Volume 1 – Arco 2

Capítulo 15

Chegando até a Câmara dos Contratos, Takashi encarou a entrada. Uma passagem estreita separava a câmara do corredor onde ele estava. Apesar da tocha ao seu lado, a luz falhava em atravessar a passagem, deixando a câmara envolta em uma escuridão profunda e opressiva.

Takashi respirou fundo, sentindo o cheiro de umidade e algo mais, um odor adocicado e podre que o fazia arrepiar. Com um leve tremor nos músculos, decidiu entrar.

Era sua primeira vez ali.

A passagem era o único ponto de luz capaz de guiá-lo naquela imensidão negra, mas logo desapareceu, e ele se viu mergulhado em um vazio de escuridão sem fim. A sensação de estar sendo observado começou a crescer, como se olhos invisíveis o seguissem, observando cada movimento seu.

Em poucos segundos, a paranoia tomou conta de sua mente. Seus olhos não se acostumavam com a escuridão, tornando-se um labirinto de formas indistintas. Ele se perguntava se sua própria mente não estava tentando lhe pregar uma peça. As sombras dançavam nas bordas de sua visão, e ele se viu perdido em pensamentos desesperados.

Sentindo-se tonto, Takashi caiu de joelhos, as mãos tremendo à procura do chão. Um desespero gelado começou a percorrer seu corpo, e o eco de sua respiração parecia mais alto do que o normal, como se a própria escuridão estivesse absorvendo todo som ao seu redor.

Então, uma voz grave ecoou pela Câmara, ressoando em sua própria mente, como se a própria câmara estivesse viva. O timbre da voz carregava um peso, como se as paredes tivessem vida própria, prontas para devorá-lo.

— Takashi! O sucessor do Flecha Fantasma. Seu retorno foi mais repentino do que o esperado... Você concluiu seu primeiro contrato?

O ar parecia pesar, e Takashi se esforçou para encontrar coragem.

— É sobre isso que vim falar com você, líder — disse ele, com  a voz trêmula. — Houve um engano.

— O que faz você fazer essa acusação? As informações não eram precisas a respeito da localização dos alvos?

A Câmara começou a tremer, e o chão vibrou sob seus joelhos, como se o próprio espaço estivesse se irritando. A sensação era de que as paredes estavam se fechando, apertando-o contra o chão.

— Os alvos do contrato eram Erina Waltz e Kenshiro Torison. Duas pessoas desaparecidas de famílias importantes que deveríamos vigiar e proteger.

O tremor cessou abruptamente, e um silêncio mortal tomou conta do vazio. Takashi sentiu o peso de um olhar invisível, como se uma presença estivesse avaliando suas palavras.

— Você disse... Waltz? — a voz soou agora mais intensa, carregada de uma curiosidade sinistra.

Com o silêncio tomando conta daquele vazio, Takashi, dominado pelo medo, ajoelhou-se em respeito, ou talvez em pavor, ao seu líder.

— Peço humildemente que o contratante seja revelado e questionado.

— Sim... Faremos isso...

Uma luz fraca e avermelhada surgiu, revelando um poço de pedra. Takashi se aproximou, a mente ainda confusa, e olhou para a água. Em um instante aterrorizante, teve uma visão que o paralisou.

Um cadáver de criança emergiu da água. Sua pele, esverdeada e inchada, cabelos longos e acinzentados, exalava o fedor de peixe podre. Os olhos sem vida da criança o encaravam, fixos em um vazio sem fim, e Takashi sentiu um nó na garganta.

Takashi tentou se afastar, mas uma figura sombria segurou sua cabeça, forçando-o a encarar a água. O desespero invadiu sua mente, e ele percebeu que deveria saciar suas dúvidas.

— Quem foi o contratante? — sua voz saiu como um sussurro, quase um grito abafado.

Os olhos da criança se fixaram em Takashi. Ao abrir a boca, bolhas de ar escaparam, e uma voz sussurrante, como o vento cortante, começou a responder.

— Fui eu...

— E quem é você? — implorou Takashi, desejando que aquilo acabasse. A sensação de sufocamento crescia, como se a água ao redor estivesse tentando puxá-lo para dentro.

— Eu sou o Rei...

O corpo da criança começou a se decompor diante dele.

Os cabelos cinzentos desprendiam-se, a pele e a carne se separavam dos ossos, e os olhos saltavam das órbitas. Cada pedaço de carne, cada traço de vida, foi pulverizado, sobrando apenas o esqueleto, e a visão era tão grotesca que Takashi teve que fechar os olhos, tentando afastar a imagem da mente.

Takashi, traumatizado e implorando para que sua própria mente não recordasse aquela visão terrível, fez sua última pergunta.

— Mas qual Rei é você? — sua voz tremia, e ele temia a resposta.

O silêncio se instalou, e a sombra que o segurava desapareceu, deixando-o livre. Takashi se ergueu, percebendo que a luz da Câmara dos Contratos havia retornado, revelando seu verdadeiro tamanho. No entanto, a entrada pela qual viera ainda estava sumida.

Confuso e apavorado, Takashi começou a procurar seu líder em vão. Não havia ninguém ali, exceto ele mesmo.

Em um piscar de olhos, inúmeros corpos apareceram no chão, todos de assassinos, irmãos e conhecidos. Os assassinos responsáveis pela primeira onda.

E tão rapidamente quanto surgiram, eles desapareceram diante de seus olhos, como se nunca tivessem existido.

Aquela Câmara era visivelmente mágica, mas sua magia era incompreensível e confusa, parecendo apenas querer causar medo, desconfiança e terror. Não parecia capaz de realmente lhe causar mal, mas Takashi sabia que, se sua mente fosse posta à prova, ele perderia.

Amedrontado, Takashi sacou seu arco. Não procurava mais seu líder; acreditava que seu arco poderia ser sua única saída dali, o último vestígio da orientação de seu mestre para guiá-lo à sobrevivência.

Mas apenas a monotonia do nada respondeu.

Os corpos dos assassinos mortos retornaram, mas aquilo não seria suficiente para quebrar a mente de Takashi. Então, as paredes e o chão da Câmara começaram a escurecer, ameaçando lançá-lo novamente naquele vazio sem fim.

Aquilo já seria o suficiente para destruí-lo, mas, ainda assim, quando a escuridão tocou os corpos de seus irmãos mortos, eles começaram a se erguer, transformando-se em sombras, completamente obscurecidos.

Temendo que a escuridão pudesse fazer o mesmo com ele, Takashi subiu sobre o poço, a adrenalina correndo em suas veias, o coração acelerando descontroladamente.

As sombras avançavam lentamente em sua direção, braços erguidos, tropeçando em seus passos. Pareciam vítimas clamando por socorro, e uma onda de tristeza o invadiu. Ele se lembrou de seus irmãos, dos momentos que compartilharam, e essa lembrança se transformou em um peso em seu coração.

Embora Takashi estivesse com o arco armado, ele não disparou nenhuma flecha. A compaixão o prendia, mesmo em meio ao terror.

Então, o esqueleto da criança ergueu-se do poço, agarrando-o por trás e mergulhando-o na água. A frieza do líquido o envolveu, e o desespero o invadiu.

— O Rei dos Ratos... — respondeu a voz sussurrante, agora mais próxima, como se estivesse dentro de sua mente.

Takashi não prestou atenção; estava se afogando, perdendo a consciência. O arco escapou de suas mãos, afundando no abismo. O frio e a escuridão se misturaram, e ele se sentiu cada vez mais distante da realidade.

A Câmara dos Contratos voltou a mergulhar na escuridão, e a passagem surgiu novamente, como se tudo tivesse sido apenas um pesadelo.

***

Percebendo que seus irmãos queriam matá-lo e que dois desconhecidos estavam o protegendo, Kuroda entendeu a quem deveria confiar. Ele decidiu abandonar sua família para se juntar ao grupo de Kenshiro e Erina, mas a dúvida sobre a aceitação de Takashi o inquietava.

Então um pensamento assustador veio em sua mente.

— Takashi! — disse Kuroda, aflito, a voz quase falhando.

Tomado por um impulso incontrolável, Kuroda se desprendeu de Erina, correndo na direção dos assassinos. Ele era mais ágil do que aparentava, desviando de todos os ataques e investidas que sofria, aproveitando para cortar algumas gargantas em seu caminho. Talvez seu verdadeiro potencial só se liberasse em momentos de crise.

Após desviar dos assassinos, com o caminho livre à sua frente, ele correu em disparada, sem olhar para trás. Ninguém se atreveu a persegui-lo.

— Kuroda! Espera! — gritou Erina, a preocupação evidente em sua voz.

— Tarde demais! Precisamos passar por esses assassinos agora! — respondeu Kenshiro, com a respiração pesada.

A passagem estreita, que antes impediu os assassinos de cercá-los, tornara-se uma barreira, impedindo-os de alcançar Kuroda e Takashi.

— Seus desgraçados... — murmurou Erina, os dentes serrilhados. — SAIAM DA MINHA FRENTE!

Determinada, Erina disparou para frente, empurrando os assassinos para trás, conseguindo matar alguns pela força de seu impacto. A fúria a transformava em uma força avassaladora.

Fora da estreita passagem, mas agora cercados, Erina equipou seu elmo retrátil, decidida a acabar com aqueles assassinos da maneira mais rápida possível, sem se importar com a chacina que faria.

— Vamos mesmo fazer isso? — perguntou Kenshiro, percebendo a intensidade da raiva de sua esposa.

— Finalmente teremos nosso treino prático — disse Erina, com um sorriso sádico, que revelava sua determinação.

***

Chegando à Câmara dos Contratos, Kuroda adentrou a escuridão sem pensar. Rapidamente, a passagem se fechou atrás dele, deixando-o em um vazio interminável.

— Takashi! Takashi, cadê você?! — gritou, a voz ecoando sem resposta.

Perdido no vazio, ele clamava pelo nome de seu amigo. Sua mente não parecia se quebrar, independentemente do tempo que permanecia ali.

Uma luz fraca e vermelha surgiu, iluminando um poço. Ao lado, atirado no chão, estava o corpo de Takashi.

Kuroda correu em disparada para alcançá-lo, mas o som rápido de uma lâmina cortando o ar pôde ser ouvido atrás dele.

Estando próximo de alcançar Takashi, suas pernas cederam, fazendo-o cair. Sem dar a devida atenção ao que o cercava, Kuroda começou a rastejar até seu amigo. Sua visão ficou turva, e suas forças desapareciam conforme se aproximava.

Finamente, percebeu uma ardência sutil em suas costas, mas não podia dar importância para aquilo agora. Seu amigo estava em perigo, e ele precisava salvá-lo. Estava muito próximo dele para desistir.

— Takashi... Eu... estou... quase... lá... Eu... — sussurrou ele, sua voz cheia de desespero.

Então, Kuroda paralisou, sua visão se dissipou no vazio.

***

Do lado de fora da caverna, Xin aguardava pacientemente. Embora tivesse sido ordenada por Erina a permanecer lá, havia uma cláusula que a permitia entrar “quando julgasse ser necessário.” Felizmente, pela demora que estavam tendo, Xin decidiu que era necessário conferir.

Por precaução, retirou sua arma da cintura, um chicote disfarçado como cinto



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