Volume 1
Capítulo 8: Insensível
Parte 1
Tenho seis anos agora.
Não há muita mudança no meu estilo de vida. Pratico técnicas de espada pela manhã e, se estiver livre à tarde, investigo os arredores ou pratico magia na colina onde a enorme árvore está.
Soprando vento para aumentar a velocidade da minha espada, criando uma onda de choque para deixar meu corpo inverter drasticamente de direção, criando areia movediça para dificultar os passos do inimigo… Algumas pessoas podem pensar que a esgrima não melhora se continuarem pensando em usar truques sujos; eu, não.
Existem duas formas de se tornar bom em jogos de luta: a primeira é considerar maneiras pelas quais os fracos podem vencer os fortes. A segunda é melhorar as habilidades e treinar. Agora estou pensando na primeira, pois meu objetivo é vencer meu pai.
Paul é muito forte. Mesmo que não seja maduro o suficiente como figura paterna, ele é de primeira classe como espadachim. Se eu priorizar o segundo método e treinar de todo coração meu corpo, é possível ganhar mais cedo ou mais tarde.
Tenho seis anos, depois de dez anos terei dezesseis e ele terá trinta e cinco anos. Mais cinco anos, terei vinte e um e ele terá quarenta. Não há sentido em ganhar mais cedo ou mais tarde dessa maneira. Só há sentido se vencer o oponente em sua condição máxima.
Paul tem vinte e cinco anos agora. Ainda que tenha deixado o serviço ativo, seu corpo está no auge. Espero ganhar pelo menos uma vez nos próximos cinco anos. Com técnicas de espada, se possível. Caso contrário, combinarei com magia e lutarei corpo a corpo.
Enquanto penso, treino contra a imagem dele em minha mente de novo.
Parte 2
Se for até a enorme árvore na colina, tenho uma grande chance de encontrar Sylph.
— Desculpe, você esperou muito tempo?
— Não, acabei de chegar também.
Depois de dizer frases que são semelhantes àquelas quando um casal se encontra, começamos a brincar juntos.
No começo, Somar e os outros vinham correndo até nós, trazendo também garotos maiores, mas todos eram expulsos. Toda vez, Ada corria até nossa casa para fazer uma grande confusão. Enfim entendi a razão: mesmo que alegasse estar falando sobre os incidentes das crianças, a verdade é que ela gostava de Paul e usava as brigas como desculpa.
“Que bobagem.”
Somar se sente muito irritado também, vendo o rosto que põe toda vez que sua mãe o traz. Parece que ele não está tentando ser um farsante de acidentes. É muito embaraçoso suspeitar dele fazendo tal ato.
Foram expulsos cinco vezes, e finalmente não vieram depois de um dia abrupto, como se tivéssemos passado algum evento de jogo. De vez em quando nos assistem brincar de longe, mas não falam conosco se nos deparamos. Parecem ter decidido nos ignorar.
Com isso, o incidente parecia estar resolvido e a enorme árvore na colina se tornou nosso território.
Parte 3
Comecei a ensinar a Sylph magia sob o pretexto de um jogo. Se puder controlá-la, então deve ser capaz de lidar sozinho com os pirralhos. No começo, ele só podia conjurar magias de nível elementar cinco ou seis vezes antes de ficar sem fôlego, porém, no espaço de um ano, sua quantia de mana cresceu muito.
“Há um limite para a capacidade de mana.”
Essa frase é pouco verídica. No entanto, feitiços são uma coisa diferente. Ele é habilidoso com vento e água, mas não é bom quando se trata de fogo. Por quê? Será por causa do sangue élfico? Não.
Aprendi durante as aulas de Roxy sobre o sistema especializado e o sistema limitado. Baseado nessas palavras, todo mundo tem seus próprios sistemas especializados e limitados.
Uma vez perguntei: “Sylph, está com medo do fogo?”, e ele negou, além de mostrar a palma da mão, onde havia uma queimadura feia. Quando tinha três anos de idade, seus pais não estavam prestando atenção e ele pegou uma haste de metal que estava na lareira com a mão.
— Mas não tenho mais medo.
Mesmo dizendo isso, pode ser um temor em seu subconsciente. Essa experiência pode afetar seu sistema limitado. Se você considerar os anões, há muitos que têm água como seu limitado. Eles normalmente ficam perto de áreas montanhosas, brincando e tendo a terra como sua companheira. Quando crescem, aprendem técnicas de ferreiro com seus pais e vivem cavando rochas minerais como meio de subsistência, aumentando a afinidade com fogo e terra. Contudo suas atividades na montanha são recebidas com fontes termais súbitas ou inundações causadas por chuvas intensas muitas vezes, por isso são fracos com água.
Talvez seja algo assim e não relacionado à raça de forma direta. Apenas para adicionar, não tenho nenhum sistema limitado, pois vivi confortável sem nenhum trauma além dos sociais.
Você não precisa usar fogo para criar ventos e água quente. Porém, ensinar-lhe tais conceitos é problemático, então vou apenas deixá-lo aprender magia de fogo. Não há nenhuma desvantagem em poder usar o fogo a qualquer momento. As salmonellas serão destruídas se você aquecer a comida. Para não ser envenenado, precisa cozinhar de maneira adequada. Ainda que, se usar magia elementar de antídoto, a maioria dos venenos pode ser neutralizada.
Mesmo que Sylph lute com isso, ele não reclama e continua treinando, pois foi o único a requisitar tal treinamento. Ele, que está franzindo a testa enquanto está usando minha varinha — a que Roxy me deu — e meu livro de magia — tomado de casa —, tem uma beleza invejável. Até um cara como eu pensaria assim. Sem dúvida alguma será muito popular no futuro.
“Um coração ciumento é o coração de um pai.”
Uma voz assim de repente soa em minha mente, fazendo-me balançar a cabeça na mesma hora. Não, não, ciúme não tem significado. Além de que deve-se sempre seguir a estratégia de isca de pesca do ikemen. Com Sylph sendo o grande ikemen e eu como o cara normal, as mulheres vão se reunir em volta, lalala.
— Ei, Rudy, como lê isso?
Enquanto canto em minha mente, ele usa o dedo para apontar à página aberta, olhando para mim com um olhar poderosíssimo. Emergência, emergência, faz com as pessoas queiram abraçá-lo e beijá-lo.
Resista!
— Lê-se “avalanche de neve”.
— O que significa?
— Refere-se a uma enorme quantidade de neve que foi recolhida numa encosta. Quando a inclinação é incapaz de sustentar seu próprio peso, entra em colapso. Durante o inverno, há neve que cai do telhado, certo? Esta é a versão em grande escala.
— É tão… incrível. Você já viu antes?
— Avalanche de neve? É claro... que não.
Só vi na televisão.
Deixei-o estudando o livro. Ao mesmo tempo, posso ensiná-lo a ler e escrever cartas. Estudar a língua não tem nenhum ponto negativo. Ainda que eu não saiba a taxa de alfabetização neste mundo, com certeza não seria como a taxa de alfabetização de quase cem por cento do Japão. Não há magia que permita que as pessoas entendam as palavras, então, quanto menor a taxa de alfabetização, mais importante é conhecer a própria língua.
— Entendi!! — Sylph dá um grito triunfante.
Vejo-o tendo sucesso em conjurar a magia intermediária, Pilar de Gelo. Um grande — e óbvio — pilar de gelo surgiu da terra, brilhando sob a luz do sol.
— Você está muito familiarizado com isso agora.
— Sim!! No entanto, este livro não tem o que Rudy usou? — Inclina a cabeça e pergunta.
— Hm?
Lembro-me quando usei a magia de água quente que usei contra aqueles garotos e aponto para duas páginas do livro.
— Aí. Cachoeira e Mãos de Calor. Use-os juntos.
— Hã…? — Ele ainda inclina a cabeça. — Como você canta os dois juntos?
Porcaria, falei com base em meus instintos. Isso aí, não descrevi como cantar dois feitiços diferentes ao mesmo tempo. Agora não posso rir de Paul por ser do tipo instintivo.
Demonstro o encantamento sem voz ao conjurar os dois feitiços simultaneamente. Seus olhos se arregalaram. Encantamento sem voz é classificado como uma habilidade de alto nível neste mundo. Roxy é incapaz de fazê-lo e também é dito que apenas um professor na universidade de magia é capaz de usá-lo.
Então, decidi que não deveria ensinar encantamentos sem voz, mas apenas as magias que Roxy me ensinou. Não acho que seja muito difícil, mas alcançar resultados semelhantes deve ser suficiente.
— Me ensine.
— Ensinar o quê?
— Você não precisa cantar. Eu quero aprender isso.
Porém Sylph não pensa assim. É claro, parece que usar duas magias diferentes ao mesmo tempo é melhor do que conjurar uma única magia. Hmm… Bem, vou ensiná-lo e, se não puder fazê-lo, ele escolherá a magia combinada por si mesmo.
— Certo. Resumindo, é só reproduzir enquanto reúne a mana de seu corpo até os dedos a mesma sensação de quando estiver lançando um feitiço. Depois de reunir a mana, tente lembrar que magia você está usando e concentre-a em suas mãos. Comece com a Bola de Água.
Ensinei bem? Não posso explicar de forma clara.
Ele fecha os olhos enquanto pronuncia um som de foco torcendo seu corpo, como se estivesse fazendo uma dança engraçada.
Tentar fazer algo baseado em sensações é difícil. O encantamento sem voz é processado na mente, o que significa que pessoas diferentes terão seus próprios métodos para fazê-lo. Senti que as bases eram importantes, então o deixei usar encantamentos para lançar magia durante o ano todo.
Como esperado, deve ser mais difícil usar encantamentos sem voz quando se está acostumado a usar o cântico. É como utilizar a mão direita para realizar as tarefas e depois mudar para a esquerda: uma mudança difícil para ser feita de repente.
— Consegui! Eu consegui, Rudy!! — gritou, lançando a bola de água repetidas vezes.
Contudo, as coisas não foram como imaginava. Embora ele tivesse usado o canto por um ano, não parece ter sido um empecilho, assim como remover as rodinhas de uma bicicleta. Foi a sensibilidade de um jovem ou o seu talento inato?
— Muito bom. Pois bem, vamos tentar todas as magias que você aprendeu usando encantamento sem voz uma vez.
— Sim!
Em qualquer caso, será mais fácil ensinar se ele souber lançar feitiços sem cânticos, pois desde o início não usei muito.
— Hm?
De repente, começou a chuviscar. Virei minha cabeça para cima e vi o céu cheio de nuvens escuras e chuva pesada vindo. Na maioria das vezes presto muita atenção ao tempo para garantir que chegaremos em casa antes de chover, porém fiquei descuidado quando Sylph conseguiu usar encantamento sem voz.
— Ah, ah, a chuva está muito forte.
— Você pode fazer chuva, então você não pode pará-la?
— Ainda que possa, já estamos molhados. Além disso, as plantações não crescerão se não receberem água da chuva. Não vou interferir com o clima, a menos que haja reclamações sobre o tempo estar terrível.
Corremos em direção à minha casa enquanto conversávamos, porque a casa de Sylph era muito longe.
Parte 4
— Estou de volta.
— Com licença…
Quando entro no portão, vejo Lilia com uma grande toalha na porta.
— Bem-vindo de volta, mestre Rudeus… e seu amigo. A água quente já está pronta. Antes de pegarem um resfriado, por favor, vão até o segundo andar e se sequem. O mestre e a madame voltarão em breve e preciso ajudá-los a se preparar. Vocês estão bem sozinhos?
— Sem problemas.
Ela previu que voltaríamos molhados da chuva forte. Mesmo que não fale muito, em especial comigo, é uma empregada capaz. Mesmo sem dizer nada, também pega outra grande toalha quando vê Sylph.
Tiramos nossos sapatos e andamos descalços, secando nossos cabelos e pés enquanto subíamos para o segundo andar. Quando entro no quarto, vejo um enorme barril contendo água quente. Neste mundo, não há chuveiros, tampouco é comum o uso de banheiras, então o banho é com apenas isso.
Segundo Roxy, parece haver fontes termais. Bem, para mim, que não gosto de tomar banho, é o suficiente.
— Hm?
Enquanto me desnudo, Sylph parece estar se remexendo, corando.
— O que foi? Caso não tire a roupa, pegará um resfriado?
— Hã? Hmm, hmm…
Entretanto, ele não se moveu. Será que tem vergonha de tirar a roupa na frente dos outros? Ou não sabe tirar as próprias sozinho? Não tem jeito, já que ele tem apenas seis anos de idade.
— Aqui, levante suas mãos.
— Mas… Erm…
Faço-o levantar os braços para que eu possa tirar a camisa dele. Sua pele branca e sensível é revelada diante de mim, e quando tento tirar as calças, ele agarra minhas mãos.
— N-não…
Está se sentindo envergonhado de ser visto pelos outros? Eu também era assim quando mais novo. Durante o jardim de infância, fiquei com vergonha de ser visto por outras crianças da mesma idade quando tomava banho depois das aulas de natação. Mas as mãos dele estão frias, e pra pegar um resfriado é ligeiro.
Com força segurei e puxei suas calças.
— P… pare…
Quando pego sua roupa de baixo, sou golpeado na cabeça. Ele olha para mim com lágrimas quando olho para cima.
— Não vou rir de você, pô.
— N-não é isso… apenas não!!
Esta é a primeira vez que o vejo rejeitar tanto algo. Estou um pouco chocado. Há algo assim, uma regra onde os elfos não podem ser vistos nus? Se houver, então não é bom tirar sua roupa à força…
— Tá, tá. Então você deve prometer que vai se trocar depois. Roupa íntima molhada é desconfortável e, se você ficar com muito frio, pode machucar seu estômago.
— Ok… — Acenou em lágrimas.
Que fofo. Quero estar bem com ele.
De repente, sinto vontade de fazer uma brincadeira no meu coração. Não é injusto que somente eu esteja nu?
“Uma abertura!”
E então, puxo sua cueca de uma só vez.
Vejamos o pêndulo nu!
— Pare! Nãããooo!
— … Quê?
No instante seguinte, cobre seu corpo.
Ali, o que vi não foi uma espada curta pura, comumente vista. Claro, não era um espadão negro de nível máximo do boss final, o Lorde Demônio. O que estava ali…
Não, o que não estava lá era...
… Nada. Sim, nada.
O que deveria estar lá não estava lá.
Já vi isso inúmeras vezes no meu passado. Às vezes tem uns pixels e às vezes não tem nenhum. Algo que até hoje ainda não consegui alcançar, desejando que a floresta exuberante recolha todo o meu alongado esguicho, que precisa de alguns lenços limpos.
Isso é o que acabei de ver.
Sylph não é “ele”.
É “ela”.
Minha mente fica em branco.
Não acabo de fazer algo imperdoável?
— Rudeus, o que você está fazendo…
Vigorosamente viro minha cabeça para trás e vejo Paul está ali de pé. Quando voltou? Ele correu depois que ouviu o grito? Não movo um músculo sequer e ele também não se move.
Sylph cai de joelhos enquanto chora, nua por completo, e minhas mãos estão segurando sua calcinha. Meu amiguinho se anima um pouco com a situação e exerce sua juventude feroz. Já entrei em uma situação além de qualquer justificativa.
A calcinha na minha mão cai no chão.
Há muita chuva lá fora, contudo, só consigo ouvir a roupa caindo em silêncio.
Parte 5
Ponto de vista de Paul:
Quando terminei meu trabalho e cheguei em casa, vi meu filho atacando sua amiga de infância, uma jovem garota. Quase o repreendi sem pensar, porém fui cauteloso. Talvez houvesse uma razão oculta para isso também. Minha falha anterior não pode ser repetida.
De qualquer forma, deixo a menina aos prantos para minha esposa e empregada e uso a água quente e o pano para limpar o corpo do meu filho.
— Por que você fez isso?
— Sinto muito.
Um ano atrás, quando tentei ensinar-lhe uma lição, ele mostrou sua vontade de nunca pedir desculpas, mas prontamente o fez agora. Sua atitude é bastante estranha também, como legumes em salmoura.
— Quero saber o motivo.
— Nós estávamos encharcados. Estava pensando que as roupas deveriam ser tiradas...
— Mas ela não queria?
— Sim…
— Pai disse antes que você deve ser gentil com as meninas, certo?
Rudeus não tem explicações. O que eu diria quando estava com a idade dele? Fui uma criança que sempre buscava desculpas. Meu filho é mesmo esplêndido.
— Bem, uma criança como você terá alguma forma de interesse, mas forçar não é legal.
— …Sim, desculpa. Não farei nunca mais.
Sinto-me um pouco triste depois de ver meu filho que parecia ter recebido um choque. Ser apaixonado por mulheres está dentro do meu sangue. Era tão cheio de vigor e energia que uma vez que encontrasse uma linda garota, tentaria ir atrás dela. Mesmo que tenha me estabelecido agora, não sabia o significado de ‘restrição’ no passado.
Deve ser hereditário. É superlógico que meu filho, cheio de razão, esteja agonizando com o seu instinto. Por que não percebi antes… Não, não é hora de simpatizar. Preciso ensiná-lo com a minha experiência.
— Você não deveria se desculpar comigo, e sim com Sylph, certo?
— Sylph, erm… Ela vai me perdoar…
Meu filho se desespera depois de pensar nisso. Pensando agora, ele tem sido muito ligado a essa garota. O incidente há um ano também aconteceu para protegê-la. No fim, até bati nele. Desde então, os dois brincaram juntos todos os dias e ele a protegeu de outras crianças. Claro, tudo isto sem nunca deixar de lado seu treino de espada e magia, ainda poupando tempo para ela. Até mesmo deu sua própria e preciosa varinha, junto ao livro de magia, como presentes.
Posso entender o porquê de se sentir tão mal quando considera a possibilidade de ser odiado por aquela garota. Sou assim também; me sentirei mal se for odiado. Todavia, não se preocupe, filho. Baseado na minha experiência, há uma grande chance de mudar essa situação.
— Não esquenta, está tudo bem. Você nunca fez nada de mal para ela até agora. Se desculpar-se com sinceridade, será perdoado.
Seu rosto se ilumina um pouco. Ele é tão esperto que, mesmo se cometer um erro, tenho certeza que vai salvar esse relacionamento. Além disso, é possível usar esse erro para conquistar o coração dela. Essa confiabilidade é assustadora.
Depois que ele terminou o banho, sua primeira fala para Sylph foi:
— Mil perdões, Sylph!! Como seu cabelo é muito curto, sempre achei que você fosse um menino!!!
Pensei que era uma pessoa perfeita, porém ele é surpreendentemente denso em algumas áreas.
Essa foi a primeira vez que pensei assim.
Parte 6
Ponto de vista de Rudeus:
Tive que pedir desculpas, consolá-la e elogiá-la até conseguir ser perdoado. Já que é uma menina, a chamarei de Sylphy a partir de agora. Seu nome completo parece ser Sylphiette.
Na verdade, confundir uma menina tão fofa com um menino… Parecia que Paul estava sem palavras por causa do meu discernimento das coisas.
Não achei que um incidente “Você é realmente uma garota!?” fosse acontecer. No entanto, como deveria saber? Seu cabelo era mais curto que o meu quando nos conhecemos. Mesmo que não seja um corte de cabelo moderno, não era tão curto quanto o de um monge. Nunca a vi vestindo-se como uma menina, usando apenas uma camisa marrom clara e calças. Isso é tudo. Se usasse um vestido, não teria me confundido.
Não, use a lógica.
Ela foi intimidada por causa da cor do cabelo, então é óbvio que cortaria curto para que não fosse tão visível. Por causa do bullying, era preciso fugir também, então ao invés de um vestido, as calças seriam mais convenientes. Ela não é muito rica, então depois de fazer calças não teria o suficiente para fazer uma saia. Se nos encontrássemos três anos depois, não cometeria tal erro. Estava preso na ideia de que era um garoto fofo, mas na verdade não havia nenhuma ação que parecesse muito masculina.
Se el… Quer saber, esqueça. Tudo o que digo é uma desculpa. Já que sei que é uma menina, minha atitude deve mudar de acordo também. Sempre quando a vejo, sinto-me um pouco estranho.
— Vo-você é bem fofa. Não é melhor que seu cabelo seja mais comprido?
— Eh…?
Talvez, se a aparência dela mudar, meus sentimentos também possam mudar, então sugeri isso. Ainda que ela mesma não goste de seu cabelo, sua cor esmeralda brilha sob o sol. Desejo que ela mantenha o cabelo longo. Seria melhor se tivesse em um rabo de cavalo ou maria chiquinha.
— Não quero…
Contudo, daquele dia em diante, Sylphy ficou cautelosa comigo. Me evitava sempre e sem disfarçar, ainda mais quando se tratava de qualquer contato físico. Estou me sentindo um pouco chocado, já que ela era tão obediente antes.
— Entendo. Aliás, vamos praticar encantamento sem voz hoje.
— Ok.
Endireitei minha expressão e escondi minhas emoções. Ela só tem a mim como amigo, logo, só pode brincar comigo e o faz, por mais que a possibilidade de ter algo contra mim seja alta agora.
Parte 7
Neste momento, minhas capacidades neste mundo estão assim:
Estilo Deus da Espada: elementar
Estilo Deus da Água: elementar
Magia de fogo: nível avançado
Magia de água: nível santo
Magia de vento: nível avançado
Magia de terra: nível avançado
Magia de cura: nível intermediário
Magia de antídoto: nível elementar.
Magia de cura é classificada em sete níveis também e é composta por quatro sistemas: Cura, Barreira, Antídoto e Ataque Divino. Porém, ao contrário da magia de ataque, não há títulos legais como Santo do Fogo ou um Santo d’Água, e falam somente “curandeiro de nível santo”.
A cura é exatamente o que parece: uma magia que cura feridas. No começo você só pode curar arranhões, porém se chegar ao nível imperador, pode até regenerar membros perdidos. Contudo, mesmo se chegar ao nível deus, não é possível reviver coisas mortas.
O antídoto também é o mesmo: cura venenos ou doenças. Nos níveis mais elevados, pode-se até criar venenos ou remédios para curar venenos. A magia relacionada com o estado de aflição parece ser nível santo e superior, e é muito difícil de aprender.
A barreira é uma magia que aumenta a defesa, criando uma muralha defensiva. Em termos simples, é magia de suporte. Ainda que não esteja muito claro sobre os detalhes, sei que pode aumentar a velocidade de regeneração celular para tratar ferimentos leves ou criar excesso de substâncias químicas no cérebro para diminuir a sensação de dor. Roxy não sabe como usá-la.
O sistema de ataque divino parece ser uma magia que é eficaz contra espíritos ou seres malignos, mas é mantido em segredo pelos Santos Clérigos. A universidade de magia também não ensina, então Roxy não estava muito certa sobre isso. Ainda que nunca tenha chegado a ver espíritos antes, parece que eles são, de fato, fantasmas neste mundo.
Se você não entende a lógica, pode usar o encantamento sem voz. É muito inconveniente. Além do mais, mesmo que haja uma lógica para a magia de ataque, não sei se as outras magias também têm seu próprio conjunto lógico. Embora saiba que magia é algo que parece ser capaz de tudo, não tenho ideia do que posso mudar para conseguir isso. Por exemplo, fazer algo flutuar ou sugá-lo na minha mão, usando minhas habilidades mentais para controlá-lo. Sinto que pode ser replicado, porém não sou alguém com telecinese, então não sei como fazer.
Apenas para adicionar, não sei muito a fundo sobre o processo de cicatrização de feridas. É por isso que sou incapaz de usar encantamentos sem voz com magia de cura. Se tivesse o conhecimento de um médico, poderia usar sem cantar ele. Os outros tipos também podem ser replicados se você souber os detalhes relevantes. Ou, talvez, se participasse de esportes, minhas técnicas de espada poderiam ter avançado um pouco mais.
Quando penso nisso, sinto que na minha vida passada desperdicei muito tempo sem sentido.
Não.
Não foi um desperdício.
É verdade que não trabalhei nem fui para a escola, mas nem sempre estava hibernando, tinha muitos interesses e jogava muitos jogos quando os outros estavam ocupados trabalhando e estudando. O conhecimento, a experiência e a maneira de pensar do jogo podem ser usados aqui neste mundo.
Deveria ser…!!
No entanto, não é de nenhuma utilidade agora.
Parte 8
Este é um incidente que aconteceu durante o treinamento de Paul.
— Haaaah… — Soltei um suspiro.
Pensei que o deixaria bravo, porém ele estava sorrindo de orelha a orelha.
— Haha. Deixe-me adivinhar, Rudy, você está se sentindo triste por estar sendo evitado pela Sylphiette?
Não foi por causa disso. Todavia, mesmo que essa não seja a razão, o problema com Sylphy é parte dos meus problemas.
— Está certo. Minhas técnicas de espada não estão melhorando e estou sendo evitado. Que derrota.
Ele sorri como o gato Cheshire e enfia a espada de madeira no chão, se inclina e olha para mim.
“Não pode ser que esse cara esteja me tratando como uma piada.”
— Eu posso ajudá-lo a pensar em uma ideia~
Ouvi algo inesperado e minha mente começou a se mover como um relógio. Pai = Paul = muito popular. Pode-se dizer que Zenith é uma mulher bonita e há o ocorrido com a senhora Ada. Até mesmo Lilia, que foi tocada, ficou feliz. Existe algum tipo de segredo para não ser odiado por uma garota?
O caminho da vida offline?
Bem, por ele pertencer ao tipo instintivo talvez eu não consiga entendê-lo, entretanto, posso considerar sua sugestão.
— Se você puder, por favor.
— Hm, o que eu deveria dizer, hmmm~
— Devo lamber suas botas?
— Não. Ei, por que você está tão serviçal de repente?
— Se não me disser, vou contar pra mamãe sobre você espiando Lilia.
— Agora ameaça… Espere, o quê? Você viu aquilo?! Tá, entendi. É meu erro por brincar contigo.
Só estou te atraindo com a cobiça de Lilia. Poderia ser adultério? Ah, bem, já falei que esse cara é superpopular. Deixe-me ouvir sua palestra.
— Ouça bem, Rudy. Mulheres às vezes gostam de homens que são fortes, porém gostam das partes frágeis deles também.
— Oh.
Ouvi algo assim antes. Instinto maternal?
— Você só mostrou seu lado forte para Sylphiette, certo?
— É assim? Não percebi.
— Pense nisso com cuidado. Se fosse desejado por alguém que é mais forte e te força a fazer as coisas, o que aconteceria?
— Ficaria assustado.
— Né, não?
Ele falando daquele dia, quando ele se tornou ela.
— Também é necessário mostrar sua fraqueza. Proteja alguém com seus pontos fortes enquanto deixa suas fraquezas serem protegidas por alguém. É preciso construir esse tipo de relacionamento.
— Oh!!
Foi fácil de entender! Faz as pessoas pensarem que Paul não é do tipo instintivo! Apenas ser forte não é bom, mas ser somente fraco não é certo também. É preciso um equilíbrio entre ambos para ficar popular!
— Como você mostra sua fraqueza?
— Isso é fácil. Justo agora você não está se sentindo incomodado?
— Sim.
— Apenas conte seus problemas para Sylphiette e estará feito. Diga que está se sentindo fraco e muito perturbado por estar sendo evitado.
— E o que vai acontecer depois?
Ele ri maliciosamente.
— Se der certo, ela se aproximará de você sozinha e pode até te consolar. Assim, você voltará à ativa. Ninguém ficará infeliz quando você se animar.
— Quanto conhecimento!
Então essa é a resposta: usar minha atitude para controlar os sentimentos de outra pessoa… Incrível. Mas o plano pode dar errado, certo?
— M-mas se não funcionar?
— Procure-me de novo. Vou te ensinar o próximo passo.
Na verdade, existe um segundo truque. Esse cara é mesmo intrigante!!
— Entendo. Então estou indo!!
— Vá lá. — Ele me dá um sinal balançando a mão.
Corro queimando com ansiedade.
— O que ensinei ao meu filho de seis anos de idade…
Uma voz parece vir de trás.
Parte 9
Cheguei à enorme árvore cedo demais. Sylphy não está aqui ainda.
Costumo trazer uma espada de madeira junto comigo e limpar meu corpo antes de vir, porém estou cheio de suor agora. O que devo fazer? Não tenho escolha. Deveria começar a praticar em minha mente. Balanço minha espada de madeira imaginária, simulando um combate.
Primeiro devo mostrar minha força, depois minha fraqueza. Fraqueza. Como devo fazer? Lembrei, preciso parecer desanimado. Então, o que vem depois? O tempo, hmm. Deveria fazer isso de repente? Seria muito abrupto. Talvez deva me ajustar de acordo com o fluxo da conversa. Posso fazer isso? Não, preciso fazer.
Balanço a espada enquanto penso em confusão. Não sei quando, mas de repente meu aperto fica fraco e a espada escapa da minha mão...
— Guuh...
… E cai em frente de onde Sylphy está. Minha mente fica em branco.
“O-o que devo fazer? O que digo?”
— A-algo errado…? — Olha para mim, seus olhos selvagens.
“E-ela tá incomodada?”
— Erm, haa… haa, estou apenas pensando que é lamentável ou algo assim, se eu não posso ver as suas expressões… fofas.
— N-não, não estou falando sobre isso. Seu suor.
— Haa… haaaa… Ah, suor? O que…?
Arqueio e me aproximo, porém ela mostra uma expressão assustada e recua. Assim como antes, não quer que eu me aproxime. Mesmo estando tão apaixonado por você, ainda recua dessa maneira? Estou apenas brincando.
Limpo minha testa suada e estabilizo a respiração. Mostro uma expressão cheia de sofrimento, coloco minha mão na árvore e imito uma figura de autorreflexão. Meus ombros caem e suspiro pesadamente.
— Hah… Esses dias, Sylphy está sendo fria…
O silêncio persiste por um tempo. Foi o suficiente? Isso é suficiente, Paul? Deveria ter soado mais fraco ou foi falso demais?
“Ah!”
Minha mão é agarrada com força por trás, fazendo-me sentir o calor suave e gentil. Viro-me e Sylphy está bem ali.
O-o-opa!
Tão perto. Ela não se aproximava tanto há muito tempo. Paul, eu consegui!!
— É que você tem agido um pouco estranho nesses últimos dias…
Hmm, estou ciente desse ponto. Desnecessário dizer que não a tratei da mesma forma nos últimos tempos. Do ponto de vista dela, talvez minha atitude tenha mudado muito, como descobrir que a pessoa é uma mulher rica em busca de um marido para o casamento. Ela vai se sentir desconfortável. Contudo, que tipo de atitude devo ter? Não posso agir como antes. Estou com uma menina tão fofa, linda e da mesma idade, como posso não ficar tenso? Não sei como me dar bem com ela.
Se fossemos adultos ou se talvez ela fosse mais velha, poderia usar algum conhecimento de eroge e lidar com essa situação. Se fosse um menino, poderia usar a experiência de quando estava com meu irmão mais novo. Mas é a osananajimi e uma garota. Claro, joguei jogos H sobre, mas não são nada mais que uma ilusão. Além do mais, não quero ter um relacionamento dessa maneira, pois ela é jovem.
Não está no meu campo AT.
Ainda que com tudo isso dito, é algo temporal. Porém, estou ansioso pelo futuro!!
Vamos deixar isso de lado primeiro. Ela é uma criança que está sendo intimidada. Ninguém ficou do meu lado quando sofri bullying, então espero ser seu companheiro. Independente de ser menino ou menina, essa é a única coisa que não vai mudar, mas é difícil tratá-la da mesma forma que antes. Também sou um menino e espero construir um bom relacionamento com as meninas…
Pelo nosso amanhã!!
Droga, não entendo. O que devo fazer? Se tivesse perguntado a Paul sobre esses assuntos.
— … Desculpe, mas eu não odeio você.
— S-Sylphy…
Depois de mostrar uma expressão de inutilidade, ela acaricia minha cabeça e sorri de maneira gentil para mim com alívio, fazendo meu coração palpitar. Ainda que seja minha culpa, ela pede desculpas para mim. Agarro sua mão com força. Ela olha para mim, corando.
— Podemos voltar a ser como antes?
O efeito dessa pergunta enquanto ela olha para mim é poderoso o suficiente para deixar meu coração determinado.
É isso mesmo, ela espera pelo normal e rotineiro. Para manter o mesmo de antes, preciso tratá-la como tratava o mais rápido possível. Para não deixá-la ter medo e desajeitada, preciso ignorar o fato de que é uma menina.
Só pode ser isso. Deveria ser apenas isso.
Vamos fazer isso.
Um protagonista donkan¹.
Nota:
1 – Protagonista donkan se refere a personagens incapazes de entender o amor além do ponto da amizade, ao ponto onde só tomam consciência do mesmo quando ditos diretamente. Normalmente têm baixa autoestima, o que torna difícil acreditarem que alguém tenha interesse amoroso neles.