Volume 3
Capítulo 158: Missão Cumprida
A Vigília, após receber a notícia do êxito de sua missão, aguardava na mesma vila abandonada que o Conselho permaneceu até o início da operação.
Após alguns minutos, os Pilares surgiram da caverna.
Os Vigilantes logo se alegraram e aproximaram-se do Conselho com empolgação estampada em seus rostos, porém isso mudou rapidamente ao sentirem uma nova presença poderosa e assustadora.
Muitos da Vigília foram destacados para examinar os túneis superiores e nem mesmo chegaram ao santuário, portanto era de se esperar que ficassem profundamente alarmados ao verem Baphomet.
Sua postura e caminhar firme por si só eram o suficiente para deixar todos travados sem saber se deveriam fugir ou lutar, entretanto sua falta de emoções, além de seu corpo tão escuro quanto a mais profunda sombra, causava um sentimento de repulsa, como se seus olhos estivessem vendo algo que se disfarçava de um humano.
— Zaphkiela ainda não chegou? — Clementius perguntou aos Vigilantes mais próximos.
— Ah... Nã-Não...
— Bem, tudo que nos resta é aguardar.
— Senhor Clementius, por que ele não está... contido, de alguma forma? — questionou cautelosamente um Vigilante.
— Acalma-te, ele não nos atacará. — Koeus respondeu antes.
Sem dizer muito, o Pilar da Alteração se dirigiu até a casa que escolheram como o local de reunião do Conselho.
— E quanto a Ancalion? — perguntou um Vigilante enquanto Koeus se afastava.
— Checarei suas memórias agora mesmo, traga-o imediatamente. — Dito isso, todos os Pilares se fecharam na antiga casa, não antes de Clementius dar algumas instruções, como fazer uma contagem de prisioneiros, organizar informações e iniciar os preparativos para a partida.
***
Alguns minutos após seu retorno, o Conselho se reunia enquanto aguardava que Koeus terminasse de investigar a mente de Ancalion.
Todos estavam sentados em qualquer lugar livre, com exceção para Feng Ping e Clementius.
Alguns se perguntaram se o Pilar da Alteração seria capaz de completar sua busca, já que suas energias estavam baixas, porém ele não demonstrou nenhum sinal de exaustão mágica como suor, palidez e tremedeira.
Era provável que, caso tivessem escolhido aguardar por Zaphkiela, ele teria resistido o suficiente.
— Hmm, compreendo... — murmurou Koeus ao mesmo tempo que afastava sua mão e Ancalion caía desacordado.
— Então? — perguntou Clementius em um tom levemente ansioso.
— Infelizmente, as Seitas que cultuam Artemis não mantem contato entre si, são totalmente independentes. Ou seja, localizá-los é extremamente difícil. Além disso, parece haver uma rivalidade entre eles.
— Então são completamente individualistas... assim como as sombras — observou Jeanne.
— Pelo menos há alguma informação do Apóstolo dessa Seita? — questionou Feng Ping, que recebeu apenas um balançar negativo de Koeus como resposta.
Aquilo fez os outros três Pilares suspirarem audivelmente.
Enquanto isso, as candidatas escutavam em silêncio, parte por não desejarem atrapalhar a discussão, e parte por ainda não saberem de algumas coisas por ainda não serem totalmente do Conselho, como o termo “Apóstolo” que usaram.
— Me sinto insatisfeito com esse resultado — reclamou Feng Ping.
— Está longe de ser o melhor, de fato — concordou Clementius. — Contudo descobrimos mais que o suficiente. Ao saber como operam, como pensam, seus poderes, criaturas... Podemos investigar locais que antes julgávamos desnecessário.
— Discordo quando diz não ser o melhor. — Koeus encarou Baphomet, que esteve absolutamente imóvel e silencioso durante todo esse tempo em um canto, até mesmo quando Ancalion implorou por sua ajuda. — Pela primeira vez, temos a oportunidade de conversar com uma criatura e entender como pensam.
— Estou profundamente curioso para saber como o convenceu. — Feng Ping disse genuinamente, mas escondeu suas suspeitas.
— Faço das palavras de Feng Ping as minhas. — Clementius encarou Koeus seriamente. — Podes dizer como...
Toc! Toc!
Um batuque contra a porta interrompeu a discussão.
Clementius se dirigiu até ela porta e a abriu.
— Peço perdão por tê-la chamado até aqui, Zaphkiela — desculpou-se imediatamente o Pilar da Proteção.
Como resposta, a garota de cabelos prateados como mercúrio diante dele apenas sorriu sutilmente.
— Perdoe-me por minha demora. Como posso ajudá-lo?
— Claro, entre por favor. — Clementius deu espaço para que ela entrasse.
No momento em que adentrou o local, a cabeça de Zaphkiela virou para a direção de Baphomet, que permanecia tão imóvel como uma estátua.
— É um prazer encontrá-los novamente, companheiros. — Porém, ela logo voltou sua atenção para os outros Pilares.
— Bela e misteriosa como sempre, como posso ver — comentou Jeanne. — Quando vai tirar essa máscara? Seus olhos devem ser bonitos.
— Sinto-me lisonjeada, milady. — Zaphkiela ignorou o segundo comentário e voltou sua atenção para Klara. — Creio que esta é a primeira vez que nos encontramos. Prazer, chamo-me Zaphkiela, o Pilar da Selagem.
Desde o momento que Zaphkiela apareceu, Klara encontrou-se em uma espécie de transe, sentindo-se curiosa e atraída pelo comportamento e aura quase místicos dela.
— Ah! Sim, meu nome é Klara, prazer! — respondeu nervosamente ao perceber que permaneceu em silêncio por um tempo que seria considerado constrangedor.
— Zaphkiela. — Koeus a chamou. — Preciso que o sele.
O Pilar da Selagem virou a cabeça na direção de Baphomet por algum tempo, porém, sem dizer nada, caminhou na direção dele.
Klara esperava que ela perguntaria sobre a criatura e a situação completamente extraordinária sobre ele, mas não foi o caso.
Zaphkiela parou diante de Baphomet, estendeu a palma aberta em sua direção, e o tocou no peitoral.
Logo em seguida, correntes prateadas formadas a partir de palavras rapidamente se espalharam por todo o corpo dele.
Tudo aconteceu extremamente rápido. Em uma piscada, todo o corpo de Baphomet foi substituída pela cor prata.
Klara surpreendeu-se ao ver aquilo. Normalmente, quanto maior o poder do oponente, mais demorado era o processo de selagem. Claro, a quantidade de magia daquele que sela também era importante.
— Está feito. — Zaphkiela se afastou de Baphomet e virou-se para os Pilares.
— Muito obrigado, Zaphkiela — agradeceu Clementius. — Novamente, sinto muito por chamá-la tão repentinamente.
— Estou feliz que pude ajudá-lo, senhor Clementius. — O Pilar da Selagem voltou a atenção para Koeus. — Devo retornar para Acrópolis agora, ou acompanhada do senhor?
— Vá sem mim, meu trabalho ainda não acabou.
— Entendido. Neste caso, peço licença, vejo-os novamente futuramente. — Então, sem nem mesmo questionar nada sobre a situação, Zaphkiela deixou o aposento e partiu.
Klara percebeu que os Pilares a observam partir em silêncio. Aparentemente, não era a única que se tornava mais reservada perto daquela presença mística.
— Isso concluí nossa missão no momento. — Clementius foi o primeiro a quebrar o silêncio. — Amigos, agradeço sua ajuda. Quanto às candidatas... — Voltou sua atenção para as três garotas. — O Conselho discutirá suas opiniões e informaremos as escolhidas após alguns dias. Peço que aguardem com paciência.
Erandi, Klara e Lily concordaram em simultâneo.
— Visto que teremos que escoltar Baphomet até Acrópolis, ainda ficaremos unidos até lá. Feng Ping, sinto em atrapalhá-lo e pedir que nos acompanhe. — Clementius desculpou-se por ter de afastar seu amigo de casa por ainda mais tempo.
— Tudo bem, não ficaria tranquilo se retornasse agora, de qualquer maneira.
— Bem, visto que tudo está resolvido, devemos partir imediatamente — disse Koeus enquanto erguia Ancalion, ainda desacordado, em seus ombros.
— Ansioso para iniciar seus experimentos? — perguntou Feng Ping.
— Me conheces bem, mestre Ping. — Koeus se dirigiu até a porta, que fora aberta antes mesmo de ser tocada, e saiu.
Clementius foi logo depois, seguido de Baphomet com a mesma expressão neutra de sempre.
As candidatas foram as próximas, contudo, antes que Klara pudesse deixar o aposento, uma mão atrás dela a segurou pelo ombro.
— Nos veremos novamente, gracinha. — Jeanne sussurrou em seu ouvido e a soltou.
Klara congelou por um breve momento. Mesmo que Jeanne tivesse falado normalmente, sua voz natural já era, de certa forma, sensual e elegante, portanto, ouvi-la tão de perto despertaria sentimentos inimagináveis em qualquer homem.
Contudo Klara surpreendeu-se ao perceber como aquilo fez seu corpo esquentar e seu rosto avermelhar.
Sem saber o que fazer, apenas caminhou rapidamente para longe de Jeanne.
— Estou começando a sentir pena da garota. — Feng Ping se aproximou. — Espero que não acabe desenvolvendo uma aversão ao Conselho.
— Não se preocupe, sei quando parar.
Feng Ping a encarou com um olhar como quase se perguntasse “sabe mesmo?”, porém nada disse.
Caminhou até a porta, mas Jeanne bloqueou seu caminho com o corpo.
— Depois de nos acompanhar até Acrópolis, pretende permanecer nas Montanhas Prateadas?
— Caso eu não seja convocado para alguma missão, sim. — A encarou com um olhar inquisitivo. — Por qual motivo me pergunta isso?
— Estava pensando em passar um tempo por lá, um tempo apropriado, digo. — Jeanne esboçou um sorriso elegante e tocou com a ponta do dedo o quimono de Feng Ping. — Já está na hora de explorar um pouco a moda de sua terra.
— Receio que Shiroi Tate não seja um lugar perfeito para férias. — O Pilar do Vento respondeu como uma forma de alerta para que ela não se decepcionasse com o local.
— Sabes que meu lazer é conhecer o mundo, e nunca tirei umas férias nas Montanhas Prateadas. — Jeanne se virou e começou a se afastar para fora. — Além disso, creio que dificilmente será uma estadia chata contigo para me acompanhar. — Então, com um sorriso sutil, deixou Feng Ping para trás.
O Pilar do Vento caminhou lentamente para fora, perguntando-se como se sentia sobre Jeanne.
Parte dele sentia uma barreira em relação a ela, mas isso era pela sua própria personalidade um tanto reservada, ao mesmo tempo que não a via, nem conversava com ela, a quase vinte anos.
“Talvez seja uma boa ideia ter uma companhia de vez em quando, apenas para conversar sobre assuntos triviais e sem pensar sobre os problemas...”
Feng Ping encarou a figura de Jeanne caminhando elegantemente como sempre.
“Mas terei de tomar cuidado para que não descubra Suzuki...” Lembrou-se do homem enlouquecido que o viajante decidiu poupar. “Sinceramente... minha vida estava bem mais tranquila antes de você aparecer, Sariel.” Esboçou um pequeno sorriso.
***
Na noite do mesmo dia após o “fim” da operação, o Conselho e a Vigília já haviam se deslocado bastante de seu ponto inicial.
Como traziam muitos prisioneiros consigo, incluindo uma criatura com o poder de um Pilar, seu progresso ere bem mais lento do que o normal.
Clementius mantinha uma barreira que os cobria o tempo todo. Koeus executava uma varredura mágica a todo momento pela área ao redor, e Klara, Erandi e Lily, capazes de falar com os animais, pediam ajuda aos pássaros para verificarem o caminho adiante.
No momento pararam para descansar. Caso Koeus não estivesse em uma situação crítica com suas reservas de magia, teriam continuado pela noite, porém, naquela situação, recuperar as energias era prioridade.
O Pilar do Vento estava, no momento, ao lado de Baphomet no seu turno de vigia. Como precaução extra, Clementius deixou seu escudo preso ao chão, criando assim uma segunda barreira para prender a criatura.
— Feng Ping, cuidarei das coisas a partir daqui. — O Pilar da Proteção se aproximou dele. — Pode descansar um pouco.
— Obrigado, Clementius. — O Pilar do Vento se afastou, sentou-se no chão de pernas cruzadas e fechou os olhos.
Para aqueles que o vissem naquela posição, acreditaria estar meditando, porém a realidade era outra.
Sua consciência adentrou seu reino dos sonhos, um local no topo de uma montanha com um lago pacífico, sem nem uma única ondulação na superfície.
O clima era agradável, havia uma neblina fina e mística por todo o local, e o céu estava alaranjado devido ao pôr do sol.
Em seguida, sentiu uma entidade pedindo permissão para entrar em seu reino sagrado.
Ao permiti-lo, Feng Ping recebeu seu visitante com um sorriso sutil.
— Pelo visto esteve ocupado... Não me contatou desde o início de sua missão. — Sariel estendeu a mão ao amigo.
— Aconteceram coisas que nem mesmo eu esperava. — Feng Ping retribuiu o gesto e ambos se cumprimentaram.
— Mostre-me.
Feng Ping materializou um livro em suas mãos e entregou a Sariel, que o abriu e o examinou avidamente.
— Não esperava que as sombras seriam tão complexas... Tivemos sorte que algo assim aconteceu justo contigo. — O viajante o encarou com seriedade. — O que acha do comportamento de Koeus até agora?
— Sinceramente, ele está agindo como sempre, mas, como suspeitamos dele, tudo que ele faz parece estranho... — Feng Ping observava o pôr do sol, quando se virou para Sariel. — E quanto a você? Algum progresso?
— Invadirei os escritórios de Koeus amanhã. Talvez consigamos a resposta que desejamos.
— Precisa ser rápido, Zaphkiela está retornando. Será péssimo se for pego.
— Agradeço o aviso. — O corpo de Sariel começou a se desfazer em uma neblina. — Devo partir.
— Certo, tome cuidado.
O viajante deixou o reino dos sonhos de Feng Ping, que despertou logo em seguida.
Reparando na hora atual, o Pilar do Vento se levantou.
— Bem, o descanso acabou. — Caminhou até Baphomet. — Já é meu turno novamente.
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