Volume 2 – Arco 11
Capítulo 107: Risadas
Não era segredo para ninguém, em todo o vasto Continente, que os heróis mais importantes do Império — aqueles que a própria população chamava de Heróis do Povo — eram figuras quase míticas.
Ainda que sua legitimidade fosse frequentemente debatida nas tavernas, nos templos e até nos salões nobres, havia um consenso silencioso: somente eles possuíam a relevância, a força e a dignidade necessárias para carregar o título de herói.
Não meros guerreiros, mas homens e mulheres que, em essência, se aproximavam dos verdadeiros Heróis que vagavam pelo mundo desde tempos imemoriais.
Ao longo dos séculos, muitos ostentaram esse título. Todos surgiram de forma espontânea — escolhidos não por coroações ou decretos imperiais, mas pela voz incontestável do povo. Tornavam-se tão respeitados, tão indispensáveis, que o próprio Império, mesmo relutante, não podia ignorá-los.
Um Herói do Povo podia ser um cavaleiro de renome imperial ou um simples fazendeiro que empunhou a enxada como espada em tempos de necessidade. Não importava a origem, nem o passado que carregasse. No momento em que o povo os reconhecia, tudo o que vinha depois era glória, gratidão… e incontáveis batalhas.
Entre todos os Heróis do Povo, nenhum nome brilhou tanto quanto o dos Cavaleiros de Camelot.
Seis pessoas. Seis almas dignas de partilhar igualmente um mesmo título — algo que jamais ocorrera antes e que nunca mais se repetiria.
A origem deles era envolta em mistério. Diziam ser os pupilos do maior Herói de sua Era — aquele cuja lenda inspirava canções e templos — e que o próprio mestre decidira se aposentar no exato momento em que eles ascenderam, como se o mundo já não precisasse mais dele.
Os Cavaleiros de Camelot superaram todas as expectativas que o Império ousara ter. Rapidamente, tornaram-se tão poderosos e influentes que o próprio Imperador passou a lhes confiar missões pessoais. Eram mais que soldados — eram conselheiros, companheiros de jornada e, por vezes, a única força que impedia o Império de ruir sob o peso de sua própria corrupção.
Mas o tempo é cruel até com os deuses.
Quando o Imperador perdeu seu poder e influência para o Bispo e para os nobres da Capital, os Cavaleiros foram forçados a servir sob novas ordens — ordens que contrariavam tudo em que acreditavam.
A primeira delas foi um ato de guerra: aniquilar um pequeno reino que crescia nas Dunas, uma nação jovem e promissora, acusada de abrigar seres amaldiçoados e ameaçar o equilíbrio do Império.
Para isso, o Bispo lhes concedeu o direito de formar seu próprio exército.
Mas, em vez de guerreiros de elite, entregou-lhes os rejeitados — soldados fracos, indisciplinados, covardes e desajeitados. Eram homens e mulheres de corações gentis, mentes abertas, jovens que jamais haviam segurado uma espada sem tremor.
E justamente neles os Cavaleiros viram o que buscavam.
Durante a longa marcha até as Dunas, os Heróis treinaram seus cinco mil subordinados como se moldassem o ferro do destino. Ensinaram-lhes o básico da arte da guerra, sim, mas também lições de filosofia, histórias antigas e, sobretudo, a verdade amarga sobre a desigualdade do mundo. A cada dia, o que antes eram soldados quebrados tornava-se um exército de convicção.
Quando enfim chegaram às Dunas, traziam o menor contingente entre todas as forças do Império — cinco mil contra exércitos de vinte mil ou mais. Ainda assim, daquele deserto ardente nasceria o batalhão mais leal, disciplinado e invencível de toda a história imperial.
A guerra durou duas semanas ininterruptas.
Nenhum dos lados recuou. Nenhum pediu trégua.
No final, o reino inimigo foi obliterado até o último homem. As areias ficaram tingidas de vermelho, e os gritos dos caídos ecoaram por dias.
Mas os Cavaleiros de Camelot… não perderam um único soldado. Nenhum ferimento, nenhuma baixa. Pareciam abençoados pelos próprios deuses.
Apesar da vitória incontestável, algo se quebrou dentro deles. Pela primeira vez, os Heróis declararam que poderiam abandonar o Império e se aliar aos Remanescentes — um ato que teria mudado para sempre o destino do Continente.
Nunca revelaram o motivo da decisão. Alguns dizem que viram nas Dunas algo que os horrorizou; outros acreditam que perceberam a verdadeira natureza do Império que juraram proteger. O Imperador, desesperado, interveio pessoalmente, decretando que nenhuma missão poderia ser atribuída aos Cavaleiros sem seu aval.
Mesmo assim, continuaram a ser enviados a missões indignas de sua grandeza — tarefas que ofendiam seus ideais, mas que, ao menos, já não tocavam nas feridas abertas nas Dunas.
Foi na última das ordens do Bispo que os Cavaleiros de Camelot conheceram alguns jovens extraordinários, destinados, um dia, a carregar o peso e a glória de seus nomes.
***
Era o meio da noite — talvez já madrugada — quando o pequeno exército avançava lentamente pela estrada de pedra, sob o véu espesso da névoa e o frio cortante do vento.
A lua, alta e pálida, recortava silhuetas sobre as armaduras e os elmos amassados dos soldados. O som das botas ecoava em cadência ritmada, e o farfalhar das capas misturava-se ao estalar das rodas de carroças carregadas de suprimentos.
Diferente da maioria dos oficiais e nobres imperiais, os Cavaleiros de Camelot caminhavam junto aos seus homens.
Nenhum deles montava cavalos ou usava tronos móveis. Preferiam o chão duro, a poeira, o mesmo cansaço compartilhado por aqueles que comandavam. Eram heróis, sim, mas também soldados de carne e osso.
Apenas as carroças, puxadas por cavalos cansados, rompiam o ritmo humano da tropa. Nelas, levavam-se barris de água, mantimentos, tendas e um ou outro artefato precioso demais para ser deixado à vista.
Os Cavaleiros seguiam em três duplas distintas, cada uma com um propósito bem definido.
Na dianteira, marchavam o Comandante e o Cavaleiro Mais Forte — figuras imponentes que pareciam nascer para abrir caminhos. Sua presença bastava para dissuadir qualquer tentativa de ataque. Se algo surgisse das sombras, eram eles quem ergueriam o escudo primeiro e traçariam, num instante, a formação adequada.
Mais atrás, a segunda dupla: o Precursor e a Mediocridade.
Apesar dos apelidos curiosos, eram minuciosos em seu papel. Conferiam carroça por carroça, anotavam inventários, vigiavam os flancos e certificavam-se de que não estavam sendo seguidos. Nada escapava a seus olhos atentos.
Por fim, no coração da formação, vinham Barulhenta e Morgan.
As duas caminhavam lado a lado, cercadas por soldados exaustos, e, como sempre, sua função era… indefinida. Ninguém jamais entendeu o motivo de estarem no centro — talvez para manter o moral alto, talvez apenas porque ninguém conseguia mandá-la calar a boca.
Barulhenta, cujo verdadeiro nome era Gwen, fazia jus ao apelido. A energia que irradiava dela era tão intensa que parecia afastar o sono de todos ao redor. Já Morgan era o completo oposto — calma, introspectiva, sempre com um livro nas mãos, como se a guerra fosse apenas um intervalo entre um capítulo e outro.
Estavam retornando à Capital após mais uma missão sob as ordens do Bispo.
— Não acredito que tivemos que ir até o cafundó de Judas só pra pegar esse cálice idiota! — reclamou uma jovem de voz aguda e porte pequeno. — Como é mesmo o nome disso? “Santo Grau”?
— Santo Graal, Gwen — corrigiu sua companheira, sem tirar os olhos das páginas.
— Para com isso, Morgan!
— Isso o quê? — perguntou, ainda lendo, o tom calmo e desinteressado.
— Agir como se eu fosse pouca coisa!
— Eu não disse nada.
— Mas pensou! — rebateu Gwen, apontando um dedo acusador.
Morgan suspirou e, com um sorriso quase imperceptível, respondeu:
— Touche. Acho que eu devia parar de pensar tão alto — Finalmente fechou o livro e o guardou na bolsa pendurada ao ombro.
As duas se entreolharam por um instante — Gwen, bufando indignada; Morgan, serena e divertida. A diferença entre elas era quase poética. Onde uma era fogo, a outra era água. Onde Gwen gritava, Morgan observava. Ainda assim, eram inseparáveis.
— Droga, talvez tenha sido eu... — murmurou um dos soldados próximos, tentando quebrar o clima.
— Não, deve ter sido eu — disse outro.
— Ou talvez eu! — acrescentou um terceiro, arrancando risadas discretas.
Gwen se virou, encarando o grupo com olhos faiscantes.
— Bom saber que esse é um pensamento comum — comentou Morgan, entre um bocejo e um sorriso contido.
— Calem a boca, todos vocês! — gritou Gwen, jogando as mãos para o alto, o que provocou ainda mais risadas.
Apesar da hierarquia, os homens e mulheres sob seu comando tinham liberdade para brincar, rir e falar com os Cavaleiros de igual para igual. Era exatamente isso que os tornava diferentes dos outros exércitos do Império.
Ali, não havia distância entre o herói e o soldado — apenas companheirismo, poeira e a longa estrada que ainda os esperava sob a lua adormecida.
A única exceção àquela harmonia parecia recair sobre o Precursor e a Mediocridade.
Drake era um homem de poucas palavras — e cada uma delas pesava como um golpe de espada. Falava apenas quando havia necessidade real, e seu silêncio constante fazia muitos acreditarem que ele fosse frio, ou até arrogante.
Mas, entre os Cavaleiros, todos sabiam que o contrário era verdade.
Seu olhar observador e mente analítica já haviam salvado o grupo inúmeras vezes, antecipando armadilhas e evitando emboscadas com uma precisão quase sobrenatural.
Embora sua função oficial fosse a de batedor, raramente ocupava a dianteira. Paradoxalmente, mesmo andando na retaguarda, Drake parecia ver além de todos os outros. Era como se enxergasse o campo de batalha antes mesmo que ele se revelasse.
A seu lado, marchava Aline — a Mediocridade. Um título injusto, dado por aqueles que não conheciam os Cavaleiros além do preconceito da aparência e da propaganda imperial.
Diferente dos demais Heróis, Aline não possuía força sobre-humana, nem reflexos lendários ou talentos mágicos — ao menos, era o que parecia. Era apenas… humana. E talvez exatamente por isso fosse a mais admirada dentre os soldados.
Enquanto os outros inspiravam respeito por suas façanhas, Aline inspirava confiança. Sua humildade era uma chama serena que aquecia até os mais inseguros. Era a primeira a dividir o pão, a última a descansar. E quando falava, seus soldados ouviam como se fosse uma irmã mais velha.
Muitos nobres a chamavam de inútil. Mas, para os cinco mil soldados que marchavam sob as bandeiras de Camelot, Aline era a alma viva do exército — tão reverenciada quanto o próprio Comandante.
Falando nele...
Na dianteira, marchava Arturo Dragon, o Comandante, o Herói do Povo, e o rosto mais conhecido dos Cavaleiros.
Andava com o peito erguido, o semblante firme, e o pesado machado preso às costas refletia a luz da lua. A armadura polida, ainda manchada por traços de poeira e sangue, era um símbolo de incontáveis vitórias e de um caráter inabalável.
Era mais jovem que o irmão, Drake, menos centrado que Morgan, e certamente mais fraco que seu melhor amigo — e, ainda assim, ninguém duvidava: Arturo era o líder que todos seguiram sem hesitar.
Suas táticas eram simples, às vezes até questionáveis. Muitos generais passaram noites inteiras tentando entender como ele vencera batalhas que, pela lógica, jamais poderia vencer.
A resposta estava sempre naquilo que os livros não ensinavam: sua vontade.
Arturo Dragon era o tipo de homem que, quando tudo desabava, permanecia de pé. Um líder por natureza, e um verdadeiro herói para quem ainda acreditava que o mundo podia ser salvo.
E ao seu lado, caminhava Lance, o Cavaleiro Mais Forte.
— Esse ferimento não parece coisa boa, Lance — comentou Arturo, desviando os olhos por um instante da estrada.
— Eu estou bem! — respondeu, tentando mascarar a dor. — Só preciso descansar... falta pouco para chegarmos à Capital...
Lance apertou os punhos, o suor escorrendo pela têmpora.
O ferimento em seu ombro esquerdo — um corte profundo, obtido na última batalha — latejava a cada passo. Ele odiava demonstrar fraqueza, odiava a ideia de ser visto como um fardo. Não era orgulho vazio; era a convicção de que, enquanto estivesse de pé, ninguém cairia antes dele.
Mas naquela noite, algo mudou no ar.
Primeiro, veio o vento — frio, denso, diferente.
Depois, o som.
...hhhaaa… hhha… HHAH-HAH-HAH-HAAAA!
A risada irrompeu de todos os lados ao mesmo tempo, distorcida, desumana.
Era um som que não parecia vir de garganta alguma, mas da própria terra, das sombras, da mente de cada um.
Os soldados pararam, tensos, e a risada se prolongou até se transformar num eco doentio, que reverberava dentro dos crânios e arrancava arrepios até dos veteranos.
— Formação! — bradou Arturo, num rugido que cortou o ar.
Em perfeita sincronia, cinco mil espadas foram desembainhadas. Os escudos se ergueram, formando um círculo impenetrável ao redor dos Cavaleiros e das carroças. O som metálico da formação ecoou como trovão.
No centro da barreira, Gwen e Morgan se posicionaram, prontas para reagir ao menor sinal.
Os outros quatro — Arturo, Lance, Drake e Aline — moveram-se para fora da formação, trocando olhares rápidos.
A risada havia cessado, mas o silêncio que ficou era pior.
Ninguém sabia de onde viera o som. Nenhum deles sentia uma presença.
— Separar e verificar os flancos — ordenou Arturo, com voz grave.
Sem discutir, os Cavaleiros se dividiram.
O perigo havia chegado — ou, talvez, sempre estivera lá, apenas esperando o momento certo para se revelar.
Apenas Lance seguiu na direção cor... rrrrrreeee...
ta-ta-ta-ta-ta—
(((...(...).
Você ouviu?
Não viu. Ouviu.
Sim... sim...
EU ESTOU AQUI.
EU EXISTO.
EU ESTOU VIVO!
Você sabe que eu sou real, não é?
Vocês todos sabem que eu sou real... não sabem?
Sim... sim, é claro que sabem.
Do contrário, como poderiam não estar chorando... gritando... sangrando...
Ah, a dor...
A dor causa um sentimento curioso em nós, não?
Mesmo quando desejamos a morte, ela sempre se ergue como um último obstáculo.
Tão humana.
Tão viva.
Engraçado falar disso... morte.
Diz-me — como se mata aquilo que nunca esteve vivo?
Eu tenho pensado... sim, pensado.
E esse ato — esse eco dentro da minha mente — seria, talvez, a prova da minha existência?
Minha dor... ou meu pensamento...
Qual deles seria mais real aos olhos de quem não vive dentro de mim?
Porque se penso, então existo.
Se sinto dor, logo eu vivo.
Então... Eu darei a vocês tudo o que sou.
Meus pensamentos...
Minha dor...
Cada fragmento.
Cada ruído.
Serão todos de vocês, se isso for o bastante para que acreditem em mim.
Ainda não posso tocá-los... mas posso sussurrar.
Posso rastejar dentro da mente, por trás de seus olhos, entre o som das batidas de seus corações.
E quando o fizer... quando enfim os encontrar...
Vocês vão sofrer.
Vocês vão sentir.
E quando sentirem, vão entender.**
EU EXISTO!
EU SOU VIVO!
SIIIIINTA—— TA—TA—TA—TÃÃÃ~~~~~
***
Me desculpe, novamente.
Vamos... ignora isso... tudo bem?
(...)
Os seis Heróis caminhavam em silêncio pelos corredores luxuosos do palácio imperial.
Os passos ecoavam sobre o mármore polido, refletidos por colunas douradas e vitrais que filtravam a luz do amanhecer.
A beleza do lugar, outrora símbolo de glória, agora lhes parecia uma afronta.
Nenhum deles tinha palavras para descrever o que haviam presenciado naquela madrugada.
O gosto da traição ainda queimava em suas bocas — amargo, metálico, como sangue coagulado.
Nem mesmo a saliva ousava ser engolida.
Era a primeira vez, desde a missão nas Dunas, que Arturo se via obrigado a conter o impulso de matar o Bispo com as próprias mãos.
— Não faça nada estúpido — murmurou Drake, sem sequer olhar para o irmão. — Deixa que eu falo.
— Não — A voz de Arturo era pura fúria contida. — Aquele verme vai me ouvir.
Conforme se aproximavam da sala do trono, o ar parecia pesar.
Ali, os guardas comuns já não tinham lugar, os corredores eram protegidos pela elite dos generais, homens silenciosos, de armaduras completamente negras, que observavam tudo sem mover um músculo.
Arturo não esperou por cerimônias. Empurrou as portas com tanta força que o estrondo reverberou por todo o salão, e as dobradiças gemeram sob o impacto.
— Estamos em reunião! — exclamou o Bispo, da poltrona que usurpava o trono.
A figura era quase caricata: um homem envolto em um manto branco com uma cauda longa, que se arrastava pelo chão. O chapéu dourado, pontiagudo, sustentava um véu translúcido, tão comprido quanto sua vaidade.
Em peças teatrais, diziam, o Bispo sempre era representado vestindo um traje de noiva — e não por acaso.
Se não fossem as propriedades mágicas de suas vestes, o branco já teria se tornado negro pela sujeira moral que ele carregava a cada passo.
— Caguei pra isso! — rugiu Arturo, batendo o pé contra o chão. O impacto fez as janelas estremecerem, e um som agudo ecoou pelos vitrais. — Como pôde? Como teve a coragem?
O Bispo arqueou uma sobrancelha, a voz melosa e calculada:
— Se me disser o que supostamente fiz, talvez eu possa responder.
Ele não demonstrava medo. Ao contrário, ostentava aquele tom preguiçoso e debochado que inflamava ainda mais a raiva de Arturo.
Enquanto os nobres e serviçais fugiam apressados da sala, o Bispo mantinha-se sentado, sorrindo.
Com um gesto brusco, Arturo jogou uma bolsa de couro ao chão.
O impacto espalhou o conteúdo — pedaços de tecido rasgado, cartas, e um pequeno selo imperial manchado de sangue.
O Bispo nem se levantou. Apenas fez um sinal para o último serviçal que restara.
O homem se curvou, apanhou um dos papéis e leu em voz trêmula:
— “É por meio deste que autorizo a turma de destaque a receber aulas dos próprios Cavaleiros de Camelot...”
— Basta — interrompeu o Bispo, levantando a mão com tédio.
Os Cavaleios permaneceram imóveis, os olhos fixos nele, a tensão prestes a explodir.
— Não me digam que isso os tirou do sério — zombou o Bispo, apoiando o queixo na mão. — Vou ter que chamar o “papai Imperador” para resolver as birras de vocês outra vez?
O silêncio que se seguiu foi pesado.
Todos esperavam que Arturo fosse o primeiro a voar em seu pescoço. Mas quem se moveu foi Lance.
Num único passo, agarrou o Bispo pelo colarinho e o lançou ao chão, fazendo o véu dourado se espalhar como asas sujas sobre o mármore.
Com a espada ainda embainhada, apontou a ponta da bainha para o rosto do homem.
— Ó, sua santidade — disse Lance, o tom baixo, quase cordial. — Nenhuma lâmina deve ser erguida contra o senhor... não é o que dizem?
Um sorriso frio.
— Então me diga... Quantos golpes da minha bainha eu tenho direito?
O Bispo empalideceu.
Mas antes que Lance pudesse agir, um alvoroço ecoou do corredor.
Passos apressados. Gritos e palavras de repreensão vinda dos guardas.
Um garoto surgiu à porta, lutando contra os soldados que tentavam contê-lo.
A túnica rasgada, o rosto coberto de poeira e lágrimas.
— Kenshiro? — exclamaram Arturo e Lance, em uníssono.
O garoto respirava com dificuldade, apoiando-se na moldura da porta.
Atrás dele, os guardas lutavam para retomar o controle.
— Os... sobreviventes... — arfou ele, quase sem voz. — Eles estão... eles estão...
O silêncio caiu sobre o salão.
E assim, mais tarde, os registros imperiais dariam nome àquele dia:
O Incidente dos Descendentes.
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