Volume 2 – Extra

Crossover: Pequeno Equívoco (pt. 1)

Este capítulo faz parte de uma colaboração com a webnovel O Primeiro Serafim e se encontra dividido em duas partes.

A parte 2 se encontra na webnovel citada acima. No final deste capítulo há o link para acessar o restante do crossover.


O farfalhar das folhas e a suavidade da brisa matinal prendiam a mente de Raizel ao forte desejo de permanecer deitado à beira daquele rio.

Com sua cabeça em repouso no colo de Petra, abriu os olhos escarlates, dando de cara com a claridade do céu azulado.

A garota o encarou de cima, e o azul do céu foi substituído pelo celeste das íris dela, algo que Raizel não teve aversão.

— Férias tem suas vantagens, no fim das contas — confessou enquanto mechas do cabelo prateado da garota recaiam próximo ao rosto dele. — Ninguém daria falta se a gente sumisse por alguns anos.

— Dariam, sim — repreendeu-o apenas para cogitar sobre a possibilidade, e seu semblante decair logo em seguida. — Nem consigo imaginar como a Tina ficaria.

— Ela iria infartar.

— Rai…! — Se tratava da melhor amiga dela, afinal; brincar com aquele tipo de coisa chegava a ser maldoso. — Huh?

Sentindo uma densa concentração de energia ao longe, Petra olhou para o lado, onde um portal circular branco se abriu no alto céu, e algo pareceu sair.

— Branco? — Nunca houve registro de um portal daquela cor; estaria abaixo do Rank C? Acima do Rank S?

Sem tirar a cabeça do colo da menina, Raizel se esforçou para ver os resquícios do portal se fechando, o que também era bastante incomum: deveria levar uns sete dias até que aquilo acontecesse.

— Tanto lugar pra essa porcaria aparecer.

Levantou-se e passou uma mão no cabelo vermelho, com a certeza de que a paz de suas férias exigiam uma interrupção.

Saindo da poeira de duas crateras, duas figuras, um homem e uma mulher, se depararam com um ambiente repleto de árvores arruinadas pela sua queda, desde caídas até quebradas.

Acima de suas cabeças, o portal que os cuspiu naquela floresta desolada se fechava, sem chances para retorno.

O homem, chamado Sariel, possuía cabelos escuros médios e lisos, cobrindo parcialmente as orelhas. Os olhos eram azuis como o céu, e não possuía barba.

Já a mulher, que era evidentemente mais baixa, possuía longos cabelos prateados. Os olhos, também azuis, possuíam dois discos dourados — como auréolas — que eram como uma espécie de marca. 

— Parece que o portal já se fechou. — Avaliando o ambiente novo, o homem constatou a ausência de ameaças. — Estranho… esse lugar não se parece com o mundo de um Deus da Escuridão, na verdade, se parece com nosso mundo.

— Será que fomos teleportados para algum lugar de Vilon? — As íris azuis da mulher, adornadas pelo arco celeste de cor dourada, bailavam de um lado para o outro. — O que vamos fazer, Sariel?

— Primeiro devemos descobrir onde estamos. — Pôs uma mão sobre o ombro da companheira, roubando a atenção dela para ele. — Vamos procurar um lugar alto.

Mais tranquila e grata por ter Sariel a seu lado, Luna se sentiu mais calma, ao menos até o instante em que três grandes espadas negras foram lançadas em sua direção, cravando-se no chão a poucos metros de acertá-la.

De imediato, os dois entraram em posição de defesa. Só então se deram conta da presença dos visitantes: dois jovens em pé nos galhos de uma árvore próxima.

— Quase não os percebi… — Sem saber se aqueles dois eram aliados ou inimigos, Sariel sacou sua glaive por precaução. — Quem são vocês e por que nos atacaram?

— Quem faz as perguntas somos nós. — Cruzando os braços, Raizel criou cinco espadas negras em cada lado de suas costas, como se fossem asas. — Nada além de monstros saem de portais.

Apontadas para os invasores, as novas armas deixaram claro que não estavam ali para servirem como tiro de alerta.

“Essas espadas… Conjuração? Não, tem algo de errado…” Ao usar magia de Alteração, Sariel ficou em alerta máximo ao notar o poder de ambos, além da estranha natureza da magia das espadas.

— Poderiam dizer quem ou o que são vocês? — indagou a garota ao lado do rapaz, enquanto os olhos dele brilhavam e as espadas vibravam em suas costas.

— Deve haver algum engano — explicou Luna, ao dar um passo à frente e travar ao notar o poder de ambos, um poder que rivalizava o de um Pilar. — Nós somos… humanos.

— Oh! — Raizel nclinou a cabeça para o lado. Entre Luna e Sariel, a mulher, em especial, passava uma sensação estranha. — Mas você não é humana… é?!

Disparadas como mísseis à queima roupa, as espadas do lado esquerdo avançaram com tudo contra a mentirosa à sua frente.

Em uma sequência de tinidos simultâneos, cada arma foi repelida para os lados pela glaive do companheiro da garota alvo, que em seguida partiu para cima, com um corte que visava o pescoço de Raizel.

No entanto, atraída para trás por uma força invisível, a glaive se recusava a seguir seu rumo original; apenas tremia no ar, para frente e para trás, no combate de forças.

“Isso é… Alteração?” Lançando um olhar para a parceira do rapaz de cabelo vermelho, notou como o poder dela era muito semelhante, embora um tanto diferente, com Alteração. 

Pacífica em canto, Petra analisava os saídos do portal com menos hostilidade que seu parceiro; em certo aspecto, fosse olhos ou cabelos, ela o fez se lembrar de Luna, o que foi um erro grave para Sariel.

De um instante para o outro, Raizel havia acertado um chute em seu estômago que, com tamanho impacto, o enviou voando para bem longe, por um percurso que derrubou árvore após árvore, separando-o completamente de Luna.

Ao se levantar, com a dor latente em sua barriga, examinou brevemente o local e percebeu que, apesar da longa distância, ainda estava dentro da densa floresta.

“Aquela força e velocidade… definitivamente não são pessoas comuns…” Comprovando seu pensamento, sentiu a aura de Raizel se aproximando a uma velocidade descomunal.

O solo explodiu com o impacto do rapaz, que veio de cima. As espadas em suas costas, redistribuídas, estavam duas de cada lado e uma na mão direita.

— Olha só, tá inteir… — Mais do que já recuperado, os olhos de Sariel antes azuis refletiam um verde florestal tão puro quanto os das árvores ambientes, assim como sua glaive. — É uma bela arma que você tem aí.

— Se gostou tanto, por que não vem ver ela de perto? — Sariel esboçou um sorriso irônico.

— Oh! Ousado. — Avançou sem hesitar, lançando uma espada de cada lado como movimento de abertura.

Sariel rebateu uma das armas com a glaive e tentou segurar a outra com uma vinha, que brotou do chão e a prendeu pelo cabo.

Infeliz em seu propósito, a vinha pouco retardou a investida da arma antes de estourar.

Sariel desvia por pouco, sofrendo um corte superficial na lateral de sua barriga.

Atento, reparou que o outro sumiu de seu campo de visão… ao menos de sua visão. Girou seu corpo bruscamente e escapou do corte que veio de suas costas.

Refém da inércia, o garoto tardou um instante para alterar a trajetória da arma, um tempo infinito de curto, mas suficiente para ter sua mão direita decepada pela glaive de Sariel.

— Tsc! — Não estava enganado, aquela arma de fato não era comum. “Cortado feito manteiga”.

Cravou as suas últimas espadas no chão, que emanaram um brilho escarlate pouco antes de explodirem, o que arrasou tudo ao redor, fossem plantas ou o adversário.

— É, nada mal. — Enquanto runas vermelhas se espalhavam por todo seu corpo, Raizel estralou o pescoço e regenerou o membro perdido. 

Com a poeira ainda suspensa no ar, Sariel se aproveitou da visibilidade reduzida e se aproximou por trás, mirando uma nova tentativa de corte do pescoço.

— Que falta de educação atacar pelas costas — disse a um fio de ser decapitado, quando sumiu da trajetória do corte, ainda mais rápido do que antes e parou a uma pequena distância logo à frente. — Lento.

— Você luta bem… Diga-me, por acaso faz parte do Conselho? É algum Pilar secreto? — Sariel manteve a distância enquanto observava atentamente seu oponente.

— Um Conselho, é? — Deu de ombros, e seus olhos brilharam mórbidos para o oponente. — Não curto essas merdas.

— Então só pode ser de uma Seita… Entendo. — Subitamente, inúmeras raízes e vinhas surgiram do chão visando Raizel, como se a floresta inteira houvesse se enfurecido e buscasse esmagá-lo.

— Tsc! — Materializou uma nova espada e, ágil, podou várias das vinhas enquanto desviava de algumas e sorria. — Sério.

De todas as coisas que já demonstraram ódio por ele, aquela era a primeira vez que via aquilo vindo de uma floresta.

Dado o número extenso de vinhas, que ocultam Sariel de sua vista, Raizel viu-se forçado a disparar um feixe de energia em circular, que cortou várias de uma vez, mas que se mostrou pouco efetivo quando as vinhas se multiplicaram ainda mais.

— Saco. — Agarrado pelos tornozelos, cessou os ataques inúteis. Encasulado dos pés à cabeça, a luz do Sol sumiu de seus olhos.

Por um momento, a floresta pôde enfim retornar a sua paz e tranquilidade, ao menos até que as vinhas passaram a transparecer um tom de luz avermelhada e a voz de Raizel soou.

— Quinto Ato: Acorde Final.

Um oceano espiral de energia se espalhou pelos arredores, tragando e dissipando átomo por átomo de cada árvore hostil.

Na mão de rapaz, uma katana negra com entalhes carmesins brilhava, esvaindo sua luminescência, com o fim do ataque.

— Huh?! — Sem intervalo para paz, um som alto e agudo rugia como uma turbina ao longe, para além das árvores que escaparam com vida do Acorde Final. — Vai mandar um avião agora?

No momento que se virou para a fonte do ruído, vislumbrou um borrão verde; uma luz de pura energia se aproximava a uma velocidade hipersônica, como um míssil.

Pondo força na empunhadura, Raizel buscou barrar o projétil com a lâmina de sua katana, o que resultou em um ínfimo sucesso aparente.

Assim como as espadas que ele detonou contra Sariel, o míssil de energia densa e esverdeada explodiu em sua face.

— Porcari… — Uma cúpula destrutiva se formou desde o ponto de impacto e dizimou grande parte da extensão da pobre floresta, por um raio de vários quilômetros de alcance.

Ao baixar do caos, por mais incrível que parecesse, nenhuma árvore foi danificada, ao contrário do alvo, que se encontrava sangrando pelos braços e com várias feridas pelo restante do corpo.

Suas roupas queimadas, assim como a pele de seu peito, evidenciavam as marcas vermelhas presentes ali.

— Ah, esse miserável. — Passou uma mão ensanguentada pelo cabelo enquanto os ferimentos começavam a se fechar, e o sangue retornava para dentro de seu corpo. “Se não fosse pelas runas, isso ia ter doído um bocado”.

Apesar disso, logo percebeu que não teria tempo para descansar quando raízes começaram a surgir novamente do chão, dessa vez tentando restringí-lo.

Seus ouvidos captaram, por um breve momento, algo vindo de suas costas: Sariel estava se aproximando novamente, pronto para acabar com tudo ali.

O que ele não esperava era encontrar Raizel curado e com a lâmina da katana envolvida por um vórtice de energia.

— Espada do Princípio, Segundo Ato: — Apontou a arma em direção ao inimigo e liberou o ataque perfurante. — Legato!

Sariel, ao perceber a densidade do ataque, criou uma barreira de luz dourada ao seu redor, protegendo-o completamente contra ameaças externas.

Com a colisão, massas de ar foram expurgadas das proximidades e o escudo dourado, que deveria enfraquecer o ataque, rachou em um instante.

Com a continuidade da pressão era notável a que fim aquilo levaria.

— Maldição… — Percebendo o colapso iminente do escudo, Sariel desviou com sucesso, dando graças às propriedades de seu escudo de Proteção.

— Duas auras diferentes? — Raizel sussurrou para si mesmo.

Aquilo era estranho, além de que aquele escudo pareceu funcionar de uma forma diferente dos que ele costumava ver.

— Você tem umas habilidades bem estranhas aí. — Estreitou as vistas, revisando a cena em sua mente. — O escudo não tinha ligação com a Manipulação de Natureza, certo?

“Que tipo de pergunta é essa? Alguém poderoso como ele certamente saberia sobre as habilidades de um Volátil…”

Sariel não pôde deixar de se sentir cada vez mais confuso sobre aquela pessoa. A maneira como agia, e seus poderes, eram todos muito estranhos.

— Posso dizer o mesmo. — Entrou no jogo, lembrando-se das semelhanças que a aura de Raizel tinha com a Conjuração. — Quando vai mostrar sua verdadeira natureza?

— Huh? — O garoto arregalou os olhos.

Poucos seriam os seres com a capacidade de enxergar através das camadas que cobriam a essência infame de sua alma.

— É uma boa informação que você tem aí. — Ergueu o queixo, com os olhos brilhando em vermelho-sangue. — Pode levar ela com você pro inferno.

Em um instante, um paredão de espadas se formou atrás de Raizel, suficientes para armar um exército inteiro, e, sedentas, investiram todas de uma vez contra Sariel.

Luna observou o rastro de destruição causado pelo chute de Raizel, com preocupação. Quando percebeu o rapaz de cabelos escarlates se afastando, tentou ir atrás dele, porém sentiu seu corpo tão pesado que era incapaz de se mover.

Olhou para a garota, lembrando-se que ela também havia parado o ataque de Sariel mais cedo; uma força invisível que atacava sem dar sinal de ação.

— Sinto muito — disse a garota, que pulou da árvore — mas você não vai avançar para além daqui.

Estacas de gelo surgiram ao redor de Luna, que então voaram contra Petra.

Mais uma vez a força invisível atuou, agora sobre os projéteis de gelo, que parados a um triz de acertar seu alvo tiveram suas pontas redirecionadas para Luna.

— Repulsão Celestial. — Mais velozes do que antes, as estacas retornaram com tudo contra sua criadora e foram felizes em acertá-la em seus braços e pernas.

No momento que os projéteis tocaram Luna, contudo, se desfizeram em partículas azuis, como se recusassem ferir aquela quem as conjurou.

— Huh? — Petra observou, atenta, o evento familiar. “É que nem as armas do Rai?”

— Não me deixa escolha… — Ao perceber que não teria como evitar uma luta, expandiu sua magia de maneira explosiva, fazendo um poderoso vento gelado derrubar as árvores ao redor.

Uma nevasca começou a girar a sua volta, com neve e gelo se formando. Esferas de energia azuis surgiram próximas de Luna, e voaram com uma velocidade muito maior do que a última vez.

— Manipulação de Gelo? — Sem desperdiçar um segundo, Petra materializou uma katana prateada com entalhes azuis e cortou cada um dos ataques, ou era o que esperava.

No encontro da lâmina com a primeira esfera de energia gélida, o projétil explodiu, levantando poeira e congelando a espada e o braço da garota, assim como o restante de seu corpo.

Como a cobra que se picava, Petra pela primeira vez pareceu experimentar de seu próprio veneno, paralisada e entregue às mãos da adversária.

Luna avançou com sua espada em mãos, ao mesmo tempo que mais esferas surgiam e voavam na direção da inimiga.

“Bellatrix!” Diante ao comando imposto, as marcas azuis da espada de Petra brilharam e sugaram todo o gelo ao redor para dentro de sua lâmina, que ficou energizada.

Com o braço livre a garota puxou o restante do gelo para a Bellatrix, enquanto que com centros de gravidade travou o movimento dos braços de Luna, que estava a um fio de cabelo de alcançá-la com aquela arma que parecia esculpida no interior de uma geleira.

— Se importaria de me responder algo antes disso acabar? — Ao contrário do rapaz que estava com ela, a voz de Petra soava bem mais amigável e aberta ao diálogo. — Se vocês não são monstros, por que saíram de um portal? O que fazem aqui?

— Vocês… não são devotos? Esse não se parece um mundo de um Deus da Escuridão… — De maneira reflexiva, Luna parecia estar conversando consigo mesma. Ela não podia deixar de estranhar como sua oponente não possuía o elemento Conjuração, como também não parecia ter intenções ruins. — Que lugar é esse?

— “Deus da Escuridão”...? — Era a primeira vez que ouvia algo daquele tipo. Um título estranho, algo que se daria a um demônio. Estranho assim como a forma que a mulher à sua frente parecia confusa e perdida. — Vocês são de outro mun…?

Sua voz foi interrompida por um flash e luz verde tão forte que poderia facilmente tê-la cegado se não fosse suas capacidades físicas.

Em seguida, percebeu uma grande esfera, uma explosão crescendo à distância, oriunda de onde Raizel provavelmente estava lutando.

Por último, o grande estrondo alcançou seus ouvidos. Todo aquele conjunto era basicamente igual ao de uma explosão nuclear.

— Rai… — O peito de Petra pulsou, o que a levou a olhar para o anel prateado com símbolos vermelhos em seu dedo, um modelo igual a um que Raizel também usava. — Que ataque foi esse?

Pela ligação existente entre os dois, podia sentir que, por um momento, seu parceiro ficou em estado crítico.

Por sorte, a sensação no peito dela passou, Raizel já devia estar se curando.

Sariel estava sendo pressionado ao ter que lidar com incontáveis espadas e o oponente ao mesmo tempo.

Tentava usar a floresta para se defender, ou, no mínimo, atrasar os ataques, mas de pouco adiantava.

“Isso é péssimo… Esse cara talvez seja tão forte quanto Ardos…” Lembrando-se do herói da humanidade e seus feitos.

Mesmo que se considerasse alguém tão poderoso quanto um Pilar, sabia que jamais ganharia do Pilar do Fogo pela força.

Portanto, o único jeito de ganhar aquela luta era na inteligência.

“Preciso converter minha magia, mas não tenho como me afastar, e é impensável parar de lançar magia por tanto tempo. Só há um jeito, e não posso cometer nenhum erro!”

Uma nova onda de ataques se aproximou. Esferas de energia verde se formaram e voaram na tentativa de interceptar as espadas.

Após ter certeza que nenhuma atingiria — pelo menos não em um ponto vital — interrompeu toda e qualquer magia por um breve momento, tornando-o completamente exposto.

“Qual é a desse cara?” Aqueles ataques… Sariel certamente seria capaz de defender. Seria consequência da pressão? Do cansaço? Ou… — Cê tá aprontando algo aí, não é?

O silêncio fora sua única resposta, além de um olhar misterioso.

Raizel manteve a pressão e não parou por um único segundo, e seu oponente foi acumulando cada vez mais danos.

Sempre que Sariel se encontrava em uma situação que conseguiria bloquear a maioria dos danos, interrompia suas magias subitamente por um breve momento — fazendo-o receber golpes que poderia ter evitado — e logo as ativava novamente.

Isso aconteceu cerca de trinta vezes, quando Raizel notou algo estranho: os olhos e a arma de seu oponente haviam mudado de cor novamente, dessa vez brilhavam em um encantador tom rosa.

“Uma nova cor, heim?” Sorriu, extasiado, enquanto o adversário sangrava sem parar. — Mostre o fruto do seu sacrifício!

Energizou a espiral escarlate na Espada do Princípio e a disparou, esperando ver o que decorreria daquela alteração de cor. No pior dos casos, tudo acabaria naquele ataque.

— Legato!

Então, para sua surpresa, Sariel simplesmente… sumiu.

— Quê? — O ataque passou limpo, deixando apenas um rastro quase infindável de destruição para além de onde os olhos alcançavam. — Teletransporte?

Fosse o cheiro do sangue em abundância ou o som dos movimentos de Sariel, tudo havia sumido por completo.

Era uma técnica para fugir?

Se seguisse o mesmo padrão de quando os olhos de Sariel ficaram verdes e ele usou Manipulação de Natureza, quando a cor mudava, uma Habilidade Inata poderia ser usada.

“Uma técnica de Manipulação Espacial.” Sondou os arredores com os sentidos aprimorados pelas suas runas faciais. “Bem, se não for isso, imagino que…”

De uma hora para outra, uma leve fraqueza tomou conta de si, o que o deixou surpreso e de certa forma feliz.

Aquele cara não havia fugido. No mínimo estaria atacando de muito, muito longe.

— Haha! Acho que isso pode ser ruim. — Era lento, porém contínuo. De pouco em pouco sua liberação de energia caía, embora as reservas permanecessem inalteradas. — Nada mal. Nada, nada, mal!

Ergueu sua espada para cima, e liberou tanta energia quanto ainda podia, o que nem de longe era pouca.

A espiral, antes afunilada e com intenção de perfurar, tomou um aspecto mais aberto.

— Primeiro Ato: — Apontou o ataque diretamente para o chão, onde a destruição se alastrou para todas as direções. — Prelúdio!

Engolindo tudo ao redor, apenas poeira e uma cratera imensa restaram ao fim da investida, além das árvores caídas mais ao longe.

Um preço moderado para o resultado alcançado: de fato, a queda da liberação de energia dele parou após o ataque, porém não retornou ao normal.

— Cê não tá tão longe assim, não é?

Raizel esquadrinhou a cratera em busca de seu oponente, surpreendendo-se ao percebê-lo caído, sangrando e desacordado.

Atento a qualquer movimento do adversário, caminhou devagar enquanto que, surgindo através do espaço, correntes douradas prenderam Sariel na forma de um casulo.

— Game over. — Disparou um feixe de energia na cabeça do oponente inconsciente, deixando o corpo dele sucumbir ao chão.

Entretanto, hesitou ao sentir suas pernas sendo enroladas por raízes que surgiram do subsolo.

Assim como da última vez, percebeu sua liberação de energia começar a cair.

— Tsc! — Cortou as raízes rápido e lançou mais um ataque no cadáver caído, dessa vez para pulverizar cada célula do corpo.

— Parabéns, errou! — soou uma voz atrás de Raizel.

— Heim? — Como já poderia ter regenerado a cabeça e se movimentado tão rápido? Se era assim, porque se escondeu em vez de atacar logo? — Sempre tem um que é chato pra morrer.

— Diz isso, mas é muito lento! — Sem temer nada, Sariel avançou mais rápido que nunca contra o inimigo e o tentou perfurá-lo com a glaive.

— Cê fala demais. — Em um piscar de olhos, já havia enfiado a espada no coração do oponente, que agarrou seu pulso com a mão esquerda e o ombro com a direita. — Heim? Mas que caralhos…!

Nem por uma desgraça Raizel conseguia se soltar do aperto proporcionado por Sariel.

Era fato que sua liberação de energia estava caindo, mas a redução mal beirava uns 10%.

Raizel não estava tão mais fraco que antes, era Sariel que parecia estar mais forte.

— Você é um saco, sabia?

— Não é o primeiro que me diz isso, nem será o último! — Sariel, usando de sua força monstruosa, puxou o inimigo para mais perto, quase como se tentasse abraçá-lo.

— Primeiro tenta sobreviver a isso. — Cara a cara, com a liberação de energia ainda em decadência, Raizel fitou o adversário no fundo dos olhos e proferiu o que seria o fator decisivo ali: — Espaço Dimensional.

De volta para onde Petra e Luna se enfrentavam, o local havia mudado drasticamente: uma nevasca poderosa arrancava as árvores ao redor e transformava todo o verde em branco.

A intensidade era maior que o mais frio inverno de uma região ártica… E isso no meio do verão em uma floresta tropical.

 — Por que justo agora? — Quando Petra finalmente começou a juntar as peças do quebra-cabeça, os efeitos daquela explosão verde interrompeu tudo e Luna gerou aquela nevasca eterna, que evitava alguma aproximação.

“Se Sariel sentiu necessidade de usar tanto poder, então eu deveria fazer o mesmo…” Luna comandava toda a neve ao redor, formando dezenas de esferas explosivas e geladas que se detonavam como um bombardeio. 

Não havia lugar seguro: o chão, o ar… contanto que houvesse neve, tudo poderia estourar.

O chão tremeu, o ar foi expurgado para longe, apenas a destruição reinava absoluta.

Sozinha em meio a tanta fumaça e poeira, Luna julgava impossível que sua adversária tivesse saído ilesa de tal ataque, isso até o momento que uma silhueta surgiu à sua frente.

Aproximando-se a passos lentos, a pressão transmitida por Petra era muito maior que a que ela possuía antes da explosão, na verdade, era ainda maior que a imposta por Raizel no início do conflito.

— Veste Divina — proclamou, com uma armadura leve revestindo seu corpo e com um magnífico manto azul na cintura. Por sorte ativou aquilo antes dos danos causados pela grande explosão fossem mais devastadores. — Anjo da Gravidade: Auriel.

— Espera um momento… O que acabou de dizer? — Talvez o vendaval fez Luna escutar algo, porém a palavra “Anjo” a deixou extremamente confusa. 

— Sinto muito, mas a gente poderia conversar um pouco?

Apesar de possuir uma clara vantagem de poder, a garota cessou qualquer intenção hostil, por sinal, manteve uma distância considerável, para que não deixasse Luna insegura e acabasse suscitando o conflito de novo.

— Acredito que essa luta não vai levar a lugar algum, na verdade, penso que seja um grande erro — prosseguiu Petra.

Ainda alerta, porém com suas dúvidas falando mais alto, Luna interrompeu qualquer magia.

— Por que vocês nos atacaram?

— Er, bem… Sinto muito por isso. — Pausando sua argumentação, Petra deu uma olhada para cima, onde aquele portal estranho havia surgido. — É bem estranho ter pessoas saindo de portais, nesse mundo. Mas aqui não tem algo como “Deuses da Escuridão” ou coisas do tipo.

— Como… Vocês não fazem parte do Conselho ou da Vigília? — A informação sobre os Deuses da Escuridão era mantida em segredo para que o cidadão comum não entrasse em pânico, então era uma surpresa que aquela pessoa, cujo poder facilmente rivalizaria ao de um Pilar, não soubesse sobre aquilo.

— Na verdade, não faço ideia do que seja esse Conselho ou Vigília. — Pondo a mão direita sobre seu peito esquerdo, a garota continuou: — Eu sou integrante da Academia de Batalha Ziz, Petra Lavour, do duo Top 1 Rank S.

— Me chamo Luna, princesa de Fordurn. — Todos aqueles nomes que acabara de ouvir eram totalmente desconhecidos, portanto uma possibilidade, embora ridícula, surgiu em sua mente. — Não me diga que… estamos em outro mundo?

Em sinal de paz, Petra desfez sua Veste Divina e desmaterializou a Bellatrix, retornando as suas roupas normais e reduzindo seu nível de poder.

— Parece que temos um pequeno equívoco aqui. — Suspirou, de certo modo aliviada, de outro, preocupada. — Sei que tem muita coisa pra gente conversar, mas acho melhor parar aqueles dois primei…

De um momento para outro, a emanação de energia de Raizel sumiu, embora a Ressonância não indicasse que ele estava em perigo, o que significava apenas uma coisa.

— O Reino das Espadas…

Após uma forte ondulação no espaço à volta, Raizel e Sariel se encontraram em meio a um ambiente completamente novo.

Uma densa neblina ornamentava os domínios de um imenso vale repleto de espadas negras flutuando no ar, enquanto diversas armas, de tipos variados, danificadas e cheias de sangue jaziam no chão.

Sem dar tempo para o oponente se recuperar da surpresa da alteração do ambiente, Raizel deu um chute na barriga do adversário, que o empurrou alguns metros para trás.

Sariel, ao invés de atacar, apenas observou os arredores.

— Hmm… A decoração poderia ser melhor… Você que fez? — zombou sem se importar com as armas ao redor. — Elas funcionam? Do jeito que estão, não cortam nem manteiga.

— É um lugar mais do que adequado para enterrar gente que nem você. — Raizel abriu os braços e, totalmente exposto, se desfez da katana que segurava. — E a sua glaive vai fazer parte da decoração rapidinho, e com o seu sangue!

Pouco importava se seus sentidos aguçados não detectassem as ações de seu adversário, quando se escondia; dentro daquele espaço, as espadas reagiriam a todo e qualquer movimento que possuísse intenção de ataque.

Os cinco sentidos eram irrelevantes ali.

Se Sariel atacasse, aquelas armas refinadas por milênios contra-atacariam e decepariam o membro dele de forma instantânea. O próximo movimento o colocaria a um passo da derrota.

— Ora, parece que decidiu admitir sua derrota? Com prazer! — Agarrando a oportunidade, Sariel avançou direto até o inimigo e desferiu um poderoso gancho de esquerda.

— Como? — Seu rosto virou para o lado, impulsionado pela potência do ataque que passou sem qualquer resistência pela lei do Espaço Dimensional. — Que porra…?

— Qual o problema? Esse soquinho te assustou tanto assim? — Buscando permanecer perto do oponente, Sariel o agarrou novamente com aquela força impossível.

— Tsc! — Conferiu com uma rápida olhada o estado de suas espadas: inertes, pareciam congeladas no tempo, mas isso estava longe de ser o caso. “Ele é um counter natural do Reino das Espadas?”

Aquilo só podia ser uma bela piada de mau gosto, e pra piorar a sua liberação de energia não parava de cair; por outro lado, palavras prateadas começaram a aparecer em seus braços, escritas em latim.

— Isso já deu. — Naquele ritmo, a derrota se tornaria uma possibilidade bem amarga, a longo prazo. — Manifeste-se.

Uma densa explosão de energia carmesim empurrou Sariel, marcando tanto o espaço entre os dois quanto a aparição de um imponente par de asas vermelhas nas costas de Raizel, que estendeu a mão direita para o lado.

Do mais puro espaço, uma espada longa, preta com símbolos vermelhos, assim como a anterior, saiu de pouco em pouco até a palma do rapaz.

Ostentando dois pares de asas no lugar do guarda-mão, um voltado para a lâmina e outro para o cabo, aquela arma era de longe diferente de qualquer outra usada até então.

— Espada do Fim dos Tempos, Segundo Ato: — Com um movimento ligeiro, direcionado ao nada, a arma liberou chamas que desintegraram tudo ligado ao conceito de selamento. — Princípio das Dores!

— Quê? Minha Selagem não funciona mais?! — Pela primeira vez desde o início da luta, Sariel deixou transparecer surpresa.

— Primeiro Ato: — Sem dar tempo para reação, Raizel lançou um corte de fogo escarlate que partiu o tecido do espaço e Sariel da cabeça aos pés em uma velocidade mais do que divina. — Megido!

Agora era impossível que ele tivesse sobrevivido. Era um mistério como ele escapou das correntes divinas das Cadeias de Abaddon, mas isso não importava mais, ele finalmente morreu, queimado até a essência de sua alma.

Ou foi o que Raizel pensara, quando Sariel reapareceu do nada — intacto —, e cortou com sua glaive na direção do pescoço, arrancando um simples filete de sangue.

— Oh! — Parado, Raizel encarou o acontecimento inédito que ocorreu diante de seus olhos. Ninguém abaixo de uma Besta Sagrada ou equivalente deveria voltar depois de ser engolido pelas Chamas de Megido. — Haha! Fala sério!

Aquele cara não possuía alma para ser queimada, isso se fosse mesmo um cara.

Os acontecimentos estranhos, que sucederam os olhos róseos de Sariel, começavam a se encaixar: a força absurda que ele obteve, o desaparecimento de sua presença, a imunidade ao Reino das Espadas.

Se Sariel havia ficado tão forte após a mudança da cor dos olhos, por que seu primeiro movimento foi se esconder?

Por que a técnica de selamento dele foi interrompida tão facilmente por uma simples destruição em área?

Indetectável, sim.

— Furtividade, é?! — Aquele Sariel que ele estava enfrentando nos últimos momentos só poderia ser alguma espécie de fantoche ou miragem, enquanto o verdadeiro se manteve oculto aquele tempo todo. — Segundo Ato…

Sem o conceito de ocultação, nada mais poderia ser escondido, fosse aparência, sons ou qualquer outra coisa. Até mesmo os cabelos e olhos do próprio Raizel perderam sua coloração vermelha, ficando completamente roxos.

— Princípio das Dores! — Agora sentindo um toque afiado em seu pescoço, Raizel inclinou o rosto para trás, onde o verdadeiro inimigo se encontrava. — E aí, fujão.

— Merda! — Em uma tomada de ação rápida, Sariel usou sua mão livre, a esquerda, e segurou firmemente a cabeça do adversário.

— Sem mais gracinhas. — Veloz como um raio, Raizel segurou o pulso do adversário e o quebrou na força bruta.

Subitamente, sentiu sua mente ficar pesada. Quando se deu conta, estava vendo a si mesmo e a Sariel na posição que estavam, parados como se congelados no tempo.

Todo o lugar foi inundado por imagens de suas memórias. Toda a vida de Raizel começou a correr de maneira fragmentada, desconexa, fora de ordem.

Gigantes alados, portais de luz dourada, anjos… Uma criança maltrapilha aos pés de um homem imponente… A Espada do Fim dos Tempos sendo entregue em sua mão.

Monstros e morte… Mais monstros e uma morte que nunca chegava ao fim.

A aparição de uma garota de cabelos pretos… Sangue, muito sangue… As últimas palavras dela…

— Chega! — Os olhos roxos de Raizel, de forma repentina, exibiram, por um breve instante, a projeção de incontáveis estrelas e galáxias, como se fossem uma reflexo do próprio universo.

Graças à sua imensa concentração e força de vontade, Raizel foi capaz de expulsar o intruso de sua mente.

O embate mental de ambos fez Sariel ser empurrado para longe, quase como se tivesse recebido um soco.

O baque o fez soltar sua arma, que permaneceu ao lado de Raizel.

— Que porre. — Levou uma mão ao rosto caído.

Respirou fundo, desmaterializou a Espada do Fim dos Tempos e pegou a glaive do adversário, pronto para matá-lo e lançar aquela arma junto às dos defuntos anteriores a Sariel.

— Seria de grande bondade se dissesse de onde tirou tantas Habilidades Inatas, antes de se despedir dessa sua vida de merda.

Após ter invadido a mente do inimigo, Sariel finalmente entendeu o que estava acontecendo, e como aquela luta fora o fruto de um enorme mal-entendido.

Sariel ergueu a palma aberta estendida a Raizel, pedindo que o escutasse. 

— Sou de um mundo chamado Vilon… — Começou a explicar, ao mesmo tempo que buscava ganhar tempo para uma última medida que acabaria com aquela batalha. — Lá, eu sou conhecido como um Volátil, alguém que é capaz de mudar seu próprio elemento e manipular qualquer magia.

— Seres como você adoram encher meu saco mesmo. — Na última vez que enfrentou uma criatura com tantos poderes diferentes, Raizel teve que se virar sem o coração. — Vai ter o mesmo fim que o outro.

Antes que pudesse terminar, percebeu os olhos de Sariel mudando de cor novamente, dessa vez para o castanho.

— Você nunca aprende, né? — Percebendo que o inimigo ainda não havia desistido, Raizel se preparou para finalizá-lo de uma vez por todas.

Porém, para sua surpresa, aquilo que segurava em suas mãos mudou. Não era mais a glaive, e sim Sariel.

Simultaneamente, no mesmo lugar onde o inimigo estava no exato microssegundo anterior, estava sua glaive.

Como Sariel já estava com a palma aberta e estendida, foi capaz de tocar a cabeça de Raizel instantaneamente.

Raizel teve a mesma sensação de antes: viu a si mesmo em terceira pessoa, mas, dessa vez, as memórias que começaram a decorrer não eram suas… Era de seu inimigo.

Viu um mundo totalmente desconhecido, embora parecido com o seu. Lá, uma guerra ocorreu com os seres que tanto detesta: os Anjos.

Viu uma criança estender sua mão em direção a um prédio em chamas, para logo em seguida uma nevasca surgir dela e apagar o fogo.

Viu os perigos que Sariel correu e as pessoas que salvou, o encontro dele com a garota que o acompanhava mais cedo… como se apaixonaram e declararam o amor um ao outro.

— Luna, é? — Raizel colocou a ponta de uma de suas asas na garganta do adversário e o encarou fixamente por alguns segundos. — Acredito que eu devo um pequeno pedido de desculpas para ela.

— Creio que não há mais sentido em continuar essa batalha, que escalou demais, a propósito. — Apesar do perigo ainda presente, Sariel parecia calmo.

Raizel, por sua vez, abaixou seu rosto e sorriu, ao passo que o espaço ao redor dos dois regrediu para o ambiente da floresta onde tudo entre eles começou.

— Sariel, o Volátil, você brinca com a sorte.

Com olhares aflitos, as duas garotas de cabelos prateados os esperavam, sem qualquer traço de hostilidade entre elas.

Diferente dos dois, elas pareciam ter alcançado o consenso com uma facilidade muito maior.

— Devo dizer que me deixou encurralado… — Sariel olhou para trás, onde sua glaive jazia no chão. — Mas ainda tinha alguns truques sobrando. — Então, seu corpo e sua arma trocaram de lugar novamente, afastando-se de Raizel.

— Hahaha! — As asas de Raizel sumiram e seu cabelo retornou ao vermelho habitual, exceto seus olhos, que ainda roxos, emanaram um brilho mórbido. — Você não era o único.


Segue o link para a parte 2: Crossover: Pequeno Equívoco (pt. 2)




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