Volume 2 – Arco 13

Capítulo 138: Metades Desiguais

Afastados do ponto da explosão, ainda no coração sombrio da floresta, Sorun caminhava lentamente, arrastando algo que mal podia ser chamado de corpo.  

O som do atrito seco, da carne ferida roçando na terra e nas raízes, ecoava como um lamento. O pequeno ser deformado, queimado ao ponto de perder toda forma humana, era Soren. 

Em sua desesperada tentativa de conter a explosão, concentrando-se para absorver parte daquele impacto e energia mágica, acabou encontrando algo muito além do que era capaz de suportar, queimando-o. 

O fogo — o mesmo elemento que um dia jurara dominar — agora o devorava por dentro e por fora. Seus braços haviam sido os primeiros a sucumbir: queimados até o osso, os músculos se contraíam involuntariamente, e as mãos, outrora ágeis, agora pendiam inúteis, retorcidas. 

Ainda assim, a sensação não cessava. A mente insistia em fazê-lo sentir cada centímetro em brasa. A dor era tão constante que se tornava um som dentro da cabeça, um zumbido alto e interminável. Suas roupas, outrora encantadas para resistir ao calor, haviam se tornado simples trapos fumegantes, colados ao corpo, como se quisessem se fundir à carne viva. 

Sorun arrastava o corpo de sua outra versão com uma calma quase metódica, como se estivesse conduzindo uma lição, não um massacre.  

A cada vez que Soren ameaçava desmaiar, ele encontrava um novo método de mantê-lo desperto: ora puxando-o pelos cabelos chamuscados, ora batendo-o contra os troncos, ora o arrastando por trechos de pedra e gravetos. 

— Vamos lá, vamos lá... — murmurava com um tom quase divertido, arrastando-o mais alguns metros. 

Por fim, deixou o corpo inerte de Soren escorregar, encostando-o contra uma árvore. O cheiro de carne queimada misturava-se ao da madeira úmida. A luz das brasas que ainda ardiam no solo, causadas inconscientemente pelo seu próprio corpo, refletia nas lágrimas que escorriam do rosto retorcido do mago derrotado. 

Sorun se curvou, apoiando as mãos nos joelhos, para observá-lo melhor.  

O contraste entre os dois era grotesco: um homem de aparência vigorosa e sorriso cruel, e outro, reduzido a um pedaço de vida, respirando por instinto. 

— Como você é patético... — disse, quase com desprezo. — Uma explosãozinha daquelas foi o suficiente para te deixar nesse estado? Os magos da AMA estão mesmo condenados... 

Soren tentou responder, mas nenhum som coerente escapou de sua garganta. Suas cordas vocais haviam sido consumidas, reduzidas a carne viva. O que saiu de seus lábios foi um grunhido rouco, uma mistura de dor e impotência. 

Sorun, no entanto, inclinou a cabeça, curioso, e pareceu entender. 

— É claro que a culpa não é sua — disse, num tom falsamente compreensivo. — Você foi treinado de forma desleixada, abandonado à própria sorte. Sem direção, sem propósito. — Ele se aproximou, colocando uma das mãos sobre o ombro de Soren. — Mas eu posso te ensinar. Se quiser realmente sobreviver... vai ter que entender o verdadeiro significado do fogo. 

E então, sem qualquer aviso, Sorun cravou as unhas no próprio ombro, e o som que veio em seguida foi o de carne fritando. O cheiro de queimado se espalhou de imediato. Ele incinerou parte de si mesmo, sorrindo enquanto o fazia. 

— Aaahhhhhhh... — Gemeu em êxtase. — A dor... ela é maravilhosa, não é? É a lembrança de que ainda estamos vivos. 

Em seguida, levou a palma da outra mão até o tronco de uma árvore próxima e, num instante, ela foi reduzida a cinzas. Não houve crepitar, nem fumaça. Apenas o desaparecimento súbito da matéria, consumida por uma chama invisível. 

Quando se virou novamente para Soren, seu braço já estava completamente restaurado, a pele limpa, intacta, como se nada tivesse acontecido. 

— Fogo é transformação — disse Sorun, sua voz grave e calma. — É o ato de pegar o combustível e transformá-lo em energia. O mundo inteiro é combustível para nós, magos de fogo. Tudo que existe, tudo que vive, é energia esperando para ser moldada. E nós — ele apontou para o peito — decidimos o que ela vai se tornar. 

Ajoelhou-se diante de Soren e, com um movimento brusco, agarrou o braço queimado do rapaz. Girou-o para trás com força, arrancando um gemido rouco que ecoou pela floresta, e então posicionou a mão do mago sobre o tronco da árvore em que ele se apoiava. 

— Sua vez — A palavra soou como uma sentença. 

Os dois permaneceram ali por longos segundos, imóveis, olhos presos um no outro. O ar vibrava com o calor residual, as brasas estalavam ao redor, e o cheiro de sangue e cinza se misturava. 

Nada aconteceu. 

O peito de Soren subia e descia lentamente. Depois, nem isso. Seus olhos, vidrados e sem foco, ainda seguiam o rosto de Sorun, mas sem consciência. Era como se o corpo houvesse desistido antes mesmo da mente entender. 

Sorun soltou o braço dele com desdém e se levantou. 

— Patético... — murmurou, limpando as mãos. — Parece que só sobraram a maga de gelo e o elemental — Caminhou em direção contrária, sem olhar para trás. — Sua energia nem vale a pena ser absorvida. 

O som de seus passos se perdeu entre as cinzas. 

E Soren, imóvel ao pé da árvore que o sustentava, respirava com esforço, o olhar fixo em nada. Apenas o som distante do fogo — o mesmo fogo que um dia ele amara — continuava a crepitar, como se zombasse de sua fraqueza. 

Então, o cheiro de grama queimada invadiu suas narinas. Era forte, quase sufocante, como se a própria terra estivesse sendo purificada em agonia. O calor que se erguia do chão tremeluzia no ar, criando ondas distorcidas que dançavam diante de seus olhos. 

Quando se virou, Sorun viu algo que não esperava: Soren, ajoelhado, com a palma da mão pressionada contra o solo. 

Ainda que de maneira lenta e irregular, o fogo começava a se espalhar sob sua pele. A grama, que antes fora verde e viva, começava a se retorcer e escurecer, transformando-se num tapete de cinzas que crescia em torno do mago. O círculo de fogo expandia-se em ritmo constante, e com ele, algo extraordinário acontecia — as feridas de Soren, antes mortais, começaram a se fechar. 

A carne carbonizada se regenerava, reconstruindo-se como se o próprio fogo estivesse moldando-a de novo. O calor purgava, e a dor, embora ainda presente, tornava-se o combustível da vida que retornava. 

O círculo ardente avançou até tocar uma árvore. Assim que a chama subiu por seu tronco, ela foi devorada por completo, reduzida em segundos a um corpo negro e seco — puro carvão. 

Sorun observava tudo aquilo com um orgulho doentio. O canto de seus lábios se ergueu num sorriso largo e feroz. A chama, para ele, não era um instrumento de destruição, mas de revelação — e ver seu “eu” finalmente sucumbir ao mesmo poder o excitava. 

Os olhos das duas metades se encontraram, firmes, intensos. O ar ao redor parecia vibrar, como se o mundo se contorcesse para separar dois deuses que não podiam coexistir. Cada um deles via no outro o reflexo distorcido de si mesmo — o fogo que queria ser o único, o absoluto. Ambos desejavam o mesmo destino: apagar o outro, para finalmente serem o único a existir. 

Silenciosamente, cada um assumiu sua posição. 

O terreno se tornou o campo perfeito para o que viria. O vento cessou, o som da floresta desapareceu, e só restou o ruído distante das brasas que se consumiam. 

Soren manteve as mãos próximas ao tórax, as palmas voltadas para frente, direcionadas ao seu adversário. Sem suas luvas encantadas, sentia o calor do próprio poder queimando sua pele, mas não vacilou. Suas pernas, firmes e afastadas, fincavam-se no solo como raízes, sustentando um corpo frágil, mas um espírito que se recusava a ceder. Sua respiração era pesada, ritmada, como se cada expiração reacendesse a chama em suas entranhas. 

Sorun, por outro lado, abria-se completamente para o combate. Os braços erguidos, expostos, a postura inclinada para frente. A perna direita à frente, a esquerda atrás, o corpo levemente arqueado — uma posição de ataque puro. 

Não havia cautela, não havia defesa. Sua confiança era tamanha que a própria vulnerabilidade parecia uma provocação. 

Então, simultaneamente, pronunciaram: 

“Ó ígnis cuí in íntimis méis résidet, flámma éssê méi et esséntia uoluntátis méae, tú cuí consúmis nék úmquam quiéskis, benedík míhi ók in moménto ómni tuá uirtúte. Consedê míhi ardórem túum, ímpetum túum, uiuam tuám flámmam. Sít uolúntas túa et méa úna skintílla. Ítakue ómina quáe nóstrum íter transíbunt kombúram, ut tándem satiáta sít aetérna túa kupiditas potentié.” 

A cada sílaba entoada, o ar ficava mais denso. As chamas ao redor dançavam, como se respondessem à invocação ancestral. 

Quando o último som ecoou, uma pequena explosão interna percorreu o corpo de ambos. Foi como se o coração tivesse sido incendiado por dentro. As veias queimavam, e o sangue fervia. A pele latejava sob o peso da energia, e o ar cheirava a ferro e enxofre. 

Soren mal acreditava no que sentia. Era a primeira vez que recitava o Despertar da Chama por completo, e em sua mente cética, jamais imaginara que as palavras antigas pudessem despertar algo real. Mas agora, sentia o fogo correndo em suas artérias, dominando-o, transformando a dor em força. 

Não teve, porém, tempo para compreender o que havia despertado. 

Sorun desapareceu diante dele num lampejo, o ar deslocando-se com violência. Num piscar, o inimigo já estava a poucos centímetros, a mão estendida, a palma voltada para seu rosto. Um brilho amarelado crescia no centro da mão, uma pequena centelha que pulsava com poder destrutivo. 

Soren pôde ver a luz refletir em seus próprios olhos, e naquele instante compreendeu o que viria. 

BOOOOMMM!!! 

O som foi ensurdecedor. 

Por reflexo, ou puro instinto, ele desviou a cabeça para o lado, o suficiente para que a explosão passasse raspando. Ao mesmo tempo, sua mão se ergueu num movimento brusco, desviando o braço de Sorun para fora do eixo. Se tivesse reagido um segundo mais tarde, teria tido a cabeça arrancada do corpo. 

Atrás dele, o mundo simplesmente desapareceu. As árvores que estavam alinhadas ao raio da explosão se dissolveram no ar, transformadas em cinzas suspensas. A terra se abriu em um rastro de destruição, uma cicatriz de fogo puro. 

O impacto fez o ar se expandir violentamente, e a pressão empurrou Soren alguns passos para trás. Seu coração batia rápido demais, o corpo inteiro tremia — não de medo, mas da energia pulsando dentro dele. 

“Isso... é o verdadeiro poder do fogo?”, pensou, ofegante. 

Mas Sorun não lhe deu tempo para pensar. 

Antes mesmo que Soren recuperasse o equilíbrio, já via o brilho surgindo novamente — desta vez, na altura de sua barriga. O ataque seguinte estava pronto, e ele sabia: aquele, não conseguiria evitar. 

BANG!!! 

O som cortou a floresta, afastando, finalmente, todas as aves de lá. 

Sorun foi lançado para longe quando a explosão de Soren o atingiu. 

O impacto o arremessou por metros, atravessando troncos e levantando uma chuva de cinzas e fagulhas. Ainda que a explosão tivesse sido menor que a anterior, o resultado foi inegável: pela primeira vez, Sorun havia sido ferido. 

Soren, ofegante, observava a cena com o peito arfando. A força daquele ataque ecoava por suas veias. O calor dentro dele era mais estável agora — não o consumia, obedecia. 

Sorun surgiu de dentro da poeira ardente, tossindo fumaça. 

Um grande ferimento de queimadura cobria-lhe o lado esquerdo do rosto, derretendo parte da pele até o osso. Regenerava-se lentamente, apenas o suficiente para que conseguisse falar. 

— Finalmente... ousou atacar — disse ele, cuspindo fuligem e sangue. — Me divirta um pouco mais, antes que sua força se torne minha... 

Soren cerrou os punhos, e o fogo se contorceu em torno de seu corpo como uma armadura viva. 

Sem hesitar, lançou-se à frente — imitando o mesmo estilo de luta agressivo de seu adversário. 

O solo queimava sob seus pés, deixando um rastro de brasas atrás de si. Em movimento fluido, moldou as chamas em torno da mão direita, e em um instante, uma lança de fogo surgiu, pulsando como um raio líquido. 

O golpe atravessou o ar. 

O impacto ecoou. 

A lança cravou-se no peito de Sorun, transpassando-o. O som do fogo devorando carne preencheu a floresta. 

Sorun abriu a boca, deixando escapar uma nuvem de fumaça. Mas, para espanto de Soren, ele sorria — um sorriso insano, encharcado de prazer e dor. 

— Aah... o calor... é maravilhoso... 

Soren não se deixou amedrontar. 

Avançou mais um passo, e com um gesto, intensificou a chama. A lança começou a brilhar em branco, derretendo a carne por dentro. A regeneração de Sorun, antes instantânea, começou a falhar. Seu corpo lutava para curar-se, mas as chamas não permitiam. 

Vendo isso, Soren sentiu esperança, acreditava estar vencendo. 

Juntando as mãos à frente, começou a formar um novo feitiço. Uma esfera de fogo nasceu entre seus dedos, pequena e instável, do tamanho de um ovo. 

A chama tremulava como se respirasse, mas ele a manteve firme, concentrando-se com todas as forças. 

O suor escorria por seu rosto. O calor o sufocava. 

A esfera crescia lentamente, ganhando densidade, até tornar-se uma esfera do tamanho de sua cabeça — incandescente, quase transparente, como um pequeno sol pulsando em suas mãos. 

Do outro lado, Sorun percebeu o perigo e tentou se mover. 

Mas seu corpo não respondeu. 

Por instinto, olhou para trás — e viu o motivo. A ponta da lança havia atravessado seu peito e se fixado ao tronco da árvore. Estava preso. 

Sorun tentou segurar a haste incandescente, mas o toque o fez gritar; suas mãos queimaram instantaneamente. 

A dor o fez recuar. Parte de suas forças o abandonava. 

Quando ergueu o olhar novamente, viu o brilho se intensificar nas mãos de Soren.  A esfera agora parecia um verdadeiro sol — pura energia mágica, compacta, sem a impureza da combustão física. O ar em volta se curvava. 

Sorun mal podia compreender como o outro conseguia segurá-la sem ser consumido. 

E então, sem hesitar, sem discurso, sem arrogância — Soren lançou o feitiço. 

BOOOOOOMMMM!!! 

A explosão consumiu o ar, mas não tocou a floresta. Nenhuma árvore ardeu, nenhuma folha pegou fogo. Era um fogo puramente mágico — sem calor, sem destruição física. 

O impacto reverberou por segundos. Quando a fumaça se dissipou, tudo o que restava no lugar onde Sorun estivera era uma sombra gravada no solo. Um resquício de corpo reduzido a cinzas finas. 

Soren permaneceu imóvel, encarando o vazio. 

Seu peito subia e descia com dificuldade. 

As mãos tremiam, e o suor se misturava às lágrimas que ele nem percebia. 

Quando finalmente respirou fundo, seus ombros relaxaram. O peso do medo, da culpa e da raiva escoou de dentro dele. 

Ele havia vencido. 

Ou, ao menos, acreditava nisso. 

As pernas fraquejaram, e ele quase caiu, sustentando-se com esforço. O cheiro do ar agora era leve, quase frio — um contraste irônico para quem acabara de tocar o verdadeiro fogo. 

— Impressionante... — disse Sorun, sua voz ressoando fria e próxima demais. — Mas o seu fogo... ainda não é quente o suficiente. 

Soren congelou. 

Aquela sentença caiu como uma lâmina. 

Quando se virou, Sorun estava lá, de pé entre a fumaça, o corpo ainda queimando em brasas vivas, os olhos acesos. 

O instinto falou mais alto. 

Soren recuou, tropeçando entre raízes e galhos partidos, mantendo o inimigo sempre à vista. Seu coração martelava dentro do peito como um tambor. 

Precisava fugir, precisava encontrar Vaelis e Kaji — era sua única chance de sobreviver. 

O ar queimava ao redor. Sorun avançava sem hesitar, com um sorriso torto e enlouquecido. 

De seus punhos, o fogo escorria grosso e viscoso, como se fosse lava viva. Cada passo que dava incendiava o chão. 

Soren tentou manter distância, lançando cortinas de fogo entre eles — pequenas paredes ardentes que crepitavam como véus dançantes. 

Mas Sorun não se importava. 

Ele as atravessava sem recuar, gritando de prazer, absorvendo a dor como se ela o fortalecesse. 

— AAAHHHHHHHHH!!! 

Seu rugido quebrou a floresta. 

Com as duas mãos, golpeou o solo. O chão tremeu. Uma cratera se abriu, cuspindo colunas de fogo em todas as direções. 

Soren se lançou para o alto, desviando por um triz. O calor o cegava, o ar o sufocava. 

As árvores viravam tochas vivas atrás dele, e o chão rachava em veios de magma. 

Ele não podia absorver aquela energia — era instável, contaminada. Bastava um erro, e seria consumido. 

E então — uma brisa gélida. Fraca, mas real. 

Soren sentiu o ar frio beijar-lhe o rosto, e a esperança reacendeu dentro dele. Vaelis. Kaji. Estavam por perto. Mas antes que pudesse seguir o vento, percebeu o silêncio. O fogo cessara. Sorun havia desaparecido. 

Seu corpo inteiro gelou. 

Olhou para todos os lados — nada. Nenhum som, nenhuma sombra. 

“Ele está perto... ele está perto...” 

Sem outra escolha, ergueu os braços e girou o corpo, liberando tudo o que restava de mana. 

 AAAAHHHHHHHHHH!!! 

Um anel de fogo se expandiu violentamente, consumindo árvores, raízes, e até o próprio ar. 

— Ainda não é quente o bastante... 

A voz de Sorun ecoou, próxima e terrível. Soren aumentou suas chamas, expandindo o raio da destruição. O fogo já não queimava — devorava. As árvores se desfaziam em cinzas, varridas pelo calor. 

Soren caiu de joelhos, exausto, o peito arfando. 

O mundo ao redor agora era um campo carbonizado. 

Por um instante, queria acreditar ter vencido. 

Até ouvir, atrás de si: 

— Uma bela destruição... — murmurou Sorun. Sua voz era rouca, arranhada, mas viva. — Você é mesmo um diamante bruto... 

Soren virou-se lentamente. 

Sorun caminhava entre as cinzas, completamente desfigurado. Metade do rosto havia derretido, revelando parte do crânio e dos dentes queimados. Ainda assim, ele sorria. 

A regeneração acontecia aos poucos — pedaços de carne brotando como cera quente. 

— Uma pena que sua hora chegou, meu outro eu. 

Soren não tinha mais força para lutar. 

Seu corpo não respondia, sua mana estava seca. 

Aceitando o inevitável, viu a mão ardente se aproximando de seu rosto, o calor prestes a consumi-lo.  

Fechou os olhos. 

— NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO!!! 

Um estrondo congelante atravessou o ar. 

Seis estacas de gelo cortaram a fumaça, rasgando o corpo de Sorun e o arremessando violentamente para trás. 

Vaelis surgiu deslizando por uma trilha de gelo, o manto rasgado, os olhos brilhando em azul cristalino. 

Seu corpo emanava vapor — o contraste brutal entre o gelo e o calor do campo em chamas criava redemoinhos ao redor dela. 

Ela se ajoelhou junto a Soren, que mal conseguia manter os olhos abertos. 

— Soren! Você está bem? 

— Você... tem que fugir... — ele balbuciou, a voz quebrada. — Ele... ele... 

Não terminou a frase. Desmaiou. 

Vaelis o deitou com cuidado sobre o chão, o rosto tomado por fúria e desespero. 

— Parece que a pressão baixa o pegou... — zombou Sorun, aproximando-se outra vez. Seu corpo ainda sangrava, mas o fogo escorria pelas feridas, cauterizando-as. — Está realmente... quente hoje. 

Vaelis se levantou devagar, o olhar fixo, mortal. 

O ar ao redor dela começou a congelar, transformando as cinzas em pequenas lascas de gelo suspensas no ar. 

— Seu desgraçado... — rosnou ela. — Eu vou matar você. 

Sorun abriu os braços, o sorriso distorcido abrindo-se até quase rasgar-lhe o rosto. 

— Vai mesmo? — perguntou, inclinando a cabeça. — Então espero que dê o seu melhor! 

O chão tremeu. 

Fogo e gelo se chocaram em silêncio antes mesmo do primeiro golpe. 

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