Volume 3
Capítulo 157: Uma Proposta Inesperada
Koeus se aproximou a passos calmos de Baphomet, que continuava a tentar escapar lançando explosões contra a barreira.
Os outros Pilares, além das candidatas, fizeram o mesmo, apesar de ainda se manterem em alerta.
— Desista, não podes escapar. — Koeus disse com firmeza. — Compreendes isto, correto?
Baphomet o encarou por um breve momento quando, por fim, desistiu de seus ataques.
— Me prendeu, mas vivo — respondeu a criatura. — Não pode matar, nem prender muito.
— Koeus... — Clementius começou a dizer.
— Há pouco contatei Zaphkiela. Ela está a caminho agora mesmo. — O Pilar da Alteração respondeu, instintivamente já reconhecendo o que lhe seria perguntado.
— Realmente pretende mantê-lo aqui até a chegada de Zaphkiela? — questionou Jeanne. — Acha que pode continuar segurando o teto por um ou dois dias seguidos?
Apesar de Koeus estar realizando este feito com certa calma, era difícil dizer se seria o suficiente para manter aquilo por tanto tempo. Talvez seria possível se ele não tivesse usado sua energia mais cedo, mas agora...
— Não sei dizer, mas não temos outra escolha. — O Pilar da Alteração demonstrou determinação. — Não podemos deixá-lo escapar de maneira alguma.
— Se tua magia baixar muito, e Zaphkiela não chegar a tempo, seremos forçados a eliminar Baphomet — comentou Feng Ping enquanto lançava um olhar afiado para a criatura.
— De acordo, porém não façam nada a menos que eu diga que estou no meu absoluto limite.
Todos concordaram com as palavras de Koeus, e cada um ocupou-se com alguma tarefa em específico.
Feng Ping e Jeanne ficaram o tempo todo ao lado de Clementius e Koeus, já precisavam protegê-los a todo custo, e não havia nenhuma garantia de que eliminaram todos os oponentes.
Lily e Erandi tentaram criar uma fundação de madeira para tentar segurar o teto, mas os danos causados eram extensos demais e se estendiam por centenas, talvez até mesmo milhares de metros.
As candidatas a se tornarem Pilares, percebendo que não havia muito que pudessem fazer, foram pelos túneis à procura da Vigília.
— Você foi muito bem nessa batalha, Erandi, sua ideia de criar armas gigantes é bem interessante... — disse Lily de maneira um tanto cautelosa. — Se importaria se eu a copiasse?
Klara pôde perceber perfeitamente quando Erandi se virou com uma expressão um pouco amarga, já prevendo o tipo de resposta que ela daria.
Porém, para sua surpresa, ela se conteve por um momento antes de responder.
— Parece que pensei em algo que você não pensou. — Ela disse com um misto de rivalidade e orgulho. — Claro, fique à vontade.
Erandi ainda via Lily como alguém que ela deveria superar, mas, pelo menos agora, era capaz de conversar com ela.
Mesmo com uma resposta não muito amigável, Lily pareceu feliz de qualquer maneira.
— Você também lutou bem, Klara. — Lily mudou sua atenção a ela. — Nunca conheci alguém que possuísse muito do elemento Reanimação, e pensar que você é o poder de um Pilar, além de ser a única com 100% de um único elemento. É a primeira vez que vejo o verdadeiro potencial desse elemento.
— Ah... Eu não sinto como se tivesse sido muito útil naquela luta, entretanto... — Klara demonstrou sua insatisfação com seu desempenho. — Tenho certeza de que o resultado teria sido o mesmo sem mim. Mesmo que eu tecnicamente poderia fazer parte do Conselho, os Pilares atuais, e vocês, ainda são muito mais coordenados.
— Isso é só porque você não tem um equipamento apropriado — rebateu Erandi. — Você seria muito mais forte com ossos de criaturas melhores, tipo aquele gigante de gelo da Yggdrasil. Eu também poderia ter feito mais se tivesse a madeira da Árvore do Mundo.
— Eu discordo, creio que todos nós fizemos o melhor com o que tínhamos. — Lily disse em um tom encorajador. — Eles fazem isso para testar se podemos usar toda a capacidade do nosso equipamento atual, e devo admitir que Erandi me superou com sua ideia de armas gigantes.
Pela primeira vez desde que se conheceram, Erandi esboçou um sorriso por aquilo que Lily disse, um tipo de felicidade genuína por receber um elogio unido com o triunfo de ouvir sua rival admitir derrota.
— Oh, por acaso vi um sorriso? — provocou Klara.
— Claro que não! Está louca? — Erandi imediatamente tentou retornar para sua expressão irritada.
— Não adianta mentir, eu vi. — Porém, como Klara continuava perturbando-a, seu rosto adquiriu uma expressão envergonhada.
— Eu vou enfiar esse pau no teu olho... — Segurando uma recém-formada lança de madeira, disparou uma ameaça vazia.
— Ah é? Quero ver perfurar minha armadura então. — Klara apontou para sua viseira e aproximou o rosto de Erandi, que não fez nada.
Lily observou aquela situação toda enquanto tentava segurar um sorriso. Era a primeira vez que via sua rival encurralada por alguém daquela maneira.
Talvez por observar aquilo de fora foi capaz de perceber algo, mas ela jamais teria coragem de provocá-la daquela maneira, e saberia que, caso fizesse, receberia um olhar que não desejava.
Entretanto Klara era capaz de fazer isso com facilidade, e Erandi não parecia odiar aquilo visto a maneira como continuava negar o que acabara de acontecer.
“Essas duas... Têm um vínculo especial...” Esboçando um sorriso levemente triste, Lily as seguiu em silêncio.
***
Doze horas se passaram desde o fim da batalha, dando lugar à noite.
A Vigília se reuniu brevemente com o Conselho após a luta, mas logo se afastaram devido ao perigo constante do teto desabar.
A operação havia sido um sucesso quase perfeito. Quase, pois apenas após selarem Baphomet que poderiam comemorar a missão.
Naquele mesmo momento Zaphkiela estava se deslocando de Acrópolis para as Minas Belvuch a toda velocidade, mas se chegaria a tempo, ainda era uma incógnita.
Nenhum dos lados parecia disposto a ceder. Graças à Koeus, o teto não havia descido um único centímetro, enquanto Baphomet aguardava em pé, encarando o Pilar da Alteração initerruptamente por horas.
Certa hora, Klara não pôde deixar de pensar como aquela situação toda era um tanto cômica se ignorasse o perigo do que estava em jogo, ambos eram como duas crianças que estavam levando a sério demais uma competição de quem piscaria por último.
Porém Koeus não era o único envolvido isso. Clementius também tinha que manter seu escudo ativo continuamente, e Feng Ping e Jeanne também precisavam manter seus olhos em Baphomet.
Isso incluía ela e suas companheiras candidatas, que eram obrigadas a ficarem naquele local, sem descanso e sem dormir por horas até a chegada do Pilar da Selagem.
Após algumas horas, Klara já estava se sentindo cansada mentalmente por ter de permanecer em alerta por tanto tempo. Eventualmente lançou um olhar para Lily e Erandi, e notou como ambas pareciam totalmente focadas e muito mais acostumadas com a tensão do que ela.
Parecia que já estava havia dias naquele lugar, era impressionante como o tempo passava muito mais devagar quando não tinha nada agitado acontecendo.
“Tenho que ficar assim por mais um dia inteiro? Ah... Acho que preferia morrer...” Sua mente inconscientemente a levou de volta até sua terra natal. “Será que Erandi já esteve em Yggdrasil? Gostaria de levá-la para conhecer minha casa... Meus pais...”
Lançou um olhar para a pessoa em questão, que estava na exata mesma posição de quando a encarou horas antes.
“Falando nisso, meu pai era do mesmo reino que ela... Talvez os dois se deem bem.”
Com seus pensamentos insistindo em distrai-la, as horas se passaram, e logo o dia amanheceu novamente.
***
Já havia se passado quarenta horas desde que capturaram Baphomet, e Zaphkiela ainda não chegara.
Alguns minutos antes Clementius havia a contatado, recebendo a notícia de que ela chegaria em cerca de uma hora e meia.
Ao informar isso a Koeus, ele demonstrou uma expressão pensativa, mas nada disse.
Como todos ali tinham sentidos aguçados, podiam perceber que o Pilar da Alteração estava próximo de se esgotar, embora não soubessem exatamente o quanto.
Dez minutos se passaram, quando Koeus chamou Clementius.
— Não tenho certeza se posso mantê-lo aqui até a chegada de Zaphkiela — admitiu. — Mas não podemos matá-lo. Tens alguma sugestão?
Clementius espiou Baphomet, que não tirou seus olhos de Koeus em nenhum momento durante esses dois dias.
— Se os danos não fossem tão grandes, eu poderia criar uma barreira secundária, mas temo que até mesmo os túneis desabem sem sua força. Infelizmente não possuímos muita escolha.
O Pilar da Alteração soltou um murmúrio pensativo.
— Compreendo que desejas sua captura, também compartilho desse sentimento. Contudo não podemos arriscar que fique sem magia e ele acabe escapando.
Koeus permaneceu em silêncio por mais um tempo, quando encarou Clementius com um olhar que lhe causou desconforto, um olhar que não gostava de ver, que revelava a ambição de seu colega.
— E se o convencermos a se render?
— ... Como? — As palavras de Koeus surpreenderam não apenas Clementius, mas como todos os outros presentes também.
— Ele pode falar e pensar, podemos negociar.
— Isso nunca funcionou com as criaturas da Seita de Freya, por que funcionaria com ele? — Clementius ainda estava incrédulo com aquela proposta.
— Cada criatura age de maneira diferente de acordo com cada Deus da Escuridão. Não custa tentar. É melhor do que matá-lo, ou deixá-lo ir.
O Pilar da Proteção encarou novamente Baphomet com uma expressão intrigada.
Jeanne e Feng Ping escutavam a conversa em silêncio, e se surpreenderam ao ver aquele tipo de expressão surgir no rosto de Clementius após tanto tempo.
— Não há garantias nenhuma de que ele cumprirá qualquer acordo que fizer, é muito arriscado.
— Não te preocupes, sei como fazê-lo nos obedecer. — Koeus disse em um tom confiante e sombrio.
— O que pretendes dizer para convencê-lo?
— Não posso dizer-te agora. — Uma resposta que Clementius esperava ouvir, mas o desagradou mesmo assim.
O Pilar da Proteção considerou as opções por algum tempo.
Mais dez minutos se passaram, e fez sua última pergunta que decidiria o destino de Baphomet: — Pode realmente garantir que terá sucesso?
— Absolutamente.
Clementius encarou Koeus no fundo de seus olhos, quando soltou um suspiro e balançou a cabeça.
— Está bem então...
Sem perder tempo, o Pilar da Alteração se aproximou de Baphomet até ficar tão perto que apenas a barreira os separava.
— Tenho uma proposta — disse em um tom claro. — Você deve nos obedecer, não poderá atacar nenhum humano, e permitiremos que continue neste mundo.
— Arrogante é — retorquiu a sombra em um tom neutro. — Por que obedecer você?
— Estás disposto a me ouvir? — Koeus estreitou os olhos.
— Inútil será. Porém ouvir vou.
O Pilar da Alteração ergueu sua mão e a aproximou lentamente da barreira, porém ela não foi capaz de atravessá-la, encontrando-a sólida.
Voltou seu olhar a Clementius. Como ele criou aquele escudo, ele quem escolhia quem poderia entrar e sair dela à vontade.
— Compreendo sua preocupação, mas deves confiar em mim. — Encarou seriamente o companheiro. — Quantas vezes minha intuição nos salvou?
Mostrando a mesma expressão intrigada de antes, Clementius concordou com a cabeça.
Koeus novamente aproximou a mão de Baphomet, e dessa vez ela atravessou a barreira sem dificuldades.
A sombra o encarou sem reagir. Talvez por acreditar que o Pilar da Alteração não o atacaria, ou simplesmente julgaria que, mesmo se o fizesse, de nada adiantaria.
A palma de Koeus tocou a testa de Baphomet, emitindo um brilho marrom.
Todos observavam aquela cena com expectativa e ansiedade. Ninguém, nem mesmo seus companheiros que lutaram ao seu lado por décadas, acreditava que ele seria capaz de negociar com a criatura.
Os dois permaneceram imóveis por alguns segundos, quando o Pilar da Alteração afastou sua mão lentamente.
— Então, qual tua resposta? — questionou com um olhar afiado.
— Você interessante, humano. — Baphomet ofereceu a mão para um aperto. — Aceito.
Aquela simples palavra fez todos, sem exceção, arregalarem os olhos e soltarem um suspiro de surpresa.
Como Koeus fez isso? O que ele mostrou a Baphomet? O que poderia possivelmente fazer uma criatura concordar em ser capturado e estudado por um humano?
Logo a surpresa foi substituída por desconfiança. Será que Baphomet realmente planejava obedecer, ou era apenas um blefe para tentar escapar?
Contudo seria ele capaz de blefar?
— Clementius, desfaça a barreira — disse Koeus assim que desfizeram o aperto.
— Koeus... Pode garantir que ele não fará nada? — perguntou de volta o desconfiado Pilar da Proteção.
— Absolutamente.
Ao ouvir aquilo, Clementius desfez com muita relutância sua barreira.
Todos, que já estavam com suas armas em mãos, ficaram em alerta máximo e atentos a qualquer movimento de Baphomet.
E para a surpresa de todos — menos Koeus —, a criatura não atacou, nem tentou fugir.
Clementius, percebendo este comportamento, se aproximou cautelosamente.
— Realmente não irás fugir?
— Prometi nada fazer. Nada vou fazer.
O Pilar da Proteção o encarou profundamente, buscando qualquer indício de mentira — ou verdade — naquelas palavras.
Entretanto não era capaz de captar nada. Ou Baphomet era capaz de esconder suas intenções como Feng Ping, ou sua alma não estava presente.
— Neste caso, devemos deixar este lugar. Erandi, Feng Ping e Klara, vocês ficarão atrás. Baphomet ficará no meio, e Jeanne, Koeus, Lily e eu tomaremos a dianteira.
— Certo...
— Entendido.
Sob as ordens de Clementius, o Conselho se dirigiu até os túneis onde se dirigiriam para a superfície.
Após se afastarem o suficiente, Koeus finalmente liberou sua magia e todos puderam ouvir e sentir o teto atrás desabando.
— Depois tens de me dizer o que disseste para convencê-lo — disse a Koeus quase em um tom imperativo.
O Pilar da Alteração apenas concordou com um aceno.
Todos estavam tensos e em alerta durante todo o percurso, e Baphomet os seguiu obedientemente até a superfície.
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