Volume 2 – Arco 9

Capítulo 95: Herói de Aranost

Diante de Ajax, Erina e seu grupo se sentiam pequenas formiguinhas, engolidas por uma presença colossal que ia além da força física.

O martelo que carregava parecia quase um pedaço do céu caindo sobre eles, e a aura de poder que irradiava fazia com que até o chão tremesse levemente sob seus pés. Cada respiração do herói imperial parecia pesar toneladas. 

Erina, por dentro, sentiu seu coração acelerar. Não queria admitir, mas uma dúvida persistente latejava: seria possível lidar com alguém daquele nível? A sensação de impotência era quase sufocante. 

— O que o Herói do Povo está fazendo junto de um grupo de bandidos como vocês? — disse Ajax, sua voz profunda invadindo a alma de cada que o escutava. 

Não parecia ansioso para atacar; mais parecia medir cada palavra, avaliando o grupo. 

— É o que parecemos para você? — respondeu Erina, tentando impor firmeza, mesmo sentindo o peso da presença diante dela. 

Ajax não respondeu de imediato. Um passo firme à frente, e cada movimento parecia um terremoto contido.  

Ele começou a olhar cada um do grupo, analisando postura, respiração, expressão e até o fluxo de energia que parecia emanar deles. A pausa que tomou foi quase cruel, permitindo que o medo se espalhasse como sombra sobre todos. 

Zhen, silencioso e observador, aproximou-se de Erina, o tom de voz baixo, firme, transmitindo confiança: 

— Erina, ele não é nada parecido com quem já enfrentamos até agora. — Sua voz tinha uma calma quase estranha diante do perigo iminente. — Ele não apenas domina a Essência… ele parece fundido a ela. Cada movimento seu está perfeitamente sincronizado com a energia que flui pelo próprio corpo. 

Erina engoliu em seco, absorvendo a informação enquanto sentia cada passo de Ajax como se fosse um martelo contra sua própria coragem. 

— De fato — disse Ajax finalmente, a voz ecoando com autoridade. — Vocês não são bandidos comuns. São um grupo diversificado, organizado e eficiente. Por isso mesmo, não posso subestimá-los. Tipos como vocês são os mais perigosos… os piores dos piores. Aqueles que causam caos, chacinas e desafiam o bom Império. 

A cada palavra, um passo. A gravidade parecia aumentar. A pressão física e psicológica tornava o ambiente quase sufocante. O martelo nas mãos de Ajax parecia sugar o ar, e o chão sob os pés de todos se tornava instável, como se resistisse ao peso da presença do herói. 

— E por isso mesmo — gritou Ajax, erguendo o martelo aos céus — NÃO POUPAREI FORÇAS! 

O golpe que desferiu poderia esmagar todos de uma só vez. O impacto do ar quando o martelo desceu era tão intenso que parecia chicotear o vento em torno deles.  

Erina, concentrando toda sua energia no escudo, conseguiu interceptar parcialmente o golpe. A força esmagadora percorreu o escudo, vibrando até seus braços, e mesmo com a magia que amortecia a dor, sentiu a pressão esmagar sua musculatura. O escudo rangia, ameaçando ceder. 

O impacto trouxe espanto ao próprio Ajax — não esperava que uma força tão pequena pudesse retardar seu ataque.  

Graças a ela, seus subordinados puderam recuar e tomar posições seguras para organizar alguma estratégia. 

SHHHHRRRRKKKHHH! 

FWOOOOMPH! 

Rajadas de gelo e bolas de fogo rasgaram o ar, tentando fazer frente ao Herói do Povo. A nuvem de fumaça e vapor criadas pelas magias misturou-se no ar, obscurecendo parcialmente a visão de Ajax, embora não fosse suficiente para causar dano real. 

Com um simples movimento de seu braço, Ajax  dispersou a névoa como se fosse um sopro de vento, revelando que ele permanecia ileso. 

Amedrontados, Vaelis e Soren ousaram repetir o ataque, esperando que a pressão acumulada e a concentração de mana dessa vez surtisse efeito. Estenderam os braços novamente, sincronizados, preparando-se para liberar toda a força que restava. 

Uma faixa mínima de energia saiu de suas mãos, quase risível diante da perfeição defensiva de Ajax. 

— Acabou o “gás” de vocês — disse o herói, aproximando-se com passos pesados e decididos.  

O martelo, agora ao alcance, ameaçava esmagá-los com a mesma facilidade com que se pisaria em uma pedra. 

O grupo sentiu o perigo real: não era apenas um inimigo; era um muro de força, estratégia e experiência que parecia devorar qualquer tentativa de ataque. Cada respiração era calculada, cada movimento pesado como se carregasse séculos de combate. 

A dupla de magos desapareceu da frente do herói antes que ele erguesse o martelo, como se tivessem sido engolidos por um vulto invisível. O ar ainda tremia com a presença esmagadora de Ajax, e o solo parecia vibrar com cada passo seu. 

Um pouco mais distante, Kenshiro respirava com dificuldade. A velocidade repetida de seus ataques, combinada com a pressão mental de observar a força de Ajax, drenava não apenas seu fôlego, mas sua concentração. Cada passo, cada movimento exigia mais do que ele acreditava possível. 

— O que houve? — perguntou o espadachim, franzindo o cenho. — Não descansaram o suficiente? 

— Apenas fisicamente — respondeu Vaelis, a respiração curta. — Imaginávamos que nossos artefatos mágicos dariam suporte, mas… é como se eles não existissem contra ele! 

— Sim — disse Kenshiro, refletindo rapidamente. — O anel que vocês me deram deveria restaurar meu fôlego. Funcionou quando resgatei Fox e os gêmeos, mas agora… não senti efeito algum. A armadura de Gurok também não protegeu, e o escudo de Erina não parecia oferecer a mesma defesa… 

Sua mente conectou as peças com velocidade inumana. 

— ATENÇÃO! — gritou,  para que todos ouvissem. — ELE ESTÁ DESATIVANDO O EFEITO DE QUAISQUER OBJETOS MÁGICOS OU ARCANOS! 

O grupo estremeceu. Seus olhos refletiam a gravidade da situação: ter parte de suas defesas neutralizadas significava que cada erro poderia ser fatal. Ataques que dependiam de magia, proteção e equipamentos agora estavam seriamente comprometidos. 

Ajax soltou uma risada baixa, cheia de imponência. Estava impressionado com a dedução do espadachim, reconhecendo sua capacidade e inteligência. 

 “Um orc, um elfo, o Herói do Povo capaz de utilizar a Essência, uma mulher capaz de suportar meus ataques diretos e um espadachim veloz não apenas nos movimentos, mas no raciocínio… Interessante.” 

Sem aviso, Ajax desapareceu do campo de batalha, apenas para reaparecer diante de Kenshiro, o martelo erguido, pronto para esmagá-lo com força monstruosa. 

— Preciso matar você primeiro! — rugiu o herói imperial. 

Kenshiro não pensou em escapar. Em um movimento calculado, arremessou Vaelis e Soren para lados opostos, salvando-os. Ele viu o martelo descendo como uma montanha, seu impacto parecia capaz de pulverizar tudo em seu caminho. 

GÓOOONG!!! 

O som ecoou como um sino gigantesco, ensurdecedor, vibrando no peito de todos. 

Erina apareceu instintivamente, posicionando seu escudo entre o martelo e Kenshiro. A força do impacto percorreu todo o braço da cavaleira, quebrando ossos, espalhando o choque pelo corpo e fazendo-a cuspir sangue, embora a dor estivesse anestesiada por sua magia. 

“Ela também é muito veloz!”, pensou Ajax, impressionado. 

Sem hesitar, Erina girou o escudo, desviando parte da força para o lado, e usou a outra mão para socar Ajax no peito. O golpe fez o herói retroceder alguns metros, o peso de seu corpo esmagador pressionando o chão ao cair. Por um instante, uma esperança tênue surgiu nos olhos do grupo. 

Todos prenderam a respiração, torcendo para que aquele ataque fosse suficiente. 

Em menos de um segundo, ele se levantou, ainda que momentaneamente desorientado, sacudindo o ar com um rugido de fúria. Cada movimento seu era acompanhado por ondas de força que distorciam o espaço ao redor. 

O martelo novamente ergueu-se, desta vez mais rápido, mais pesado. 

O grupo recuou instintivamente, percebendo que cada segundo de hesitação poderia ser fatal. Kenshiro, respirando pesadamente, avaliava rapidamente suas opções, enquanto Erina segurava firme o escudo, pronta para absorver a próxima investida. 

No campo de batalha, o silêncio momentâneo entre os ataques parecia mais ameaçador do que o som do martelo descendo. Cada respiração era contada, cada movimento minuciosamente calculado, porque a qualquer instante Ajax poderia esmagar tudo o que ousasse se colocar em seu caminho. 

Tendo pouco tempo, Erina cochichou seu plano para Kenshiro, garantindo que ninguém mais pudesse ouvir. Cada segundo era precioso, e qualquer distração poderia custar-lhes a vida. Ele não hesitou, concordando silenciosamente; não havia outra alternativa. Num instante, desapareceu da vista de todos, tornando-se um vulto quase invisível. 

Enquanto Ajax caminhava, segurando firmemente seu martelo, seu olhar varreu o campo de batalha, procurando por qualquer alvo próximo. Mas, antes que pudesse reagir, Erina já se posicionava diante dele, pronta para iniciar outro ataque. 

Com um movimento rápido, ele tentou acertá-la, o golpe da cavaleira fora mais rápido. Um estalo metálico ecoou pelo ar. A armadura de Ajax se deformou levemente — algo que ele não esperava, considerando que suportara golpes pesados contra Gurok sem sequer ceder. Se o ataque tivesse acertado sua cabeça, talvez nem seu elmo pudesse protegê-lo. 

Com um de seus braços, socaria Erina com um golpe descente, um martelo pessoal.    

ZWHIP! TINK! 

Uma flecha prendia parcialmente o movimento de seu braço, batendo contra a dobradiça metálica. O projétil se quebrou com facilidade, fora o suficiente para atrasar o golpe, permitindo que Erina se esquivasse e contra-atacasse com precisão. 

Ajax tentou ignorar a distração, decidindo eliminar aqueles que o importunavam. Entretanto, pedras começaram a voar de todos os lados, atingindo o chão com sons metálicos e estrondos surdos. Não eram perigosas por si só, mas fragmentavam sua concentração, irritando-o subtilmente. 

Quando se decidiu livrar-se daqueles que o incomodavam, percebeu que uma névoa densa começava a envolver o campo. Primeiro pensou tratar-se de mera coincidência, mas rapidamente as flechas e pedras começaram a acertá-lo com precisão mortal, atingindo seu elmo. 

Dentro da névoa, Vaelis e Soren moviam-se como sombras, manipulando seus elementos para manter o ar turvo e os sentidos de Ajax confusos. Rajadas de gelo e fogo dançavam pelo ambiente, criando uma cortina densa. 

Takashi disparava flechas com precisão sobrenatural, parecendo enxergar através da névoa como se fosse cristalina.  

“Por que meu arco não é afetado? Não é algo arcano ou mágico…” pensou, mas rapidamente afastou a dúvida para se concentrar novamente. 

Xin, por sua vez, não conseguia enxergar nada na neblina, mas Zhen a guiava minuciosamente, indicando a direção, a força e até o ângulo exato para que as pedras que atirava com auxílio de seu chicote atrapalhassem Ajax, mantendo-o distraído. 

Kenshiro e Sebastian se posicionavam nas extremidades, atentos, prontos para retirar qualquer aliado caso Ajax tentasse escapar da névoa.  

Zhen se prontificou a cuidar de Xin, na menor ameaça de Ajax, ele a tiraria de perto dele. 

Erina seria a principal a combatê-lo, mantendo-o dentro da névoa ao máximo que conseguisse. 

O plano de Erina era simples, quase desesperado: cansar Ajax, forçá-lo a gastar toda sua energia na defesa e no ataque, e, se a sorte estivesse ao lado deles, vê-lo sucumbir como Fox. Não havia garantias — era mais uma aposta do que estratégia refinada — era tudo o que tinham. 

E Ajax já começava a perceber que algo estava diferente.  

A névoa, os ataques coordenados e a resistência incomum do grupo não eram apenas obstáculos aleatórios; eram o trabalho de um plano cuidadosamente executado. Seu olhar se estreitou, a aura de perigo que emanava dele ficou ainda mais intensa, como se estivesse pronto para esmagar qualquer coisa que ousasse desafiá-lo. 

— Acha mesmo que pode comigo, mocinha?! — rugiu Ajax, sua voz reverberando pelo campo de batalha como o estrondo de um trovão. 

Com um movimento lateral preciso, o herói acreditava que Erina não teria tempo de recuar ou saltar para evitar o impacto de seu martelo colossal. A força bruta de cada golpe era suficiente para esmagar a maioria dos oponentes, e a velocidade, inesperada para alguém de seu tamanho, fazia com que cada ataque parecesse inevitável. 

Erina, porém, manteve-se firme. Seu escudo interceptou o martelo com um impacto que fez tremer o chão e reverberar pelo ar. Seus músculos gritavam com o esforço, mas não correria risco de vida — ainda. 

— Posso não ter tanta energia quanto você — disse, pressionando o martelo com ambas as mãos, atrás de seu escudo, para impedir que fosse arrastada —, mas eu tenho razões para vencê-lo! 

— É mesmo? — Ajax provocava, cada palavra carregada de desprezo e desafio. — E que razões seriam? Dinheiro e poder? Tomar Cenara para si? A destruição do império?! 

A cada frase, seus golpes se tornavam mais rápidos, mais violentos, quase selvagens. Menos precisos, mas mais carregados de força, como se o próprio ódio impulsionasse seus braços. 

Talvez, quando o metamorfo se transformou em Ajax, seu caráter fora demais até mesmo para ele suportar. Um lampejo de insanidade passava por seus olhos. 

— Um General… — murmurou Erina, curando seus braços com magia enquanto avaliava se deixaria a dor penetrar para economizar energia —, que desperdiça a vida de seus homens… não merece saber nada da minha vida! 

HA! — O som carregado de escárnio. — Criminosos agora se importam com a vida de seus companheiros? Deve ser por isso que tiram a vida de inocentes com tanta facilidade! Vocês são vermes que matam, pilham e defloram os corpos de mulheres e crianças! 

— CALA A BOCA! — gritou Erina, a voz se elevando acima do rugido do impacto.  

Soltou o escudo e atacou, mirando o queixo de Ajax com toda a força que lhe restava. 

O impacto ecoou. O elmo do herói voou pelos ares, girando antes de desaparecer entre a névoa e o caos. Ajax cambaleou para trás, mas não caiu. Cada músculo de seu corpo robusto se contraía para manter o equilíbrio. 

— Eu toquei na ferida, não foi? — murmurou, passando a mão pelo queixo para garantir que nada tivesse sido deformado. 

Erina notou algo estranho: apesar da voz grave e da força descomunal, o rosto de Ajax permanecia jovem, quase paradoxalmente juvenil, contrastando com seu corpo poderoso e sua patente elevada. Segundo Nolan, ele já tinha idade para se aposentar, mas ali estava, desafiando todos com vigor surpreendente. 

A cavaleira lembrou-se de Budai, o último Herói que também dominava a Essência. Ao utilizá-la, ele mantinha a aparência jovem, mas seus olhos reluziam ouro.  

Ajax, por outro lado, não possuía tal característica. Talvez o metamorfo não tivesse maturidade suficiente para manifestar totalmente a Essência; ainda assim, era capaz de utilizá-la com maestria. 

Antes que o combate pudesse se intensificar novamente, duas luzes roxas surgiram repentinamente acima e abaixo de Ajax. Portais pequenos, adornados com símbolos antigos, brilhavam com uma energia mística e ameaçadora. 

De dentro deles, tentáculos verdes e espinhosos emergiram, envolvendo o corpo do herói e restringindo seus movimentos com força sobrenatural. 

— O que?! — rugiu ele, a frustração evidente enquanto tentava se libertar, arrancando um tentáculo, apenas para ver outros dois ocuparem seu lugar. 

— Finalmente consegui — disse uma voz firme e familiar, cortando a névoa com autoridade. 

Era Nolan. 

— VOCÊ! — gritou Ajax, reconhecendo a presença de Nolan, seu semblante um misto de surpresa e fúria. 

Com a intervenção de Nolan, a pressão no campo de batalha parecia diminuir instantaneamente.  

Todos reuniram-se, observando a captura do herói imperial. Uma sensação de alívio percorreu o grupo. 

O silêncio que se seguiu foi quase reverente. O confronto que parecia impossível finalmente mostrava sinais de contenção. Todos os olhos se voltaram para Nolan, compreendendo que, graças a ele, a luta finalmente atingira um ponto de virada. 

— Estava mesmo me perguntando onde você tinha ido — disse Erina, sua voz carregando uma ponta de alívio e desconfiança. 

— Peço desculpas — respondeu Nolan. — Eu não poderia deixá-lo notar minha presença. Se tivesse percebido, nada disso funcionaria. Além disso... — ergueu a mão, mostrando o traço ainda brilhante do feitiço — este é um dos desenhos mais complexos que já executei. Mesmo para mim, não foi simples. 

Antes que pudesse concluir, um rugido explodiu: 

— VOCÊ! EU DEVERIA SABER QUE ESTAVAM JUNTOS! — a voz de Ajax reverberou como trovão, sacudindo o ar. — TROUXE O PRÓPRIO HERÓI DO POVO APENAS PARA ME DERROTAR?! 

Nolan esboçou um sorriso frio.  

— É claro. Você é perigoso demais para eu enfrentar sozinho. Mas o Império já está a caminho, enviando um destacamento apenas para executá-lo. — Os olhos de Ajax se arregalaram em fúria quando Nolan se inclinou para a frente. — Você teve sorte naquela vez, metamorfo. Mas agora que os contatei... quem você acha que eles irão acreditar? Agora fale: onde está o meu pergaminho?! 

— Está aqui... SEU BOSTA! AAAAAAAGGGGGHHHH!!! 

De repente, a armadura de Ajax cintilou em um brilho dourado. A luz se expandiu como ondas solares. O ar ficou denso, pesado, e a aura dourada dominou todos os presentes, exceto o próprio herói. 

Aqueles que estavam de pé de forma instável perderam o equilíbrio e tombaram. Um instante depois, todos os corpos se enrijeceram — paralisados. 

Os portais de Nolan se fecharam com um estalo metálico. 

Mas Ajax... Ajax ainda podia se mover. 

O herói retirou seu grande martelo, a cabeça de metal ainda suja de sangue seco. Sem o elmo, seu rosto estava exposto: seus olhos queimava uma fúria animalesca. 

Ele avançou lentamente, cada passo ecoando como o bater de um tambor fúnebre. O silêncio da praça era sufocante, quebrado apenas pela respiração presa dos que ainda podiam sentir medo. 

— Você... — apontou o martelo para Nolan. — Será o último que matarei esta noite. Terei gosto em fazê-lo. Quanto aos demais que você ousou usar contra mim... serão os primeiros, apenas para que não presenciem minha degradação. 

Seus olhos pousaram em Takashi, o mais próximo. 

O elfo estava trêmulo, preso ao chão como uma criança diante de um monstro. Ajax não escolhia por sadismo, mas a inevitabilidade de sua decisão transformava a cena em um espetáculo cruel. 

Ele posicionou o martelo como um lenhador diante de uma árvore. 

— Faz muito tempo desde a última vez que vi um elfo... — disse quase em tom nostálgico. — Meu título de herói imperial me foi dado por proteger os transportes dos elfos que ergueram a muralha de Aranost. Posso sentir que você é um descendente deles. Me diga, elfo... você sabe o que aconteceu com seus antepassados? 

— Vocês... — Takashi conseguiu falar entre lágrimas. — Depois que a muralha foi construída, vocês os mataram para que seus segredos jamais fossem revelados! 

Ajax sorriu, um sorriso que não tinha alegria.  

— Incompleto. Primeiro os escravizamos, para garantir que a muralha atingisse sua glória máxima. Depois... os obrigamos a se reproduzir entre si. Pais, mães, filhos, irmãos... incontáveis gerações, todos forçados a trabalhar. Foram os melhores escravos. 

— Desgraçado... — Takashi chorava de raiva, imaginando o inferno descrito. 

— E teríamos continuado, se não tivessem ousado se rebelar. Foi quando os exterminamos. Não poupamos nem mesmo a última criança. 

O silêncio caiu como lâmina. O coração de Takashi pulsava tão forte que lhe feria o peito. 

— E de alguma forma, você sobreviveu — disse Ajax, curioso. — Talvez haja uma falha na muralha. Um buraco. Contatarei o Império após matá-los. Agradeça, elfo: ao menos sua vida serviu para algo. 

“Não... essa não é a razão pela qual nasci! Eu sou o Flecha Fantasma... preciso encontrar meu sucessor. Eu não vou morrer aqui. Eu não vou morrer aqui!” 

O martelo se preparou para matar, e o ar pareceu congelar. 

— TAKASHI! — gritou Kenshiro. 

THRRAAAMMM!!!  WHOOOSHhh... 

O impacto sacudiu o chão. Takashi arregalou os olhos. Estava vivo. 

Mas em vez de alívio, sentiu culpa. Um peso sufocante, como se sua sobrevivência fosse um fardo. Ele desejou, naquele instante, que tivesse morrido em seu lugar. 

— KENSHIROOO! — o grito coletivo rasgou o ar quando todos viram o corpo do espadachim ser lançado aos céus. 

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