoa estava vestindo um terno, e eu não tinha ideia de quais poderiam ser suas profissões. Sério, o que é esse lugar? Um lugar onde os adultos se reúnem em tardes durante a semana com seus cães?!

— A estrutura de madeira no teto é agradável.

— Ah, parece que se esforçaram bastante para fazê-lo.

Sem mostrar sinal de medo nesse ambiente impressionantemente elegante, Tsukasa e Takagi casualmente compartilhavam suas opiniões sobre design de interiores. Aparentemente, essas crianças tinham um interesse na arquitetura e estavam passeando em busca de lojas diferentes. Que tipo do passatempo é esse!? Garotos do ensino médio não costumam ler “Mu” ou coisas do tipo?!

— Taki, já se decidiu?

Instigado por Tsukasa, interrompi minhas observações para olhar sobre o enorme cardápio com capa de couro.

— ....!! Poderia viver com o preço dessa panqueca por um mês!

— Em que era você está? — Brincou Takagi.

— Hmmm... — Um debate interno durou um momento, então percebi que isso tudo era um sonho. Nesse caso, quem se importa? É o dinheiro de Tachibana Taki de qualquer forma, só vou comer o que eu quiser.

Ahh... que sonho bom. Terminei de comer meu pancake que parecia uma fortaleza cercada por amoras e manga. Dei um suspiro profundo e satisfeito, então bebi meu café. E então, senti uma vibração em meu smartphone. ...Um monte de emojis irritados na mensagem.

— ... Ah! O que eu faço? Ele diz que estou atrasado para o meu trabalho! Alguém que se parece com meu chefe está zangado!

— Oh, era seu dia hoje?

— Então se apresse e vá embora.

— Entendi! — Me levantei correndo, então...

— …O que está errado?

— Onde é que eu trabalho mesmo?

— ...Haaa?

As expressões deles tinham ultrapassado o espanto, já beiravam a raiva. Não é justo! Eu não sei nada sobre esse cara!

✧ ✧ ✧

“Um, me desculpe, onde está a minha comida?” “Taki! Pega o pedido da mesa 12!” “Eu não pedi isso...” “Taki! Eu disse que estávamos sem trufas!” “Onde está o cheque?” “Taki! Saia do caminho!” “Taki! Leve isso a sério!” “Taki!!”

O trabalho acabou sendo em um restaurante italiano de classe alta. Um candelabro cintilante pendia do teto de dois andares, junto com ventilador grande que girava lentamente e parecia algo tirado de um filme. Tachibana Taki trabalhava como garçom e ao entardecer o restaurante estava ocupado como o inferno.

Eu troquei os pedidos, desarrumei as mesas, fui repreendido pelos clientes, e fui repreendido pelos chefs, mas de alguma forma ainda estava conseguindo ficar de pé mesmo confusa. Quero dizer, qual é, esta é a minha primeira vez aqui! Nunca sequer tive um emprego antes! Espere um minuto, este sonho está começando a se tornar um pesadelo! Agghh, quando eu vou acordar!? Isso é tudo culpa sua, Tachibana Taki!

— ..espere um pouco, jovem.

— Eh, ah, sim? — Me virei rapidamente depois de passar pelo dono da voz (como diabos deveria saber quem você está chamando de “jovem”?)

Eek. Sentado lá estava um homem vestindo uma camisa de colarinho com um colar de ouro enrolado ao redor de seu pescoço e muitos anéis grandes e brilhantes em seus dedos. Obviamente um gangster. Bem, você pode ver algumas dessas pessoas na frente da estação na cidade ao lado da minha cidade natal. Nesse sentido, talvez eu parecesse mais com ele do que dos clientes que parecem celebridades.

Com um sorriso forçado, me disse: “Tinha um palito na minha pizza.”

— Eh?

O Sr. Gangster ergueu sua última fatia de pizza de manjericão, me mostrando o palito que ele claramente pôs ali. Talvez estivesse brincando, mas mesmo assim não tinha ideia de como responder.

— Seria perigoso se eu comesse agora, não é? Tive sorte de ter visto, mas... o que você vai fazer? — Ele disse, com aquele sorriso ainda em seu rosto.

— Eh... —  “acredito que você o pôs lá, não é mesmo?” Claro que não ia dizer isso. Em uma perda total de palavras, tentei o meu melhor para ter um sorriso amigável. Imediatamente, o sorriso do gangster desapareceu.

— Estou perguntando o que você vai fazer sobre isso! — Ele gritou de repente, batendo na mesa com seu joelho.

O barulho fez todo o restaurante congelar instantaneamente, juntamente com meu corpo.

— Senhor! Tem algo errado?

Uma garçonete apareceu e me empurrou para fora do caminho, me dizendo para recuar quando ela passou. Outro garçom, provavelmente um dos experientes, agarrou meu braço por trás e me arrastou para longe.

— Você está realmente estranho hoje, sabe? — Ele disse com um rosto preocupado.

Com o canto do olho vi a garçonete se curvar profundamente e pedir desculpa para o gangster. Então, como se alguém aumentasse o volume, a conversa no restaurante retornou.

✧ ✧ ✧

As horas de funcionamento do restaurante finalmente chegaram ao fim. A lâmpada do candelabro tinha sido apagada, os panos das mesas tinham sido removidos. Uns limparam os vidros, outros verificaram o inventário, e alguns estavam nos computadores na registradora. Quanto a mim, estava empurrando algo que parecia um cortador de grama para limpar o chão.

Ainda não tive a chance de falar com a mulher que me salvou anteriormente, que agora estava limpando as mesas, uma por uma. Seus cabelos longos, amarrados com uma rede, lançavam uma sombra sobre o seu rosto, me deixando incapaz de ler sua expressão. A única coisa que poderia dizer, no entanto, era que seus lábios formavam um sorriso amável. Tinha longos braços e pernas e uma cintura fina, mas também tinha seios bastante grandes. Ao passar, consegui ler “Okudera” no seu crachá. Ok, aqui vamos nós!

— Okudera-san — assim que reuniu coragem para chamar o nome dela, senti um puxão na parte de trás da minha cabeça.

— Senpai! — Um homem me repreendeu em tom de brincadeira enquanto passava para a cozinha com vários cardápios em uma mão.

Ah, entendo. Senpai, hein? Tudo bem, mais uma vez!

— Hum, Okudera-senpai! Sobre o que aconteceu mais cedo...

— Taki-kun. Hoje foi um desastre. — Ela se virou e me olhou diretamente nos olhos quando disse isso.

Seus longos cílios enrolados, seus lindos olhos de amêndoa e sua voz sensual que me davam formigamento nas costas me fizeram instintivamente querer confessar meu amor por ela. Sentindo meu rosto ficar vermelho, entrei em pânico e olhei para o chão.

— Ah, um...

— Ele estava definitivamente mentindo. Bem, ainda lhe dei sua refeição de graça, como diz o manual. — Sem parecer particularmente irritada, ela virou o pano e começou a enxugar uma nova mesa.

Quando comecei a falar outra vez, outra garçonete veio e se intrometeu.

— Ah! Okudera-san! Sua saia!

— Eh?

Ao torcer seu corpo para olhar, o rosto de Okudera-senpai ficou vermelho vivo. Um pouco acima de suas coxas, um profundo corte abria horizontalmente sua saia. Ela soltou um gritinho e rapidamente cobriu o corte com seu avental.

“Você está ferida?” “Uau... foi aquele cliente?” “Esse tipo de coisa já aconteceu antes, não é?” “Intimidação?” “Você se lembra como ele era?”

Alguns outros funcionários se reuniram em torno da senpai, com vozes preocupadas. Okudera-senpai permaneceu em silêncio, com o olhar no chão, e eu estava ao lado dela parecendo uma idiota, as palavras que queria falar ainda estavam presas na minha boca. Seus ombros começaram a tremer ligeiramente. Pensei ter visto algumas lágrimas brotarem dos seus olhos.

Desta vez sou eu que devo salvá-la. O pensamento veio de repente e, antes que eu percebesse, agarrei a mão de Okudera-senpai e comecei a me afastar, ignorando os “hey, Taki!” que falavam atrás de mim.

✧ ✧ ✧

Verde para um campo aberto. Laranja para flores e borboletas. Hmm, eu quero mais uma. Vamos ver marrom... um ouriço. E creme para o nariz.

Beliscando a saia da senpai, eu costurava em um padrão sobre o rasgo. Por alguma razão, a cesta de costura no vestiário tinha várias linhas coloridas, então decidi usá-las para fazer um reparo bastante elaborado. Depois de ser espetada por vovó toda a minha vida, o trabalho com agulha era uma especialidade entre minhas especialidades.

— Acabou! — Depois de cinco minutos de costura, entreguei a saia reparada para Okudera-senpai.

— ...Eh, isso está... — A expressão da senpai mudou gradualmente de uma de suspeita e ansiedade após ser arrastada por mim para o vestiário para uma de surpresa. — Uau! Taki-kun, isso é ótimo! Está mais bonito do que antes.

O corte era de cerca de dez centímetros de comprimento, uma linha horizontal pela sua saia. Eu juntei as duas partes ao mesmo tempo que criava um padrão de ouriços jogando em um campo. O resto da saia era um simples marrom escuro, então pensei que isso a destacaria em um bom sentido, trazendo um aspecto fofo à beleza da senpai. Seu rosto, que parecia pertencer a uma modelo em alguma revista, mudou para o sorriso caloroso e amigável de uma garota comum.

— Obrigado por me salvar hoje. — Finalmente consegui falar.

— Hehe. — Ela riu suavemente. — A verdade é que estava um pouco preocupada. Você se envolve rápido em brigas, mesmo sendo fraco. — Senpai apontou para a bochecha enquanto falava. Ah, acho que posso adivinhar como esse curativo na bochecha de Taki chegou aqui. — Você está um pouco melhor hoje — ela terminou brincando. — Oh, você também tem um surpreendente de charme feminino.

Meu coração se exaltou. O sorriso dela naquele momento, que me fez querer dar tudo o que eu tinha para ela, era a coisa mais valiosa que vi em Tóquio hoje.

✧ ✧ ✧

O trem na volta para casa estava vazio.

Foi neste momento que percebi como Tóquio era composta por uma variedade de aromas. As lojas de conveniência, restaurantes familiares, pessoas passando, parques, locais de construção, estações à noite, interiores de trens. Aproximadamente a cada dez passos havia um novo perfume. Até agora, não sabia que as pessoas produziam tais aromas quando se reuniam em um só lugar. E nesta cidade havia uma vida sem sombra de dúvidas, assim como mostravam as luzes nas janelas. Um número esmagadoramente grande de edifícios, alinhados até os confins do meu campo de visão, como uma cordilheira. Meu coração ficou inquieto.

...E Tachibana Taki era uma dessas pessoas vivendo aqui nesta cidade. Estendi minha mão para o rapaz refletido na janela de vidro do trem. Isso me aborreceu um pouco, mas talvez seu rosto não fosse tão ruim afinal. Eu comecei a sentir uma certa familiaridade com ele, como se fosse um amigo que lutou ao lado através desta batalha desgastante nesse dia.

“Mas ainda assim, este é um sonho bastante realista...”

Quando cheguei em casa, caí na cama que acordei nesta manhã. Imaginei como diria a Tesshi e Saya-chin sobre este incrível sonho amanhã, como me gabaria com essa poderosa imaginação. Talvez me tornasse uma mangaká... ou não, não sou muito boa em arte, então talvez uma autora? Poderia juntar dinheiro suficiente para que todos pudéssemos morar em Tóquio.

Sorrindo com meus pensamentos descontrolados, olhei para cima e agarrei o smartphone de Tachibana Taki com minha mão. Como explorava ele com meus dedos, notei que ele mantinha um diário de algum tipo.

7/9 Comer no KFC com Tsukasa e Takagi

6/9 Filme em Hibiya

31/8 Tour de arquitetura; edição orla

25/8 Receber pagamento pelo trabalho!

Voltei no tempo através dos títulos, um pouco impressionada com sua dedicação. Em seguida, toquei o ícone de fotos. A maioria eram fotos de cenários, seguida de fotos de Tsukasa e Takagi. Comer ramen e ir a parques juntos... eles pareciam muito próximos. Uma venda de gyuudon, um carrinho de soba de estação de trem, uma banca de hambúrguer. O caminho de casa para a escola, o pôr do sol se espreitando através das lacunas entre edifícios, as costas dos amigos, o rastro de um avião através das nuvens.

— Ahh, deve ser bom... viver em Tóquio. — Enquanto falava, um bocejo escapou. Sentindo o sono chegando, fui para a próxima foto. — Ah, Okudera-senpai. — A foto mostrava as costas de senpai enquanto limpava uma janela. Parecia ter sido tirada secretamente. A foto seguinte mostrou que ela percebeu a câmera e posou com um sorriso e um sinal de paz.

....Talvez esse cara tenha uma queda por Okudera-senpai, pensei. Mas era provavelmente um amor não correspondido. Ela era estudante universitária, um garoto do colegial era apenas uma criança para ela.

Eu sentei na cama e criei uma nova entrada para hoje no diário, em seguida, comecei a digitar todas as experiências que tinha passado. Como errei muito, mas no final me aproximei de Okudera-senpai. Como ela andou comigo do restaurante para a estação de trem. Em parte querendo contar a Tachibana Taki, e a outra parte apenas querendo me gabar, escrevi essas histórias no diário. Quando terminei, outro bocejo escapou.

Quem é você?

De repente, por alguma razão, lembrei essas palavras que encontrei no meu caderno. Imaginei Tachibana Taki no meu corpo, no meu quarto na vila Itomori, escrevendo essas palavras no meu caderno antes de dormir. Era uma imagem estranha, mas possuía um senso incomum de credibilidade. Peguei uma caneta sobre a mesa, e na minha mão escrevi:

Mitsuha.

Um terceiro bocejo. Era natural estar cansada. O dia tinha sido muito emocionante e colorido, como se tivesse me banhado no arco-íris ou algo assim. O mundo inteiro tinha brilhado, mesmo sem qualquer música de fundo. Imaginando a surpresa de Tachibana Taki ao ler as palavras escritas na palma da mão, sorri um pouco enquanto caía em sono profundo.

✧ ✧ ✧

— …O que é isso?

Eu não poderia deixar de perguntar em voz alta quando olhei para minha mão. Debaixo das letras rabiscadas, vi o meu uniforme e gravata, todo enrugado. ...Então eu dormi sem mudar?

— ...O que é isso!?

Desta vez eu gritei. Meu pai olhou para mim por um momento, em seguida, rapidamente perdeu o interesse e voltou seu foco para a tigela de arroz na frente dele. Enquanto isso, olhei para o meu telefone, incrédulo. Uma entrada no diário que eu não me lembrava de ter escrito.

...E no caminho do trabalho para casa, andei para a estação com Okudera-senpai! Tudo por causa dos meus encantos femininos

✧ ✧ ✧

— Taki, vamos na lanchonete de novo?

— Ah desculpe, tenho trabalho depois da escola.

— Haha, se lembrou de onde você trabalha?

— Hã? ...Oh, foi você, não foi? Tsukasa, — eu perguntei em tom acusador, levantando um pouco a minha voz. Na verdade, realmente esperava que fosse obra de Tsukasa. Infelizmente, seu olhar de questionamento me disse o contrário. Não havia motivo para uma pessoa ter tanto trabalho para fazer apenas uma brincadeira estúpida. Eu sabia pelo menos isso.

— …Deixa pra lá. Até mais — disse relutantemente, enquanto levantava da minha cadeira. Prestes a deixar a sala de aula, ouvi a voz de Takagi atrás de mim: “ele tá normal hoje, não tá?”. Um arrepio percorreu meus pés. Algo muito estranho estava acontecendo comigo.

✧ ✧ ✧

— …O que é isso?

Tinha acabado de me mudar para o meu uniforme de trabalho e abri a porta do vestiário, apenas para descobrir três dos meus senpais parados ali bloqueando meu caminho. Um empregado regular e dois temporários que estavam na universidade, todos estavam me olhando com olhos sanguinários e ameaçadores. Enquanto engolia em seco com medo, eles começaram a falar com vozes ameaçadoras.

“...Taki seu bastardo, tentando roubá-la, é?” “Explique-se!” “Vocês andaram para casa juntos ontem, não foi?”

— Eh... espera, sério!? Eu? Com Okudera-senpai!? — Isso quer dizer que... as coisas naquele diário são verdade!?

— O que fizeram depois disso!?

— Um... Realmente não me lembro muito bem...

— Não brinca comigo!

Quando um deles estava prestes a me agarrar pelo colarinho, uma voz calma soou pelo corredor.

— Okudera, reportando para o trabalho--

Com suas pernas nuas longas e reluzentes e os ombros saindo à mostra na parte superior, Okudera-senpai veio se aproximando. Pisando forte com suas sandálias altas atadas, ela nos cumprimentou com um sorriso.

— Bom trabalho a todos--

— Boa tarde! — Incapaz de suportar a presença deslumbrante de Okudera-senpai, que era basicamente como uma idol no restaurante, nós quatro involuntariamente demos uma saudação em uníssono. Por um momento, esqueci sobre o problema que estava prestes a ocorrer, então, ela se virou e olhou para mim.

— Vamos dar o nosso melhor hoje, Taki-kun-- — senpai disse com um tom tão doce que podia visualizar um emoji de coração no final de frase. Ela então piscou para mim tão forte que quase deu para ouvir e desapareceu por uma porta.

Meu rosto ficou vermelho. Quase senti vapor sair da minha cabeça. De repente senti vontade de polir todas as janelas até que brilhassem.

— ...Oi, Taki. — As vozes sombrias dos três homens, que soavam como se surgissem das profundezas da Terra, me trouxeram de volta à realidade.

...Isto é mal. Enquanto aguentava o peso do interrogatório lamentando, eu pensava. O que poderia estar acontecendo no mundo? Será que todo mundo se reunir e decidir fazer uma grande brincadeira comigo? Poderia ter feito algo sem se lembrar de nada? E o que diabos era “Mitsuha”?

✧ ✧ ✧

Do lado de fora, os pássaros cantavam tão animadas como sempre. Raios puros de calor e luz do sol nascente penetravam no quarto através das finas paredes de papel. Uma manhã comum e tranquila. Apesar disso, ao acordar eu descobri algo escrito na minha mão, escrito de uma forma que parecia demonstrar irritação.

Mitsuha??? O que você é? Quem é você????

Letras extremamente violentas foram escritas da palma da minha mão até o meu cotovelo.

— Onee-chan, o que é isso?

Me virando, vi Yotsuha em pé na frente da porta aberta. Fiz um olhar que dizia “isso é o que eu quero saber”. Em resposta, ela fez uma expressão que dizia “bem, que seja”.

— Pelo menos você não está apalpando os próprios seios hoje. O café da manhã! Se apresse e venha!

Permaneci sentada no meu futon enquanto a vi fechar a porta e sair. Eh, peitos? Não os apalpei hoje? Hã? Uma imagem de mim mesmo agarrando alegremente meus seios apareceu em minha cabeça. ...Que tarada!

✧ ✧ ✧

— Bom dia--

Assim que pisei na sala de aula, os olhos de todos se focaram em mim de uma só vez. Eek. O-o quê? Andei timidamente até a minha mesa junto à janela, ouvi sussurros sendo trocados entre meus colegas. Miyamizu foi tão legal ontem. Talvez precise repensar minha opinião sobre ela. Mas sua personalidade não mudou um pouco?

Eu - eu acho que todo mundo está olhando para mim...

— Mas é claro. Você certamente se destacou ontem — disse Saya-chin.

— Ontem? — Perguntei quando me sentei. Saya-chin olhou para o meu rosto com uma expressão ainda chocada e preocupada.

— Sabe, na aula de arte de ontem, quando estávamos fazendo esboços de vida morta. Eh, você ainda não se lembra? Você está bem Mitsuha? Estávamos no mesmo grupo, desenhando um vaso de flores e uma maçã. Mas em vez disso você estava esboçando algum tipo de cenário. Bem, de qualquer forma, atrás de nós Matsumoto e as outras estavam fazendo sua fofoca habitual. Eh? Sobre o que? Você sabe, a conversa sobre a eleição de prefeito. Eh? Mais detalhes? Como a política da cidade é apenas entregar bolsas e qualquer um poderia fazê-lo. Conversa sem valor. Então, quando você os ouviu, me perguntou “elas estão falando sobre mim, certo?”. Eu respondi “sim, provavelmente”. E então o que você acha que fez? Realmente não se lembra? Você chutou a mesa com o vaso de flores para cima de Matsumoto as outras! E ainda ria! Matsumoto e seus amigos estavam com medo, é claro que o vaso de flores quebrou, toda a classe ficou em silêncio, até eu estava com medo!

— ....o quê?

Meu rosto ficou pálido. Assim que a escola terminou, corri para casa. Passando por Yotsuha e vovó tomando chá de lazer na sala de estar, corri até as escadas, me tranquei no meu quarto e abri meu caderno. Quem é você? Eu virei para a próxima página.

Um arrepio percorreu todo o meu corpo. Na mesma caligrafia, duas páginas inteiras tinham sido escritas. Primeiro, havia um gigante Miyamizu Mitsuha. Ao redor havia inúmeros pontos de interrogação e minhas informações pessoais.

Segundo ano classe 3 / Amigo: Teshigawara – maníaco ocultista, idiota, mas um cara legal / Amiga: Sayaka – calma, um pouco bonita / Vive com a avó e a irmã mais nova Yotsuha / No meio do nada / O pai é prefeito / Donzela do santuário? / A mãe parece ter falecido / O pai vive separado / Não tem muitos amigos / Tem peitos

E, por último, novamente em letras enormes: Que vida é essa? Enquanto olhava para o caderno, meu corpo tremia, imagens de Tóquio piscavam em minha mente, como se estivesse tentando ver por atrás de uma cortina de fumaça. Lanchonete, trabalho, amigos, indo para casa com alguém... Uma parte do meu cérebro começou a se agarrar a uma conclusão absurda.

— Será que isso.... poderia ser…

— Poderia... será que realmente poderia...

Trancado no meu quarto, eu olhei para o meu celular, incrédulo. Algum tempo atrás, meus dedos começaram a tremer violentamente, como se fossem controlados por outra pessoa. Com os dedos, eu olhei meu aplicativo de diário. Imprensada entre os que escrevi estavam entradas desconhecidas, agora eram mais do que um pequeno número.

Primeira vez em Omotesandou² Paraíso de panini³! / Aquário de Odaiba com os dois caras / Tour para observar plataformas a feira livre / Visita ao local de trabalho do pai Kasumigaseki!

Uma parte do meu cérebro começou a se agarrar a uma conclusão absurda.

Poderia ser —

Durante meus sonhos, esta menina e eu

Durante meus sonhos, esse cara e eu

Estamos trocando de corpo?!

✧ ✧ ✧

O sol da manhã espreitando entre as montanhas. A luz que ilumina a cidade à beira do lago, casa por casa. Os pássaros pela manhã, o silêncio do meio-dia, os apelos dos insetos ao entardecer, o brilho do céu à noite.

O sol da manhã espreitando entre os arranha-céus. A luz que ilumina as inúmeras janelas, uma a uma. As multidões pela manhã, a agitação do meio-dia, o cheiro da vida ao entardecer, o brilho da cidade à noite.

Cada cena, cada momento, nos deixava fascinados todas as vezes.

E, finalmente, conseguimos entender.

Tachibana Taki - Taki-kun - era um estudante do ensino médio com a mesma idade que vive em Tóquio.

Miyamizu Mitsuha, uma garota que vivia no meio do nada. Nossa mudança era irregular. Poderia ocorrer duas ou três vezes por semana. O gatilho era o sono. A causa era desconhecida.

Nossas memórias da troca se tornavam embaçadas logo após acordar no dia seguinte. Quase como se fosse apenas tido um sonho vívido. Mas não havia dúvida de que estávamos trocando. As reações dos outros ao nosso redor deixaram isso claro.

E desde que percebemos que esse fenômeno estava ocorrendo, pudemos nos lembrar cada vez mais dos nossos sonhos. Mesmo acordada, eu sei que existe um garoto chamado Taki vivendo em Tóquio.

Eu sei que uma garota chamada Mitsuha está vivendo em um vilarejo na zona rural. Não tenho nenhuma prova, mas estou certo disso.

E começamos a nos comunicar. Nos dias em que trocamos, deixamos mensagens para o outro, como entradas no diário ou rabiscos no caderno.

Também tentamos ligar ou mandar mensagens, mas por algum motivo não funcionou. Mas de qualquer forma, tínhamos um método de comunicação. Precisávamos proteger o cotidiano de cada um o máximo possível. E assim, decidimos regras.

<Para Taki-kun: Ações proibidas 1>

Definitivamente não tome banho

Sem tocar ou olhar o meu corpo

Não sente com as pernas abertas

Não se aproxime demais do Tesshi; Ele deve ficar com a Saya-chin

Não toque em outros caras

Não toque em outras garotas

— — — —

<Para Mitsuha: Ações proibidas Versão.5>

Eu disse para não desperdiçar dinheiro, certo?

Não se atrase para escola ou trabalho; aprenda logo o caminho

Não fale com sotaque

Você está secretamente tomando banhos? Eu sinto cheiro de algum tipo de shampoo...

Não seja tão próxima do Tsukasa, está dando ideias idiotas para ele

Também não seja tão próxima da Okudera-senpai

Mas mesmo assim, ler as partes do diário que Mitsuha escreve... não posso deixar de ficar frustrado.

Ler o relato do Taki... não posso deixar de sentir raiva. Sério, esse cara!

Sério, aquela mulher!

Fiz grandes jogadas durante a Educação Física? Não sou esse tipo de pessoa! Além disso, pulando na frente de caras!? Eu sou repreendida pela Saya-chin por não cobrir adequadamente o meu peito, cintura e pernas! Cuidado com a sua saia e com os rapazes! Isso é o básico da vida, ok!

Mitsuha! Pare de comer bolos estupidamente caros! Você está dando suspeitas a Tsukasa e Takagi. Além disso, esse é o meu dinheiro!

Tecnicamente foi você que comeu! Além disso, tecnicamente eu estou trabalhando naquele restaurante também! De qualquer forma, você tem muitos turnos! Não posso sair para me divertir direito!

Isso é por causa dos seus gastos! Além disso, fazer aquele kumihimo ou o que seja com sua avó é impossível para mim!

No caminho para casa, tomei chá com a Okudera-senpai! Eu estava prestes a pagar por ela, mas ela pagou para mim! Ela disse “você paga quando se formar no colégio”! Dei uma de legal e respondi “Eu prometo que vou”. Seu relacionamento está indo muito bem, graças a mim ❤.

Mitsuha, o que diabos você está fazendo!? Não saia por aí mudando os meus relacionamentos assim!

Hey Taki-kun, o que é esta carta de amor!? Por que um cara que não sei quem é veio confessar para mim?! E por que eu respondi “Vou pensar sobre isso”?!?

Haha. Você está se subestimando. Se me deixar assumir o controle de sua vida, você seria muito mais popular.

Não seja tão metido! Você nem tem namorada!

Você também não tem!

Simplesmente não me preocupei em ter um ainda!

Eu

✧ ✧ ✧

O alarme de Mitsuha.

Outro dia na vida rural.

Aqueles pensamentos flutuavam pela minha cabeça ainda adormecida. Isso significa que posso continuar a construir a lanchonete com Teshigawara depois da escola. Ah sim, e depois disso—

Me sentei no futon e olhei para o meu corpo. Ultimamente, o pijama de Mitsuha está mais pesado do que o normal. Antes, era apenas um vestido sem sutiã, mas hoje tinha roupa íntima apertada coberta por uma camisa bem abotoada. Claro, ela fez isso se preparando para a troca que poderia ocorrer qualquer dia. Eu posso entender isso, mas ainda assim, sabe...

Minhas mãos começaram a ser atraídas em direção aos meus peitos. Hoje este é o meu corpo, não deveria ter nenhum problema em tocar meu próprio corpo, certo? Ou, pelo menos, é o que eu disse para mim mesmo o tempo todo. Hm. Mas, eu acho...

Parei minhas mãos. “...Isso seria injusto com ela.”

Nesse instante, a porta deslizante se abriu.

— ...Onee-chan, você realmente gosta de seus próprios peitos, não é? —Yotsuha disse, então saiu novamente.

Eu a vi fechar a porta pensando enquanto acariciava meus peitos... Se for sobre as roupas deve estar tudo bem, certo?

✧ ✧ ✧

— Vovó, por que o shintai tem que estar tão longe? — Yotsuha reclamou.

Sem se dar ao trabalho de se virar, a vovó respondeu:

— Por causa de Mayugorou. Então eu também não sei.

Mayugorou?

— ...Quem é esse? — Eu perguntei em voz baixa para Yotsuha, que estava andando ao meu lado.

— Eh? Você não sabe? Ele é famoso.

Famoso? Talvez para essas pessoas...

As três mulheres da família Miyamizu, eu, a vovó e Yotsuha, andávamos por uma trilha na montanha por quase uma hora. Aparentemente, hoje teríamos que fazer uma visita ao nosso shintai no topo desta montanha e deixar uma oferenda. O mundo em que Mitsuha morava realmente parecia algo de um antigo conto de fadas.

Os galhos de folhas de bordo penduradas nas árvores próximas, iluminadas pelos raios do sol, carregavam um vermelho tão vívido que quase pareciam tingidas artificialmente. O ar estava seco e fresco, o vento assobiando trazia o cheiro de folhas mortas para os nossos narizes. Outubro. Em algum lugar ao longo do caminho, o outono tinha caído sobre a aldeia.

A propósito, exatamente que idade tem a vovó? Eu me perguntava enquanto olhava para suas pequenas costas. Mesmo nesta caminhada pelas montanhas, ela permaneceu com suas roupas tradicionais. Ela era uma andarilha surpreendentemente boa, mas suas costas tinham essa curva e ela usava uma bengala como apoio. Considerando a minha falta de experiência de estar com uma pessoa idosa, eu não era capaz de fazer uma suposição sobre sua idade e estado de saúde.

— Ei, vovó! — Corri na frente dela e me abaixei um pouco, oferecendo minhas costas. Esta mulher, pequena e delicada criou Mitsuha e sua irmã, e sempre fazia um delicioso obentou. — Te carrego nas costas se quiser.

— Oh! Tudo bem então. — O rosto da vovó se iluminou quando ela pôs seu peso sobre minhas costas. De repente, senti um cheiro estranhamente familiar, um que pareceu que eu tinha sentido há muito tempo na casa de alguém. Por um momento, tive uma sensação calorosa de déjà vu.

— Vovó, você é realmente lev--

Assim que tentei me levantar, meus joelhos se dobraram sob o peso. Yotsuha me repreendeu enquanto vinha me ajudar. Agora que penso nisso, o corpo de Mitsuha também é muito fino, leve e frágil. Como ela está viva?

— Mitsuha, Yotsuha. — Em minhas costas, vovó começou a falar. — Vocês conhecem musubi?

— Musubi? — Yotsuha perguntou, carregando minha mochila pela frente.

Abaixo de nós, através das lacunas nas árvores, eu podia ver completamente o redondo Lago Itomori. Estávamos bem alto. O suor começou a escorrer pelo meu corpo enquanto continuava a subir com vovó nas minhas costas.

— “Musubi” é um nome antigo para o deus da terra. Esta palavra também tem outros significados muito profundos.

Deus? Onde ela quer chegar com isso? Mas a voz dela soava como um narrador do Contos Animados do Japão Antigo, tinha um certo tom misterioso que me fez querer saber mais.

— Vocês sabem? — Ela perguntou novamente. — Amarrar dois fios juntos é musubi. Conectar pessoas é musubi. O fluxo do tempo é musubi. Todos esses fenômenos usam a mesma palavra: o nome de um deus, e também seu poder. O kumihimo que fazemos é também o ofício dos deuses, expressando o próprio fluxo do próprio tempo.

Minhas orelhas captaram o leve murmúrio de água. Deve haver um córrego da montanha em algum lugar, eu pensei.

— Recolhendo e tomando forma, torcendo e entrelaçando, às vezes retornando, às vezes se separando, e conectando novamente. Isso é kumihimo. Esse é o tempo. Isso é musubi.

Imaginei um fluxo de água limpa. Golpeando uma pedra no córrego e se dividindo, se misturando com novas substâncias e mais uma vez se juntando novamente, conectado como uma entidade inteira. Eu não tinha ideia do que vovó estava dizendo, mas senti como se tivesse acabado de aprender algo muito importante. Musubi. Eu vou ter que me lembrar esta palavra quando acordar. Uma gota de suor no meu queixo fez um barulho quando atingiu o chão e rapidamente foi absorvida pelo solo seco.

— Beba.

Quando demos uma pequena pausa à sombra de algumas árvores, a vovó me entregou uma garrafa. Era simplesmente chá com açúcar misturado, mas era surpreendentemente delicioso. Engoli dois copos inteiros antes de Yotsuha exigiu um também. Poderia ser a melhor bebida que já provei.

— Isso também é musubi.

— Eh? — Passando a garrafa para Yotsuha, me virei para vovó, que estava sentada sobre as raízes de uma árvore.

— Você sabia? Água, arroz, bem... o ato de colocar algo em seu corpo também é chamado musubi. O que entra no seu corpo e se conecta com sua alma. A oferenda que faremos hoje é parte de um importante costume que liga o homem e deus, mantido pela família Miyamizu por centenas de anos.

À medida que continuávamos, as árvores que se alinhavam no caminho foram desaparecendo, a aldeia à beira do lago lá embaixo, que agora era do tamanho de um bloco de desenho, estava meio coberta pelas nuvens. As nuvens acima de nós já não tinham qualquer volume, eram finas e transparentes, simplesmente se afastavam com os fortes ventos. Tudo o que estava ao nosso redor eram pedras cobertas de musgo. Chegamos ao cume.

— Ei, eu consigo ver!

Eu vi a Yotsuha animada e segui seu olhar. Diante dos meus olhos havia uma depressão gigantesca como uma caldeira. Era como se alguém tivesse chegado e escavado o topo da montanha. O verde de um pântano gramado cobria o interior e no centro estava uma única e grande árvore.

Olhei com os olhos bem abertos de admiração pela visão inesperada. Era um jardim no céu, algo que eu nunca seria capaz de ver em minha casa. Eu tinha realmente começado a admirar a paisagem.

— Além daqui é o kakuriyo — vovó disse.

Nós tínhamos descemos até o fundo. Diante de nós fluía um pequeno riacho. A árvore gigante ainda estava um pouco longe.

Kakuriyo? — Yotsuha e eu perguntamos juntas.

Kakuriyo. O outro mundo.

O outro mundo. A voz de narrador da vovó me fez tremer pela espinha, como uma rajada de vento frio. Meus pés congelaram um pouco. Montanha sagrada, ponto de poder ou ponto de salvação ou do que quer que você queira chamá-lo... havia inconfundivelmente um outro ar flutuando sobre o lugar. ... Não é como se quando eu passasse, eu não seria mais capaz de voltar ou algo assim, certo? Certo?

— Oooh, o outro mundo--! — Enquanto isso, Yotsuha se admirava enquanto cruzava o córrego de salto em salto.

As crianças são realmente interessantes: estúpidas, mas cheias de energia. Bem, o tempo estava muito bom e o vento e a corrente pareciam muito suaves, então talvez eu seja o estranho aqui. De mãos dadas com a vovó para que ela não se molhasse, cuidadosamente atravessei as pedras até o outro lado do riacho.

— Para voltar ao nosso mundo — vovó disse de repente com uma voz misteriosa — devemos dar em troca algo muito importante.

— Eh!! —Involuntariamente soltei um grito. — E-espere um minuto, diga isso antes de cruzarmos!

Em meus protestos desesperados, vovó apenas riu. Seu riso com buracos escancarados onde estavam faltando os dentes só me deixou mais assustado.

— Não precisa ficar assustada. Estou falando sobre o kuchikamisake.

Alertado por vovó, Yotsuha e eu pegamos nossas garrafas de nossas mochilas. Elas eram brilhantes vasos de porcelana branca, como aqueles encontrados frequentemente em santuários caseiros, com um pedestal ligado ao fundo esférico e uma kumihimo envolvida em torno da tampa para mantê-la fechada. Eu podia ouvir o líquido se movendo.

— Embaixo do shintai — vovó começou quando olhou para a árvore gigante — há um pequeno santuário. Vocês vão deixar a oferenda lá. Esse saquê representa metade de vocês mesmas.

...Metade de Mitsuha. Eu olhei para a garrafa em minhas mãos. Dentro estava o kuchikamisake que ela fez mastigando o arroz. Saquê feito formando uma conexão entre este corpo e este arroz. E era eu quem oferecia. Sentindo uma estranha mistura de vergonha e orgulho, assim como quando marquei um gol ao receber um passe dado por um colega com quem eu tinha discutido. Comecei a andar em direção à árvore.

✧ ✧ ✧

Esta pode ser a primeira vez que realmente ouço as cigarras à noite. Eu reconheci imediatamente, porque me acostumei a ouvi-lo em filmes e jogos. Na verdade, ao ouvi-las ao meu redor me senti mais como se estivesse em um filme do que na vida real.

De repente, um grupo de pardais voou para fora do mato na minha frente, fazendo barulho quando se foram. Costumava pensar que as aves sempre eram encontradas em árvores então fui pego de surpresa, mas Yotsuha os perseguiu toda alegre. O vilarejo devia estar se aproximando, um breve cheiro de jantar veio misturado com o vento que soprava. Mais uma vez, estava surpreso com o quão distinta o cheiro da vida poderia ser.

— Já está anoitecendo — Yotsuha disse em uma voz aliviada, como se tivesse acabado de passar por um longo dia e finalmente terminado sua lição de casa. Os raios do sol poente brilhavam sobre as faces de Yotsuha e da vovó ao meu lado, formando uma cena quase perfeita.

— ...Uau. — Um suspiro de admiração escapou dos meus lábios quando a vista da aldeia começava a se revelar. Lá, espalhado na minha frente, era uma visão da totalidade da aldeia de Mitsuha e do lago. A aldeia já havia sido engolida pelas sombras violetas da noite, mas o lago sozinho se destacava no centro, refletindo o vermelho escarlate do céu. Das encostas das montanhas próximas, a névoa rosada da noite começara a se erguer. Das casas, um tipo diferente de névoa, a fumaça da ceia sendo cozida, se arrastava pelo ar como um sinal de fogo. Pardais dançavam em torno da aldeia, como a poeira em uma sala de aula vazia depois da escola.

— Me pergunto se dá para ver o cometa — Yotsuha disse enquanto procurava no céu, bloqueando a luz do sol com a palma da mão.

— Cometa?

Oh, isso mesmo. Me lembrei das notícias falando sobre isso durante o almoço. Em breve, um cometa estaria perto o suficiente para ser visto a olho nu. Aparentemente, estará um pouco acima de Vênus.

— Cometa... — Repeti a palavra em voz alta. De repente, tive a sensação de que eu estava esquecendo alguma coisa. Apertando os olhos, me juntei a Yotsuha na busca celeste. O encontrei imediatamente: acima do brilhante Vênus, a cauda azul brilhante de um cometa. Eu podia sentir algo tentando escapar do fundo da minha memória.

É isso aí. Este cometa...

Eu tive,

Uma vez…

— Ah, Mitsuha, — arrastado para fora dos meus pensamentos pela voz da vovó, a encontrei olhando para o meu rosto. Eu podia ver meu reflexo em suas pupilas negras profundas.

— Você está sonhando, não está?

!

De repente, eu acordo. Os lençóis se levantaram, depois caíram silenciosamente ao lado da cama. Meu coração estava batendo tão violentamente que poderia levantar minhas costelas, ou deveria estar, mas não podia ouvir meu coração batendo. Isso é estranho, pensei, então de repente o som do meu sangue pulsando se tornou audível novamente. O canto dos pardais fora da janela. Os motores dos carros. O estrondo de trens. Como se meu corpo tivesse finalmente se lembrado onde estava, meus ouvidos começaram a captar os sons de Tóquio.

— …Lágrimas?

Uma gota caiu na ponta do dedo quando toquei na minha bochecha. Por quê? Confuso, limpei meus olhos secos, com a palma da mão. Como eu fiz isso, a paisagem à noite tinha acabado de ver, juntamente com as palavras da vovó que eu tinha acabado de ouvir, começaram a desaparecer, como a água escorrendo na areia.

Ding.

Ao lado do travesseiro, meu smartphone soou.

Já chego lá-- Estou ansiosa para hoje ❤.

Uma mensagem de uma linha da Okudera-senpai. Estar lá? Lá onde? O quê? Espere um minuto…

— Mitsuha!

Rapidamente procurei os relato que ela deixou.

— Encontro!?

Saltei para fora da cama e fiquei pronto a toda velocidade.

Amanhã você tem um encontro com Okudera-senpai em Roppongi! Se encontram na frente da estação de Yotsuya, 10:30. Eu quero ir, mas se acabar sendo você, certifique-se de aproveitar. E me agradeça.

Felizmente, o local de encontro era próximo. Verifiquei meu celular enquanto tentava recuperar o fôlego. Se correr todo o caminho, consigo chegar lá em dez minutos antes da hora marcada. Senpai provavelmente ainda não tinha chegado. Apesar de ser uma manhã no fim de semana, uma multidão considerável passa pela estação.

Limpei o suor do meu rosto, ajeitei a gola da minha jaqueta, e murmurei “Mitsuha estúpida” três vezes sob a minha respiração antes de começar a procurar pela senpai, apenas no caso de ela já estar aqui. ....Um encontro com Okudera-senpai? Além disso, este é o meu primeiro encontro. Ter meu primeiro encontro com a Okudera-senpai que se parece uma idol, atriz e Miss Japão... isso não é um pouco demais? Por favor, podemos trocar agora Mitsuha estúpida!

— Taaki-kun!

— Ah! — Solto um grito lamentável com a súbita voz. Perturbado, me viro.

— Desculpe, você esperou muito?

— Não! Ah, espera... sim! Espere, não... — Que pergunta é essa!? Se eu digo que esperei, então ela pode se sentir mal, mas se digo que não, então parece que eu estava atrasado! Aggh qual é a resposta certa.

— Umm... — já começando a entrar em pânico, de alguma forma conseguiu olhar para cima. Na frente dos meus olhos estava uma sorridente Okudera-senpai.

— ...! — Meus olhos se abriram. Calçados pretos, uma saia branca e uma blusa preta com os ombros à mostra. A roupa monocromática deixou seus ombros e pernas expostas deslumbrantes. Alguns acessórios de ouro também foram colocados com cuidado para expor todo o encanto da sua pele. Seu pequeno chapéu branco tinha uma fita amarrada em torno dele. Simplesmente não haviam outras palavras para descrevê-la: extremamente elegante e extremamente bonita.

— ...Acabei de chegar.

— Oh, legal! — Senpai sorriu.

— Devemos ir? — Ela agarrou meu braço. ...Ahh, por um momento, apenas um momento, meu braço roçou contra seu peito. De repente senti vontade de polir todas as janelas na cidade, até que ficassem brilhando.

✧ ✧ ✧

— Não consigo manter uma conversa...

Em pé no banheiro, querendo esmagar minha cabeça contra o espelho, me curvei profundamente. Três horas se passaram desde o início do dia, e eu já estava mais cansado do que já estive em toda a minha vida. Nunca teria imaginado que minha falta de habilidades para interagir com garotas fosse tão séria. Não, está errado. Quero acreditar que está errado. É tudo culpa da Mitsuha, me jogando nesta situação sem ter tempo para se preparar. E principalmente, é porque senpai é tão bonita que não posso fazer nada.

Literalmente, todos por quem passamos pararam para olhar para ela. Então eles olham para mim caminhando ao lado dela e fazem uma expressão que diz “por que diabos ela está com esse garoto?”. Ou pelo menos, é o que parece para mim. Bem, eles não estão errados em pensar isso. Até mesmo eu sei que está fora do meu alcance. Eu nem sequer a convidei para sair! Toda vez que alguém passa por mim quero agarrá-los pelo ombro e pedir desculpas. De qualquer forma, como resultado não faço ideia do que deveria falar. Senpai tem sido boa em iniciar pequenas conversas, mas eu não posso suportar isso. E então me torno ainda mais incapaz de encadear palavras. É um ciclo vicioso.

Maldição, Mitsuha! Que tipo de coisas você normalmente conversa com ela!? Desesperadamente à procura de ajuda, pego meu celular e começo a olhar o diário de Mitsuha.

Bem, suponho que você provavelmente nunca teve um encontro antes. Para sua sorte, selecionei vários links para você dar uma olhada!

“Whoa, sério?” Minha deusa! Elogiei minha salvadora Mitsuha enquanto abria os links.

Link 1: Homem com ansiedade social consegue uma namorada!

Link 2: Dicas de conversação para aqueles que nunca foram populares em suas vidas!

Ligação 3: Nunca seja essa cara irritante outra vez! Como ser amado: Edição especial

...Sinto como Mitsuha realmente me subestimou aqui...

De qualquer forma, saí do banheiro e fui finalmente capaz de relaxar um pouco enquanto andava ao redor do museu de arte. Eu não estava nem um pouco interessado na exposição fotográfica intitulada “Saudade”, mas estava grato por um ambiente onde não era estranho não falar. Okudera-senpai caminhou na minha frente, olhando as fotos calmamente.

Furano, Tsugaru, Sanriku, Rikuzen, Aizu, Shinshuu... a exposição foi dividida em diferentes seções com base na região, mas todos eles pareciam o mesmo campo genérico para mim. É claro que não sei os pontos mais delicados da fotografia; as únicas diferenças que posso ver é se o fundo é uma montanha ou oceano, ou se foi tirada durante o verão ou inverno. As casas, as estações de trem e as pessoas tinham uma estranha semelhança. O Japão rural deve ter este tipo de cenário onde quer que vá, pensei. Para mim, os diferentes bairros de Tóquio, Shibuya e Ikebukuro, Akasaka e Kichijouji, Meguro e Tachikawa, tinham características muito mais distintas.

Quando vim para a área marcada “Hida”, no entanto, meus pés pararam automaticamente. Aqui era diferente. O cenário nas fotos ainda parecia o mesmo que todos os outros, mas eu conhecia que este lugar. As formas das montanhas, as curvas das estradas, o tamanho do lago, a aparência do torii, o posicionamento dos campos. Assim como quando você instantaneamente encontrar seus próprios sapatos na pilha após a aula de ginástica, eu apenas sabia que era lá. Era como se fosse um lugar no interior que visitei meus pais a cada verão – nunca tenha realmente feito isso, mas uma forte sensação misteriosa de familiaridade me surpreendeu. Isso era…

— Taki-kun?

Me virando para a voz, encontrei senpai de pé ao meu lado. Por um segundo, tinha esquecido completamente dela.

— Taki-kun — ela disse com um sorriso — é como se você fosse uma pessoa diferente hoje. — Ela se virou com a beleza e elegância de uma modelo, então começou a andar, me deixando para trás.

✧ ✧ ✧

Eu falhei.

O dia inteiro, simplesmente tinha segui os movimentos do plano de Mitsuha, como estivesse fazendo algum trabalho de casa chato. Passei o tempo todo apenas pensando em desculpas, não pensei sobre os como senpai se sentia. Fui eu que a convidei. Deveria estar mais feliz por passar tempo com ela. Sempre tinha sonhado que um dia, poderia ocorrer um milagre como este.

Da passarela onde estávamos, tinha uma visão clara dos edifícios que compõem Roppongi, onde estávamos pouco tempo atrás. Inúmeras janelas refletiam a luz do sol da tarde, brilhando como ouro. Voltei meus olhos para senpai, que caminhava silenciosamente na minha frente. O cabelo espumante, o chapéu novo e as roupas... ela provavelmente teve a dificuldade de se preparar apenas sair comigo hoje. Pensando nisso, meu peito se apertou com a culpa. Ficou difícil respirar, como se o oxigênio tivesse subitamente diminuído. Desesperadamente procurou as palavras.

— Um, senpai. — Ela não se virou. — ...uh, você está com fome? Quer jantar...

— Vamos encerrar por aqui — ela disse com a voz suave e gentil.

— Ok. — Minha boca estúpida não poderia produzir nenhuma outra resposta. O rosto de Okudera-senpai, quando finalmente se virou para mim, ficou obscurecido pela luz do sol.

— Taki-kun... se eu estiver errada, me perdoe.

— Ok.

— Você costumava ter uma queda por mim, não era?

— Ehhhh!? — Ela sabia!? Como!?

— Mas agora, você há alguém que você gosta, certo?

— Ehhhhhh!? — O suor começou a jorrar da minha cara, como se eu estivesse em uma floresta tropical. — N-não!

— Sério?

— S-sério! Não há ninguém!

— Séerio? — Senpai olhou para o meu rosto com desconfiança.

Outra pessoa que eu gosto? De jeito nenhum. O cabelo comprido e peitos macios dela surgiram na minha cabeça por um segundo, mas logo desapareceram.

— Hm, bem, que seja — ela disse alegremente, então se afastou.

— Eh?

— Obrigado por hoje. Vejo você no trabalho.

Senpai acenou para mim, então começou a se afastar. Por um momento, abri minha boca. Em seguida, a fechei. Em seguida, abriu novamente. Mas no final, as palavras falharam. Tudo que podia fazer era ver a senpai descendo a passarela e desaparecendo no mar de pessoas na estação.

Ficando sozinho parra trás, olhei para o sol poente. Ouvindo o fluxo interminável de carros abaixo, comecei a se sentir como se estivesse de pé em uma verdadeira ponte sobre um rio. O sol começando a se esconder atrás de uma torre de água, deixando apenas um leve brilho para me alcançar. Eu olhava fixamente para ele, como se isso me ajudasse a recuperar alguma coisa.

Provavelmente eu tinha outras coisas para fazer, mas não conseguia pensar em nada. Tudo que eu queria fazer era ir para a aldeia de Mitsuha novamente. Me tornar Mitsuha também significava conversar com Mitsuha. Quando trocamos de corpo, tínhamos uma conexão especial entre nós. Trocar experiências. Estar junto. Musubi. Senti como se fosse capaz de falar sobre o desastre de hoje com Mitsuha. “É por isso que você não pode ter uma namorada”. “Você é a culpada por fazer os planos”. Eu queria brincar e provocar com ela.

Pegando o celular, descubro que ainda havia mais no diário de Mitsuha.

Assim que o encontro terminar, o cometa deve ser visível. Ahhh, tão romântico! Ansiosa por amanhã . Não importa se for eu ou você, vamos fazer o nosso melhor!

Cometa?

Olho para o céu. Todos os vestígios do pôr-do-sol já haviam desaparecido, deixando apenas algumas estrelas e um único avião visível no vasto céu negro. Como esperado, nenhum cometa poderia ser visto.

— Que diabos ela está falando? — Murmurei baixinho.

Em primeiro lugar, se realmente tivesse um cometa visível passando, provavelmente sairia nas notícias. Ela deve ter se enganado.

De repente, senti uma vibração no meu peito.

Algo estava tentando escapar da minha cabeça.

Procurei o número de Mitsuha no celular e olhei para aqueles onze dígitos. Já tinha tentado chamar algumas vezes desde que a troca começou, mas por algum motivo nunca chamou. Liguei para o número. Tocou brevemente, depois começou a falar.

O número que você ligou não está disponível, está fora de área ou desligado...

Afastei o celular do meu ouvido e desliguei. Como esperado, a chamada não funcionou. Ah bem. Vou contar a ela da próxima vez que trocarmos. Também vou perguntar sobre o cometa. Provavelmente vamos trocar novamente amanhã ou no dia seguinte. Pensando nisso, finalmente desci da passarela. Acima de mim, uma meia-lua fraca estava sozinha no céu, como se fosse a uma bagagem esquecida de alguém.

Depois daquele dia, Mitsuha e eu nunca mais trocamos novamente.


Notas:

1 As palavras watashi, watakushi, boku e ore são formas diferentes de se falar “eu” em japonês, há usos diferentes para homens, mulheres e varia com a formalidade.

2 Bela avenida repleta de árvores que vai da entrada do santuário Meiji até a estação.

3 Tipo de sanduíche italiano.

4 Distrito onde se encontram a maioria dos gabinetes do ministério japonês.

5 Objeto de culto em que se acredita conter o espírito de uma divindade.

6 Tipo de marmita japonesa.

7 Cidade mais ao norte da prefeitura de Gifu.



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