Volume 1 – Arco 3

Capítulo 24*

Rastejando pela caverna, Oscar estava afundado em uma miséria que parecia não ter fim. As feridas em seu corpo, ainda queimando, eram acompanhadas por uma dor emocional que o consumia.

O que restava dele? Seus homens, destruídos pelas chamas implacáveis de Kaji; sua reputação, dilacerada diante daqueles que o seguiam; seu orgulho, agora desfigurado junto com sua pele. O bandido outrora astuto e calculista agora se via como mero rato, rastejando em busca de alívio nas escuras profundezas da caverna.

A dor de sua carne o levou a mergulhar a cabeça nas pequenas poças de água da caverna. Mas até nisso a caverna zombava de sua miséria: sanguessugas agarraram-se a ele, intensificando seu tormento.

Os dias que se seguiram trouxeram fome e desespero, sua mente enredada na dor e no sofrimento.

Foi então que o ar ao redor dele mudou. A escuridão da caverna pareceu clarear, como se o próprio ambiente respeitasse a chegada de algo maior. Um homem emergiu das sombras, sua presença tão envolvente e irreal que parecia moldar a realidade ao seu redor.

Ele era de uma beleza avassaladora. Sua pele, de um tom translúcido, irradiava um brilho sutil que iluminava as pedras escuras da caverna. Seus olhos negros continham uma profundidade infinita, como se pudessem absorver toda a luz e escuridão do mundo. Seus cabelos, negros como a noite, flutuavam gentilmente, movidos por uma brisa que não existia. Mas, acima de tudo, o que mais chamou a atenção de Oscar foi a coroa de espinhos negros que adornava a cabeça do homem. Os espinhos perfuravam sua testa, e um fio de sangue escorria suavemente por sua face, e mesmo assim, ele era terrivelmente belo.

Oscar, paralisado pelo medo e pela admiração, recuou. Sentia que algo nele estava errado, mas a aura que emanava do homem era tranquilizadora, quase angelical.

— Não tema, criança — disse o homem, sua voz soando como um cântico celestial.

Instantaneamente, a dor de Oscar diminuiu. Ele, que momentos antes se contorcia de agonia, agora sentia-se estranhamente em paz.

— Vejo que a vida foi injusta com você... Está com fome, não está? — continuou o homem, sua voz soando como uma melodia que acariciava os ouvidos de Oscar.

— Estou... senhor? — murmurou Oscar, confuso e hipnotizado pela presença do estranho.

— Por favor, pode me chamar de "Pai" — disse ele, sorrindo com uma ternura que contrastava com a coroa de espinhos em sua cabeça.

— Pai...

— Venha, coma um pouco deste fruto — disse o homem, tirando de dentro de sua manta uma maçã que parecia tão perfeita quanto ele próprio.

Oscar, que sempre detestou frutas, sentiu-se inexplicavelmente atraído por aquela. Seu aroma doce o envolveu, e sem hesitar, ele estendeu a mão. O homem deixou a maçã cair suavemente nas mãos de Oscar, e ele a mordeu. O sabor era sublime, mais do que qualquer coisa que Oscar já havia provado.

Enquanto ele comia, o homem se ajoelhou diante dele e murmurou com suavidade:

— Agora, quero que faça um pequeno favor para mim...

Oscar olhou para o homem, confuso, com a boca cheia.

— O que meu Pai quer? — perguntou, temendo ter sido enganado.

— Quero que conquiste seu maior sonho — disse o homem, seus olhos negros fixos nos de Oscar.

— Perdão?

— Não era esse o seu desejo? Estar no topo, onde todos se curvariam diante de você? — O homem sorriu, mas seu sorriso continha algo além de simples bondade.

Oscar hesitou, tocando o próprio rosto marcado pelas queimaduras.

— Sim, mas... meu rosto...

— Olhe novamente — instruiu o homem, sua voz soando como uma ordem gentil.

Oscar, ainda atordoado, se inclinou novamente sobre a poça de água. Quando viu seu reflexo, a surpresa o atingiu como um golpe: suas feridas haviam desaparecido, sua pele estava restaurada, tão perfeita quanto antes. Ele correu os dedos pela pele lisa, sem acreditar.

Ele se virou para agradecer ao homem, mas o estranho havia desaparecido, sumido como uma miragem que nunca deveria ter existido.

Oscar, agora sem as dores e marcas que o atormentavam, caiu de joelhos, seus olhos se enchendo de lágrimas. Ele havia sido tocado por um anjo. Ou assim ele acreditava. Aquele ser de beleza celestial havia lhe devolvido não apenas sua aparência, mas sua vontade. Oscar sabia, com absoluta certeza, que alcançaria todos os seus objetivos. Ele estava abençoado.

Porém, antes de deixar a caverna, algo o perturbou. Quando olhou para o chão, onde pensava ter comido uma maçã, encontrou apenas o corpo mutilado de um de seus próprios subordinados, parcialmente devorado.

 



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