Volume 3 – Prólogo
Prólogo 8: Nêmesis
Sua busca pelo Metamorfo mostrou-se completamente infrutífera.
Astrid percorreu bairros inteiros, interrogou soldados, revirou galpões e ainda fez buscas em prédios abandonados, mas o ser parecia ter evaporado no ar. Não havia rastros, pegadas, testemunhas ou indícios de fuga.
O Metamorfo simplesmente desaparecera, como se nunca tivesse estado ali.
A prefeitura de Cenara estava em estado lamentável. O salão principal, que antes servia como coração administrativo da cidade, estava irreconhecível. Móveis virados, gavetas arrancadas, portas arrombadas, paredes riscadas com garras — não sabia dizer, daquele caos, o que fora causada pelo Metamorfo ou pelo grupo de Erina e Kenshiro.
Pilhas de documentos revirados ocupavam o chão como pequenos montes de neve suja. Parte deles estava marcada com fuligem, denunciando que muitas outras pilhas tinham sido queimadas até virarem cinzas ainda mornas.
Haveriam processos inteiros para reconstruir, relatórios desaparecidos, autorizações destruídas, registros que provavelmente jamais seriam refeitos com precisão.
Meses. Pelo menos isso. Meses para remontar tudo o que havia sido vasculhado, perdido e destruido.
Sob suas ordens, os soldados foram reorganizados o mais rápido possível. Mesmo cansados, confusos e assustados pelo caos repentino, obedeceram prontamente. Astrid distribuiu-os pelas praças, ruas e entradas da cidade, formando patrulhas contínuas.
Não pretendia permitir que mais um ataque acontecesse sob sua vigilância.
O relatório para a Capital seria inevitável. Teria de explicar o caos, os mortos, a destruição e, além disso, pedir que outro Governador fosse nomeado para Cenara com urgência.
Já conseguia imaginar o peso que cairia sobre seus ombros, a série de perguntas, cobranças e possíveis repreensões.
E, acima de tudo, odiava pensar que o Metamorfo — o responsável por iniciar todo aquele desastre — ainda estava livre para aprontar seja lá o que fosse em algum outro lugar.
Ela apertou os dentes. O pensamento ardia como fogo preso na garganta.
Foi então que um pequeno som leve chamou sua atenção. Um miado curto, quase discreto.
Ela se virou e viu um gato sentado no centro do corredor destruído. Era pequeno, de pelagem escura e olhos muito grandes para o tamanho do rosto. Olhava para ela com curiosidade imóvel, como se não sentisse medo do ambiente caótico ao seu redor.
Astrid inclinou a cabeça, deixando o cansaço transparecer em seu sorriso fraco.
— Olá, bichano…
Ela deu um passo mais perto, então notou algo chamou sua atenção. Nos olhos do gato havia um brilho que definitivamente não era natural. Uma centelha pulsante, como fragmentos líquidos de magia escorrendo por trás das íris.
O coração de Astrid disparou no mesmo instante.
— Quem diria... — murmurou, descruzando os braços com um sorriso que tentou, sem sucesso, conter. — Olá, Híbrido.
(...)
Saindo de Cenara, Astrid ainda sentia o peso do que testemunhara, mas ao menos carregava consigo algumas informações valiosas. Não era muito, mas o suficiente para que aquele dia não fosse um desastre absoluto.
Agora que a cidade estava parcialmente estável e os soldados realocados, ela finalmente podia voltar ao seu destacamento e reorganizar sua mente antes de seguir com sua busca.
Caminhava pela estrada de pedra, o sol encobrindo-se lentamente atrás de nuvens avermelhadas, quando subitamente algo a atingiu.
SNAP!
Uma aura azulada se fechou ao redor de seu corpo como correntes invisíveis, imobilizando-a no mesmo instante. Seus músculos ficaram rígidos, como se o ar tivesse congelado ao seu redor.
— Aquela foi uma baita de uma explosão! — disse uma voz masculina, descontraída demais para alguém em uma situação tão séria. — Ainda bem que eu estava nos arredores e consegui chegar a tempo…
Astrid não perdeu nem um segundo. Com um impulso interno, sua Essência queimou, rompendo o bloqueio. O brilho dourado e negro pulsou ao redor de seu corpo, libertando-a do aprisionamento mágico.
— Não devia ter vindo aqui, Tharion — disse ela, sem sequer esconder o desprezo.
Ao se virar, avistou o homem que já esperava encontrar um dia: Tharion, o espadachim de cabelos brancos, aquele que carregava nas costas a Lâmina Lunar, uma arma tão grande quanto temida.
Sua postura relaxada, quase casual, não escondia o fato de que era um dos guerreiros mais perigosos ainda vivos.
Tharion apontou o polegar para si, debochado:
— Não estou falando com você, marionete!
Astrid cerrou os dentes.
Ali, longe de civis, longe de testemunhas, ela não tinha obrigação alguma de se conter.
Invocou uma adaga estreita com um único movimento da mão. O ar vibrou e, num piscar de olhos, a lâmina riscou o espaço e voou na direção do peito de Tharion como um raio silencioso.
Ele levantou a espada apenas alguns centímetros. A adaga foi partida em duas metades, cortada como se fosse feita de papel.
— É assim que vai ser? — Tharion provocou, girando a Lâmina Lunar no ombro como se não pesasse mais que um bastão de madeira.
— Meu dia não tem sido dos melhores — respondeu Astrid, cada palavra carregada de cansaço e ameaça. — Se quiser ficar no meu caminho, não irei me conter.
A aura dela aumentou em intensidade, queimando o chão sob seus pés. O cheiro de rocha quente subiu como fumaça invisível. Tharion ergueu uma sobrancelha, aparentemente se divertindo.
— Ainda que seja a mais forte entre as marionetes… — Estalou o pescoço para os lados, aquecendo-se. — Sem suas irmãs para te ajudar… acho que as chances estão ao meu lado.
Astrid inspirou profundamente, permitindo que mais de sua Essência tomasse forma. Pequenas labaredas escuras cresceram como fios de tinta viva, queimando folhas, poeira e gravetos nas proximidades. O ar esquentou, distorcendo o espaço ao redor dela.
Tharion continuou:
— Aliás… eu sabia que Anastasia era uma marionete no momento em que bati os olhos nela. Deveria tê-la matado…
Para qualquer outra pessoa, seria o suficiente para fazê-la perder o controle. Mas Astrid não se moveu. Apenas seus olhos se estreitaram, tornando-se frios como lâminas recém-amoladas.
Varelith não apareceu.
Não precisava.
Ela confiava completamente na própria filha. Sabia que, mesmo exausta, abalada e sozinha, Astrid venceria.
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