Volume 1 – Arco 4
Capítulo 27
Erina, Xin e Takashi estavam em meio a uma discussão tensa quando Kenshiro e Sebastian chegaram. A pressão sobre as decisões que tomariam pesava no ambiente, e o grupo sabia que cada escolha teria consequências.
Todos compartilhavam agora as informações sobre Eldoria.
— Eu poderia levar todos um a um durante a noite — sugeriu Sebastian, com tranquilidade. — Dificilmente alguém me notaria.
Xin rapidamente começou a gesticular enquanto fazia uma expressão séria, lançando um olhar direto para o vampiro. Ela explicou que o Juiz havia conseguido invocar um raio no meio do comercio local, onde havia diversas barracas e pessoas, acertando apenas o ladrão e não ferindo ninguém. Ela acreditava que o Juiz era habilidoso o suficiente para ficar de guarda o tempo inteiro para impedir qualquer de fugir.
— Perfeito. Só falta ele adivinhar nossos pensamentos — comentou Takashi, ironizando.
— Ele não precisa disso — acrescentou Kenshiro. — Com tantos guardas espalhados pela cidade, ele saberia rapidamente de nossos movimentos; isso se não houverem espiões entre as pessoas comuns.
Takashi ponderou por um momento antes de sugerir: — E se esperarmos até que as eleições acabem? Se houver mudança no governo, talvez não precisemos pagar a Taxa de Saída.
— Não podemos contar com isso — retrucou Kenshiro. — As pessoas aqui estão confortáveis demais na miséria. Vão reeleger o mesmo governador, sem dúvida.
— Então deveríamos usar a "passagem" e voltar para a cabana de Reiji — sussurrou Kaji, com um olhar calculista.
Erina negou imediatamente.
— Não. Voltar nos faria perder dias preciosos e, além disso, perderíamos a carruagem.
Takashi e Xin trocaram olhares confusos, sem entender a referência. Mesmo assim, ambos sabiam que não obteriam respostas diretas sobre tal "passagem."
Xin perguntou aonde eles iriam dormir caso fossem ficar, pois eles não possuíam dinheiro suficiente pra alugar um quarto sequer; as cavernas eram as únicas opções.
O grupo ficou em silêncio por alguns momentos, cada um pensando nas opções.
Kenshiro, Sebastian e Takashi estavam dispostos a arriscar e partir naquela mesma noite. Por outro lado, Xin e Kaji queriam esperar, buscando um caminho mais seguro.
No final, os princípios do grupo sempre deixavam a decisão nas mãos de Erina. A tensão crescia enquanto todos aguardavam sua palavra final.
— Nós iremos...
Erina foi interrompida pelo barulho de uma multidão se formando na praça central. Os murmúrios curiosos tomaram conta do ambiente, atraindo a atenção do grupo.
— O que está acontecendo? — perguntou Kenshiro, já caminhando para ver.
No centro da cidade, um palco estava montado, e uma placa exibia uma mensagem:
"Eleição cancelada. Motivo: Criação de um feriado em homenagem a Maximus, fiel companheiro do Juiz Infelix."
A multidão começou a murmurar em lamento pela morte do lutador. Contudo, Erina permaneceu alerta, ciente de que aquilo complicava ainda mais a situação do grupo. Ela já estava começando a formular um novo plano, quando um grito feminino ecoou:
— Quero fazer uma reclamação oficial!
Era Lois.
Ela havia subido no palco e desafiava abertamente o sistema. A população começou a sussurrar palavras como "mãe dos pobres" e "amante de aberrações." Mas Lois não se deixou intimidar.
Poucos segundos depois, um raio caiu do céu com força avassaladora, e o Juiz Infelix apareceu, sua presença irradiando uma aura de perigo. Sua armadura dourada refletia o temor da multidão. Lois foi arremessada ao chão com o impacto do raio, mas, determinada, ela se levantou, limpando o rosto sujo com a mão.
— E qual seria sua reclamação? — perguntou Infelix, sua voz desinteressada, mas afiada.
— Pessoas morrem todos os dias nesta cidade! — Lois gritou. — Por que a morte de uma única pessoa deveria cancelar as eleições?
— Como você deve saber — disse Infelix, cruzando os braços, um sorriso frio nos lábios —, uma eleição exige que os candidatos estejam mentalmente aptos. A morte de um ente querido me desestabilizou... Teremos que esperar até o ano que vem.
— Você só quer manter seu poder! — acusou Lois, subindo no palco novamente.
Infelix sorriu, sua paciência claramente no limite.
— Cuidado com suas palavras. A próxima eleição será diferente, claro. Espero que vocês consigam pagar a nova cota. Soube que o governador dobrou a taxa para desincentivar os jogos clandestinos e jogos de apostas.
Lois, furiosa, ergueu a mão e esbofeteou Infelix com toda a força. O som seco ecoou, e o sorriso do Juiz se alargou, revelando sua verdadeira crueldade.
— “Se uma autoridade é atacada, ela tem o direito de se defender da maneira que julgar apropriada” — disse ele, citando uma lei conveniente. — Você me atacou com força, e agora eu farei o mesmo!
— LOIS! SAIA DAÍ! — gritou Gurok, correndo pela multidão, desesperado.
Infelix levantou a mão na direção de Lois, e um clarão intenso cegou a todos. O trovão que se seguiu foi ensurdecedor. Quando a luz se dissipou, Lois havia desaparecido.
O silêncio que se seguiu foi sufocante. Todos estavam paralisados. Gurok rugiu de ódio, erguendo o punho para atacar Infelix.
— Vai me atacar também, Gurok? — provocou o Juiz, abrindo os braços, oferecendo-se como alvo. — Ou está fraco demais para sequer encostar em mim?
Antes que o orc pudesse desferir o golpe, Erina o conteve, derrubando-o no chão.
— Você cresceu, Gurok — zombou Infelix, com uma risada sinistra. — Mas está tão fraco quanto antes.
Gurok lutava para se soltar, seu ódio fervilhando.
— EU VOU MATAR VOCÊ!
Infelix riu. — Ameaçando uma autoridade? — Ele suspirou, fingindo tristeza. — Vou ser piedoso, já que você também perdeu alguém. Vamos ver quem lida melhor com o luto, Gurok.
Com um estalar de dedos, outro raio desceu dos céus e envolveu Infelix, que desapareceu, deixando para trás um vazio avassalador e o cheiro de ozônio no ar.
***
Com o Juiz fora de seu alcance, Gurok voltou sua atenção furiosamente para Erina, culpando-a por tê-lo impedido de lutar contra Infelix.
O orc se debateu violentamente até se soltar dos braços da cavaleira. Seus olhos estavam injetados de sangue, e sua pupila contraída quase desaparecia em meio à escuridão de sua íris. A multidão ao redor começou a correr em pânico, fugindo para suas casas com medo de que o confronto entre os dois pudesse acabar matando algum inocente.
Erina manteve a postura, mas sabia que estava diante de uma força monstruosa.
O instinto bestial de Gurok o dominava, ofuscando sua razão. Ele avançou como um animal, sem ouvir os apelos da cavaleira para que parasse. Para ele, a única solução era esmagar sua adversária.
Gurok se lançou contra Erina, seus pés e punhos desferindo golpes tão devastadores que o chão tremia sob o impacto. Ele a arremessou ao chão, e ela só teve tempo de ativar o elmo retrátil para proteger a cabeça.
O orc continuou a desferir golpes como um furioso martelo, tentando esmagar a armadura até que nada restasse. Cada soco deixava crateras ao redor de Erina, o solo abaixo dela se fragmentando em rachaduras profundas. Por um momento, ele acreditou que a tinha vencido, pois Erina ficou imóvel.
Ao se erguer ofegante, o grito desesperado de uma mulher o fez virar. Seus olhos bestiais miraram outra vítima.
Foi nesse instante que Erina, recuperando-se rapidamente, reagiu. Em um movimento preciso, ela desferiu um gancho que ergueu Gurok do chão, fazendo-o cambalear. Ele urrou de fúria, e a sua determinação incontrolável o fez avançar outra vez, não se importando quantas vezes precisasse repetir o ataque.
Erina sabia que enfrentar Gurok de frente não seria sábio, ele estava cego pela raiva e pela sede de vingança. Então, começou a correr, usando sua destreza para atrair o orc em uma perseguição, sempre mantendo uma linha reta para evitar que o orc se desviasse e ferisse alguém.
Gurok, agora completamente descontrolado, corria sobre as quatro patas, como um animal selvagem. Ninguém ousava atravessar o caminho do gigante desgovernado.
A perseguição os levou até a grande torre, onde Erina sabia que precisaria confrontá-lo mais uma vez.
O orc, com seus olhos inflamados de ódio, arrastou os pés e os punhos no chão, empurrando as pedras da rua com seu avanço. Ele preparou-se para um ataque final, disposto a atravessar a cavaleira e a própria torre se fosse necessário.
Foi então que, de repente, uma voz se fez ouvir, clara e firme, mesmo em meio ao caos.
— GUROK! PARE!
Aquela voz perfurou a mente do orc, resgatando-o de seu transe animalesco. Ele tropeçou nos próprios pés e caiu próximo a Erina, ofegante e desnorteado. Seus olhos começaram a recuperar a lucidez.
Por segurança, e para encerrar o combate de uma vez por todas, Erina não deu chances. Ela desferiu um último soco com força suficiente para derrubá-lo. O orc desabou no chão com um estrondo, finalmente nocauteado.
O vilarejo agora estava mergulhado no medo, e os membros do grupo sabiam que essa luta, longe de ser o fim, era apenas o prenúncio de algo ainda maior e mais perigoso.