Volume 2 – Arco 7

Capítulo 76: Calor Intenso

— Estou feliz que vocês tenham voltado ao normal — disse Zhen, respirando fundo e ajustando a postura. — Mas me digam... como enfrentaremos algo feito de lava? 

— Ele nem deveria estar vivo! — retrucou Kenshiro, cerrando os punhos ao redor das espadas. — Tenho certeza de que perfurei o coração dele! 

— Poderia ser um Rato? Ou talvez uma Sombra? — perguntou Xin, desconfiada.

— Não... é a lava. — disse Soren, a voz carregada de certeza. — Ele está usando a própria lava como coração. Enquanto permanecer nela, continuará existindo. Mas se sair, morre. 

As palavras pesaram no ar. 

— Mas não podemos deixá-lo aqui — disse Erina, firme. — Se permanecer, cedo ou tarde fará esse vulcão explodir. E não sabemos a dimensão da destruição que isso causaria. 

Sem aguardar mais deliberações, Makoto atacou primeiro. 

Seus braços descomunais ergueram-se, e com um movimento pesado lançou projéteis de magma incandescente. Cada esfera ardente cortava o ar como um meteorito, iluminando o redor. 

Vaelis ergueu as mãos, canalizando a magia do gelo. Feixes azulados envolveram os projéteis, congelando-os no ar antes que atingissem o grupo. As massas endurecidas de rocha caíram, presas ao chão, formando colunas que racharam ao impacto. 

Soren hesitou, mas respirou fundo e deixou que parte da lava chegasse perto o suficiente para absorvê-la. Sentiu o calor devorar-lhe as entranhas, a energia bruta forçando-se a entrar em seu corpo. Era como engolir metal derretido. O estômago revirava, a respiração falhava... ainda era preferível à morte. 

Zhen, Kenshiro e Xin desviaram com agilidade, escapando por pouco do magma que se espalhava pelo terreno, deixando marcas incandescentes no chão. 

Erina manteve-se firme. Ergueu o escudo e protegeu Anastasia, que se abrigou atrás dela. O metal do escudo chiou e esquentou, resistiu, sem deformar-se. 

Makoto observava satisfeito o chão ser tomado pelo magma. Mais alguns ataques e não haveria mais onde pisar. 

Vaelis percebeu o perigo imediatamente. Sem descanso, começou a transformar as manchas incandescentes em blocos de pedra sólida, recriando o campo de batalha antes que fosse perdido por completo. 

Ainda assim, tanto ele quanto Erina sabiam: se o combate se estendesse, Makoto teria vantagem. O vulcão inteiro poderia ser drenado em seu favor. 

— Acha que consegue congelar a lava do vulcão? — perguntou Erina, com urgência. 

— Impossível! — respondeu Vaelis, sem esconder a frustração. — O calor é intenso demais. O gelo não duraria tempo suficiente. 

Kenshiro avançou. O olhar em suas espadas revelava determinação inabalável.

— Nesse caso, não temos escolha. — Ergueu as lâminas, preparando-se para golpear a própria lava. 

— Imbecil! — gritou Makoto. — Só desperdiçará suas armas! 

Mas Erina notou algo. Seus olhos brilharam em verde. Kenshiro estava prestes a liberar uma força que raramente usava. Anastasia também percebeu e arregalou os olhos. 

Hyaaaah! 

Com um grito, Kenshiro investiu. Bóreas e Notus cortaram o ar, separando uma das pernas de lava que sustentavam o corpo de Makoto. O estrondo ecoou como trovão. 

Makoto cambaleou, surpreendido, o corpo instável. 

As espadas estavam intactas. Nem sequer haviam tocado diretamente a lava. O vento causado por seu ataque poderoso fizera o trabalho de uma lâmina.

Kenshiro avançou para o golpe final, mirando o tronco da criatura. Mas antes que pudesse concluir, a lava reconstituiu o corpo de Makoto, engolindo-o novamente. Kenshiro recuou o ataque, percebendo o risco de atingir a massa incandescente e danificar suas espadas. 

De repente, o chão ao redor se agitou. A lava começou a cercá-lo, erguendo-se como muralhas prontas para o devorar. 

Ele acreditara ter realizado um movimento decisivo, mas calculou mal. Estava prestes a ser devorado. 

Num instante, Zhen surgiu atrás dele. Com um puxão firme, arrancou-o da emboscada, levando-o de volta ao lado de Erina. 

— Obrigado, Zhen... — Kenshiro arfava, o suor descendo pelo rosto. 

— Essa batalha não será tão simples... — disse Zhen, os olhos fixos no inimigo. — Ele manipula a lava como se fosse uma extensão do próprio corpo. Nem precisa se concentrar. 

Soren estreitou o olhar.

— Mas reparem: ele não se afasta da boca do vulcão. Se pudesse manipular lava à distância, já teria nos esmagado. 

Anastasia, ainda protegida atrás de Erina, indagou: — Então... por que ele simplesmente não explode o vulcão? Mataria todos de uma vez. 

— Porque morreria junto — respondeu Erina. — Mas se sentir que não pode nos vencer, fará isso sem hesitar. 

— Então temos que derrotá-lo antes que perceba sua própria derrota— concluiu Xin. — Não será nada fácil... 

Makoto rugiu. Mais lava subiu do vulcão, fundindo-se a seu corpo. Ele cresceu em tamanho, formando múltiplos braços como os tentáculos de um polvo colossal. Cada membro latejava, escorrendo fogo líquido, pronto para esmagar seus inimigos. 

O ataque veio. Brutal, desajeitado, sem técnica, mas com uma força tão bruta que bastava um único acerto para matar qualquer um deles. Ainda assim, era previsível. Cada investida era desviada, bloqueada ou absorvida. 

Frustrado, Makoto replicava os golpes em maior escala, criando ondas de destruição cada vez maiores. 

E, sem perceber, acelerava sua própria ruína. Com cada ataque insensato, drenava mais magma do vulcão, desperdiçando sua energia vital. 

E isso, justamente, era o que o condenava. Ele não percebia que cavava sua própria derrota. 

Porém, o embate estava prestes a mudar quando Soren, até então em pé e resistindo além de seus próprios limites, finalmente tombou ao chão.

Seu corpo tremeu como se tivesse sido atingido por uma onda invisível de dor. Uma pontada aguda atravessou-lhe o abdômen, fazendo-o se encolher sobre si mesmo. A pressão interna, resultado da energia acumulada que queimava por dentro, era insuportável. Incapaz de controlá-la, ele vomitou — mas não sangue ou a energia do magma, apenas água.

A substância transparente escorreu pelo canto de sua boca, denunciando o desespero do corpo em tentar expelir o excesso de poder de uma forma errada, ineficaz e cruel. 

Seu olhar vacilou. A consciência lhe escapava como areia entre os dedos. Outro ataque, no entanto, já rugia em sua direção. Soren sabia — não tinha mais espaço, não podia armazenar mais nada dentro de si. Um único impacto a mais poderia destruí-lo por completo. 

Vaelis, instintivamente, se colocou à frente dele. O frio condensou-se ao redor de sua figura, o ar tornando-se pesado e cortante como lâminas invisíveis. Ela ergueu os braços, evocando o gelo para selar o projétil que vinha em alta velocidade. 

Mas,no instante em que conseguira transformar o magma em rocha, sua mana acabara antes de fixar o projetil ao chão.

Em um ato de desespero, tentou criar uma barreira com a pouca energia que restara. Um fina cama de gelo, que se estilhaçaria com um simples assopro.

A rocha atravessou a barreira e atingiu Vaelis em cheio. 

O impacto soou como o disparo de uma catapulta em meio ao campo de batalha. O corpo da maga foi lançado para trás, colidindo contra o solo com violência. A dor reverberou por suas costelas, e só o reflexo rápido de erguer os braços em defesa salvou-lhe a vida. Se tivesse recebido o golpe de frente, sem proteção, estaria morta. 

Erina correu até ela. Sua magia de cura, veloz e eficaz, fechou as feridas externas, acalmando músculos rasgados e impedindo hemorragias. Mas havia um limite. Nada poderia fazer para restaurar a mana drenada. O corpo de Vaelis ainda respirava, mas sua magia estava quase extinta. 

Makoto, observando tudo, sentiu um sorriso cínico formar-se em seus lábios. Dois dos oponentes mais perigosos estavam, agora, gravemente debilitados. Sua confiança inflou. Ainda que não tivesse condições de vencer os demais em um confronto direto, já não precisava. Bastava pressionar os feridos, quebrar as defesas pouco a pouco, e o restante cairia como peças de dominó. 

O pior, no entanto, não era apenas a queda dos magos. Sem o domínio do gelo de Vaelis, a lava, que fervia em erupção constante, começava a avançar sem controle. Era apenas questão de tempo até consumir todo o campo de batalha. 

Erina respirou fundo. Cravou seu escudo pesado no solo, e a terra respondeu com um baque surdo. Uma barreira se formou diante dela, não apenas física, mas também simbólica: um juramento de que protegeria seus companheiros. Atrás da muralha improvisada, cuidava de Soren e Vaelis ao mesmo tempo, sem perder de vista a proteção de Anastasia, que permanecia imóvel, vulnerável, escondido sobre o grande escudo. 

— Vocês estão bem? — perguntou Erina, sua voz firme, carregada de tensão. Seus olhos percorriam os corpos fragilizados, avaliando cada sinal de vida. 

Vaelis, ofegante, tentou se erguer apoiando-se nos próprios joelhos. Seu corpo tremia de exaustão, seus olhos ainda ardiam de determinação.

— Chega... temos que ir com tudo agora. — Sua voz soou rouca, quase um sussurro. 

Erina virou-se para ela, incrédula.

— O que está dizendo? 

Vaelis respirou fundo, forçando as palavras.

— Ele está confiante demais, acredita que já venceu. Isso o fará baixar a guarda... E eu sinto... sinto que ele usou lava suficiente. Talvez eu consiga cortar a ligação dele com o vulcão usando meu gelo. 

Soren, ainda pálido como um cadáver, tentou se levantar também. Seus músculos protestavam, mas ele não se deu ao luxo de ceder.

— Eu posso... — tossiu, apoiando-se no chão até conseguir erguer-se um pouco. — Eu posso absorver o restante da lava que ele invocar aqui em cima. 

Os dois trocaram olhares, uma faísca de esperança acendendo-se em meio à dor.

— Assim nós venceremos! — declarou Vaelis, com uma firmeza que desafiava seu corpo frágil. 

— Não! — a voz de Erina explodiu, carregada de medo e fúria. Ela se colocou entre eles, quase implorando. — Vocês já estão no limite! Se forçarem além disso, vão acabar como eu e Kenshiro! Entrarão em coma... ou coisa ainda pior. E eu... — Sua voz quebrou por um instante — eu não poderei trazê-los de volta. Minha cura não é capaz despertar ninguém.

Mas Vaelis não hesitou. Cerrou os punhos, a determinação queimando em seu olhar.

— É um risco que estou disposta a tomar. 

— Eu também — Soren finalmente conseguiu firmar-se de pé, ainda que vacilante, apoiando-se nos joelhos. 

O silêncio entre eles foi denso, pesado. Até que Vaelis, encarando Erina nos olhos, falou com a dureza de quem não se permitiria recuar.

— Não é justo você e Kenshiro serem os únicos a se sacrificarem pelo bem do grupo. Acredite em nós, Erina! 

Ela hesitou. O tempo não estava a seu favor, e a mente lhe pregava peças. Imaginava não a falha dos dois, mas as consequências de uma vitória que poderia custar caro demais. Seria capaz de mantê-los vivos em coma? Quantos horas, dias, talvez semanas até despertarem? E se nunca mais abrissem os olhos? 

Erina fechou os olhos por um instante. Sua respiração acelerada se transformou em um suspiro pesado. Se queria liderar novamente, não podia carregar tudo sozinha. Precisava confiar. Precisava aprender a soltar. 

— Tudo... 

Mas não teve tempo de terminar. 

SHHHHRAAAWOOSH! 

Um som agudo cortou o ar, seguido de uma onda de calor. Algo emergiu da lava do vulcão com velocidade assustadora, rasgando o céu como uma flecha incandescente. 

— Aquele é...? — murmurou Zhen, incrédulo. 

Então, a figura se destacou contra o brilho ardente. 

— MAKOTO! — gritou Fox. Sua voz ecoou pelo campo, carregada. 

Ele se erguia da lava, sua armadura reluzindo como se fosse feita de pura luz, tão intensa que parecia um segundo sol pairando sobre o vulcão. Em suas mãos, a katana permanecia embainhada, inclinada para trás, a postura de quem estava prestes a executar um saque veloz e fatal. 

Makoto, surpreso, arregalou os olhos.

— Como você não morreu?! — bradou, já preparando outra onda de magma para afundá-lo mais uma vez. 

Fox, no entanto, não recuou. O peso da gravidade já começava a puxá-lo de volta, mas ele não cedeu. Seu corpo manteve-se firme, inabalável. No instante em que ficou alinhado com Makoto, e quando a lava já ameaçava engoli-lo por completo, anunciou com uma voz que ressoou como trovão: 

— Impulso! 

TSSHHHK! 

O saque foi tão rápido que Kenshiro mal conseguiu acompanhar. A lâmina cortou o ar e, junto, o próprio corpo de Makoto. O corte certeiro atravessou-o horizontalmente, separando-o em duas metades. 

Diferente de Kenshiro, Fox não se deteve em preservar a espada do contato com a lava. Ele cortou tudo — magma, ar e inimigo — em um único movimento absoluto. 

Mais uma vez, o corpo de Makoto despencou em direção à fornalha incandescente. Mais uma vez, havia o risco de retornar. 

Fox não permitiu hesitação.

— KAJI! ATENDA AO MEU CHAMADO! — rugiu, sua voz ecoando como ordem e súplica ao mesmo tempo. 

Kaji não perdeu tempo. Saltou de onde estava, avançando como um raio até alcançar o topo do vulcão. O calor de seu corpo aparentava ser pior que a do vulcão.

— Segure a lava em seu lugar! — ordenou Fox. — Garanta que nada saia dela! 

Kaji assentiu em silêncio, aproximando-se da beirada. Estendeu os braços sobre a cratera, e sua energia começou a se conectar ao magma turbulento. O vulcão rugiu, instável, como se resistisse ao comando. Mas Kaji forçou sua vontade, e lentamente o magma recuou, abaixando o nível em ondas controladas. 

Aos poucos, o som ensurdecedor cessou. O solo deixou de vibrar. E pela primeira vez em horas, um silêncio pesado pairou sobre a montanha. 

O vulcão estava quieto. 

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