Volume 2 – Arco 13

Capítulo 141: Espadas se Cruzam

Os espadachins ainda se perguntavam qual seria a melhor maneira de iniciar aquele combate. 

Conhecedores da arte da espada, sabiam que um único movimento mal calculado, um impulso apressado, um reflexo incorreto, seria o suficiente para encerrar a luta antes mesmo que ela realmente começasse. 

Cada passo soava como o estalar de um galho em meio ao silêncio de um funeral. 

Kenshiro, Ren e Fox andavam em círculos ao redor da Sombra espadachim, cada um com sua lâmina em punho, formando uma triangulação perfeita. Nenhum se atrevia a atacar primeiro. 

E Viktor, imóvel no centro, parecia divertir-se com aquilo. 

— Querem algumas dicas? — perguntou, com o tom provocativo de quem sabia mais do que deveria. 

Nenhum dos três respondeu. 

O foco deles estava absoluto — cada músculo preparado, cada respiração controlada. 

— Apesar dos humanos morrerem com facilidade — continuou Viktor, abrindo um leve sorriso —, as Sombras possuem uma fraqueza. Uma única falha que pode nos incapacitar definitivamente. Gostariam de ouvir? 

— Diga — disse Fox, sem alterar sua expressão. 

Kenshiro e Ren trocaram um olhar rápido. Ambos desconfiavam que aquela “dica” escondia uma armadilha, mas ainda assim, tinham que aproveitar qualquer chance. 

— O coração e a cabeça — explicou Viktor, tocando o peito e depois a têmpora, com a ponta do indicador. — Precisam destruir meu coração e minha cabeça, juntos, antes que qualquer um dos dois regenere. Caso contrário... eu voltarei. 

Kenshiro estreitou os olhos. 

— E qual a razão para você nos contar isso? 

Viktor deu de ombros, o sorriso crescendo. 

— Assim como minha mãe, eu odeio combates desiguais. Gosto quando sinto minha vida correndo perigo. É quando me sinto... mais vivo. É uma pena que nenhum de vocês possua domínio sobre a Essência, mas para a sorte de vocês, ainda sou um amador. 

Ren deu um passo à frente. 

— Está dizendo que quer ser derrotado? 

— Nada disso — Viktor ergueu o olhar, o brilho azulado de seus olhos brilhando. — Estou dizendo que quero lutar de verdade. 

Fox, ainda em posição, manteve o olhar fixo no adversário. 

— Você disse que ainda é um amador no uso da Essência... Isso significa que a usará contra nós, se achar necessário? 

Viktor riu, baixo, satisfeito com a perspicácia do adversário. 

— Você é mesmo astuto. E tem razão — respondeu, dando um leve passo à frente, o som metálico de sua espada ecoando ao deixar a bainha. — Pois bem, minha última dica é simples: quanto mais tempo esse combate durar... maiores serão as chances de eu vencer. 

Kenshiro franziu o cenho, o vento soprando entre os quatro combatentes, levantando poeira e folhas secas. 

— Então não perderemos tempo. 

— Ren, espere! — gritou, mas já era tarde. 

THINK! 

O som cortante ecoou. 

Ren havia se lançado pelas costas de Viktor, buscando o golpe decisivo — rápido, direto, sem hesitação. 

Não havia honra em um duelo contra uma Sombra. Apenas sobrevivência. 

Viktor, no entanto, girou o corpo no último instante. 

Sua lâmina interceptou o ataque com uma precisão quase sobrenatural. O impacto reverberou pelo ar, faiscando luzes brancas e vermelhas. 

Por um instante, as duas espadas ficaram presas uma na outra — o aço de Ren pressionando, a lâmina de Viktor resistindo. 

E foi ali, com os olhos a poucos centímetros de distância, que Ren percebeu o sorriso dele. 

Um sorriso largo, satisfeito, infantil. 

“É mais inteligente do que parece!”, constatou Viktor, mantendo os olhos fixos no espadachim. “Então me revele todas as suas habilidades.” 

Forçou Athena, sua lâmina, contra a espada de Ren, e o choque metálico ecoou em ondas. 

Viktor inclinou a cabeça, curioso. As duas espadas… eram quase gêmeas. O mesmo peso, o mesmo som ao colidir, o mesmo equilíbrio perfeito entre fio e densidade. 

A diferença estava apenas na coloração: Athena, reluzente em prata platinada, refletia a luz do sol como se repelisse a escuridão ao redor. 

A de Ren, ao contrário, era cinzenta e opaca — uma lâmina sem brilho, mas com uma aura densa, silenciosa, como se guardasse dentro dela algo que ainda não havia despertado, ou que já havia se apagado. 

Um clarão súbito, à direita, interrompeu o duelo particular entre os dois. 

O som do ar se rasgando veio primeiro, depois o calor. 

Fox avançava. 

— Impulso da Raposa! 

O grito fez o vento vibrar. 

A katana do Herói do Povo acendeu em chamas vivas, riscando o ar com um traço incandescente. 

O golpe, conhecido e previsível, ganhou agora uma nova ferocidade. As chamas envolviam a lâmina, tornando-a uma onda flamejante que dançava em fúria. 

Viktor sentiu o calor beijar sua pele. 

O ar ao redor se distorceu, as folhas próximas começaram a arder. 

O fio da katana se aproximava de seu pescoço em um corte horizontal — perfeito, rápido, fatal. 

FWHOOSH! 

As chamas desenharam um arco de luz alaranjada, e o clarão cegou momentaneamente até mesmo Ren, que se abaixou por instinto para não ser atingido. 

O ataque parecia perfeito, mas Viktor apenas inclinou o pescoço para o lado. 

Um movimento mínimo, quase preguiçoso. 

Um instante depois, uma linha fina e vermelha surgiu logo abaixo de seu queixo — um corte.  Tão pequeno que parecia insignificante, mas profundo o bastante para provar um ponto. 

Viktor ergueu os olhos e viu Ren completando o movimento do ataque que lhe atingira.  Ele havia aproveitado o momento exato que a katana errara o alvo. Fora tão rápido que a Sombra não percebera seu movimento.

Inteligente, veloz e oportunista.” Viktor pensou, limpando o sangue com o polegar e sorrindo, satisfeito. “Você está me fascinando. 

Mas Fox também não havia cessado. Já girava o corpo para o outro lado, a katana riscando um novo arco, buscando decapitar Viktor antes que ele pudesse reagir. 

O som das chamas voltou a rugir. 

Viktor recuou um passo. 

O golpe passou diante de seus olhos, deixando uma trilha de calor que o fez piscar. 

— O fogo de sua espada é lindo! — exclamou, sorrindo com genuíno encanto. — Uma pena que ele o denuncia tanto, Herói do Povo. Mas claro, não pode lutar sem ele, não é? Afinal, é sua marca registrada. 

Fox sorriu com os dentes cerrados, sem parar o movimento. 

— Então eu vou lhe mostrar a minha marca... Corte da Raposa! 

Nem esperou posicionar-se corretamente. 

Não havia tempo para posturas elegantes — apenas instinto. 

Nos primeiros ataques, os cortes vieram desencontrados, sem ritmo, como se Fox estivesse errando de propósito. 

Mas logo o padrão surgiu. 

FWHOOSH! FWHOOSH! 

Cada golpe vinha mais rápido que o anterior. 

Os passos se tornaram leves, quase invisíveis; o som das chamas se multiplicava no ar. 

Viktor, por um momento, pareceu ser levado pelo fluxo. 

Seus pés deslizaram para trás, seus braços tremiam com o impacto, até que seus olhos começaram a captar o padrão escondido. Então começara a desviar e refletir os ataques em sincronia, como se dançasse entre os golpes. 

— Sete... oito... nove... dez... — murmurava Fox, como se fosse um mantra de concentração. 

— “Caldas”, não é? — completou, em tom quase curioso, parando por um instante a lâmina de Fox com apenas um giro do pulso. — Até quantos cortes você consegue fazer, Herói? 

Era uma pergunta genuína. Não uma provocação. 

Que sujeito singular...” pensou Viktor, enquanto desviava de mais um dos golpes flamejantes. “Ele está utilizando magia em seus ataques e sequer percebeu! Me pergunto quanto é seu estoque de mana... e até onde ele pode ir antes de se esgotar. 

Enquanto refletia, seu sorriso se manteve no rosto, distraído, quase sonhador. O som do metal se cruzando se tornava um fundo musical para sua análise — uma sinfonia de lâminas. 

Mas pensar demais em combate é o mesmo que abrir o flanco. 

Um som sutil de deslocamento de ar, e o instinto de Viktor piscou tarde demais. 

Ren estava atrás dele. 

O oportunista se movia como uma sombra dentro das trevas. Seu corpo era silencioso, sem brilho, sem fogo — apenas precisão mortal. 

A lâmina de Ren atravessava o espaço entre eles, buscando o coração de Viktor. 

SHINK! 

A ponta penetrou levemente as costas da Sombra, arrancando-lhe um suspiro. Uma ardência surgiu, um aviso, um alerta. 

“Fui ferido?” pensou Viktor, intrigado mais do que alarmado. 

Mas não olhou para trás — não poderia.  

Seu corpo gritava para ele virar a cabeça e encarar o que estava acontecendo em suas costas, ansiando por uma resposta, como se apenas isso pudesse salvá-lo. Lutando contra as vontades de seu corpo, decidiu seguir seus instintos. 

Sentia que se obedecesse a seu corpo, Fox teria hesito em seu ataque, seria decapitado. 

Então, num único movimento, girou o corpo para o lado, sacrificando parte das costas para evitar a perfuração de seu coração. 

A lâmina de Ren rasgou sua carne, traçando um corte profundo e limpo. 

E antes que a dor o alcançasse, o fogo de Fox rugiu. 

O ar explodiu em calor e luz. 

Corte da Raposa, na vigésima segunda cauda, desceu como uma estrela cadente, atingindo Viktor em cheio no rosto. O impacto foi feroz o bastante para arrancar-lhe o olho esquerdo, abrindo-lhe a face em diagonal.  Fragmentos de osso e sangue se misturaram às brasas que queimavam no ar. 

Por um instante, o tempo pareceu parar. 

Ren e Fox, lado a lado, arfavam. Os dois acreditaram ter conseguido — talvez não matá-lo, mas ao menos machucá-lo de verdade. 

Mas então, Viktor ergueu o rosto. 

Seu olho regenerava-se à vista deles, a carne se recompondo como se fosse feita de cera derretida. O sangue evaporava antes mesmo de cair. 

Ele sorriu — o mesmo sorriso elegante, cruel e divertido de antes. 

— Que coordenação linda, vocês dois... — disse Viktor, a voz ainda serena, como se apreciasse uma dança bem executada. 

Levantou o polegar, limpando o sangue que escorria pela bochecha.  

— É uma pena que não terei uma cicatriz para recordar deste momento. 

Ren apertou o punho. Fox recuou um passo, tentando recuperar o fôlego. Nenhum dos dois queria admitir em voz alta, mas o pensamento era o mesmo: 

“Ele é ainda mais poderoso do que imaginávamos.” 

Viktor olhou de um para o outro, respirou fundo, fechou os olhos e disse: 

— Já brinquei demais com vocês... 

Quando os abriu novamente, seus olhos azuis pareciam ter atingido um novo tom, mais cristalino. 

— Quero conhecer o terceiro. 

E então, simplesmente desapareceu. 

Não houve explosão de vento, nem rastro de energia. 

Um piscar — e ele se foi. 

Restou apenas o silêncio e a sensação incômoda de que ele ainda os observava, em algum ponto invisível, apenas para estudar suas reações. 

Os dois espadachins mantiveram as lâminas erguidas, ofegantes. 

Sabiam que, onde quer que Viktor estivesse, o próximo movimento seria dele. 

Kenshiro observava o combate há algum tempo 

Não por covardia, mas por cálculo. Se Viktor Cruz era do tipo que aprendia durante o confronto, precisa estudá-lo e tentar decifrá-lo antes. Do contrário, cada golpe trocado contra ele se tornaria ainda mais perigosos. 

Por isso, preferiu esperar, guardar energia, observar o ritmo e os vícios da Sombra. 

Mas agora, o Viktor estava diante dele. 

E sorria. 

— Finalmente... o Vice-líder entra em cena — disse Viktor, inclinando levemente a cabeça, os olhos faiscando de excitação. 

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