Volume 1 – Arco 1
Capítulo 9.3: Convidada*
LEIA COM ATENÇÃO:
Caro leitor,
Este é um capítulo especial e opcional. Não é necessário lê-lo para seguir a história principal. Esses capítulos extras têm como objetivo aprofundar determinados temas como: personagens, grupos ou eventos, e em alguns casos, exploram histórias que não são cruciais para a trama central.
Neste capítulo (Capítulo 9*), você acompanhará a infância de Kenshiro Torison até o "Incidente dos Descendentes."
- 1 - Infância em Aeterna
- 2 - Família Waltz
- 3 - Convidada
- 4 - A Capital
- 5 - Incidente
3 - Convidada
Kenshiro caminhou animado em direção à sua casa.
Primeiro, percorreu uma estrada de terra que levava a uma vila madeireira, um caminho pouco movimentado, usado principalmente pelos comerciantes locais. De repente, desviou-se da trilha principal e adentrou em uma floresta de pinheiros, desaparecendo entre as árvores.
Na floresta, Kenshiro seguiu as sutis pistas que indicavam o caminho para sua casa. Primeiro, um pinheiro caído apontava a direção certa. Depois, uma muda de pinheiro confirmava que estava no caminho correto. Finalmente, uma pedra coberta de musgo de um lado indicava onde ele deveria cruzar.
Ao atravessar o ponto central da pedra, Kenshiro sentiu uma mudança repentina na temperatura e, diante dele, surgiu uma cabana. Era ali que sua família vivia: seu tio e primo moravam naquele lugar isolado.
Ansioso para compartilhar as novidades, e tentando surpreender a todos, Kenshiro abriu a porta com um chute, imitando o comportamento de seu tio.
— OLÁ, FAMÍLIA! — gritou Kenshiro, ainda com o pé no ar.
Reiji, seu tio, e Ren, seu primo, olharam para ele com surpresa e desapontamento.
Reiji, um homem robusto de quase quarenta anos, tinha a musculatura de um bárbaro e um rosto que lembrava o de Kenshiro, talvez uma previsão de como ele seria ao atingir essa idade, com a diferença de uma barba bem cuidada. Ren, por outro lado, era mais baixo, com cabelos curtos e negros, e, embora tivessem a mesma idade, não havia semelhança física entre os primos.
Foi então que Kenshiro viu algo que o paralisou. Erina estava ali, assustada com a entrada repentina dele e surpresa ao vê-lo.
— Kenshiro, você não deveria fazer tanto barulho... — reclamou Ren, incomodado com a situação.
— Ainda precisamos decidir o que fazer com ela... — disse Reiji, preparando-se para sair.
— Você... — murmurou Erina, reconhecendo Kenshiro.
Ren e Reiji trocaram olhares, percebendo que os dois se conheciam. Reiji partiu sem dar explicações, enquanto Ren começou a relatar o que havia acontecido, enquanto Kaji preparava café para todos.
— Ela chegou aqui de madrugada — contou Ren, ajudando Kaji —, estava perdida na floresta e completamente sozinha. Reiji percebeu sua movimentação e foi investigar, mas encontrou apenas uma garota assustada e ferida.
Erina permaneceu em silêncio, mesmo com Kaji tentando distraí-la com truques pirotécnicos.
— Ela desmaiou assim que ele a encontrou, e, quando acordou esta manhã, eu a interroguei para ter certeza de que não era uma inimiga...
Kenshiro percebeu que Erina se encolheu ao ouvir sobre o interrogatório. Incomodado, ele questionou:
— O que você fez com ela? Como pode duvidar de uma mulher ferida?!
— Eu posso ter sido um pouco duro, admito, mas não me arrependo.
Enraivecido, Kenshiro avançou para agredir seu primo, mas Erina segurou sua camisa, abraçando-o por trás.
— Por favor... Não briguem... — pediu ela.
Mesmo irritado, Kenshiro se acalmou e voltou a se sentar à mesa.
— Eles não estavam errados em duvidar de mim — disse Erina. — Minha família foi traída pelos próprios guardas...
— Como você sobreviveu? — perguntou Ren, ainda cético.
— Eu... não sei. Senti uma ardência no pescoço e desmaiei. Quando acordei, já era noite, e eu estava enterrada. Corri sem rumo...
Ren refletiu sobre suas ações, mas sua natureza desconfiada o impedia de confiar plenamente nela.
— Eu... sinto muito. Mas isso ainda não explica como você sobreviveu...
Kenshiro, impaciente com a desconfiança do primo, pegou uma faca de pão e a enfiou na própria mão, chocando a todos à mesa.
— Kenshiro! O que está fazendo?! — exclamou Kaji, retirando a faca rapidamente.
— Agora observe, seu babaca! — disse Kenshiro, mostrando a mão sendo curada magicamente por uma aura verde.
Ren, impressionado e assustado, notou que Erina fechou os olhos e cruzou os punhos, como uma freira em oração. Entendendo a natureza mágica dela, Ren finalmente compreendeu como seus ferimentos haviam sido curados tão rapidamente enquanto ela dormia, resolvendo assim sua principal dúvida.
Ren abaixou o olhar e ajoelhou-se.
— Peço desculpas pela forma como agi...
Erina aproximou-se de Ren e estendeu a mão para ajudá-lo a levantar-se; ela não guardava ressentimento.
***
Com todos mais calmos, eles desfrutaram do café da manhã, onde Erina, pela primeira vez, provou o café horrível de Kaji.
— Faz séculos desde a última vez que vi um mago — comentou Kaji, limpando a louça de maneira desleixada. — Ainda mais um especializado em cura!
— Minha família costumava viajar por todo o continente, curando quem encontrasse pelo caminho — contou Erina, ainda se adaptando à companhia. — Mas, em algum momento, começamos a cobrar por isso. Rapidamente, nos tornamos uma das famílias mais ricas, mas isso diminuiu nossa popularidade, e acabamos reduzidos a uma única linhagem, a do meu pai...
— E o que você planeja fazer agora? — perguntou Ren, lavando a louça corretamente.
Erina pensou por um momento e, quando estava prestes a falar, Reiji entrou, abrindo a porta com cuidado, algo incomum para ele.
— Encontrou eles? — perguntou Erina, ansiosa.
Reiji sentou-se à mesa, tomou um gole de café frio sem reclamar e, ao ver a preocupação e a busca por respostas no olhar de Erina, decidiu falar diretamente.
— Encontrei Noah no caminho. Ele também queria investigar. Não encontramos os culpados, mas vimos onde você e sua mãe foram enterradas...
Algo sobre o enterro parecia perturbar Reiji. Seu olhar para Erina era de compaixão.
— Seguimos os rastros o mais rápido possível, na esperança de encontrar Henri vivo, mas ele também estava morto. Morreu na noite passada... poucas horas depois do que aconteceu com você e sua mãe.
Os olhos de Erina escureceram, perdendo o foco, como se tentasse ver algo que não estava lá. Ela se levantou da mesa e começou a encarar Kaji, que, ao perceber o momento de introspecção, afastou-se, tentando parecer uma lareira comum.
Enquanto Erina estava perdida em seus pensamentos, os outros discutiam o que fazer.
— Você contou ao Noah que Erina está aqui? — perguntou Ren.
— Não. Achei melhor decidirmos juntos o destino dela — respondeu Reiji.
— Não acha melhor ela decidir seu próprio destino? — disse Kenshiro.
— Ela acabou de perder toda a família! Acha mesmo que ela tem condições de decidir algo com clareza? — rebateu Reiji, socando a mesa.
Até Ren começou a duvidar do comportamento de seu pai, suspeitando que ele havia descoberto algo que não queria revelar.
Para a surpresa de todos, Erina se aproximou novamente, com seu olhar sereno.
— Eu quero ficar com vocês.