O Mundo de Sombras e Ratos Brasileira

Autor(a): E. H. Antunes


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 36.1: A Cidade Livre Eldoria*

LEIA COM ATENÇÃO:

Caro leitor,

Este é um capítulo especial e opcional. Não é necessário lê-lo para seguir a história principal. Esses capítulos extras têm como objetivo aprofundar determinados temas, como personagens, grupos ou eventos, e em alguns casos, exploram histórias que não são cruciais para a trama central.

Gostaria de destacar que os capítulos extras podem ser mais extensos do que o usual. Em vez de dividir o conteúdo em vários capítulos, optei por reunir tudo em um único.

Neste capítulo, (Capítulo 36*), você verá os últimos acontecimentos em Eldoria e a história de Gurok.

  • A Cidade Livre Eldoria
  • Justiça do Mais Forte
  • O Governador
  • Gurok
  • Infelix
  • Correntes

1 - A Cidade Livre Eldoria

Antes dos Império tentar unificar todos os demais reinos e cidades para se tornarem seus vassalos, todas as cidades eram livres, ou seja, elas eram independentes. Nos períodos antigos, essas cidades podiam fazer comercio entre elas e até entrarem em conflitos; não havia nenhum tipo de regra ou acordo entre elas.

As cidades foram criadas por meio de investimentos. Num geral, uma cidade só poderia existir quando houvesse recursos em abundâncias ao seu redor, recursos esses capazes de auxiliar no crescimento e sustento de sua própria população. Quando isso não era possível, e uma cidade era construída assim mesmo, ela precisaria ser sustentada por outras vilas que colheriam tais recursos.

No caso de Eldoria, ela nunca deveria ter se tornado uma cidade.

O primeiro a chegar naquele lugar foi Fabris, um ferreiro reconhecido por todo o continente como sendo o melhor de todos. Fabris buscava um local para sua nova forja, um lugar onde ela pudesse atingir a mais alta das temperaturas e possuísse um combustível quase infinito para suas futuras gerações.

Naquele lugar, ele encontrou um buraco que expelia gás natural, em uma quantidade tão alta que se ascendesse uma única faísca, poderia causar uma grande explosão. Assim, ele criou uma torre gigantesca para contê-la, e no seu alto fez sua forja.

Quando pôs fogo no gás, a torre aguentou o impacto. O estrondo pôde ser sentido por todo o continente.

Vendo como ficou sua forja, Fabris ficou satisfeito. E assim sua torre foi construída, lembrando um grande farol que iluminaria todas as noites para sempre.

Pouco tempo depois, um grupo de humanos pequenos e interessantes chegaram ao local. Eles eram mais baixos que o normal, talvez a metade de um humano comum, mas possuíam a mesma largura e força. Embora tivesse uma aparência quase bárbara, com belos e barbas imensos, até entre as mulheres, eram um povo divertido e gentil, apesar da má educação.

Todos eles eram apaixonados pelo trabalho com a forja, e procuravam por Fabris suas vidas inteiras, e agora que ele havia se mudado para um lugar fixo, todos vieram ao seu encontro para adquirir seus conhecimentos.

Fabris era um homem recluso, mas decidiu fazer um acordo com os homenzinhos. Em troca de seus conhecimentos, eles precisariam criar uma gigantesca muralha para impedir que outras pessoas chegassem até eles.

Os pequenos aceitaram sem pestanejar, criando muralhas douradas altas e grossas que chamaram de “Eldoria.” Ela havia sido encantada por um feitiço que nunca desgastaria seus matérias, assim, ela seria dourada para sempre.

Impressionado, Fabris compartilhou seu conhecimento, se tornando até um fiel amigo e tutor de todos.

Com o tempo, escavações de minerações foram feitas, adentrando a montanha. O local em que estava eram ricos em recursos mineráveis. Buscavam sempre os metais mais resistentes e eficazes para suas armas e equipamentos, ignorando as pedras e gemas preciosas, deixando cada mina com um aspecto quase fantasioso.

Fabris sempre tentou fabricar os melhores e mais temíveis armamentos, apenas para enfrentar os magos que tanto invejava. Seu combate nunca era direto, apenas queria criar algo que fosse tão poderoso quantos os feitiços e magias. Apesar da rivalidade e desgosto que se nutriam, ambos sabiam se respeitar e reconhecer seus trabalhos e esforços.

Certo dia, Fabris recebeu um pedido para ir até “Academia Arcana de Arboris”, mas nunca retornou.

Seus amigos, preocupados, deixaram Eldoria e partiram em sua busca. Quando chegaram ao local do ficaria a “AAA”, encontraram apenas uma gigantesca cratera. Ao retornarem, Eldoria já estava sendo ocupadoa por novos habitantes, e até mesmo o próprio descendente de Fabris estava por lá.

Nenhum deles teve o direito de voltar para dentro de sua amada cidade, e assim eles foram expulsos e exilados de suas terras. Sem nenhum rumo, eles sabiam que não sobreviveram se dependessem da caridade do povo que sempre os menosprezou e detestou, assim, eles foram para as terras gélidas, onde nenhum outro povo jamais conseguiu viver antes.

***

Com o crescimento da população de Eldoria, as casas pararam de ficar apenas na encosta das montanhas e começaram a ficar no próprio chão, abaixo da montanha. As casas começaram a escurecer, pois ninguém tinha conhecimento do encantamento que fora utilizado nas muralhas. A própria torre de Fabris estava sofrendo o mesmo destino, pois Fabris negava-se a receber tal encantamento se o mesmo não havia o descoberto antes.

Com uma população tão densa e numerosa, Eldoria foi obrigada a criar meios para se organizar, e assim adoraram um estilo de governo e calendário único. Eles apagaram de suas histórias sobre os homenzinhos, dizendo que Fabris havia criado Eldoria sozinho do dia para a noite, e que a população eram descendentes daqueles que Fabris havia adotado e cuidado.

Graças as minas ricas em pedras preciosas e gemas, Eldoria se tornou rapidamente a cidade mais rica do continente, comprando altas quantidades de suprimentos apenas com 1 ou 2 de suas pedras. Assim, apesar da cidade não conseguir se autossustentar, ela supria suas necessidades pelo comércio.

Nenhuma cidade ousava recusar um acordo comercial com Eldoria, pois todos queriam parte de sua riqueza. Na verdade, se não fosse por suas grandes muralhas, Eldoria já teria sido invadida a muito tempo. Ninguém ousava fazer um cerco na cidade, pois sabendo que um dos descendentes de Fabris habitava ali, temiam que fossem enfrentar um exercito com os melhores equipamentos possíveis.

Por muito tempo, Eldoria progrediu, adquirindo sempre cada vez mais riquezas, e pegando uma mixaria para conseguir seus suprimentos. Porém, quando os ricos conseguiram chegar ao poder, começaram a gastar cada vez menos nos comércios, extraindo apenas o melhor para eles mesmo, enquanto o restante da população deveria se contentar com menos.

A população não se queixou, pois ainda recebiam seus pagamentos em forma de gemas. Eles conseguiriam aguentar altos períodos economizando água e comida, mas quando recebiam suas férias, poderiam partir e viver como reis por longos meses para então retornar e repetir tal ciclo.

Os ricos, invejados com a felicidade que os demais tinham, começaram a cobrar pelas saídas da população, assim, parte do dinheiro ficaria para eles.

A população não se queixou, pois ainda ficaria com uma boa parte do dinheiro.

Então, os ricos começaram a descontar diretamente do pagamento da população, dizendo que a população precisava pagar pelo privilégio de viverem na cidade. Pois “as ruas, não são suas; as casas, não foram vocês que construíram; seus empregos, fomos nós que lhe demos.”

A população, novamente, aceitou.

Essa situação se repetiu inúmeras vezes, ao ponto que anteriormente, uma família conseguiria se manter apenas com o pai trabalhando em um horário convencional, e ainda conseguiria comprar belos pedaços de carne todos os dias. Agora, essa mesma família precisava trabalhar dobrando, incluindo os próprios filhos, e tudo que conseguiam comprar no final do dia era um único pão que ainda precisavam dividir.

Uma pessoa, notou isso, e ficou revoltada. Sua voz era alta e incomoda, fazendo com que parte da população a apoiasse.

Temendo que uma revolta pudesse acontecer, os ricos criaram um cargo novo no governo: O Juiz.

O Juiz seria um agente imparcial, onde puniria todos que não cumprissem as leis da cidade. O próprio governador poderia ser punido e trocado se essa autoridade achasse necessário. Porém, o que muitos não sabiam, eram que todas as leis beneficiavam apenas os ricos.

Aquela mesma pessoa revoltada, no entanto, sabia disso. Mas antes que pudesse voltar a fazer barulho, ela desapareceu.

***

Depois de tantos anos, Eldoria apenas enriqueceu, mas não prosperou. Era uma cidade que possuía dinheiro o suficiente para sustentar até três impérios, e mesmo assim, se recusava a se expandir ou buscar alianças.

Ao invés de criarem uma força que fosse da própria cidade, acharam melhor contratarem apenas os mercenários da região.

Mercenários e aventureiros sempre foram forças temíveis por todo o continente, mas sua lealdade sempre fora medida de acordo com o bolso de seu empregador. E mesmo que Eldoria possuísse o bolso mais fundo e pesado de todos, nenhum mercenário arriscaria sua vida se Eldoria tivesse uma chance mínima de perder.

Mesmo assim, eram poucas as pessoas ou reinos que possuíam esse conhecimento.

Eldoria ainda tinha um problema de natalidade, sua população não tinha condições de crescer, por isso frequentemente tinham adversidades com baixa população. Isso foi rapidamente resolvido quando o Governador criou propagandas para chamar mais pessoas para morarem na “cidade dourada.”

E com a criação da “Taxa de Saída”, onde todos que viessem eram obrigados a pagar 110% do que haviam trazido, ninguém conseguiria partir de Eldoria sem antes perder bons anos de suas vidas trabalhando.



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