Volume 1

Capítulo 7: Amigos

Parte 1
 

Decidi tentar sair, pois não foi fácil para Roxy me trazer para fora, e essa atitude não deve ser desperdiçada.

— Papai, posso sair para brincar?

Em um determinado dia, perguntei a Paul enquanto estava levando a enciclopédia botânica. Crianças em torno desta idade fogem para lugares desconhecidos em um piscar de olhos. Mesmo que não vá muito longe, não dizer a alguém fará meus pais se preocuparem.

— Sair? Brincar? Não no pátio?

— Sim.

— O-ohh, claro. Pensando sobre, não houve de fato um tempo separado para você. Nós tomamos decisões arbitrárias para você aprender magia e técnicas de espada ao mesmo tempo, mas brincar também é importante para uma criança.

— Sou grato por ter conhecido uma ótima professora.

Pensei que ele fosse uma pessoa muito rigorosa em relação à educação, mas na verdade tem um lado compreensível, mesmo sendo uma pessoa que pertence ao lado instintivo. Até considerei a possibilidade de ser forçado a treinar minhas técnicas de espada durante o dia inteiro.

— Agora que penso nisso, você quer ir para fora. Hm, antes eu pensava que seu corpo era bastante fraco. O tempo passa muito rápido.

— Achava que meu corpo era fraco?

Esta é a primeira vez que ouvi falar disso. Não peguei nenhuma doença.

— Porque você não chorou quando era mais novo.

— Entendo. Bem, não há nada de errado. Você criou um garoto fofo e robusto, heh. — Mostro um rosto engraçado para Paul e ele sorri com ironia para mim.

— Seria menos preocupante se você agisse mais como uma criança.

— Em que parte você está insatisfeito no seu tão confiável filho? Tudo bem se você me educar como acredita ser conveniente para se tornar um digno sucessor da família Greyrat.

— Não, nenhuma mesmo. Posso dizer sem orgulho que seu pai foi uma criança avoada que só pensava em levantar as saias das meninas o dia inteiro.

— Levantar saias, hmm?

Aqui também tem isso? Esse cara, na verdade, assumiu ter sido um peste…

— Se quer ser digno do nome Greyrat, traga uma namorada para casa.

O quê? Nós somos esse tipo de família? Não estamos protegendo as fronteiras? Não temos um título nobre? Não há formalidades ou nada? Não, em todo caso, somos apenas nobres de classe baixa. Então, que assim seja.

—Tá bom. Vou à vila para encontrar um lugar onde possa levantar saias.

— Ah, deve tratar bem as meninas. Além disso, não seja arrogante porque é forte e capaz de usar magia. A força de um homem não existe com a finalidade de se mostrar.

Oh, essas foram boas palavras. Realmente, eu com certeza quero deixar meus irmãos da minha vida passada escutarem isso. Isso mesmo, apenas usar força bruta para fazer algo é inútil. Também sou uma pessoa lógica.

— Entendo, pai. O propósito de ser forte é agir de forma legal na frente das garotas!

— … Não, não é bem assim.

Eh? O tópico não está indo nessa direção? Oops. Hehe.

— Estou brincando. A força existe para proteger o fraco certo?

— Hmmm, isso mesmo.

Quando terminamos de falar, coloquei a enciclopédia botânica debaixo do meu braço e a varinha que Roxy me deu na cintura. Enquanto me preparo para partir, de repente me lembro de algo e viro minha cabeça.

— Ahh, verdade. Papai, vou sair de vez em quando, mas avisarei alguém quando for e não vou faltar minhas práticas com espada ou magia. Voltarei antes do anoitecer e não irei a lugares perigosos.

— Ah… Hoh.

Vou esclarecer as coisas por precaução.

Ele de repente fica sem palavras. Na verdade, essas deveriam ser suas falas, certo?

— Bem, estou saindo.

— … Cuidado lá fora.

Assim, saio do portão.

 
Parte 2
 

Depois de alguns dias, o exterior não me assusta mais. É suave. Até consigo cumprimentar com felicidade as pessoas que passam. Todo mundo me conhece também; o filho de Paul e Zenith, o discípulo de Roxy.

Me apresentei às pessoas que conheci pela primeira vez e falei olá para as que encontrei pela segunda vez. Todos me responderam com um sorriso no rosto também.

Faz tanto tempo desde que me senti tão relaxado. Mais da metade do motivo é devido à fama de Paul e Zenith e o resto é graças à Roxy.

Estes são basicamente os esforços de Roxy.

Cuidarei bem do artefato divino — Calcinha não lavada.

 

 
Parte 3
 

Dito isso, o objetivo de sair é memorizar a geografia da área para evitar me perder caso, de repente, for expulso de casa por levantar saias. Ao mesmo tempo, queria investigar as plantas.

Aliás, tenho a enciclopédia botânica e posso identificar o que é comestível e o que não é, assim como diferenciar entre plantas medicinais e venenosas. É bom identificá-las, dessa forma, mesmo se for expulso de casa, não ficarei com fome.

Roxy me deu uma ideia aproximada sobre as plantas da vila: trigo, vegetais e ingredientes para criar perfumes. Os ingredientes dos perfumes são as flores da planta bardius, que lembram a lavanda por conta da cor púrpura fraca e por serem comestíveis.

Com ênfase em plantas atraentes, comparo as plantas que vejo com livro. Contudo, a vila não é muito grande, então não tem muitas variedades.

Depois de alguns dias, minhas rotas se tornaram mais amplas e comecei a me mover na direção da floresta. Existem muitos tipos de plantas lá.

“Baseado em rumores, é mais perigoso dentro da floresta porque a mana tende a se reunir no local, aumentando a chance de criar criaturas mágicas.”

É por isso que as criaturas sofrerão mudanças repentinas decorridas da mana. Embora não saiba por que a mana se reúne dentro da floresta, a vila os caça periodicamente, tornando o local mais seguro.

Todo mês, cavaleiros, caçadores e a equipe de patrulhamento saem com força total para entrar na floresta e eliminá-las. Mas diz-se que no fundo da floresta pode haver a possibilidade de existir uma criatura assustadora.

Por mais que eu ainda possa usar magia e tenha algum conhecimento em lutas, continuo sendo um NEET que nunca lutou antes, logo, não posso ser arrogante. Seria terrível se cometesse um erro por causa da complacência. Vi muitas pessoas morrendo assim… Em mangás.

Se vir alguma criatura, correrei até Paul e reportarei, afinal não sou uma pessoa de sangue quente. Sinto que evitar lutas é o melhor,

Farei isso.

Subi uma pequena colina com uma enorme árvore — a maior por aqui — solitária no topo que avistei. Planejei verificar que tipos de árvores são as maiores, e nesse momento:

— Demônios não deveriam ficar aqui! — A voz é levada com o vento e me faz lembrar uma memória odiada.

O tipo que me fez ficar em casa como um NEET. Bem como a época de pesadelo em que eu tinha o apelido de “Fimosento”.

E essa voz lembra muito às vozes que costumavam me chamar assim — valentões.

— Dá o fora!!

— Coma isso!

— Consegui acertar!

Dou uma olhada e encontro o campo que se transformou em uma área parecida com um pântano devido aos recentes dias chuvosos. Nele, vejo três crianças sujas jogando lama em um garoto pequeno.

— Você ganha dez pontos se acertar a cabeça!

— Ok!

— Consegui! Consegui!

Cara, isso é irritante. Esses delinquentes acham que não há problema em fazer o que querem com pessoas de uma classe social mais baixa. E falando sobre aquele garotinho, tudo bem se ele fugir, porém não entendo por que está imóvel sem fazer nada.

Dou outra olhada e por fim percebo que está carregando algo como uma cesta na frente de seu peito, abraçando-a para protegê-la da lama. Assim, ele é incapaz de evitar os ataques dos agressores.

— Ele tá carregando alguma coisa! O tesouro do demônio!

— Deve ter roubado de algum lugar!

— Acertar nele valerá cem pontos!

— Roubem o tesouro!

Enquanto corro até os garotos praticando bullying, crio uma bola de lama usando magia. No instante em que estou à distância, atiro com todas as minhas forças.

— Wah!

— O que foi?

Acertei o rosto daquele que parecia ser o líder.

— Ai, entrou nos meus olhos.

— O que tu tá fazendo?

— Cai fora, não é da tua conta!

— Tá tentando se tornar o aliado das raças demoníacas?

O alvo mudou para mim em um instante. É o mesmo de sempre, não importa o mundo.

— Não sou aliado das raças demoníacas, e sim dos fracos — Disse com orgulho, mas os garotos sentem que estão do lado da justiça.

— Qual foi, tá tentando parecer legal?

— Tu é filho daquele cavaleiro, né?

— O jovem mestre dos nobres, hah!

Ara ara, isso é ruim, minha identidade foi descoberta.

— Tá achando que é bom para o filho de um cavaleiro agir assim? Vou contar às outras pessoas que os cavaleiros se tornaram aliados das raças demoníacas!

— Diga aos nossos irmãos para virem!

— Irmão!! Tem uma pessoa estranha aqui!

As crianças usam Pedir Reforço! Mas não é muito eficaz...

No entanto, minhas pernas estão tremendo! Droga, mesmo que sejam três pessoas do outro lado, o fato de que minhas pernas ficaram fracas por causa da gritaria de crianças é bem embaraçoso.

“O resultado de ser intimidado até me tornar um NEET…”

— C-calem-se! Vocês são os piores por intimidar uma pessoa sozinha!

— Tu é o único irritante! O que tá gritando, idiota!

Fico com mais raiva ainda e lanço uma bola de lama neles, mas erro o alvo.

— Mané!

— De onde esse cara pegou lama?

— Quem se importa!? Apenas jogue de volta!

Retaliam três vezes mais. Confio no que Paul me ensinou e uso minha magia para evitá-los elegantemente.

— N-não posso acertar ele!

— Por que tá fugindo?!

Hahaha, não é nada demais se não podem me atingir!

Eles continuaram jogando por um tempo, entretanto, depois de perceberem que não podiam me atingir, pararam como se estivessem achando chato.

— Ah~ ahh! Isso é chato!!

— Vamos!!

— Vou dizer aos outros que o filho do cavaleiro se tornou um aliado das raças demoníacas!”

— Nós não perdemos, só nos cansamos de jogar.

Deixando para trás esta linha de argumento, os três pirralhos caminham para o outro lado do campo de trigo.

Sucesso! Ganhei contra os agressores pela primeira vez na minha vida! B-bem, não é nada de que se orgulhar. Pensando mais a respeito, ainda não sou bom em lutar. É ótimo que não tenha se transformado em uma briga.

— Ei, você está bem? Como estão suas coisas?

De qualquer forma, viro a cabeça para trás para olhar para o menino que foi jogado par…

“Wooah…”

É um bishounen que parece um pouco mais jovem do que eu.

Cabelo ligeiramente comprido demais para uma criança, nariz esculpido, pequenos lábios fofos, queixo pontudo. Sua pele de porcelana junto com a expressão como a de um coelho assustado, cria uma beleza estética indescritível.

Droga. Se Paul fosse mais bishounen, então talvez eu também… Não, Paul não é feio, e Zenith também é muito bonita. Meu rosto não é nada mau também. Comparado com o anterior cheio de celulose, não há nenhum problema.

Sim, certeza.

— Um… Hum… E-estou bem…

O menino me mostra uma expressão frágil. Ele é quase como um pequeno animal, fazendo as pessoas sentirem que há necessidade de protegê-lo. Este é um gancho instantâneo para qualquer onee-san shotacon que o vir.

Mas está sujo agora. A lama está em toda parte em suas roupas, metade de seu rosto está coberto e seu cabelo também está podre. É um milagre que tenha conseguido proteger a cesta.

Não tem escolha.

— Coloque as coisas no chão e ajoelhe-se perto do escoamento por um tempo.

— Hã…? Hã…?

Mesmo estando perplexo, não sei por que ele ainda seguiu a ordem, como se fosse incapaz de ir contra qualquer ordem. Bem, se fosse capaz de ir contra ordens, teria revidado antes.

O menino cai de quatro à frente para o escoamento.

Se qualquer onee-san shotacon visse isso, com certeza teria feito algo ilegal.

— Feche seus olhos.

Ajustei a temperatura da água ao nível apropriado com magia de fogo, deixando-a morna a cerca de quarenta graus. Despejo sobre o menino.

— Waah!!

Seguro o pescoço do garoto em pânico e limpo a lama do cabelo dele. Mesmo que tenha resistido no início, depois de se acostumar com a temperatura, acabou se acalmando.

Suas roupas… Bem, é melhor lavá-las em casa.

— Certo, isso deve ser o suficiente.

Depois de lavá-lo, uso magia de fogo para criar um vento quente como um secador de cabelo e pego um lenço que havia guardado no bolso para limpar com cuidado o rosto do menino.

Junto com orelhas longas semelhantes aos elfos, seus cabelos cor de esmeralda também aparecem diante de mim. No momento em que vi a cor, lembrei-me das palavras de Roxy.

“Absolutamente não se aproxime da raça com cabelo cor de esmeralda.”

Erm? Não, há algo diferente. Lembro-me que é…

“Para aqueles com cabelos cor de esmeralda com uma pedra cor de rubi na testa, não se aproxime deles.”

Sim, é verdade. Uma raça que possui uma pedra cor de rubi na testa. O menino tem uma grande testa com uma bela cor branca.

Tá, é seguro. Não é da perigosa raça Supard.

— O-obrigado…

Volto aos meus sentidos depois que ele me agradece. Ei, ei, isso fez meu coração saltar um pouco.

Dou conselhos valiosos para ele com a ligeira intenção de desabafar meu constrangimento.

— Se não revidar, sempre virão atrás de você.

— Eu não posso vencer…

— O mais importante é ter a vontade de lutar.

— Mas eles são sempre maiores, e tenho medo da dor…

Entendo. Se resistir, chamarão outras crianças para forçá-lo à submissão.

É sempre o mesmo em qualquer mundo.

Por causa dos esforços de Roxy, os adultos aceitaram as raças demoníacas, mas as crianças são diferentes. Às vezes elas são bastante cruéis. Se alguém for um pouco diferente, elas vão rejeitá-lo.

— Deve ser duro para você. Você foi intimidado porque a cor do seu cabelo lembra a da raça Supard.

— Você está bem com isso…?

— É porque minha professora também é da raça demoníaca. De que raça você é?

Roxy disse que é da raça Migurd, que é próxima da Supard. Talvez também seja algo assim.

Questiono-o com essa linha de pensamento, porém o menino balança a cabeça.

— … Eu não sei.

Hmm, não sabe? Talvez seja por causa da idade dele?

— Qual é a raça do seu pai e mãe?

— … Ele é meio humano, meio elfo. Ela é humana, mas tem um pouco de linhagem bestial...

Meio elfo e um quarto de uma linhagem bestial? É por isso que ele tem esse tipo de cabelo?

Enquanto estou pensando, os olhos do menino enchem de lágrimas.

— … Por isso, mesmo que meu pai diga… que não sou de uma raça demoníaca… por causa da cor diferente do meu cabelo…

Eu o consolo acariciando sua cabeça. Todavia, também é um grande problema se a cor do cabelo é diferente. Há a possibilidade de sua mãe ter cometido adultério com outro homem.

— A única diferença é a cor do cabelo?

— …Meus ouvidos são mais longos que os do pai…

— Entendo…

Cabelo verde e orelhas compridas... Pode ser possível que haja em qualquer lugar.

Hmm, mesmo que não queira perguntar muito sobre a casa de outra pessoa, também sou uma criança vítima de bullying, então é melhor ajudá-lo. É muito triste ser intimidado apenas por causa de sua cor de cabelo.

O fato de que fui intimidado é um pouco minha culpa, mas esse menino é diferente. Reencarnar e depois confiar em si mesmo é impossível. Ele teve lama jogada em si porque a cor do seu cabelo é meio verde desde o nascimento. Só de pensar nisso me assusta o suficiente para quase me mijar.

— Seu pai é gentil com você?

— … Sim. Por mais que seja assustador com raiva, não fica bravo se eu o ouvir.

— Entendo. E a sua mãe?

— Ela é muito gentil.

Hoh. Baseado na sua voz, seus pais são muito amorosos com ele. Não, você não pode ser claro sobre essas coisas.

— Tudo bem, vamos.

— …Vamos? Aonde?

— Seguirei você.

Segui-lo me permitirá ver seus pais. É superlógico.

— …P-por que quer me seguir?

— Bem, esses caras podem voltar. Deixe-me acompanhá-lo. Você vai voltar ou quer levar esta cesta para algum lugar?

— Estou levando comida pra pai…

Seu pai é meio elfo? Quando se trata de elfos nos livros de história, eles têm uma grande expectativa de vida, possuem longas orelhas, são solitários e arrogantes em relação a outras raças. São bem versados em arco e flecha e magia, com destaque para magia de água e vento.

Como esperado, eles têm uma aparência bonita? Não, sendo tidos como bonitos é apenas imaginação japonesa. Nos jogos ocidentais, eles são frágeis e não parecem tão bonitos assim. Existem algumas diferenças culturais em nossos países. Embora, olhando para esse menino, alguém pense que seus pais devem ser uma combinação impressionante de charme.

— Posso perguntar… por que você está me protegendo? — O jovem gagueja, com suas ações aparentemente aumentando meu desejo de protegê-lo.

— Porque meu pai diz que é obrigação ser um aliado dos fracos.

— Mas… você será evitado pelos outros.

É verdade. Se ajudar pessoas intimidadas, vou ser intimidado também — uma coisa comum.

— Então, que tal você brincar comigo? A partir de hoje somos amigos.

— Eh!?

Então vamos formar uma equipe, sim.

Bullying em cadeia geralmente acontece depois que a parte ajudada trai seu benfeitor. A pessoa que recebeu ajuda deve assumir a responsabilidade e ser grata àquele lhe deu e a mão. Embora as circunstâncias em torno deste menino sejam diferentes, há uma razão mais profunda para o seu caso. Duvido que ele me traia e ajude os garotos.

— Ah, você precisa ajudar com o trabalho doméstico?

— N-não.

Também preciso ouvir a opinião de seus pais, porém ele balança a cabeça com uma expressão fraca e incrível. Estou seguro que no futuro vai ganhar todas as onee-san com tendências shotacon. Bem, essa ideia é muito boa.

Ele com certeza será muito popular entre as garotas. Então, se estivermos juntos, quem sobrar pode me notar. Mesmo que meu rosto não seja nada de especial, se nós dois ficarmos juntos, pareceremos uma pegada de qualidade.

Qualquer uma que não seja tão confiante mudará seu alvo para mim. Prefiro garotas assim àquelas cheias de confiança. Vai funcionar, eu confio. Estou fazendo o oposto das bonitas que se juntam com as menos bonitas para acentuar sua beleza.

— Enfim, qual é o seu nome?

— Sylph… —  Ele calmamente sussurra, mas não ouvi a última metade.

— Sylph, hein? É um ótimo nome, assim como o espírito do vento.

Quando o digo, ele cora e balança a cabeça.

 
Parte 4
 

O pai dele também é um bishounen. Orelhas pontiagudas, cabelo dourado brilhante e um pequeno corpo sem músculos. Não mancha a reputação de um ‘meio-elfo’ nem um pouco e, como homem, herdou os pontos positivos dos elfos e humanos.

De pé no topo da torre de vigia, sua mão está segurando um arco enquanto supervisiona a floresta.

— Pai, isso, o almoço…

— Ah, estou sempre incomodando você, Luffy. Você não foi intimidado hoje?

— Não, alguém me ajudou.

Introduzido por seus olhos, faço uma saudação simples.

Luffy é seu apelido, hein? Por que tenho um sentimento de que a qualquer momento esticará seus membros?

Se ele fosse tão otimista, poderia não ter sido intimidado.

— Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Rudeus Greyrat.

— Greyrat… Você é da família de Paul?

— Sim, ele é meu pai.

— Ahhh, ouvi falar de você. É mesmo uma criança educada. Oh, minhas desculpas. Eu sou Rawls, geralmente estou caçando na floresta.

Segundo ele, essa torre serve para observar se alguma criatura mágica vem da floresta, que é vigiada vinte e quatro horas por dia pelos homens combatentes daqui. Paul também toma turnos, então Rawls já o encontrou antes e os dois conversaram sobre os filhos um com o outro.

— Nosso filho tem essa aparência por se parecer um pouco com nossos ancestrais. Por favor, espero que possa se dar bem com ele.

— Claro. Mesmo que Sylph fosse da raça Supard, minha atitude não mudaria. Juro pelo nome do meu pai.

Depois de ouvir isso, Rawls expressa uma voz de admiração.

— Você entende sobre honra em uma idade tão jovem… Tenho inveja de Paul por ter um filho tão excelente.

— Ser excelente quando se é jovem não significa que continuará sendo excelente. Não é cedo demais se quer ser invejoso? Pode esperar até que Sylph cresça. — Também conforto Sylph ao mesmo tempo.

— Entendo… Você é como Paul descreveu.

— O que ele disse?

— Disse que perde a confiança como pai quando conversa com você.

— Entendo. Bem, vou fazer algumas coisas erradas de agora em diante para que ele possa me dar um sermão.

O canto das minhas mangas é puxado enquanto estou conversando. Quando olho para trás, vejo que Sylph está abaixando a cabeça enquanto me puxa. É muito chato para uma criança quando adultos estão conversando?

— Senhor Rawls, podemos brincar por um tempo?

— Ah, claro. Porém não se aproximem da floresta.

Não é necessário dizer… No entanto, é insuficiente.

— Tem uma árvore muito grande em uma colina quando estávamos vindo aqui. Nós vamos brincar lá e o trarei de volta antes do sol se pôr. Mas se você não nos ver quando voltar para casa, então poderemos estar com problemas. Aí, por favor, procure por nós.

— Ah… Hah.

Bem, este é um mundo sem celulares, e relatórios, comunicações e discussões devem ser mantidos. Não há como evitar acidentes. Mesmo que haja uma boa segurança nacional neste país, não se sabe que tipos de perigos estão à espreita.

Em meio ao olhar atordoado de Rawls, caminhamos em direção à grande árvore nas colinas.

— Bem, do que devemos brincar?

— N-não sei... Nunca brinquei com um a-amigo antes.

Ele parece hesitar sobre a questão dos ‘amigos’. Talvez não tivesse nenhum amigo. Que triste, mesmo que eu não tenha outros amigos também.

— Hmm, pensando nisso, eu também só fiquei em casa até agora. O que vamos jogar?

Ele se agita com as mãos e olha para mim, levantando a cabeça. Tenho a mesma altura que ele, mas está dobrando o corpo enquanto levanta a cabeça para olhar para mim.

— Err, por que você muda entre ‘boku e ‘ore de vez em quando?

— Hm? Ahh, isso? É indelicado não mudar sua forma de falar de acordo com a posição da pessoa. É necessário falar com educação com alguém acima de você.

— Falar educadamente?

— É o que fiz antes.

— Hrm?

Ele parece não entender, mas é algo que aprenderá com o tempo. É assim que alguém se torna um adulto.

— Em vez disso, sobre antes, me ensine.

— Antes?

Ele pisca e usa as mãos para explicar.

— A água quente que jorra das suas mãos e o vento quente que sopra. Aquilo. É difícil?

— Ah, aquilo. Mesmo que seja difícil, se você praticar, qualquer um pode fazer… acho.

A magia que usei para lavar a lama dele.

Minha capacidade recente de mana aumentou tanto que não sei quanto tenho. Além de não ter certeza sobre a quantia média de mana das pessoas da região.

Embora estivesse apenas usando magia de fogo para aquecer a água, se não usasse encantamento sem voz para criar água quente instantânea, qualquer um poderia replicar com magia combinada, então deve estar tudo bem. Acho, claro...

— Se é assim, a partir de hoje teremos treinamento especial!

Continuamos brincando até escurecer.

 
Parte 5
 

Quando chego em casa, encontro Paul de mau humor. Está mostrando uma expressão mal humorada. Ambas as mãos estão na cintura enquanto espera na varanda.

Fiz bobagem? Se pensar sobre isso, há apenas o artefato divino que cuidadosamente mantive — calcinha — que poderia ter sido descoberto. Será?

— Papai, estou em casa.

— Você sabe por que estou com raiva?

— Não.

Finjo que não sei. Se o artefato divino não foi descoberto, então estarei cavando minha própria sepultura.

— Mais cedo, a senhora Ada veio procurar por mim. Parece que você bateu em seu filho, Somar.

Ada, Somar. Quem? Começo a pensar nos nomes que nunca ouvi antes. No geral, só cumprimentei outras pessoas nesta vila e apresentei meu nome. Existe algum entre eles que se chama Ada? Parece que sim e não.

Hm, espere.

— É sobre hoje?

— Sim.

Conheci Sylph, Rawls e os três pirralhos. Isso significa que Somar é um dos três?

— Não bati nele, só joguei lama.

— Você se lembra do que eu disse mais cedo?

— Ser forte não tem como propósito agir legal?

— Está certo.

Ohoh, agora entendi. Pensando mais a respeito, disseram que contariam que eu tinha me tornado aliado dos demônios. Não tenho certeza de que tipo de mentiras eles usaram, mas, em todo caso, são direcionadas a mim.

— Não tenho certeza de que tipo de rumores o senhor ouviu.

— Não!! Se fez algo errado, deve primeiro se desculpar!!

Fui repreendido.

Não tenho certeza do que ele ouviu, contudo não parece suspeitar. Que saco, nessa situação, mesmo que diga que ajudei Sylph porque eles estavam intimidando-o, isso soará como uma mentira. Ou seja, só posso começar do começo.

— Na verdade, estava andando no meu caminho…

— Sem desculpas!!

Esqueça as mentiras, nem explicações passarão. Mesmo que não tenha problema em pedir desculpa primeiro, não acho que seja bom para ele. Não quero que meu irmão mais novo ou irmã passem por tal tratamento injusto também. Este estilo de educação impaciente não é bom.

Fico calado por um tempo, olhando para seu rosto.

— Por que está quieto?

— Porque tudo que digo é uma desculpa para você me repreender.

— O que disse? — Paul olha para mim com fúria.

— Ficando bravo e forçando uma criança a se desculpar antes de a deixar falar qualquer coisa... me deixa com muita inveja que os métodos dos adultos sejam tão convenientes e fáceis.

— Rudy!!

Pá! Meu rosto recebe uma tapa. Contudo, é de se esperar. Provocar alguém significará ser golpeado. Claro que aconteceria, então fique firme. Não apanhei por quase vinte anos. Não, fui espancado quando saí de casa; cinco anos.

— Pai, fiz tudo que podia para ser uma boa criança. Nunca deixei de fazer o que vocês pediam e cumpri com todos os meus esforços.”

— Isso não tem nada a ver com hoje, certo?

O confuso Paul não esperava me bater, e isso é bom.

— Não, tem tudo a ver. Trabalhei duro para ganhar sua confiança e ter paz de espírito, mas você não escuta nenhuma das minhas explicações, confia em alguém que eu nunca encontrei na vida e então grita comigo e me bate sem razão alguma.

— Mas aquele garoto se machucou de verdade.

Machucou? Não fiz isso. Ele se feriu de propósito para forjar um acidente? De toda forma, é uma pena, pois tenho a justiça do meu lado. Não é uma mentira sobre se ferir por acidente.

— Mesmo que tenha se machucado por minha causa, não vou me desculpar. Já que não traí suas lições, posso até estufar o peito para provar inocência.

— … Espere, o que aconteceu?

Ah, agora está finalmente interessado? Bem, essa é a sua decisão de não ouvir.

— Você não se recusou a ouvir desculpas? Não se preocupe, vou agir como se não tivesse visto três pessoas batendo em uma indefesa. Poderia muito bem me juntar a eles para ser quatro contra um. Até anunciarei em todos os lugares que o bullying dos fracos é um orgulho para os Greyrat. Então, quando crescer, vou sair de casa e renunciar meu nome. Desconsiderar esse tipo de violência tanto no abuso verbal quanto físico e continuar permitindo que aconteça me faz sentir envergonhado de me chamar Greyrat.

Ele ficou sem palavras e com uma expressão de dor. Seu rosto depois ficou vermelho e olhou para o chão, como se estivesse em conflito. Está com raiva, ou precisa de outro empurrão?

Desista, Paul. Sou um cara que há mais de vinte anos encontra desculpas para situações que não pode ganhar. Se houver a menor abertura, posso debater as coisas até um empate. Além do mais, estou certo. Você não tem nenhuma chance de ganhar.

— … Sinto muito, eu errei. Conte sobre o que aconteceu — disse, abaixando a cabeça para mim.

Certíssimo, a insistência inútil só tornará ambas as partes infelizes. Se você está errado, apenas peça desculpa. Isso é para o melhor.

Quando meu humor se acalma, relato o ocorrido em detalhes para explicar o incidente: “ouvi vozes enquanto subia a colina. Três crianças estavam jogando lama do campo de trigo em outra. Depois que também joguei neles duas vezes e briguei, saíram correndo depois de insultar-nos. Em seguida, usei magia para lavar o garoto e brincamos juntos”, ou algo parecido.

— Então, se há necessidade de se desculpar, Somar deveria falar Sylph primeiro. É fácil para as feridas físicas curarem rápido, mas não para uma ferida mental.

— … Você está certo. É culpa minha, perdão. — Abaixa os ombros, em derrota.

Acabo me lembrando do que Rawls falou hoje mais cedo quando o vejo desse jeito. ‘Disse que perde a confiança como pai quando conversa com você’. Pode ser possível que ele esteja tentando me ensinar uma lição para mostrar seu lado como pai.

Bem, ele só falhou uma vez.

— Não precisa se desculpar. Caso sinta que fiz algo errado, por favor, me repreenda sem reservas, mas, por favor, ouça minhas explicações. Por mais que não explique o suficiente ou soe como uma desculpa, eu falaria algo que gostaria de dizer. Por favor, tente entender como penso.

— Ahh. Levarei isso em conta, mas não acho que vai cometer erros.

— Então trate isso como uma experiência educacional e use-a em meus futuros irmãos.

— … Tudo bem.

Sua expressão é cheia de derrota e autozombaria. Exagerei? Perder para um garoto de cinco anos. Hmm, também ficaria chocado se fosse comigo. Esse cara ainda é muito jovem para ser pai.

— Pensando nisso, pai, quantos anos você tem?

— Hm? Vinte e quatro. Qual é o problema?

— Entendi.

Tiveram-me aos dezenove? Mesmo que não saiba a idade média para casar, se enfrentar criaturas mágicas e guerras é algo frequente tão novo, é apropriado se casar nessa idade? Alguém mais novo que eu, casando e tendo que se preocupar com o filho. Sendo honesto, qual parte do homem de trinta e quatro anos desempregado, sem casa e conquistas ganha em relação a ele?

Deixa quieto.

— Pai, posso trazer Sylph aqui para brincar da próxima vez?

— Eh? Ah, claro.

Entro na casa quando estou satisfeito com a resposta dele. É bom que Paul não discrimine as raças demoníacas.

 
Parte 5
 

Ponto de vista de Paul:

Meu filho ficou com raiva. Ele, que nunca se expressou muito antes, tem uma fúria silenciosa dentro de si agora. Como as coisas acabaram assim?

O incidente aconteceu esta tarde, quando a senhora Ada veio à nossa casa para fazer uma enorme confusão. Ela trouxe seu filho, que era apontado como um pirralho terrível por outros, e os cantos de seus olhos estavam machucados. Como espadachim, tenho experiência suficiente para ver que era o sinal de uma surra. Ela não explicou com clareza, mas de alguma forma meu filho bateu em Somar.

Ao ouvir isso, fico aliviado. Provavelmente Rudy queria se juntar ao menino e os outros para brincar. Contudo, ele é um mago de nível Santo d’Água em tenra idade. É possível que tenha dito algo de maneira arrogante e entrado em uma briga após ser recusado. Embora honesto e inteligente, ainda se parece com uma criança em algumas áreas.

Ada fez parecer uma grande coisa, mas é apenas uma briga de crianças. Baseado no que estou vendo, essa lesão não deixaria nem uma cicatriz. Vou terminar as coisas com algumas broncas. As crianças brigaram, mas Rudy é mais forte que qualquer outra criança. Além de ser um discípulo da jovem maga Roxy, também treinou seu corpo comigo desde os três anos de idade. Teria sido uma disputa unilateral.

Deve ficar tudo bem se for apenas hoje, porém se ficar muito emotivo pode acabar exagerando. Além do mais, ele é tão esperto que deveria ser capaz de resolver as coisas sem bater em Somar. Devo ensinar-lhe que lutar é falta de raciocínio e que precisa considerar o resultado antes de agir. Preciso ser mais rigoroso aqui.

No entanto, as coisas não saíram do jeito que eu imaginava. Meu filho não pretendia se desculpar. Não importa se desculpar ou não, ele está até olhando para mim como se estivesse olhando para um inseto. Talvez do seu ponto de vista seja uma luta contra os números, mas precisa perceber que quanto mais forte for, mais precisa estar consciente de sua força. Além disso, ele até machucou alguém.

De qualquer forma, vou deixá-lo se desculpar. Ele é muito esperto. Talvez não possa aceitar isso por enquanto, porém encontrará uma resposta mais cedo ou mais tarde.

Pensando assim e usando um tom mais forte para repreendê-lo, fui refutado com algumas observações sarcásticas. Perdi a paciência com sua provocação e o acertei. Mesmo que quisesse ensinar-lhe a forte necessidade de estar ciente da força e não usar a violência contra os fracos… Fiz isso primeiro.

Estava errado antes, mas estou do lado como educador, então não posso me desculpar. Ensinar alguém a não fazer o que acabei de fazer — esse argumento simplesmente não se sustenta.

Enquanto estou sendo incoerente, meu filho passou a afirmar que não fez nada de errado e que, se não está tudo bem, deixará esta casa. Quase falei “então vá”, porém me contive. Tenho que me conter neste momento. Fui o único que não pôde suportar as regras de minha casa e as severas repreensões do meu pai, antes de ter uma grande briga e ir embora.

Herdei o sangue do meu pai; o sangue rígido e teimoso, e Rudeus é o mesmo. Olhando para essa parte teimosa, ele é de fato meu filho.

Naquele dia, quando meu pai me disse para sair, não consegui encontrar uma saída e saí de casa de verdade. Teria altas chances de meu filho sair de verdade. Mesmo dizendo que só vai depois de crescer, se eu falar para sair, ele o fará. Somos parecidos nesse aspecto.

Parece que meu pai adoeceu pouco depois de eu ir embora e morreu. Ouvi dizer que ele lamentou a briga daquele dia, e, por este incidente, me culpei bastante. Não, para ser claro sobre isso, estava me afogando em arrependimento. E agora, se disser a Rudeus para sair, ele fará isso e vou me arrepender uma vez mais.

Nós dois nos arrependeríamos.

Suporte. Preciso aprender com a experiência. Além de que eu não havia decidido? Não vou me tornar como meu pai.

— … Sinto muito, eu errei. Conte sobre o que aconteceu.

Naturalmente me desculpei. Sua expressão relaxou e então me explicou o que aconteceu. Baseado no que disse, ele viu o filho de Rawls sendo intimidado e foi ajudá-lo. Não houve nenhuma briga, e apenas jogaram lama. Se o que disse é verdade, então o que Rudeus fez é algo para se orgulhar. Entretanto, em vez de elogiá-lo, não ouvi suas explicações e o bati.

Ah, lembrei agora. Tive experiências assim quando era mais jovem. Meu pai não me deu ouvidos e apenas apontou minhas fraquezas, e cada vez que o fazia me enfurecia mais e mais.

Que fracasso. O que há com “É meu dever educá-lo”?

Hah…

Rudeus não me culpou e até me consolou no final. Que filho incrível. Este é de fato meu filho. Não, mesmo entre as pessoas com quem Zenith poderia ter tido um caso, não havia ninguém que fosse tão brilhante.

Uhul, minha semente é tão boa assim…

Em vez de dizer que tenho orgulho, acho que meu estômago está doendo.

— Pai, posso trazer Sylph aqui para brincar na próxima vez?

— Eh? Ah, claro.

Mas acho que deveria estar feliz com o primeiro amigo do meu filho.



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