O Mundo de Sombras e Ratos Brasileira

Autor(a): E. H. Antunes


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 19.8: Takashi*

LEIA COM ATENÇÃO:

Caro leitor,

Este é um capítulo especial e opcional. Não é necessário lê-lo para seguir a história principal. Esses capítulos extras têm como objetivo aprofundar determinados temas como: personagens, grupos ou eventos, e em alguns casos, exploram histórias que não são cruciais para a trama central.

Neste capítulo (Capítulo 19*), você acompanhará a formação dos primeiros Flechas Fantasma, como o arco se tornou mágico, e enfim a história de Hitoshi e do próprio Takashi.

  • 1 - Sigmund
  • 2 - Hildegard
  • 3 - Rudolf
  • 4 - Doctrina Hereditas
  • 5 - Hitoshi
  • 6 - Líder
  • 7 - Kuroda
  • 8 - Takashi

8 - Takashi

A chegada de Takashi à irmandade foi marcada pela necessidade de ocultar sua identidade como elfo. Desde o início, Hitoshi decidiu que Takashi deveria esconder seu rosto, preservando o segredo de sua raça, algo que apenas ele e Mihai sabiam. Hitoshi acreditava que Takashi, sendo seu discípulo, já atrairia atenção suficiente.

Takashi foi ensinado desde muito cedo sobre honra e dever para com seus irmãos na irmandade. O treinamento rígido e intenso fez dele uma pessoa extremamente disciplinada e leal aos princípios que lhe foram ensinados.

Com dedicação incansável, ele se destacava rapidamente, superando até os adultos mais experientes. Sua ambição era clara: não apenas ser ótimo, mas perfeito. Para ele, falhar não era uma opção, e qualquer deslize significava não ter se esforçado o suficiente.

Porém, essa determinação inabalável começou a preocupar Hitoshi. O jovem elfo havia se tornado tão focado em assumir o manto de seu mestre que deixava de ser uma pessoa para se tornar uma ferramenta do arco. Takashi passava horas treinando, sempre tentando alcançar o ideal de perfeição que ele acreditava ser necessário para se tornar o Flecha Fantasma.

Hitoshi começou a perceber que havia cometido um erro ao trazer essa obsessão tão cedo. Seu sucessor parecia mais um objeto do que humano, mais fanático do que devotado, e isso o perturbava profundamente.

Enquanto isso, Kuroda, outro aprendiz promissor, destacava-se por motivos completamente diferentes. Desleixado, preguiçoso e relaxado, Kuroda ainda assim possuía habilidades naturais que impressionavam a todos. Ele completava o treinamento sem esforço, mas, em vez de continuar, passava o resto do dia dormindo ou provocando seus irmãos. Ele parecia não se importar com o rigor da irmandade, mas sempre alcançava bons resultados em seus testes.

Os dois mestres, decepcionados com seus respectivos discípulos por razões opostas, decidiram que talvez pudessem aprender algo um com o outro. Eles formaram uma dupla improvável, forçando Takashi e Kuroda a treinar e trabalhar juntos.

A ideia era simples: que o esforço disciplinado de Takashi pudesse inspirar Kuroda a ser mais sério e que a leveza despreocupada de Kuroda pudesse ensinar a Takashi que a vida não era apenas dever e perfeição.

***

Na manhã do primeiro dia juntos, a tensão já era perceptível.

— Acorda, está na hora do treinamento — disse Takashi, já de pé e pronto, como sempre.

— Ah, não... só mais um pouquinho... — resmungou Kuroda, virando-se para o outro lado na cama.

Irritado com a preguiça de Kuroda, Takashi puxou as cobertas dele, deixando o frio da caverna se infiltrar na pele do companheiro de equipe.

— Somos uma dupla agora. Nosso dia começa juntos! — insistiu Takashi.

Kuroda revirou os olhos e se levantou, contrariado.

— Do que adianta treinar tão cedo? Vamos bem nos testes de qualquer jeito — respondeu ele, bocejando.

— Precisamos nos manter em forma. Do contrário, perderemos nossas habilidades — disse Takashi com severidade.

Cansado da discussão, Kuroda apenas suspirou, sem dar mais atenção à obsessão de Takashi pelo treino.

O treino matinal consistia em exercícios simples de alongamento e fortalecimento, seguidos de testes de resistência. Takashi, mesmo esforçado, não conseguia superar Kuroda nas atividades físicas, apesar de Kuroda claramente não se esforçar.

— Acho que cinco minutos de prancha tá bom pra mim — disse Kuroda, com um sorriso relaxado no rosto.

— Como... você... consegue? — ofegou Takashi, mal conseguindo respirar.

— Ah, não fique assim... dois minutos é muito bom para um elfo — respondeu Kuroda, casualmente.

Takashi, chocado, empurrou Kuroda contra a parede da caverna, com raiva e desconfiança.

— Como você sabe que sou um elfo?! — questionou Takashi, sua voz tensa.

Kuroda apenas sorriu.

— Foi fácil. Tirei sua máscara enquanto você dormia. Mesmo que você durma com um ou dois olhos abertos... minhas habilidades ainda são superiores — provocou Kuroda, com uma risada leve.

— Então, vai usar isso para tirar vantagem? Para passar o dia inteiro dormindo? — Takashi apertou o punho, sentindo a frustração subir.

— Não... — disse Kuroda, aproveitando a tensão para virar o braço de Takashi com agilidade e derrubá-lo no chão. — Quero usar isso como incentivo para nossa competição.

Takashi olhou fixamente para ele, intrigado.

— Nossos mestres planejaram um teste surpresa pra gente em 20 dias. E eu sei o que irá acontecer: se você for melhor que eu, provará que esforço vence o talento natural, e serei obrigado a treinar mais. Porém, se eu vencer, você não irá relaxar, irá treinar cada vez mais! Então, achei melhor usar essa informação como um incentivo, para que o resultado final, seja ele qual for, seja honesto — explicou Kuroda, com um sorriso travesso.

— E por que eu deveria confiar em você? O que garante que você não irá revelar minha identidade mesmo que eu vença? — Takashi o questionou, desconfiado.

— Não se preocupe! Não sou tão ruim quanto você pensa. Eu só quero me divertir um pouco... — respondeu Kuroda, levantando Takashi do chão com facilidade. — Eu vou me dedicar à minha parte do plano: não fazer nada pelos próximos 20 dias.

Kuroda deu uma piscadela antes de ir direto para a cama e dormir o restante do dia, enquanto Takashi, furioso, pensava na proposta.

Takashi triplicou seu treinamento. Ele queria vencer Kuroda não por sua identidade, mas por uma questão de honra.

Nos primeiros dias, o excesso de esforço o fez desmaiar várias vezes, deixando seu corpo exausto e dolorido. Curiosamente, Kuroda o ajudava a se levantar, levava comida para ele e cuidava para que se recuperasse.

Takashi não desistiu.

O treinamento intensivo tornou-se rotina, e ele começou a melhorar. Kuroda, por outro lado, agora começou a atrapalhá-lo constantemente, jogando pedras e sabotando os equipamentos de treino. Mas, em vez de desistir, Takashi usava esses obstáculos como combustível para se esforçar ainda mais.

Aos poucos, a dinâmica entre os dois começou a mudar. Na metade dos 20 dias, Kuroda, sem que Takashi soubesse, começou a treinar em segredo, algo que ele nunca havia feito antes.

***

O dia do teste finalmente chegou, envolto em uma atmosfera de tensão e expectativa.

Takashi e Kuroda se preparavam mentalmente para o embate, mas foram pegos de surpresa ao descobrir que o desafio era enfrentar Hitoshi e Mihai, seus próprios mestres. A notícia rapidamente os abalou. Sabiam que não seria um combate comum.

Os mestres não iriam poupar esforços, e o simples fato de usarem suas armas reais indicava que qualquer erro poderia ser fatal. Os espectadores, outros assassinos da irmandade, se afastaram para observar a luta à distância, cientes de que estavam prestes a testemunhar algo extraordinário.

As formações foram rapidamente estabelecidas: Takashi e Hitoshi, ambos arqueiros habilidosos, assumiram posições distantes, enquanto Kuroda e Mihai, focados em combate corpo a corpo, avançariam. Era uma luta de ritmo frenético e precisão calculada.

Mihai foi o primeiro a se mover, com uma velocidade impressionante. Kuroda, aguardando o impacto do mestre, se preparou para o embate direto. No entanto, Mihai, com um movimento rápido e inesperado, o ignorou completamente, avançando na direção de Takashi.

Compreendendo que o objetivo de Mihai era incapacitar o arqueiro o mais rápido possível, Kuroda mudou sua estratégia, copiando seu mestre. Não podia permitir que Takashi enfrentasse os dois mestres sozinho.

Correndo na direção de Hitoshi, Kuroda foi subitamente surpreendido por cinco flechas disparadas com precisão letal. O som do ar cortado pelas flechas era assustador, mas não foi necessário se desviar.

Sabendo que Hitoshi poderia tê-lo vencido ali mesmo, ele percebeu: os dois mestres queriam derrubar Takashi primeiro. Kuroda sabia que não chegaria até Hitoshi antes que Takashi fosse derrotado.

Sentindo-se culpado por ter deixado seu companheiro exposto, Kuroda recuou rapidamente para resgatá-lo.

A velocidade e disciplina de Mihai eram implacáveis. Cada golpe de sua lâmina era preciso, impedindo que Takashi tivesse qualquer abertura para armar seu arco. Ele mal conseguia reagir aos ataques, esquivando-se da lâmina do líder enquanto, ao mesmo tempo, tentava evitar as flechas certeiras de Hitoshi.

Takashi logo se viu encurralado contra as paredes da caverna. Mihai, sem piedade, preparava o golpe final. Mas, nesse exato momento, Kuroda apareceu, tentando esfaquear Mihai pelas costas. O líder, com reflexos aguçados, desviou a tempo.

A dupla se encarou, percebendo que precisavam trabalhar juntos para vencer aquele embate. Assim, Takashi deu um salto para trás, e Kuroda assumiu a luta contra seu mestre.

Finalmente ambos encontraram um ritmo de combate sincronizado. Cada movimento de Kuroda era complementado pelas flechas de Takashi, que disparava com uma precisão mortal, suas flechas passando ao redor do corpo de Kuroda enquanto ele corria para atacar Mihai.

O líder da irmandade, impressionado, teve dificuldades para desviar dos golpes combinados. Ele percebeu que Takashi havia evoluído muito em seu controle sobre o arco; não havia um ângulo de onde ele não pudesse ser atingido.

Os golpes pesados de Kuroda, combinados com a pressão constante das flechas, forçavam-no a recuar. Sua adaga era ágil, mas ele evitava confrontos diretos de força contra as de Kuroda, cuja investida era feroz. Em poucos minutos, os papéis haviam se invertido. Agora, era Mihai quem se via pressionado contra a parede.

Os dois jovens assassinos perceberam que estavam perto de uma vitória. Takashi puxou uma flecha final, preparando o tiro certeiro, enquanto Kuroda se posicionava para desferir o golpe decisivo com suas adagas. Ambos, sincronizados, atacaram ao mesmo tempo.

O som das armas cortando o ar anunciava o fim do embate.

Mas, num piscar de olhos, todos foram surpreendidos.

Com uma agilidade impressionante, Hitoshi, que estava observando o embate à distância, disparou duas flechas precisas que acertaram as armas de Takashi e Kuroda, desarmando-os. Mihai, sorrindo, aproveitou o momento para pegar a flecha de Takashi no ar com uma destreza quase sobre-humana, encerrando a luta.

O campo de batalha foi tomado por risos e comemorações. Os outros assassinos, que haviam assistido ao combate com fascinação, celebravam o espetáculo. Takashi e Kuroda caíram de joelhos, exaustos e ofegantes, mal acreditando no que havia acontecido.

— Vocês dois foram muito bem! Superaram nossas expectativas — disse Mihai, satisfeito.

— Continuem trabalhando juntos, e talvez, quem sabe, possamos um dia lutar sério! — acrescentou Hitoshi, com um tom amistoso, mas desafiador.

Takashi e Kuroda, ainda ofegantes, apenas acenaram com a cabeça, exaustos demais para responder. Eles haviam dado tudo de si, mas ainda estavam longe de alcançar seus mestres.

***

De volta aos seus quartos, o humor dos dois era incompatível.

— Droga! Estávamos tão perto! — lamentou Kuroda, pressionando o travesseiro contra o rosto em frustração.

— Nunca tivemos chances de vencer... Estou só feliz por estarmos vivos — disse Takashi, relaxando no colchão, finalmente se permitindo descansar.

Kuroda, ainda incomodado por ter abandonado Takashi no início do combate, e por sua atitude desleixada durante os últimos dias, sentou-se e olhou para o amigo com um olhar sério.

— Desculpa por ter deixado você na mão, não só hoje, mas também no treinamento... Eu devia ter levado mais a sério.

Takashi, sem hesitar, respondeu com um sorriso:

— Está tudo bem. Eu não acho que teria feito tanta diferença se você tivesse treinado comigo ou não. No fim, você me ajudou quando eu mais precisei.

— Não... — Kuroda suspirou, sua voz pesada com arrependimento. — Eu vi o quanto você se dedicou nesses últimos dias. Suas habilidades melhoraram muito. Não acho que você me superou, mas... Se eu tivesse me esforçado tanto quanto você, o resultado de hoje poderia ter sido um pouco diferente.

Takashi sorriu novamente, mais leve dessa vez.

— Parece que nenhum de nós venceu. E agora? O que irá fazer?

Kuroda, lembrando-se de seu desafio, e sobre a identidade de Takashi, suspirou com um leve toque de vergonha.

— Acho que foi um empate. Então... vou me dedicar mais ao meu treinamento, e você...  tente relaxar um pouco! Pelo menos, de vez em quando.

— Combinado! — respondeu Takashi, com um brilho nos olhos.

Assim, o primeiro passo de uma amizade genuína e inesperada começou a se formar entre os dois.

***

Conforme os anos passavam, Takashi e Kuroda, agora jovens adultos, começaram a perceber as mudanças em seus corpos e em suas emoções. Alguns questionamentos sobre as regras e condutas da irmandade surgiram conforme o senso crítico e rebelde evoluía.

— Por que não há mulheres entre nós? — perguntou Kuroda, encarando o líder com ceticismo.

O líder friamente respondeu:

— Para evitar distrações. Os laços que poderiam ser criados poderiam enfraquecer a irmandade, ou pior, fazer com que alguns de vocês escolhessem outro caminho, longe dos assassinatos.

Takashi assentiu, aceitando a explicação, mas Kuroda, sempre mais rebelde, não ficou satisfeito.

Em seus quartos, os dois ainda debatiam sobre o assunto.

— Isso é ridículo! — exclamou Kuroda. — Isso não faz sentido. Poderia até ser considerado machista, não acha?

— Relaxa, Kuroda! Está exagerando. Está tão desesperado para se relacionar com alguém assim?

— Não se trata disso. Mas manter um grupo só de homens... Todos alienados... Acha isso normal?

— E se fossem apenas mulheres? Acha que seria diferente? — rebateu Takashi, com um leve sorriso provocativo.

Kuroda, irritado, jogou-se na cama.

— Não importa. A verdade é que somos todos idiotas por seguir essas regras cegamente.

Takashi se aproximou, trancando a porta atrás de si e tirando sua máscara, revelando um semblante pensativo.

— Pense, Kuroda. Se houvessem mulheres, a maioria dos nossos irmãos estariam mais preocupados em cortejá-las do que em seus próprios assassinatos. Sabe como as mulheres distraem os homens mexendo com seus sentimentos...

Kuroda o encarou com intensidade.

— Acha mesmo que apenas as mulheres tem essa habilidade?

O ambiente ficou mais pesado. A discussão parecia ter um tom subjacente, algo mais profundo do que o debate sobre regras. O silêncio entre eles foi quebrado quando Kuroda, sem aviso, se aproximou de Takashi e o beijou.

Takashi foi pego de surpresa. Sua primeira reação foi de choque, quase empurrando Kuroda, mas algo estranho se formava em seu interior. Uma curiosidade, um desejo inexplicável que crescia. Por um momento, ele ficou paralisado, seus pensamentos em conflito.

Quando Kuroda se afastou, envergonhado, sua respiração ofegante denunciava o nervosismo do momento. O silêncio entre eles durou poucos segundos, mas parecia uma eternidade. Takashi, ainda confuso, tomou uma atitude impulsiva. Segurou Kuroda pelo pescoço e o beijou de volta, com mais intensidade.

O desejo dos dois explodiu de uma maneira que nenhum deles havia previsto. Enquanto se entregavam ao momento, seus corpos se moviam com uma curiosidade mútua, desnudando-se e explorando um ao outro, ardendo em um misto de desejo e confusão. As perguntas que rondavam suas mentes não precisavam de respostas naquele momento. Era o puro instinto que os guiava.

***

Horas mais tarde, enquanto Kuroda dormia tranquilamente na cama, Takashi, ainda inquieto, decidiu que precisava de respostas. Ele precisava falar com Hitoshi, seu mestre.

Caminhou pelos corredores silenciosos da irmandade, seu coração acelerado. Ao chegar ao quarto de Hitoshi, abriu a porta lentamente e seu mundo desmoronou. Hitoshi estava no chão, sufocando, seus olhos arregalados e sua boca suja com um líquido escuro.

Takashi correu até ele.

— MESTRE! — gritou Takashi, desesperado, enquanto tentava levantá-lo.

Colocando-o na cama, Takashi percebeu o pequeno frasco de veneno no chão. Ele sabia o que significava. Hitoshi havia escolhido esse momento para passar o manto, para forçá-lo a enfrentar a decisão final que todo sucessor deveria fazer.

— É assim que você queria me passar o manto? — Takashi gritou, lágrimas enchendo seus olhos. — Acredita mesmo que eu vou aceitar isso?

Mas Hitoshi não podia mais responder. Seus olhos se reviraram, seu corpo convulsionava. Ele segurou o braço de Takashi com uma força desesperada, implorando por seu fim. O veneno o consumia lentamente, de forma cruel. Takashi sabia que não havia outra saída.

Lentamente, com o coração dilacerado, colocou as mãos em torno do pescoço de seu mestre. A morte veio rápida, mas a dor permaneceu, se cravando fundo no coração de Takashi.

Na manhã seguinte, a irmandade foi informada da morte de Hitoshi. O líder fez o anúncio com gravidade. Kuroda sabia que deveria dar espaço a Takashi. Ele havia perdido mais do que um mestre; havia perdido um pedaço de si mesmo.

Takashi, consumido pela culpa e pela dor, se isolou. A imagem de Hitoshi sufocando, o peso de suas próprias mãos ao tirar a vida de seu mestre, repetiam-se em sua mente sem cessar. Ele sabia que era a tradição, sabia que isso era inevitável, mas nada poderia apagar o horror do ato.

Decidido a enterrar seus sentimentos, mergulhou ainda mais fundo na irmandade, usando sua devoção como uma fuga. Treinava até a exaustão, com uma frieza que não havia existido antes. Seu objetivo era claro: esquecer. Mas a cada flecha disparada, a memória de Hitoshi morrendo em seus braços retornava, mais viva do que nunca.

Enquanto isso, Mihai, que também sentia o peso da perda, se isolou no Hall dos Contratos.

O luto que o dominava era sombrio, e a escuridão que crescia em seu coração começava a transformá-lo em alguém irreconhecível. O homem que outrora liderava a irmandade com firmeza e carisma, agora se fechava, permitindo que a dor corroesse o que restava de sua humanidade.

Seus olhos se tornaram negros, tão escuros quanto o vazio que consumia dentro de si. Mihai estava morto.



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