Volume 2 – Arco 11

Capítulo 115: Conceitos

O silêncio tomou conta das fontes. 

A água borbulhava suavemente, e o vapor subia em espirais lentas enquanto todos observavam o Comandante Arturo, atentos a cada movimento. 

Ele ergueu o olhar, avaliando cada rosto diante de si — guerreiros, aprendizes, sobreviventes —, e sua voz ressoou como o eco de um trovão contido. 

— Então vocês querem esse atalho... ou não? 

— Queremos! — responderam em coro. 

— Estão dispostos a adquirir a força que mudará suas vidas? 

— Estamos! 

— Mesmo que o resultado seja... a morte? 

Um silêncio desconfortável se espalhou como uma onda gelada. 

Por um instante, todos pensaram que fosse uma piada. Até que Lance deu um passo à frente. 

— Se qualquer um de vocês ainda não domina a Essência — disse ele, com a voz firme e fria —, esse atalho será o caminho mais rápido para o seu fim. 

Um murmúrio de espanto percorreu o grupo. 

Morgan, ao lado de Arturo, completou calmamente:  

— O que ele irá ensinar libera toda a energia de sua alma. De forma brutal, podendo até esgotá-la. E quando a energia da alma se esvai... o corpo morre. 

Kenshiro estreitou os olhos. 

— E se seguirmos pelo modo tradicional? Esse risco desaparece? 

— Não — respondeu Arturo, sem hesitar. — Apenas diminui. Quanto mais tempo vocês permanecerem em batalha, mais energia você está gastando. Só não está fazendo de maneira tão... exagerada. 

Lance cruzou os braços e olhou para o horizonte, o vapor dançando ao redor de seu corpo. 

— Ainda assim — disse, em tom grave —, se a morte já for certa, pode ser a única chance de vocês. Mesmo que custe a própria vida... ainda poderão salvar a de seus companheiros, ou ao menos derrotar o inimigo; antes de perecerem. 

Nenhum deles era ingênuo. Já haviam visto a morte de perto. Saber que ela era quase inevitável não trazia esperança. 

Arturo assentiu e ergueu uma das mãos. 

— Escutem com atenção. E, por tudo que é sagrado, não repitam comigo. 

O tom de comando em sua voz fez todos se enrijecerem. 

Ele fechou os olhos. O ar ao redor pareceu mudar de densidade, vibrando com algo invisível e primitivo. 

Então, começou o mantra: 

“Sob a proteção do Sol que me guia, 
Deixo para trás toda dúvida sombria. 
Ainda que apenas seu brilho eu reflita, 
Como a Lua na noite, minha força habita. 
E para cada Rato ou Sombra a me desafiar, 
Com o poder da minha Essência os farei lamentar.” 

A última palavra mal havia deixado seus lábios quando a água explodiu. 

O impacto lançou ondas em todas as direções. 

Quando o grupo finalmente recobrou o equilíbrio, ergueram os olhos, ficaram sem fôlego. 

A água não tocava Arturo. 

Nos pés, o líquido evaporava em nuvens brancas. 

Nas pernas, fervia e se agitava, borbulhando em círculos hipnóticos. 

Na altura da cintura, pequenas esferas de energia — translúcidas, vivas — flutuavam ao redor dele como planetas em órbita. 

Era como olhar para um homem e um deus ao mesmo tempo. 

O poder emanava dele em ondas visíveis, distorcendo o ar. 

Todos sentiram o impacto — o coração acelerando, o sangue fervendo, a mente clareando. 

Zhen reconheceu de imediato: não era medo. Era força. 

A Essência de Arturo elevava o espírito de todos ao redor, como se acendesse fagulhas dentro de cada alma presente. 

— Como podem ver... — A voz dele soou reverberante, quase divina — basta uma única alma despertar sua Essência para que as demais sintam seu chamado. Por isso, nem sempre é necessário que todos arrisquem. Às vezes, basta um. 

Lance deu um passo à frente. 

— Mas não confundam as coisas — advertiu. 

Antes que alguém reagisse, outra explosão rasgou o ar. 

O calor se espalhou como um sopro de dragão — e, num piscar de olhos, toda a água da fonte evaporou. 

O silêncio que se seguiu foi absoluto. 

Apenas o vapor pairava no ar, e o brilho etéreo emanava do corpo do Cavaleiro Mais Forte. 

— O poder individual da Essência... — disse Lance, enquanto o chão ainda tremia sob seus pés — é infinitamente maior do que aquele que é compartilhado. 

Todos sentiram a diferença. O calor não era inspirador, era opressor. 

Aquilo não os fortalecia — os esmagava. 

Por fim, Arturo e Lance aliviaram suas Essências. 

O vapor se dissipou, e o ar voltou a ser respirável. 

Por alguns segundos, ninguém ousou dizer nada. 

Até que Arturo, com seu habitual bom humor, ergueu os braços e anunciou: 

— Agora... vamos comer! 

(...) 

O banquete daquela noite parecia uma festa em meio ao campo de batalha. 

O aroma de carne assando se espalhava pelo ar quente e úmido das fontes, misturando-se ao cheiro mineral do vapor. Em grandes espetos, bois e carneiros giravam lentamente sobre chamas azuladas — controladas pela magia de Kaji. Galinhas douradas e cordeiros suculentos eram servidos em tábuas rústicas, com raízes tostadas e legumes salpicados de sal grosso e ervas raras. 

Apesar da fartura e do ambiente festivo, nenhum copo de vinho fora erguido. 

Os Cavaleiros repudiavam o álcool. Diziam que embriagar-se era como corromper a própria alma — e ninguém ali ousava discordar. 

Ainda assim, risadas, conversas e o crepitar da carne enchiam o ar. 

Entre um pedaço de carne e outro, os alunos aproveitavam para tirar dúvidas com seus mestres. 

Fox, mastigando um naco de cordeiro, olhou para Arturo com desconfiança: 

— Então... o Lance é mesmo mais forte que você? 

Arturo soltou uma gargalhada tão alta que fez algumas brasas voarem da fogueira. 

Ah, sim! E não é pouca coisa, não! Lance é um verdadeiro demônio! Mas não pense que eu fico muito atrás, garoto! Ainda há força o bastante em mim pra virar uma montanha do avesso! HAHAHAHAHA! 

Kenshiro aproveitou a deixa e perguntou: 

— Se é assim, por que a sua Essência foi a que nos fortaleceu? Quando você ativou, todos sentimos o aumento de poder. Mas quando Lance fez o mesmo... nada aconteceu. 

Lance apontou com o queixo para Arturo. 

— Porque a Essência de Arturo conseguia compartilhar sua força com mais eficácia. Mesmo que a minha fosse cinco vezes mais forte, só consigo compartilhar a metade daquilo que Arturo consegue sem dificuldades. 

Lance pousou o prato e limpou as mãos. 

— E quando duas Essências são ativadas ao mesmo tempo, vocês recebem apenas daquela que lhes darão mais força. 

Morgan acrescentou com calma: 

— Por isso, a escolha de quem lidera não é apenas uma questão de lealdade. Se o líder tiver a Essência com melhor compatibilidade, todo o grupo acaba se beneficiando. Enquanto aqueles que são “independentes” podem se concentrar apenas em suas próprias Essências. 

Erina olhou para seus companheiros, e todos puderam sentir um certo alívio silencioso — não haveria necessidade de substituí-la como líder. 

Entre uma mordida e outra, Xin, já com o rosto ligeiramente rosado pelo calor, levantou a voz: 

— E não existe um atalho mais... seguro? Quer dizer, sem o risco de morrer? 

Arturo inclinou a cabeça, pensativo, e sorriu de canto. 

— Existe, sim. Mas é um atalho que poucos possuem esse direito. 

Todos pararam de mastigar. 

Gurok, ainda com um osso de carneiro na mão, perguntou: 

— E qual seria? 

— Pedir a benção do Imperador durante a batalha — respondeu Arturo. 

O silêncio caiu sobre o grupo. As chamas tilintaram. 

Takashi franziu o cenho. 

— E é só isso? Basta pedir? 

— Claro que não! — respondeu Arturo, erguendo um dedo em tom de lição. — É preciso acreditar no Imperador, entregar-se à sua vontade, reconhecer os próprios erros e lutar não por glória, mas por propósito. A benção não é um prêmio. É um ato de misericórdia. 

Lance completou: 

— Acredita-se que, se o guerreiro for digno, o Imperador compartilha parte de sua própria Essência, concedendo-lhe poder o bastante para mudar o curso da batalha. 

Erina arregalou os olhos. 

— Isso é incrível... então, em teoria, ainda há esperança mesmo quando tudo parece perdido? 

Arturo baixou o olhar. 

O sorriso em seu rosto se desfez aos poucos. 

— Haveria... se o Imperador ainda estivesse entre nós. 

O grupo ficou em silêncio. 

Kenshiro foi o primeiro a reagir: 

— Está dizendo que... 

— Que o Imperador está morto — disseram os Cavaleiros, em uníssono. 

O vento soprou, carregando consigo o cheiro da fumaça e do metal queimado. 

A fogueira crepitou, e por um instante, todos se entreolharam, incapazes de encontrar consolo. 

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