Volume 2 – Arco 10

Capítulo 103: Fardos

Tharion cruzou os braços e inclinou levemente a cabeça, observando o grupo à sua frente. O ar estava carregado  de curiosidade, desconfiança e algo que ele conhecia bem: medo. 

— O que vocês querem saber afinal? — perguntou. 

— Tudo! — responderam quase em uníssono, a mistura de ansiedade e esperança quebrando o silêncio como um trovão contido. 

Tharion piscou devagar. 

“Tudo”, pensou. “Como posso explicar tudo?” 

— O que Varelith realmente quer? Qual o objetivo dela? — perguntou Xin, a voz trêmula, decidida. 

— Ela está por trás do desaparecimento dos magos? — acrescentou Vaelis. 

— E os Ratos? As Sombras? — disse Zhen, o olhar penetrante, quase suplicante. — O que eles são de verdade? 

As perguntas se multiplicavam, cada uma cortando o ar como lâminas. Kenshiro e Erina se entreolharam, impotentes, sem saber se deveriam intervir. 

Tharion ergueu as mãos, pedindo calma.  

— Está bem, está bem! Respirem um pouco, todos. — Sua voz, apesar de suave, carregava autoridade o bastante para fazer o grupo silenciar. — Eu irei resumir... da melhor forma que puder. 

Ele se levantou e caminhou lentamente até o centro do quarto.  

— Como devem saber, existem três entidades centrais na Crônica: os Ratos, as Sombras... e o Sol. 

Sua voz abaixou, e o tom adquiriu uma gravidade cerimonial. 

— O Sol... — ele olhou ao redor, os olhos pousando em cada um deles — somos nós. A humanidade. Simples, frágeis, temporais. A centelha viva que insiste em existir. 

Fez uma breve pausa. 

— Quanto aos Ratos e Sombras... — Um leve pesar percorreu seu olhar — não são demônios, embora muitos os tratem assim. Também não são mais humanos. Eles perderam o que eu chamo de “brilho”. 

Fox se inclinou para frente.  

— O "brilho"? 

— A fagulha da alma — explicou Tharion. — Aquilo que nos mantém humanos. Eles trocaram isso por poder. 

Um murmúrio de desconforto percorreu o grupo. 

— Os objetivos deles variam, mas giram em torno do mesmo desejo: o domínio de tudo. Ou, como a Crônica coloca... a destruição do Sol. — Tharion sorriu, sem humor. — E, antes que imaginem alianças entre eles... esqueçam. Ratos e Sombras se odeiam. São tão inimigos entre si quanto nós somos deles. A diferença é que ambos entendem que a destruição da humanidade é inevitável, e estão apenas apostando quem chega lá primeiro. 

O silêncio que se seguiu era apenas o grupo refletindo sobre as informações. 

Zhen foi quem o quebrou, lembrando-se de sua própria história. 

— Apesar dos pesares, Zudao... ou melhor, Yong... parecia humano. Ele era humano, até onde eu sabia. 

Tharion assentiu lentamente.  

— Sim. Verdadeiramente, eles continuam humanos; ainda possuem suas almas e suas próprias Essências. Entretanto, algo parece corroê-los por dentro, amaldiçoando-os ou corrompendo-os. Eles perdem qualquer capacidade de sentir empatia ou pensar em alguém que não seja eles mesmos. Esse é o “brilho” da humanidade que eles perdem. 

Com a explicação feita, e todos compreendendo, Tharion prosseguiu: 

— Ratos e Sombras aprendem em instantes, aquilo que nós jamais conseguiríamos dominar sem um treinamento extensivo: regeneração, clonagem, força, inteligência anormal, resistência quase divina. Tudo isso lhes é concedido no momento que se tornam o que são. 

Takashi cruzou os braços.  

— Como algo assim é possível? 

Tharion sorriu de leve, com um brilho cínico nos olhos.  

— Você é a prova viva, Flecha Fantasma — O tom dele tinha algo entre provocação e respeito. — Seu arco não é apenas uma arma. É um elo. Ele lhe concedeu habilidades que apenas os seus mestres mais antigos conheciam. Um contrato. Você aceitou o poder e, em troca, herdou o dever de transmiti-lo. 

Takashi sentiu o ar prender nos pulmões. Surpreso com sua identidade sendo descoberta com tanta facilidade. 

Um silêncio pesado tomou conta do quarto. 

Foi Soren, o mais tímido, quem quebrou o gelo: 

— E quanto a você...? 

Todos voltaram-se para ele. 

— Quem é você, afinal? — completou Fox, olhando Tharion nos olhos. — Você não é um Herói, mas luta contra Varelith. Não é um Rato, nem uma Sombra. Está vivo há séculos... talvez milênios. E o Império... nem sequer sabe que você existe. 

Tharion observou o grupo por longos segundos, em silêncio. Depois, sorriu de canto.

— Me vejam como... a Lua. 

— O quê? — perguntou Zhen, confuso. 

— A Lua.  Eu habito a noite, a escuridão. Não brilho por mim mesmo. Apenas reflito a luz do Sol... o suficiente para que a sombra não engula o mundo inteiro. 

Deixou as palavras caírem pesadas no ar. 

— Posso não ser grandioso como o Sol, mas cumpro meu dever com orgulho. 

Ninguém respondeu. 

A metáfora era tudo o que ele estava disposto a oferecer. 

E, estranhamente, foi o bastante. 

Nhéeee... 

Sebastian apareceu na soleira da porta. 

— Anastasia já está mais calma — disse após um longo suspiro. — Ela mencionou que trará algo... para compensar sua atitude. 

Tharion ergueu o olhar, sentado à beira da cama. 

— Contem ao cara pálida o que eu relatei — murmurou, levantando-se devagar. — Erina, venha comigo. Precisamos conversar. 

A cavaleira piscou, surpresa. Kenshiro, ao lado, contraiu o maxilar, se conteve.

Por um instante, todos pareciam esperar que ele fosse chamado junto — e o fato de não ser apenas aumentou a curiosidade. 

Erina, porém, não questionou. Limitou-se a acenar em silêncio e seguiu Tharion para fora, mesmo sem entender o motivo. 

Enquanto a porta se fechava, Sebastian já se aproximava de Kenshiro, pronto para ler o sangue do espadachim e se atualizar. 

Kenshiro ficou para trás, imóvel, enquanto estendia seu braço. O olhar dele se perdeu por um instante na madeira da porta. Sabia exatamente por que Tharion não o havia chamado. E essa certeza o corroía. 

***

Do lado de fora, o ar estava frio e úmido. O fim da tarde se estendia sobre a vila como um véu alaranjado. 

Tharion avistou Anastasia conversando com a dona da hospedaria, próximo ao balcão. 

Ei! Ô, garçonete! — gritou ele, sem o menor tato. Outras duas mulheres se viraram junto com Anastasia. — Traga os jornais dos últimos oito meses para o meu quarto. E trate de ser rápida! 

Anastasia o encarou por meio segundo, os olhos faiscando, e depois simplesmente virou o rosto. Não disse nada. Mas atenderia ao pedido. Não por respeito — apenas porque era mais fácil assim. 

Nem ela, nem ninguém na hospedaria percebeu que a porta do quarto atrás deles fora aberta mais uma vez. Um detalhe sutil, quase imperceptível. Um aviso que ninguém captou. 

Enquanto caminhavam para fora, Tharion e Erina seguiram em silêncio absoluto. Ele mantinha o olhar sempre à frente, como se cada passo fosse calculado. Ela, um pouco atrás, sentia-se perdida, sem saber o motivo daquela caminhada sem destino. 

Passaram por vielas estreitas, becos esquecidos, ruas que pareciam sempre iguais. Entraram e saíram de hospedarias, cruzaram mercados quase vazios — e ainda assim, Tharion não dizia uma única palavra. 

Até que, finalmente, ele parou. 

Estavam na praça central — o mesmo lugar onde haviam enfrentado Ajax não muito tempo atrás. 

— Acho que é o suficiente... — murmurou ele, mais para si do que para ela. Então se virou, os olhos fixos nela. — Devo dizer, estou... desapontado com você, Erina. 

A cavaleira piscou, confusa. 

— D-desculpe... o quê? 

— Não com você exatamente — disse ele, cruzando os braços. — Com o seu grupo. 

— O meu grupo? — Ela deu um passo à frente, tentando entender. — O que tem eles? 

Tharion a encarou em silêncio por um momento. 

O vento balançava o manto escuro em torno de seus ombros. 

— Não consigo ver como eles podem ajudar você. 

Erina cerrou os punhos. 

— Eles são fortes! Acredite, eu não teria os recrutado se não fossem capazes de se cuidar. 

— Novamente — ele rebateu, seco —, não estou falando de força. 

Ela respirou fundo, já perdendo a paciência. 

— Então sobre o que está falando? 

Tharion suspirou. O tom agora era de alguém que estava cansado de repetir o óbvio. 

— Já basta o seu marido para atrapalhar você. Kaji é um meio de transporte, nada mais. E os outros... são pesos. Pesos que irão atrasá-la. 

As palavras dele atingiram-na como aço frio. 

Erina recuou meio passo, o peito apertando. 

— N-não... — balbuciou, levando a mão ao peito. — Você está enganado! Eles... 

— Quem derrotou Ajax? — interrompeu ele. — Algum deles foi realmente útil? 

— Eles aguentaram Ajax sozinhos! Sem mim! — rebateu, a voz subindo. — Consegue entender isso?! 

Tharion a olhou como se observasse uma criança tentando justificar um erro. 

— E qual foi o motivo para você não estar presente? 

Erina parou. As palavras morreram em sua garganta. Um arrepio frio percorreu lhe a espinha, descendo até o estômago. 

— Eu... precisei salvar o Kenshiro. Ele... 

— Não precisa continuar — disse Tharion, erguendo o olhar para o céu. — Era o que eu imaginava. — Voltou a encará-la.  — E qual seria a razão para ele precisar ser salvo desta vez? 

— Ele salvou um dos nossos! Ele não teve escolha! Ele... 

— Já chega, Erina. — Começou a andar em círculos lentos ao redor dela. — Talvez você veja essa jornada como um passeio. Um modo de fazer amigos pelo caminho. Mas eu não. 

Parou bem atrás dela, tão próximo que ela podia sentir o calor de sua respiração. 

— Se você não levar isso a sério, não será só o seu grupo que vai morrer — Sua voz abaixou, quase como um sussurro — Será todo mundo. 

Erina não respondeu. 

As palavras dele a haviam despido de qualquer defesa. 

— Ficarei por aqui mais algum tempo. Quero garantir que Varelith não apareça. —Virou-se de lado, lançando um último olhar. — Vocês também deveriam ficar. E, quando partirem... espero que você já tenha caído na real. 

Então, sem esperar resposta, Tharion se misturou à multidão. 

As pessoas passavam por ele como sombras, e em poucos instantes, havia desaparecido completamente. 

Erina permaneceu parada na praça, sentindo o peso do vento e das palavras que ainda ecoavam em sua mente. 

Perdida em pensamentos e reflexões, Erina permaneceu imóvel no meio da rua, como uma rocha em meio ao fluxo constante de gente. As pessoas passavam, esbarravam, xingavam, empurravam-na para o lado — mas ela não reagia. 

Não se importava. 

As palavras de Tharion ecoavam em sua mente, impossíveis de ignorar.  

Ele sempre acreditara que a força e determinação de Erina eram suficientes para a jornada fosse completada. Entretanto, ao ver tantos indivíduos juntos por aquele objetivo, não viu aquilo como um sinal positivo; imaginou que Erina estaria apenas enfraquecendo-se. 

Erina sabia, no fundo, que ele não estava completamente errado. 

Tentava afastar esse pensamento quando, de repente, lembrou-se das noites ao redor da fogueira. 

O som das risadas. As provocações entre Takashi e Gurok; as diversas histórias e contos de Sebastian; a maneira desleixada de Zhen tentar se reaproximar de Xin; e agora Vaelis e Soren, acrescentando uma pitada mágica às noites sob o luar. 

Essas pequenas memórias eram o que ela mais prezava. E pensar em perdê-las a fazia estremecer. 

— Cuidado! — gritou um comerciante ao trombar com ela. 

Erina foi empurrada com força, o corpo desequilibrando-se. Sua queda era inevitável — e, ainda que já tivesse enfrentado perigos mais dolorosos e fatais, ninguém gostava de cair ao chão em público. 

Antes que o chão a recebesse, um braço firme a segurou pela cintura, trazendo-a para perto. 

Ah, Kenshiro, obrigada... — murmurou, aliviada. 

— Perdão, Erina — disse uma voz diferente. — Acabei seguindo vocês. 

Ela ergueu o olhar.

Era Takashi. 

Por um instante, sentiu um misto de alegria e frustração. Feliz por ver um amigo, triste por não ser o marido quem a amparava. 

— Então foi por sua causa que Tharion me fez andar por toda a cidade? — disse ela, tentando recuperar o tom firme, desprendendo-se. 

Takashi soltou um riso breve, meio sem graça. 

— Ele percebeu que eu estava atrás de vocês, tive sorte de procurá-la aqui na praça. 

Apesar da irritação, Erina não pôde evitar um pequeno sorriso. Admirava a astúcia dele, e o fato de ter seguido para protegê-la, mesmo sem ordens. 

Takashi desviou o olhar, parecendo carregar algo mais pesado que a própria aljava às costas. 

— Eu sinto muito — disse, por fim. — Posso não concordar com o que Tharion disse sobre Kenshiro, mas... ele está certo em parte. Talvez a gente esteja mais atrapalhando vocês do que ajudando. 

As palavras foram ditas com sinceridade e vergonha. 

Erina respirou fundo, voltando a erguer o queixo como a líder que já fora. 

— Não diga isso, Takashi. Vocês podem não ser tão fortes quanto nós, mas... isso é temporário — Tocou o ombro dele com firmeza. — A força não vem do poder, mas da vontade de continuar. E você, mais do que ninguém, já provou ter isso. 

Takashi riu de leve, sem conseguir esconder o embaraço. 

— Está tentando me animar, não é? 

— Talvez um pouco — admitiu ela, com um meio sorriso. 

O vento frio soprou entre eles, trazendo o som distante das carroças e o eco dos sinos. 

— Mas me diga uma coisa — insistiu Takashi, voltando o olhar para o chão. — E se a gente não ficar forte a tempo? Se encontrarmos Varelith amanhã... o que vai fazer? 

Erina ficou em silêncio. 

O sorriso morreu em seus lábios. 

— Takashi... — começou ela, a voz baixa, quase um sussurro. — Nesta vida, há muitas coisas das quais me arrependo: não ter salvado meus pais, ter falhado com meu mestre, ter arrastado Kenshiro para esta jornada... 

A lembrança a fez estremecer. 

— Mas, entre todos esses arrependimentos, há algo que não consigo lamentar: ter você e os outros ao meu lado. Vocês me dão forças, Takashi. Mesmo quando eu acho que não tenho mais nenhuma. 

Ele a olhou, surpreso, como se nunca tivesse ouvido nada parecido dela. 

— E, por mais que Kenshiro não diga em voz alta... — Ela respirou fundo, os olhos voltados para o horizonte. — Eu sei que ele sente o mesmo. Vocês foram... as únicas coisas das quais temos desejos de lutar e proteger além de nós mesmos. 

Takashi pôde sentir o vermelho da vergonha subir pelo seu rosto. Tentara desviar seu rosto, apenas confirmando o que estava sentindo. 

— Vamos voltar? — disse Erina. 

— S-sim, senhora — respondeu ele, num tom leve. 

Caminharam lado a lado pelas ruas, em meio à multidão e ao barulho distante dos sinos. 

Takashi não disse mais nada. 

Aquelas palavras o haviam seguido — e não iriam embora tão cedo. 

Enquanto observava o passo firme de Erina à frente, compreendeu que ela havia deixado para trás todas as dúvidas que Tharion tentara plantar. 

Agora, o único atormentado pelas próprias incertezas era ele. 

E, de alguma forma, Takashi soube que isso era exatamente o que Tharion queria. 

(...) 

Nhéee... 

A porta rangeu, e o som bastou para chamar a atenção de todos. 

— Voltamos! — anunciou Erina, com um sorriso genuíno. 

O grupo, espremido entre mesas, cadeiras e montes de jornais amarelados, ergueu o olhar. O cheiro de tinta e papel antigo se misturava ao de poeira e à fumaça de velas que queimavam até o pavio. 

— Demorou tanto tempo para encontrar o banheiro, orelhudo? — zombou Gurok, sem sequer levantar a cabeça do jornal. 

— Mais ou menos — respondeu Takashi, com um meio sorriso. 

Alguns riram, mas o riso morreu rápido.  

Anastasia tinha reunido exemplares de todos os cantos possíveis — locais, regionais, até mesmo alguns de lugares cujo Império ainda não tinha domínio. 

O chão estava tomado por folhas abertas, títulos borrados, manchetes que falavam de desastres, desaparecimentos e rumores. 

Sem dizer uma palavra, Erina atravessou o quarto com passos leves. O barulho do papel sendo amassado sob suas botas quebrou o silêncio concentrado. 

Kenshiro ergueu o olhar apenas quando sentiu sua presença. 

Erina inclinou-se e, sem cerimônia, depositou um beijo em sua testa. Foi um gesto breve, que bastou para desmontar a expressão rígida do espadachim. Um pequeno alívio atravessou o ambiente, quase imperceptível, sentido por todos. 

Então ela se abaixou, pegou o primeiro jornal que encontrou e começou a ler, lado a lado com o marido. 

Takashi observou a cena à distância, com um olhar difícil de decifrar. Havia algo em Erina — uma calma estranha, como se as palavras de Tharion ainda ecoassem dentro dela, mas de forma domada. 

Ele quis perguntar, quis entender o que ela estava sentindo, mas desistiu antes mesmo de tentar. Erina era assim: deixava-se ler apenas quando desejava ser compreendida. 

O dia se estendeu lentamente, e a luz das velas foi substituída por uma penumbra dourada que entrava pelas frestas da janela. O som das páginas viradas, os suspiros contidos e o leve ranger das cadeiras criavam uma sinfonia de monotonia e cansaço. 

Um a um, eles foram se acomodando — alguns deitados, outros encostados em pilhas de jornais —, mergulhados nas notícias como se buscassem nelas uma verdade oculta, uma explicação para tudo que queriam saber. 

E, no meio daquele silêncio partilhado, algo se fez notar. 

Fox não estava lá. 

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