Extras

Crossover: Pequeno Equívoco (pt. 2)

Este capítulo faz parte de uma colaboração com a webnovel O Nefilim Primordial e se encontra dividido em duas partes.

A parte 1 se encontra na webnovel citada acima e pode ser acessada pelo link a seguir: https://novelmania.com.br/novels/o-nefilim-primordial/capitulos/volume-2-extra-crossover


Pela noite, o grupo encontrava-se reunido ao redor de uma fogueira, onde o acampamento de Raizel e Petra se localizava inicialmente.

Por sorte, o lugar escapou de ser afetado pelos impactos da destruição da luta, exceto pelo acúmulo de neve nas redondezas.

— Atchim! — Petra fez o possível para conter um espirro e falhou miseravelmente. — Que frio… — Se soubesse dos acontecimentos com antecedência, teria levado algumas roupas mais adequadas.

— Nem imagino de quem seja a culpa. — Criando uma casaco do nada, Raizel, que se encontrava ao lado de sua parceira, a cobriu em segundos. — Deve ter congelado até os peixes.

— Sinto muito, acabei transformando uma paisagem tropical em um cenário tão deprimente… — Luna desviou o olhar.

— Bem, isso não teria acontecido se um certo alguém não tivesse nos atacado. — Sariel lançou um breve olhar de Raizel, mas sem nenhum ressentimento.

— Foi você que revidou. — Tirou um dos espetinhos de marshmallows que estava quase derretendo na fogueira e respondeu sem fazer questão de estar com o alimento na boca. — A regra é clara: se um não quer, dois não brigam.

O sabor até que estava quente e agradável, embora preferisse fazer um bom e velho churras em vez de ficar assando aquelas bolinhas esponjosas.

No entanto, como os visitantes de outro mundo disseram não comer carne, Petra optou por não inserir tal alimento na refeição daquela noite, e Raizel acabou cedendo à pressão.

— Creio que se esqueceu de um detalhe importante. — Os olhos de Sariel refletiam um tom verde, ao mesmo tempo que ele se abaixava e tocava o solo. — Eu sou bem versátil, sabe? — Então, verduras começaram a crescer em instantes, tão grandes e ricos que com certeza seriam deliciosos.

Raizel e Petra pegaram algumas das verduras e observaram com atenção, em especial o rapaz, já que a garota deu uma mordida antes dele.

— Não tem veneno nisso, né? — Enquanto Raizel continuava a esquadrinhar o legume de todos os ângulos, e a parceira dele engasgou com o comentário. — É, parece que tá tudo certo.

— Pra que eu precisaria recorrer a um método tão baixo se posso fazer você ficar socando o ar? — Sariel soltou um breve riso. 

— De qualquer forma — desconversou Raizel, puxando a garota, que não parava de tremer, para mais perto dele e dando uma olhada para o céu estrelado, com foco especial para um certo lugar — a gente tem que voltar até a Academia, pra conseguir trazer aquela coisa de novo.

— Não sabemos nada desse mundo, nem as regras daqui, por isso contamos com vocês — disse Luna em um tom como se sentisse mal por deixar todo o trabalho nas mãos de outros.

— Tu-Tudo be… Atchim! — Petra tremeu no abraço de Raizel. Talvez fosse pela mudança repentina do clima, mas ela estava com mais dificuldades do que o parceiro para se ajustar à temperatura baixa. — A Sophie e o Trevor conseguem dar um jeito nisso.

Detentores de habilidades que afetam o tempo e o espaço, os companheiros mencionados de Academia de Raizel e Petra se mostravam como a solução mais viável no momento. Embora isso significasse interromper as férias que o nefilim estava buscando aproveitar.

Como até o rapaz de cabelo vermelho demonstrava confiar bastante nas habilidades daqueles dois, restava pouco espaço para dúvidas quanto ao sucesso.

— E com isso o senhor Volátil pode ir embora. — Raizel enfiou o último marshmallow de seu espetinho na boca de Petra antes que ela comentasse algo sobre aquele comentário parecer grosseiro. — E tudo volta ao normal.

— Bem, então vamos aproveitar seu último dia de férias. — Sem pensar duas vezes, Sariel formou uma bola de neve e acertou em cheio o rosto de Raizel. 

— Tsc! — Enquanto limpava a neve de seu rosto, várias esferas de energia translúcida envolveram a neve que havia perto do nefilim, que agarrou uma delas e a jogou na cara de Sariel. — Pensa rápido, aí.

Sariel desviou por muito pouco, pôde até sentir o vento passar pelo seu rosto.

Infelizmente, Luna, que também estava na mira, não teve tanta sorte e foi atingida na testa.

— Uma guerra de bola de neve comigo aqui… — Luna esboçou um sorriso confiante. — É pedir para perder! — Então, inúmeras bolas de neve surgiram ao seu redor e, como uma metralhadora, castigaram seus oponentes.

Raizel desviou com eficácia, enquanto Petra, já morta de frio, foi atingida por tantos projéteis que caiu para trás, o que deixou Luna sem reação por ter acertado a pessoa errada, ao menos até que a garota se levantou e devolveu o ataque.

Sariel eventualmente trocou seu elemento para Gelo, deixando a guerra extremamente desbalanceada.

Em certo momento, quando Sariel e Raizel estavam distraídos um com o outro, Luna se aproximou de Petra sem atacar.

— Ei, isso é um pouco injusto, não acha? — perguntou Luna ao apontar para Sariel. — Nós dois podemos usar magias de Gelo, mas vocês não. Por que não nos juntamos contra eles?

— Er, bem… — Petra lançou um olhar para os dois, em especial para o parceiro que sorria, voraz, e persistia apesar da desvantagem de terreno: — Pode ser.

As duas se aproximaram e, juntas, arremessaram a maior quantidade de bolas de neve que conseguiram enquanto os rapazes estavam de guarda baixa.

— Oh, então agora são meninos contra meninas? — Sariel sorriu.

Ao contrário do seu até então rival, Raizel, paralisado, notou que quem mais o atacou foi sua própria parceira, que sorriu ainda com a prova do crime na mão.

— Que má influência vocês são. — Mudou de alvo e aceitou o cenário atual em que se encontrava. — Então, venha, senhorita.

Formou algumas bolas de neve, com o auxílio de sua energia, e lançou-as uma após a outra contra Petra que, com a ajuda de Luna, pôde contra-atacar.

Sariel entrou em meio à neve cruzada e, naquele ponto, havia se tornado impossível calcular a quantidade de bolas de neve que foram geradas.

Apenas duas coisas eram certas: ninguém estava fora da guerra, e ao amanhecer todo aquele lugar já estaria limpo de tanta ferocidade que a disputa ganhou.

 

***

 

Pelas ruas, que pareciam serpentear pela cidade, o grupo caminhava rumo à residência dos amigos que Raizel e Petra mencionaram, sem a pretensão de fazer desvios.

Luna, em especial, observava a arquitetura do lugar. As ruas eram feitas de pedras milimetricamente recortadas e encaixadas com exímia precisão, o que não fugia do padrão das casas: o exterior sempre ostentando construções sólidas e vidraças de mosaicos.

Também era notável a preocupação quanto à arborização do lugar. Fossem árvores ou plantas, sempre era possível avistar algumas por perto, o que transmitia uma sensação de ar puro e leve por onde quer que andasse.

Questões em volta de poluição não aparentavam ser grande problema, já que os núcleos dos tais bosses dos portais eram uma fonte eficiente de energia e produção de certos produtos.

Foi então que, do nada, Raizel pareceu querer desviar o percurso do grupo, puxando-os para o canto da rua, e o motivo Luna e Sariel só foram entender quando escutaram a voz de uma garota os chamando vividamente de uma sorveteria.

— Ei! Ei! — A garota, que possuía um belo cabelo rosa curto, assim como seus olhos, não parava de acenar, ao passo que Raizel apenas olhava para a frente e continuava seu caminho. — Eu sei que vocês tão me escutando! Parem de se fingir de surdos, poxa!

— É uma amiga sua? — Luna interrompeu sua caminhada.

— Nunca vi na vida — respondeu Raizel. — Apenas ignorem.

Os pés do grupo, com exceção dos de Luna, congelaram na hora, prendendo-os com força onde estavam e arrancando um “tsc” seco dos lábios do nefilim.

— Quem é essa gente aqui com vocês? — Já ao lado dos quatro, os olhos da garota dançaram de Luna para Sariel, enquanto Raizel e Petra quebravam o gelo de seus pés. — Não sabia que você tinha uma irmã gêmea. — Virou seu rosto de Luna para Petra, com um biquinho até que fofo. — Escondendo as coisas das amigas, poxa. 

— Er, bem… — Petra ficou em dúvida quanto a comentar muito sobre a recém nova amiga dela. Embora não conseguisse negar que as duas eram de fato parecidas, até a idade sendo próxima, com ela sendo quase um ano mais nova. — Talvez, eu acho?

— Que talvez nada. — A garota voltou a focar Luna, ficando bem mais perto dela, para que a observasse com mais atenção. — É bonitinha, fofa e meio tímida igual a você.

— Obrigada, é muito gentil, mas não sou tão bonita como diz… — Luna esboçou um sorriso doce à garota diante dela. — Ah, e não somos parentes, na verdade, somos de outro mundo…

— Como não é tão bonita assim? — Sariel a interrompeu e a trouxe para perto de si com um sorriso galanteador. — Já lhe disse que nem mesmo a lua se compara com sua beleza.

— Céus, que cavalheiro! — De costas para Raizel, cochichou para o nada, mas em um tom que o dito cujo pudesse ouvir. — Se bem que um certo alguém poderia aprender como se trata uma dama de forma adequada, em vez de ignorar seus frágeis gritos de súplica.

O alvo de seu comentário franziu o rosto e cruzou os braços, já arrependido de ter escolhido justo aquela rua até a casa de Trevor e Sophie.

— Vai, apresenta a gente. — Alfinetou a garota ainda sem nome. — Isso cê sabe fazer, né?

O rapaz suspirou. Aquilo iria se prolongar demais e de uma forma nem um pouco agradável, já conseguia sentir.

— Luna, Sariel, essa é a nossa Top 3 Rank S, a Mimada do Gelo, Eirin Rigel.

— “Princesa do Gelo”, só pra constar. — Mostrou a língua para o suposto amigo. — Mas me conta aí, qual é a dessa de outro mundo? Aquele mestre louco não fez nada de assustador pra trazer vocês até aqui, né? Vai por mim, ele é maluco.

— Ah, ele tentou me matar, mas falhou miseravelmente — disse Sariel casualmente como se estivesse acostumado com aquilo.

— Nossa, é mesmo? — Eirin escondeu um sorrisinho de deboche com uma mão. — Parece que alguém tá perdendo o jeito. Talvez já seja até hora de se aposentar.

Raizel, por sua vez, a fitou por um instante e então virou o rosto de novo, o que não deixou Eirin nem um pouco feliz; por outro lado, ela já sabia como revidar o mau comportamento que o amigo deu a ela.

— O que acham de conversar um pouco mais comigo e o meu duo enquanto a gente experimenta alguns sorvetinhos? — Juntou as palmas das mãos e, com uma voz meiga, foi direto à Luna, que parecia ser a que mais teria dificuldade em negar tal convite. — Aí vocês explicam melhor essa história de outro mundo.

— O que é um… “sorvetinho”? — perguntou Luna, curiosa com aquela palavra que nunca ouvira antes. 

— Olha, mais um motivo pra vocês virem com a gente. — Notando que Raizel iria se meter, para atrapalhar ela em atrapalhá-lo, Eirin emendou direto, mais rápida que ele: — Não vão perder a oportunidade de apreciar as iguarias de outro mundo, né?

Foi quando a barriga de uma certa garota emitiu certos ruídos ao ouvir a palavra “sorvete”.

— Er… — De rosto baixo e bochechas um tanto avermelhadas, Petra quis se esconder em um buraco. — Desculpa.

— Oh, eu adoraria experimentar algo desse mundo! — Sariel, ao notar como Raizel tentava evitar aquilo, esboçou um sorriso quase como se zombasse dele, e aceitou o convite.

— Como desejar. — O nefilim, inflexível até então, deu o braço a torcer e foi o primeiro a caminhar em direção a um rapaz loiro, que usava um óculos levemente escurecido e que riu triunfante ao assistir a derrota de seu amigo e também mestre. — Só um sorvete.

Chegando até o rapaz, que foi apresentado como sendo Klaus Austin, um dos três nefilins ainda vivos e também um usuário de Manipulação de Fogo cujos poderes foram elogiados por Raizel, diferente da personalidade.

Quando estava se dirigindo até a sorveteria, Petra percebeu que os olhos de Sariel estavam rosados. Lembrando-se de como Raizel lhe contou sobre sua batalha, sabia que ele estava aprontando algo.

Sariel percebeu aquilo e colocou um dedo diante da própria boca, sinalizando-a para que ela não dissesse nada.

— É um grande prazer recebê-los em nosso humilde mundo. — Cortês, Klaus chamou um atendente para que os recém-chegados fizessem seus pedidos. — Peço desculpas pela má recepção de meu mestre louco. Ele é meio sanguinário às vezes, mas não faz por mal.

— Ora, quem diria que alguém tão rude teria um aprendiz tão educado. — Apesar da clara intenção de Sariel de provocar Raizel, também se surpreendeu com a cordialidade de Klaus. — Obrigado, e não se preocupe, estou acostumado a lidar com pessoas sanguinárias…

— Uma educação que só dura até a página 2. — Teve o prazer em desmascarar o pupilo rebelde.

— Resultados de influências ruins, talvez? — Deu de ombros e cortou o assunto desagradável quando o atendente chegou. — Você me jogou em um vulcão, lembra? — sussurrou, fuzilando Raizel com olhos.

Alheia às faíscas dos supostos amigos, Luna folheou o extenso cardápio e surpreendeu-se com a diversidade.

“Mas o que é isso? Tem sabores de frutas, de doces… até de outras comidas?” Muitas das opções tinham nomes que nunca ouvira antes. “O que é paçoca?”

— O que são essas opções “veganas”? — Sariel apontou para uma sessão do cardápio, cujo preço era significativamente maior.

— São opções que não envolvem nada de origem animal, como o leite, senhor — respondeu o atendente, que já havia anotado os pedidos de Raizel e Petra.

— Vou querer um de baunilha, por favor. — Luna ficou curiosa quanto àquele sabor, já que não imaginava como poderiam usar aquela flor como ingrediente.

— Bem, então vou querer esse de “iogurte” com frutas vermelhas. — A descrição daquele sabor atraiu a atenção de Sariel.

Em posse dos pedidos anotados, o atendente saiu com a promessa de que tudo estaria pronto em um instante, o que de fato foi cumprido dentro de poucos segundos, fazendo jus à reputação que o estabelecimento possuía.

Luna admirou-se com o teor suave que o sorvete de baunilha possuía; cremoso, doce ao paladar e aromático. Perguntava-se como poderia ter vivido tanto tempo sem e a falta que faria ao retornar para o seu mundo de origem.

Quanto a Sariel, sentiu como se tivesse experimentado algo vindo dos céus. A cremosidade e suavidade, complementado pelo frescor das frutas recém-colhidas, fazia daquilo a melhor sobremesa que já experimentara.

— Gostoso, né — indagou Eirin, pouco antes de Klaus compartilhar uma colherada de seu sorvete com ela. — Hum…!

— Então, o que exatamente aconteceu entre vocês? — Preso na reação memorável da namorada, o rapaz quase esqueceu do assunto principal daquele encontro. — O mestre aqui parece mais chateado que o normal, então coisa boa não deve ter sido.

— Ah, nós entramos em um portal no nosso mundo, mas saímos aqui por algum motivo… — explicou Luna.

— Então esse cara aí apareceu com as espadas dele e tentou nos matar. — Sariel continuou. — Fiquei preocupado no começo, mas esse aí quase acabou perdendo. Tinham que ver ele tentando socar o ar.

— Eu já disse que você fala demais. — Com um frasco de cobertura de chocolate, que apareceu em sua mão, Raizel disparou um jato fatal no rosto de Sariel. — E só durou até o fim do aquecimento.

A cobertura do sorvete passou direto pelo alvo, ao passo que sua silhueta se desfez em uma leve cortina de fumaça rosada.

— Viram? — Sariel, que estava sentado ao lado de Raizel, sorriu pretensiosamente. — Tinham que ver ele tentando matar o ar.

Klaus e Eirin caíram na gargalhada, esforçando-se para evitar de se engasgarem com o sorvete em suas gargantas, diferente de Raizel que permaneceu com cara de tacho enquanto o frasco se desfazia em sua mão.

Reunir Sariel com Klaus e Eirin daria uma péssima combinação, isso estava na cara assim que escutou a voz da garota, pouco tempo antes.

— Er, sinto muito. — Ao lado de seu parceiro, Petra se inclinou em direção a ele. Em parte, ela também possuía culpa naquela cena. — Eu devia ter avisado.

— Sem problemas. — Deu uma olhada maliciosa de canto para a parceira. — Pode me compensar por isso mais tarde.

— Ah, agora eu saquei. Agora tudo faz sentido. — Eirin entrou na provocação do mestre louco e cutucou a amiga, jogando toda a atenção para cima dela. — Cês não conseguiram fazer nada, né?

— Isso explica essa cara azeda. — Colocando o braço sobre o ombro de sua parceira, Klaus se perguntou como poderia esquecer a forma como aquele cara era. — Só algo do tipo para te deixar chateado, Nefilim Primordial da Luxúria.

“É Primordial da Morte.” Raizel suspirou, embora não apreciasse nenhum pouco aquele título; já Petra, em silêncio, era quem estava morta de vergonha.

— Uma pena que a Valentina não tá por aqui pra ver essa sua reação — comentou Eirin. — Ela ia adorar te ver por aqui.

Infelizmente, a amiga mais próxima de Petra havia entrado em um portal de Rank A com seu parceiro de duo, Andrew, e provavelmente só daria as caras depois de alguns dias.

Mas retornaria segura, isso era certo. Eirin e Klaus se orgulhavam de treinar aqueles dois, principalmente Klaus, que lidava com seu pupilo de uma forma bem melhor do que a que Raizel lidava com ele.

— Mais e aí, quem era você lá no seu mundo? — Dos visitantes, Luna, por sua semelhança com Petra, certamente era a que mais chamava a atenção de Eirin. — Vai, conta. Conta tudo.

— Não tenho muito para dizer, na verdade… Passei a maior parte da minha vida trancada em um quarto de um palácio, e meu único contato com o mundo de fora era por livros ou histórias… — Luna possuía um olhar distante ao se lembrar de seus tempos difíceis. — Mas depois disso, conheci Sariel e viajamos por muitos lugares…

A empolgação estampada no rosto de Eirin se desvaneceu aos poucos, e a menina animada murchou como uma flor.

“A semelhança é bem maior do que eu imaginava.”

No entanto, antes da garota cogitar a ideia de se deveria tocar no assunto, Petra agiu por si própria.

— Eu também passei boa parte da minha vida presa na mansão da minha família. — Embora conseguisse dar umas fugidinhas com a ajuda de seu irmão e Valentina. — Tinham, bem… um casamento pensado pra mim, mas… — Deu uma fitada no rapaz ao seu lado. — Acabou tudo bem, no final.

— Eu nunca poderia nem imaginar me casar… mas agora… — Luna lançou um olhar longo para Sariel e esboçou um sorriso bobo. — Agora meio que é… possível?

— Eita que o negócio tá esquentando aqui. — Toda animada de novo, Eirin agarrou o braço de seu parceiro e o encarou com olhos brilhantes. — Eu gostei da ideia.

Com o clima novamente alto, os dois visitantes contaram sobre suas aventuras, sendo Luna a mais animada ao contar sobre os lugares que conhecera.

Dentre eles, a que mais impressionou a todos foi Yggdrasil, uma árvore tão grande que tinha quilômetros de altura e carregava em seus galhos inúmeras terras diferentes.

 

***

 

Na porta de uma das muitas casas que viram pelo caminho, o grupo, que deixou Klaus e Eirin para trás, pôde enfim se aproximar mais de seu real objetivo.

Após acionarem o dispositivo de campainha na parede, a voz de uma garota, que só poderia ser a Sophie que Raizel comentou, pediu por um pequeno instante.

— Oi… oi?! — A loira, que carregava um belo par de olhos esmeraldinos, teve que piscar algumas vezes para ter certeza de que Raizel e Petra estavam de volta tão cedo, e com companhia ainda por cima. — Aconteceu algo?

— De certo modo, sim. — O nefilim se dirigiu a ela de uma forma bem mais amigável do que a usada com os amigos anteriores. — Poderia nos ajudar?

— Er… Entrem primeiro. — Deu passagem aos quatro e os guiou pela vasta sala de sua residência.

O imóvel estava repleto de quadros de estilos de arte variados, poderia ser facilmente confundido com alguma espécie de galeria, isso se os conjuntos de jogos de tabuleiro nas estantes não chamassem tanta atenção quanto.

— Então, poderiam explicar a situação? — Com todos sentados nos sofás de sua sala, Sophie indagou para Raizel e Petra, mas sem deixar de reparar nos outros dois.

— Primeiramente, como esse aqui não se deu o trabalho de nos apresentar, eu mesmo farei isso. Me chamo Sariel, e esta é Luna. — O rapaz desconhecido tomou a iniciativa. — De maneira resumida, viemos de um outro mundo, nosso portal se fechou e agora estamos presos aqui.

— Se reverter o tempo daquela área, você pode trazer o portal de volta, certo? — indagou Petra, tendo ciência de que aquela era a única esperança que eles tinham de devolver Sariel e Luna ao seu mundo de origem. — A sua Veste Divina.

Sophie escutou com uma mão no queixo.

De fato, até seria possível, teoricamente.

— Outro mundo, né? — Mas o quão distante era esse lugar? E se ficasse na outra ponta do universo? — Ao menos é deste universo, certo?

Mesmo ela, com sua Veste Divina, não seria capaz de afetar o tempo de um outro universo, ainda que compartilhasse da mesma Causa Inicial que o dela.

— É difícil dizer. — Raizel foi quem lançou a bomba no colo da garota. — Mas se eles tinham um portal dessas proporções, você também deve ser capaz de refazer, principalmente com a ajuda do Trevor.

Se a questão envolvia afetar outro espaço, aquele cara seria de grande ajuda.

— Onde ele está?

— Ah, sim. — Sophie se levantou e se preparou para ir até o atelier do rapaz, onde ele estava trabalhando em um novo quadro. — Eu já volto.

Após um momento, um rapaz alto de cabelos e olhos em um tom de azul tão escuro que beirava o preto, chegou acompanhado de Sophie.

Um tanto bagunçado, com os dedos ainda com um pouco de tinta, já que mal teve tempo de se preparar, Trevor os cumprimentou brevemente.

— Se estão com pressa, eu posso teletransportar a gente de volta para a floresta agora. — Os companheiros de Sariel e Luna deviam estar loucos enquanto esperavam por eles, assim como o quadro inacabado devia estar chorando por Trevor naquele momento. — Creio que o silêncio seja um sim.

 

***

 

Em meio a uma área devastada e ainda com alguns traços de neve pelas árvores remanescentes, os seis surgiram ali em um piscar de olhos.

De fato, o embate que tinha se desenrolado naquele lugar havia sido intenso, Trevor constatou no primeiro segundo.

— Veste Divina — proferiram os dois ao mesmo tempo, dando a Trevor e a Sophie vestimentas semelhante a que Petra havia utilizado na luta contra Luna.

O nível de poder exibido pelo duo, principalmente em conjunto, fazia ser baixa a ideia de que falhariam em sua missão. De todos, Raizel era quem mais estava certo disso.

Se havia alguém com quem se podia contar na hora de resolver seus problemas, certamente seriam aqueles dois.

Trevor e Sophie respiraram fundo e ergueram, cada um, um de seus braços, fazendo todo o tempo e espaço regredirem a ponto das árvores pulverizadas retornarem, sem dano, à existência de seus respectivos lugares.

Mais um pouco e uma mancha branca apareceu no céu, na forma de um portal circular.

— Excelente. — Trevor fechou seu punho, e o portal que deveria se manter aberto por apenas alguns segundos foi forçado a se manter em seu estado atual. — É mesmo diferente dos portais daqui.

Por interferências da Lei do Mundo, nem mesmo um usuário de Manipulação Espacial ou Temporal poderia afetar a permanência ou fechamento de um portal daquela forma.

— Hmm, parece que está tudo certo. — Sariel observou atentamente o buraco no espaço. Pensando logicamente, eles foram parar ali através de um portal de um Deus da Escuridão, então havia o risco de criaturas saírem dali. — Bem, vamos?

Luna concordou com a cabeça e se virou para Petra e Raizel.

— Nosso tempo aqui foi curto, mas foi um prazer conhecê-la. — Graças ao encontro com Eirin e Klaus, Luna foi capaz de se conectar mais do que esperava com Petra. — E peço perdão por Sariel, ele é assim mesmo.

— Sim, foi um prazer imenso. — Chegando um pouco mais perto, Petra deu um abraço apertado em Luna e desejou tudo de melhor para ela. — Espero que encontre seus companheiros bem.

Desfazendo o abraço, reparou que seu parceiro ainda não havia dito nada para Sariel, e nem parecia que faria algo do tipo.

— Tenho certeza que o Rai não te atacou por mal, ele só… — Como poderia dizer aquilo sem soar rude? — Ele só tem um jeito peculiar de conhecer gente nova.

— Bem, no nosso mundo, qualquer portal é uma péssima notícia, atacamos tudo aquilo que saí de um, assim como vocês. — Sariel se aproximou de Raizel com um semblante relaxado. — Pelo menos foi uma boa luta, fazia tempo que não tinha que recorrer à enganação assim.

— É, deu pra se divertir um pouco. — Desfez a postura reservada e se deixou ficar mais leve diante da despedida. — Faz um bom tempo desde a última vez que tive que cortar conceitos, já tinha esquecido a sensação.

— Mas vê se dá um jeito pra lidar com ilusões, não imagina o quão comuns são usuários desse elemento em meu mundo.

— Relaxa, eu dou um jeito. — Bem mais amigáveis, os dois apertaram suas mãos, enquanto Trevor e Sophie os observavam em seu canto. — Eu sou bem chato de se manter morto, no fim das contas.

Era uma pena que aqueles dois tivessem que ir embora. Sariel daria um bom companheiro para Raizel, e Luna parecia se dar muito bem com Petra. Se Valentina estivesse ali, iria surtar com a presença de uma segunda Petra.

— Certo… — Sariel fechou os olhos por um momento, se concentrou por alguns longos segundos, e os abriu novamente, revelando sua cor castanha. — Vamos. 

Os visitantes deram as mãos e, graças à telecinese de Sariel, começaram a ascender lentamente até o portal.

Petra e Sophie acenavam para os visitantes enquanto Trevor e Raizel apenas os encaravam com atenção e um sorriso leve no rosto.

Lançando um último olhar para trás, Luna acenou de volta, enquanto Sariel apenas ergueu a mão por um breve momento.

No exato segundo antes de atravessarem um portal, uma súbita rajada psíquica tomou conta daqueles que os observava partir.

Trevor, Sophie e Petra viram, dentro de suas mentes, Raizel discutindo, gritando e atacando o ar como se fosse um maníaco ou drogado.

Dizer que a cena era cômica era pouco, ainda mais para Trevor e Sophie, que não faziam ideia dos poderes de Sariel.

Então, antes mesmo que Raizel pudesse reagir, os visitantes adentraram o portal e sumiram, muito provavelmente para sempre.

— Humph! — Cruzando seus braços, Raizel abaixou a cabeça e, com um sorriso torto, cogitou a ideia de abrir aquele portal de novo. — Mas é um filho de uma puta mesmo.


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