Volume 1 – Arco 1
Capítulo 9.2: Família Waltz*
LEIA COM ATENÇÃO:
Caro leitor,
Este é um capítulo especial e opcional. Não é necessário lê-lo para seguir a história principal. Esses capítulos extras têm como objetivo aprofundar determinados temas como: personagens, grupos ou eventos, e em alguns casos, exploram histórias que não são cruciais para a trama central.
Neste capítulo (Capítulo 9*), você acompanhará a infância de Kenshiro Torison até o "Incidente dos Descendentes."
- 1 - Infância em Aeterna
- 2 - Família Waltz
- 3 - Convidada
- 4 - A Capital
- 5 - Incidente
2 - Família Waltz
Enquanto treinavam, os cadetes foram notificados sobre um evento importante que ocorreria nos próximos dias. Eles receberiam a visita da família de magos de cura, os Waltz.
— Por que é tão importante a visita desses magos? — perguntou Kenshiro, desinteressado.
— Você não entende? — replicou Anna. — É a primeira vez que eles pedem para visitar uma academia! Talvez eles tenham finalmente decidido tomar partido nesta guerra!
— Silêncio, todos! — pediu um dos professores da academia. — Devo também informá-los que, para a segurança da família Waltz, o Império enviou o herói Noah, conhecido como "a Mancha", para Aeterna.
As mãos de Anna começaram a tremer, sua respiração ficou ofegante, e ela então desmaiou.
Ao acordar na enfermaria da academia, Kenshiro e Oliver estavam sentados ao lado de sua cama, esperando por ela.
— Seu tombo foi feio! — disse Oliver, entregando-lhe um copo d'água.
— Desculpe... Faz muito tempo que não vejo meu pai. Achei que só o veria quando ele viesse me buscar para a Capital.
— Talvez isso ainda aconteça — disse Kenshiro, tentando animar sua amiga.
— Acho que não — respondeu Anna, levantando-se da cama. — Acho que ele só queria ver seu velho amigo...
— Amigo? — questionaram os dois garotos, surpresos.
— Sim. Antes de Henri se tornar tão radical em relação à sua família e aos lados da guerra, ele e meu pai eram amigos. Meu pai só quis se tornar um herói imperial por causa dele...
— E o que aconteceu? Como eles se afastaram tanto? — perguntou Oliver, intrigado.
— Acho que foi o tempo... — explicou Anna. — Quando cresceram, cada um tinha seus próprios sonhos e objetivos. Mas, mesmo distantes, isso não significa que se odeiam.
Sentindo-se um pouco melhor e mais calma, Anna decidiu melhorar seu desempenho físico nos poucos dias que lhe restavam para impressionar seu pai.
***
Finalmente, o grande dia chegou.
Todos os cadetes estavam em formação, esperando pacientemente pela chegada da família Waltz e do herói Noah.
De repente, uma estranha criatura começou a sobrevoar o céu. O dia estava claro e sem nuvens, tornando fácil a visualização da criatura negra. Alguns, assustados, imaginaram que poderia ser um dragão; outros cogitaram em um fenômeno astronômico sobrenatural. Até mesmo Kenshiro e Oliver ficaram apreensivos, sem conseguir explicar o fenômeno.
Então, Anna rompeu a formação e gritou, cheia de euforia:
— Pai!
A criatura desceu lentamente dos céus, revelando sua verdadeira forma antes de pousar. Era um humano alto e forte, carregando consigo a armadura e os símbolos imperiais.
Noah foi recebido com um abraço caloroso por sua filha. Embora evitasse demonstrar afeto em público, a saudade de sua família o fez abraçá-la e erguê-la do chão.
— Como você cresceu! — disse Noah, sorrindo alegremente.
Depois de girá-la no ar, ele a colocou no chão. Anna, então, fez uma reverência imperial, como um cadete deveria cumprimentar seu oficial.
— Peço desculpas pela minha conduta indevida, senhor — disse Anna, com firmeza. — Sugiro uma punição de três dias na solitária.
Impressionado pela disciplina de sua filha, Noah tentou responder como um oficial, embora de forma desajeitada.
— Desculpas aceitas. Eu... desaprovo tal punição.
— Herói Noah, estamos honrados com sua presença — disse um professor. — Por favor, diga-nos como devemos nos comportar em relação aos Waltz.
— Apenas ajam como de costume — respondeu Noah. — Henri não é fácil de enganar. Se ele perceber que estão sendo mais respeitosos apenas para impressioná-lo, ele considerará uma ofensa e partirá imediatamente!
— Mas, senhor... Hoje o treino seria livre. Os cadetes poderiam escolher qualquer atividade, até brincadeiras infantis...
— Então assim será! Estão todos livres! — gritou Noah, abrindo os braços.
Os cadetes, a maioria menores de quinze anos, gritaram de emoção e se espalharam pelo pátio da academia. Os professores, nervosos e apreensivos, tiveram de confiar nas orientações do herói, mesmo que relutantes.
— Seu pai parece ser bem legal... — sussurrou Oliver no ouvido de Anna.
— Sim, ele é! — respondeu Anna, com um sorriso largo e os olhos brilhando.
***
Poucas horas depois, uma carruagem foi avistada ao longe, se aproximando da cidade.
A carruagem, verde com detalhes dourados, era escoltada por duas dezenas de soldados fortemente armados. Os cavalos vestiam trajes pomposos e ornamentados, refletindo a riqueza da família Waltz.
Finalmente, a família Waltz chegou.
Embora fossem crianças, a maioria das brincadeiras dos cadetes era disciplinar, parecendo mais um grande treinamento coletivo. Escalada, pique-pega, luta de espada, tiro ao alvo, cabo de guerra, entre outras atividades, preenchiam o pátio da academia.
Anna, ansiosa para passar o máximo de tempo possível com seu pai, o espiava constantemente. Oliver e Kenshiro, sem outros amigos, observavam-na, intrigados com sua empolgação incomum.
Noah aguardava na entrada da academia, esperando a porta da carruagem se abrir.
Henri Waltz abriu a porta com elegância. Desceu da carruagem como se estivesse incomodado com o ar da cidade, mas ao ver Noah, não pôde evitar um pequeno sorriso.
Henri era um homem calvo, com a cabeça lembrando a forma de um ovo. Seu grande bigode loiro fazia uma curva no ar, enquanto seu cavanhaque tímido ainda crescia. Ele não tinha o físico de um guerreiro, e o simples vento parecia um adversário para ele. Seus olhos verde-esmeralda eram a marca registrada de sua família.
Henri estendeu a mão para cumprimentar seu antigo amigo, mas foi surpreendido por um abraço apertado. Noah só o soltou quando a esposa de Henri desceu da carruagem.
Caterina Waltz, tímida e envergonhada, era uma mulher de beleza extraordinária. Seu longo cabelo castanho descia até quase tocar o chão, como um véu. Seu rosto, frágil e delicado, estava marcado por hematomas, um beiço inchado e um olho roxo.
Decepcionado com seu amigo, Noah soltou Henri e fez uma reverência cordial a Caterina, tentando demonstrar que, apesar de ser amigo de Henri, não concordava com sua conduta.
— Venha, filha, não seja tímida — disse Caterina, ajoelhando-se à porta da carruagem e estendendo a mão para o interior.
Uma pequena mão surgiu, precisando da ajuda da mãe para descer.
— E quem é essa doce criança? — perguntou Noah, encantado com a beleza da menina.
— Esta é Erina Waltz — respondeu Caterina, permitindo que o herói visse a criança com mais clareza.
Erina carregava traços de ambos os pais. Seu cabelo castanho era longo, mas estava preso de forma formal. Seus olhos verde-esmeralda refletiam a herança de seu pai. O rosto, com traços idênticos aos da mãe, mostrava como Caterina seria sem seus hematomas e feridas. Erina parecia um pequeno e delicado anjo.
— Não só demorou para engravidar — disse Henri, grosseiramente —, como quase a perdemos no parto. Se não fosse pela minha magia, eu seria o último da minha linhagem! Consegue imaginar?
Henri tomou a filha dos braços da mãe, colocando-a no chão para que andasse sozinha.
Caterina, triste e envergonhada, cruzou os braços e seguiu o marido, com a cabeça baixa.
— Vamos, deixe-me mostrar a academia — disse Noah, desconfortável.
De longe, Os três jovens cadetes tentavam observar a imponência da família Waltz, mas viam apenas uma família de nobres pomposos.
— Eu queria escutar o que eles estão falando — reclamou Anna.
— Já sei! Por aqui — disse Oliver, guiando o grupo por um caminho escondido que os levava até o telhado de algumas casas.
Algumas palavras agora podiam ser ouvidas, mas ainda não eram compreendidas o suficiente para que entendessem o significado da conversa.
Então, uma pequena discussão pareceu se iniciar entre o casal. A mulher tentou afastar sua filha do marido, mas foi advertida quando o mesmo tentou golpeá-la com um soco.
Assustada, a pequena criança começou a correr de volta para a carruagem, enquanto o marido continuava a agredir sua esposa com tapas, socos e chutes. Nenhum soldado, oficial, nem mesmo Noah teve coragem de intervir.
Anna ficou inconformada com a falta de atitude de seu pai, até que Kenshiro chamou sua atenção.
— Onde está a carruagem? — perguntou Kenshiro.
— Onde está a criança?! — perguntou Oliver.
Os três começaram a procurar atentamente, até que Anna viu dois homens suspeitos carregando um barril que se debatia até uma carroça de comércio. Foi então que ela percebeu.
— A criança foi sequestrada! Vou avisar meu pai!
— Vá! Nós vamos ganhar tempo! — respondeu Oliver, ao notar que os homens estavam com pressa para fugir.
Oliver e Kenshiro correram pelos telhados para alcançar os muros da cidade. A carroça começara a acelerar, procurando atravessar o portão da cidade. Percebendo que não conseguiriam chegar a tempo, Kenshiro pegou uma pequena faca cega, que ficava presa em sua cintura, e a arremessou em direção ao mecanismo que controlava as grades do portão, acertando-o. As grades desceram violentamente, ficando entre os cavalos e o condutor, prendendo completamente a carroça.
— O que diabos aconteceu?! — perguntou um dos sequestradores.
— O que importa? Temos que sair daqui o quanto antes! — disse o outro.
Os dois correram para a parte de trás da carroça para levar o barril.
— Parados aí, bandidos! — disse Oliver, sacando sua espada.
— Vocês estão presos! — disse Kenshiro, com a espada já erguida.
Os sequestradores começaram a rir, sacando suas pequenas facas. Estavam irados, mas ansiosos para machucar aqueles que tentaram frustrar seus planos.
Kenshiro e Oliver atacaram com disciplina e técnicas dignas de espadachins. No entanto, suas espadas eram falsas, pouco mais que pedaços de madeira. As facas dos bandidos, embora não causassem ferimentos profundos, machucavam as duas crianças. Em pouco tempo, Kenshiro e Oliver foram derrotados, com marcas de arranhões e cortes em seus corpos.
— Desgraçados! Vão se arrepender por terem brincado com adultos! — disse um dos sequestradores, pronto para enfiar a faca na barriga de Oliver.
Então, todo o mundo foi dominado por uma enorme escuridão. Kenshiro e Oliver desapareceram, como se o próprio chão os tivesse engolido. O medo tomou conta dos dois bandidos, que ao olharem para trás, viram uma criatura demoníaca e sombria. Seus gritos foram rápidos, mas horripilantes.
Anna viu seu pai utilizar seus poderes, mas mesmo vendo com clareza, não conseguiu entender exatamente o que havia acontecido. Seu pai derrotara os dois sequestradores quase instantaneamente, roubando a luz do local e trazendo-a de volta.
Noah estava com os dois garotos em seus braços e os entregou a um soldado.
— Por favor, leve-os para a enfermaria — disse Noah, enquanto seus olhos negros voltavam ao azul natural. — Anna, por favor, vá com eles também.
Sem outras opções, Anna obedeceu a seu pai.
***
Na enfermaria, Anna aguardou pacientemente até que seus amigos despertassem. Kenshiro foi o primeiro.
— Ai... minha cabeça está doendo tanto... — disse Kenshiro.
— Kenshiro! Que bom que você acordou! — comemorou Anna, acariciando o rosto do amigo.
— Isso aconteceu porque... — resmungou Oliver, despertando — você não desviou daquela joelhada...
— Oliver!
Aliviada ao ver que seus amigos estavam bem, Anna voltou a agir como de costume.
— SEUS IDIOTAS! — disse Anna, beliscando as bochechas dos dois. — Que ideia de jerico foi aquela?! Se tivessem avisado meu pai na mesma velocidade que tentaram se matar, nada disso teria acontecido!
— Se demorássemos um pouco mais... a carroça teria passado pelo portão — resmungou Oliver, ainda tonto.
— Sim. Isso mesmo... você está sendo muito dura, Anna — disse Kenshiro.
— E vocês acham que meu pai não encontraria a carroça mesmo depois que partisse?!
Kenshiro estava com fortes dores de cabeça e cortes nos braços. Embora a imobilização fosse desnecessária, ele era uma criança muito agitada e, por isso, precisava ser detido para não atrapalhar sua própria recuperação. Oliver, apesar de ter se saído melhor que Kenshiro, estava tonto e quase desmaiando. Seu físico era péssimo, com pouco fôlego e resistência, uma característica de nascença e sua principal fraqueza.
Talvez Anna fosse a mais indicada para enfrentar os bandidos, pois era a melhor espadachim da academia, capaz de derrotar até adultos em combates sérios. No entanto, ela era sempre a mais lógica e menos impulsiva, por isso raramente brigava.
Os três foram surpreendidos quando uma quarta criança apareceu. Era a própria Erina Waltz.
— Senhorita! — disse Anna, surpresa, tentando fazer uma reverência cordial.
— Senhorita! — gritaram Kenshiro e Oliver em seguida.
Os dois tentaram pateticamente replicar a reverência, mas falharam miseravelmente.
— Eh, cadetes? — disse Erina, fazendo uma reverência digna da realeza.
Erina estava visivelmente tímida e nervosa; pensando tanto nas palavras que queria dizer que acabou causando um silêncio desconfortável na enfermaria.
— Está tudo bem, senhorita? — perguntou Anna.
— Eu gostaria de agradecer — respondeu Erina, mexendo nervosamente os dedos —, e me desculpar pelo ocorrido. Se não fosse por mim, vocês não teriam sofrido por isso.
— Bem... você poderia nos curar? — perguntou Oliver, de forma despreocupada.
— OLIVER! — gritou Anna.
— Eu não posso... — respondeu Erina.
Os cadetes olharam para Erina, confusos. Oliver concluiu que ela era mesquinha, como sua família a queria, e que só estava ali para não "dever" nada. Kenshiro, por outro lado, teve outra linha de pensamento.
— Você deve estar apenas atendendo ao pedido de seu pai... — disse Kenshiro. — Vocês não podem curar nenhum soldado, não é? Mas não se preocupe! Foram só alguns arra...
— Não. Eu não posso mesmo... — respondeu Erina.
Surpreendidos, os três cadetes ficaram espantados ao verem Erina derramar algumas lágrimas.
— Eu nunca consegui curar nem mesmo um único arranhão na vida. Meu pai acha que minha mãe o traiu ou que foi um fracasso ao me conceber...
Percebendo a complexidade da situação de Erina, Anna tentou confortá-la.
— Não, não. Você é só uma criança. Não seja tão dura consigo mesma! Veja, por exemplo, eu sou a melhor cadete desta escola, mas nenhum homem se interessa por mim por causa do meu jeito de ser! Espero ao menos ter um pretendente no futuro!
— É... — disse Kenshiro, tentando participar do reconforto. — Eu sou um dos piores espadachins desta academia! Estou sempre na enfermaria precisando ser enfaixado! É um milagre eu ainda não ter sido dispensado...
Anna e Kenshiro olharam para Oliver, esperando sua versão.
Depois um longo suspiro, Oliver decidiu compartilhar:
— Sou um prodígio e quase um gênio entre os demais, mas ninguém me leva a sério por causa da minha idade.
Decepcionados, os dois encararam seu amigo com desaprovação.
— O que foi? — perguntou Oliver.
— É sério? — perguntou Anna. — Você não vai mencionar sua baixa resistência física?
— Ou seus sonos frequentes? — acrescentou Kenshiro.
— Ou sua falta de interesse em ler, mesmo sendo um "gênio"?
— Tá bom, tá bom! Chega! — reclamou Oliver.
O entusiasmo dos três foi suficiente para arrancar uma pequena risada em Erina, deixando-os um pouco envergonhados ao testemunharem tamanha fofura.
— Eu... gostaria de tentar mais uma vez... — disse Erina, com um leve tremor na voz.
Percebendo a verdadeira intenção de Erina, Anna recuou, permitindo que ela se posicionasse entre Kenshiro e Oliver, segurando as mãos deles. Erina fechou os olhos, respirou fundo e começou a murmurar palavras em um dialeto antigo e esquecido. Estava pronta para tentar novamente.
Foi então que a porta da enfermaria se abriu com força, e Henri entrou bruscamente.
— Chega dessa academia inútil! Vamos para casa! — declarou Henri.
Ao notar o que sua filha estava tentando fazer, ele parou por um momento, lançando-lhe um olhar de desaprovação. Erina hesitou e soltou as mãos de Kenshiro e Oliver.
— O. Que. Você. Pensa. Que. Está. Fazendo?
A voz de Henri, fria e pausada, mergulhou Erina em uma crise de pânico, desorganizando sua respiração. Impaciente e zangado, ele ignorou os cadetes e agarrou o braço de Erina, forçando-a a acompanhá-lo.
— Por favor — pediu Erina, com a voz fraca —, não bata mais na mamãe...
Henri se virou abruptamente e desferiu um tapa no rosto de sua filha, forte o suficiente para derrubá-la no chão.
— Sua mãe? Aquela mulher me deu uma filha imprestável... Vou puni-la severamente quando voltarmos para casa — declarou Henri, olhando para Erina com desdém. — E você, menina, não vai escapar. Irei discipliná-la até que consiga curar alguém...
Erina, com lágrimas nos olhos, encarou o pai. Mas, em vez de tristeza, havia uma chama de raiva em seu olhar. Determinada, ela se levantou sozinha e empurrou Henri, fazendo-o cair.
Agora livre, Erina voltou para o lado de Kenshiro e Oliver, determinada a curá-los. Com os olhos fixos em seu pai, ela conjurou uma pequena aura esverdeada ao redor deles, que começou a envolver os corpos dos cadetes.
Ao perceber que a magia estava finalmente funcionando, Henri tentou intervir, mas Anna se colocou à sua frente, de braços abertos.
— Uma vez iniciado um procedimento na enfermaria, é proibido interrompê-lo! — declarou Anna com firmeza.
Henri levantou a mão, prestes a agir.
— Preciso lembrá-lo de quem é o meu pai, Henri?
Mas já não fazia diferença. A aura esverdeada havia desaparecido. Erina, confiante no resultado, deixou a enfermaria sem olhar para trás.
Kenshiro, o mais ansioso, foi o primeiro a retirar suas ataduras, constatando com surpresa que seus ferimentos estavam completamente curados. Oliver, incrédulo, seguiu o exemplo e ficou maravilhado ao ver o que a magia havia realizado.
Os dois garotos comemoraram, enquanto Henri, mais desequilibrado do que nunca, deixou a enfermaria com passos firmes, apenas para ser confrontado por Noah na porta. O imponente herói bloqueou sua passagem e, ao perceber que as crianças estavam bem, pediu respeitosamente, mas com firmeza:
— Crianças, por favor, deixem-nos a sós. Eu e o senhor Henri temos alguns assuntos a tratar.
Os três cadetes saíram e fecharam a porta, mas Anna permaneceu próxima, ouvindo a conversa do lado de fora, enquanto Kenshiro e Oliver correram ao encontro de Erina para agradecê-la.
***
Erina já estava na carruagem com sua mãe. Cercada pelos guardas, ela abriu uma pequena janela ao ouvir os gritos animados dos meninos. Sorriu ao ver a empolgação deles.
Anna apareceu logo depois, triste e cabisbaixa, mas disfarçou ao ser questionada pelos amigos. Atendendo ao pedido de sua filha, Caterina permitiu que Erina saísse da carruagem para se despedir.
— É bom ver que vocês estão bem! — disse Erina, ainda emocionada.
— Tudo graças a você! — exclamou Kenshiro, levantando a manga do braço para mostrar o local onde estava ferido anteriormente.
— Você foi muito corajosa ao enfrentar seu pai... — comentou Anna, colocando uma mão solidária sobre o ombro de Erina.
— Eu só tentei imitar você... — respondeu Erina.
Anna corou tanto que seu rosto ficou visivelmente vermelho, provocando risos e piadas de Kenshiro e Oliver, rapidamente rebatidas com socos e chutes de Anna.
Pouco depois, Henri voltou e, mais controlado, pediu educadamente que Erina retornasse à carruagem, pois tinham um longo caminho até casa. Erina obedeceu, mas já não sentia mais medo dele. Despediu-se dos novos amigos com um abraço.
De longe, enquanto a carruagem desaparecia no horizonte, os três cadetes acenavam e se despediam. O dia havia sido intenso, e, embora pudessem voltar para casa naquela tarde, todos preferiram permanecer na academia, aproveitando o dia de folga na manhã seguinte. O próprio Noah planejava retornar à capital após uma longa noite de sono.
Kenshiro mal podia esperar para contar à família sobre o encontro que tivera.