Volume 1 – Arco 1

Capítulo 7

Reiji havia acabado de partir, deixando o casal a sós.

Quando Kaji percebeu a intenção de seu mestre reduziu suas chamas, deixando a iluminação da cabana mais fraca e criando um clima aconchegante.

Tomada por um sentimento quase instintivo, Erina abraçou Kenshiro, apoiando a cabeça logo abaixo da dele.

— Está tudo bem? — perguntou Kenshiro, surpreso.

— Você fez muita falta, seu idiota — disse Erina, finalmente revelando sua personalidade doce e gentil.

— Desculpe-me pela demora. Prometo compensar pelo tempo perdido — respondeu ele, retribuindo o abraço.

— Eu espero que sim!

O passado de Kenshiro e Erina era, no mínimo, complexo. Sendo amigos de infância, seus destinos foram entrelaçados por uma tragédia que levou Erina a morar com os Torison. Kenshiro sempre se esforçou para trazer alegria a ela, na esperança de que a tragédia parasse de a assombrar.

Seja por sua persistência infantil, pela natureza peculiar de Erina, ou ambos, a tragédia nunca se tornou um verdadeiro trauma, permitindo que ela vivesse da maneira que julgasse apropriada.

Certo dia, Kenshiro foi convocado a servir na academia da Capital, forçando-os a se separar por tempo indeterminado. Durante esse período, as cartas eram suas únicas conversas, e suas imaginações seus olhos, permitindo que visualizassem a evolução de seus corpos, enquanto a maturidade ainda se desenvolvia.

Agora adultos, foram surpreendidos pela evolução de cada um, superando as expectativas de ambos. Quando crianças, respeito e amizade eram seus sentimentos mais comuns, mas agora, como adultos, essas emoções se transformaram em admiração e curiosidade.

Notando o olhar perdido de Erina para fora da janela, Kenshiro perguntou:

— Algo de errado?

— Só agora percebi como estava tratando você... Reiji voltou ao normal assim que o viu, e eu continuei sendo rígida, como se estivesse treinando.

— Como assim? Vocês estavam se tratando assim todo esse tempo?

— Depois que Ren partiu — começou Erina —, Reiji percebeu a grande diferença de níveis entre mim e ele. Seu treinamento tornou-se mais rigoroso, e por isso sua atitude comigo mudou.

Percebendo a diferença entre os treinamentos, Kenshiro se perguntou se Erina poderia estar tão forte quanto ele.

— Mas não entenda errado — disse Erina. — Reiji foi o melhor professor que eu poderia desejar. Ele só... ficou mais distante. O quarto do Ren ainda o assombra; ainda assombra esta casa...

Ren, primo de Kenshiro, e filho adotivo de Reiji, era especial para todos. Kenshiro o invejava por seu talento e habilidade natural, sempre buscando maneiras de superá-lo. Estava triste e irritado por não poder testar sua força contra ele; queria muito vê-lo.

Erina sempre viu Ren como uma inspiração, alguém em quem se espelhar. Mesmo que seu primeiro contato tenha sido turbulento, com Ren acreditando que ela fosse uma espiã ou alguém infiltrada. Porém, assim que percebeu o engano, foi o primeiro a se prontificar a cuidar dela. Além disso, foi Ren quem mais a incentivou a buscar treinamento.

Quanto a Reiji, a relação era mais complicada. Sendo pai adotivo e solteiro, sempre enfrentou dificuldades para criá-lo. Enquanto Kenshiro era cuidado e educado pela academia imperial, Ren estava sob a responsabilidade de um pai desastroso, nervoso e incapaz de realizar até as tarefas mais básicas. Sua sobrevivência foi, de fato, uma obra do destino.

Assim, Reiji sempre nutria dúvidas sobre sua capacidade como pai, imaginando que escolhas poderia ter feito para que Ren não tivesse que partir em busca de suas próprias respostas.

— Ren não vai voltar — falou Kenshiro. — Ele partiu para encontrar suas origens. Imagino que meu tio se sinta um fracasso como pai...

— Ren não procura pelos pais biológicos, apenas por respostas. A jornada dele e a nossa não são tão diferentes assim...

— Você também queria que Ren fosse conosco? — perguntou Kenshiro.

— No início, eu queria. Mas vendo como Reiji está agora... Sei que você já basta — respondeu Erina. — No fim, acho que essa jornada fará bem a ele.

— Eu também.

O silêncio surgiu e permaneceu.

Estando tão próximos, ambos conseguiam sentir seus corações acelerados, envergonhados por nutrirem sentimentos um pelo outro. Deixando seus corpos assumirem o controle, encararam-se por alguns instantes.

O mundo desacelerou, até finalmente desaparecer para ambos; mesmo o crepitar das chamas de Kaji não podia mais ser ouvido.

Kenshiro levou a mão ao rosto delicado de Erina, aproximando-a de si.

Ambos fecharam os olhos, esperando o toque de seus lábios.

Então, um prato caiu no chão, quebrando toda a ilusão do casal, impedindo-os de terem seu primeiro beijo.

— KAJI! — gritaram os dois, imaginando que o elemental havia os importunado de propósito.

No entanto, o olhar de Kaji estava distante e vazio.

Suas chamas dançavam freneticamente, como se estivesse prestes a explodir. Faíscas começaram a voar pelo ar, e lava escorreu para o chão; talvez fosse mesmo explodir.

Assustado, Kenshiro tentou se aproximar de seu fiel amigo.

— Kaji? O que está...

Antes que pudesse alcançá-lo, Kaji urrou, fazendo toda a cabana estremecer como se passasse por um terremoto. Suas chamas aumentaram, cobrindo toda a parede da casa e queimando Kenshiro no processo.

Kaji gritava e chorava em um dialeto antigo. E mesmo queimando tudo ao seu redor, os quadros pendurados nas paredes permaneciam intactos, exceto por um: o retrato de Reiji. Naquele momento, sentindo uma dor profunda em sua alma, Erina percebeu o que estava acontecendo.

Kenshiro continuava tentando acalmar Kaji, considerando em jogar água nele. Erina, por outro lado, subiu ao segundo andar e voltou rapidamente com sua espada, uma rapieira.

Sua espada possuía uma lâmina longa e estreita. Embora pudesse realizar cortes com qualquer parte da lâmina, como uma espada comum, sua principal força estava na ponta, perfeita para golpes perfurantes. A maneira como foi forjada conferia-lhe um estilo esguio e elegante, aperfeiçoando os golpes rápidos e precisos em combate.

Erina deixou a cabana.

Ao sentir o vento frio da noite, percebeu que Kaji havia desativado a barreira ilusória. Precisava decidir um caminho para seguir, do contrário, seus inimigos logo descobririam sua localização.

Kenshiro, ainda sem perceber a gravidade da situação, correu para fora da cabana para pedir ajuda.

— O que está fazendo? Se não acalmarmos o Kaji, ele vai queimar a cabana inteira!

Erina segurou-o pela gola da camisa e o levantou do chão. Com lágrimas nos olhos, foi dura e direta:

— Kenshiro. Nossos inimigos estão nos atacando! Se demorarmos demais, Reiji irá morrer!

O jovem, ainda confuso, viu-se obrigado a confiar em Erina, ao ver sua expressão de dor.

Voltando para a cabana, Kenshiro pegou apenas suas espadas enquanto via Kaji causar um verdadeiro incêndio. Cogitou em levar sua armadura cerimonial, mas, ao lembrar-se de sua patética proteção, a abandonou.

***

Ambos correram para o depósito, onde Kenshiro começou a procurar por pistas e rastros deixados por seu tio. E de fato, ele havia deixado alguns, o que era estranho. Reiji sempre se preocupava em apagar qualquer sinal de sua presença na floresta, por isso nunca deixava rastros tão visíveis durante suas patrulhas. Algo urgente deveria ter acontecido para ele ter sido tão descuidado.

Seguindo os rastros, o casal correu pela floresta.

Com os corações na mão, temiam pelo destino de Reiji, uma figura essencial para a jornada e muito querida por ambos. Só de imaginar que foram a causa de ele se colocar em perigo, sentiram a culpa dominá-los.

E então, finalmente avistaram aquilo que tanto temiam: Reiji deitado no chão, morto.

Uma mulher estava ao seu lado, levantando-se. Não importava quem era; Erina sabia que ela era a responsável por matar seu mestre e protetor. Com um estalo, Erina replicou a técnica de Reiji, o Impulso.

Sem precisar sacar sua espada, avançou contra a mulher em um único instante, perfurando-a diretamente no coração.

Tudo aconteceu tão rápido que Kenshiro mal teve tempo de identificar o corpo de Reiji; só percebeu o que ocorrera quando Erina já não estava mais ao seu lado.

Com o embate já em andamento, ele apressou o passo.



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