Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10: Erro de Cálculo
O treinamento de Kei foi ainda mais absurdo que o do Yan.
Em cima desse cume desgraçado de frio, eu tinha que enfrentar uma montanha feroz relampejante! Prefiro nem dizer o que senti diante dessa ameaça enquanto sofria com o bombardeamento de relâmpagos vindos do manto dele e o frio de gelar os ossos que sentia vindo da montanha.
Sério, quando vi esse enorme tigre soltando relâmpagos… eu quase me borrei. Acho que até o Mestre Zi se apavoraria.
Bom, vou dar um leve resumo do treinamento: Ora eu era queimado, ora era congelado. Simples, não? Pois é.
O choque térmico era constante. E, para piorar tudo, não fui curado em momento algum! Então, eu tive que me manter lutando contra dois tipos de forças monstruosas, frio e raios!
Enfim, a essência desse treinamento foi rapidamente entendida por mim. Era um treinamento de resistência, rapidez em agir e pensar e percepção.
Os relâmpagos que saiam dos diversos lados do manto dele representavam os ataques inimigos, sem direção definida e contínuos. Era necessário que correspondesse esses ataques com esquivas ou partir para cima dele, que é TOTAL E COMPLETA IDIOTICE!
Eu juro, pensei mesmo que ele pegaria um pouquinho leve se eu fosse para cima, mas acabou que fiquei complemente tostado! Meu pelo laranja macio ficou preto e duro…
Então, tudo o que sobrou foi apenas desviar ou aguentar a dor quando fosse atingido.
Por alguns dias Kei não abriu a boca para nada, apenas jogava relâmpagos sem piedade alguma em cima de mim. Só que ontem ele abriu a boca finalmente para falar sobre o manto dele.
“Filhote, ouça com cuidado. Sendo um laranja, seu manto tem a capacidade de usar outros, como você já sabe. Contudo, não basta apenas usar a chama dos mantos ao seu favor. Todos mantos têm seus truques e utilizações. Usarei o meu Manto do Trovão como exemplo.” Quando Kei disse isso, uma cúpula se formou em volta de nós dois.
Só pude arregalar os olhos quando vi isso. Toda neve, que descia para o cume, foi bloqueada por essa cúpula.
Ele voltou a explicar: “Como pode ver, o que formei foi um campo estático. Semelhante ao campo de cura que os mantos brancos formam, entretanto serve para bloquear ataques ou reduzir a força dos inimigos.”
O enorme campo estático foi desfeito em um segundo, e a neve voltou a cair.
“Posso aumentar o tamanho do campo de efeito, mas a força diminui. Há outros métodos comuns, como utilizar os atributos do Elemento em seu corpo. Você entenderá em breve.”
Assenti para ele.
Claro que eu sabia que existiam outros usos para os mantos, mas não pensei que aprenderia sobre isso nesse treino.
Se Kei me contou sobre isso agora, significava que existia um método para acertá-lo mesmo com o manto dourado ativo.
– Terras Gélidas –
Já havia passado 1 mês e 20 dias. Ragnar voltou para casa nesse meio tempo para pegar um novo conjunto de roupas. Ele podia ser um monstro no combate, mas pegar resfriado ainda era um problema para qualquer um.
Longe do acampamento podia-se ver pequenos pontos se aproximando. Quando chegaram perto o suficiente para ver suas formas, mostrou ser pequenos homens barbudos.
Ragnar, ao vê-los, ficou incomodado. O Líder, Kasmet, era um velho extremamente implicante com ele, desde que se conhecia por gente.
Kasmet estava com 658 anos atualmente. O que significava que já tinha passado da idade estimada para a vida de um Anão Trovejante. De fato, um feito incrível dentro da sua raça.
Quando Kasmet viu Ragnar, um grande sorriso apareceu em seu rosto e gritou imediatamente: “RAGNARRRRRR! O QUE ACONTECEUUUU!? ALGUÉM TE INTIMIDOOOUUU!?”
Esse Anão Trovejante conhecia-o desde que era um pequeno filhote do Clã Leão. Ragnar usava a armadura que seu falecido pai lhe deu. Se não estava a usando agora, só podia significar duas coisas: Ou alguém a roubou — que era muito improvável —, ou alguém a destruiu.
Ragnar sofreu diversas intimidações vindas desse Líder. Não por seu poder ou algo assim, mas sim por suas brincadeiras desde que era criança. Kasmet sabia como provocá-lo e deixá-lo calado, sem qualquer resposta. E mesmo com sua idade avançada, Kasmet continuava muito energético.
Diferente dos Olhos, Espada e Escudo da Aliança, que eram os Demônios Negros, a Aldeia dos Anões Trovejantes era o Martelo da Aliança. Para complementar isso, até os Guerreiros usavam enormes martelos ou marretas. Provando que mesmo suas Classes fossem de Guerreiro, suas Profissões ainda eram de Ferreiro ou Artesão.
Todos nessa raça tinham uma grande Afinidade Elementar com Fogo e Trovão. Eles eram os fornecedores de equipamentos de todas Aldeias. Tanto que a armadura, que o pai de Ragnar usava, foi forjada por Kasmet aos 100 anos. Ele considerava ela uma de suas obras-primas.
E, como criador, ele sabia que para destruí-la era necessária uma força que excedia todas que já tinha visto. Embora fosse brincalhão, Kasmet analisou a situação de todos com calma e perspicácia.
Se Ragnar, que era verdadeiramente um guerreiro, acabou sem sua armadura e perdeu, significava que, além do Líder dos Elfos Prateados, ele também tinha cometido o mesmo erro de trazer uma pequena quantidade de guerreiros.
Diferente do que imaginava inicialmente, uma batalha contra essas Bestas Mágicas provou-se um perigo ainda maior.
Após mais 10 dias, os Demônios Negros chegaram.
Essa raça causava calafrios na espinha para qualquer um que os visse ou estivesse próximo. Começando pelo rosto, que era completamente negro, apenas quando abriam suas bocas que poderiam ser seus dentes brancos e afiados. Suas íris eram vermelhas e suas escleróticas completamente negras.
Eles tinham diversos tipos de chifres saindo de suas cabeças. Alguns saindo de suas testas, outros davam uma volta por trás da cabeça, alguns até subiam em círculo. Eram diversos.
Para implementar sua habilidade camuflagem no escuro, apenas trajavam roupas pretas. Pois, para entrar nas sombras de Enir, era preciso manter a mesma cor da sombra, e só de vez em quando abrir seus olhos. Uma raça viciosa e paciente.
Seu Líder, Amon, era o mais velho de todos os Líderes aqui. Também conhecido como “o mais insensível e cruel” por todos.
Amon, diferente de todos os Demônios Negros, tinha um par de asas negras, como um morcego gigante. Chifres grossos, que originavam de suas têmporas, subiam majestosamente para cima. Suas mãos negras e unhas pontudas o faziam parecer como uma Besta Mágica. E, para completar sua total imparidade com todos da sua raça, ele tinha uma cauda escamosa com ossos pontudos crescendo no topo.
Por mais que fosse insensível, ao lado dos outros Líderes, Amon se soltava um pouco, não que isso fosse algo bom para os Líderes. Afinal, sua voz aguda causava medo em qualquer um, então, para os Líderes, era como ter o Diabo como amigo. Tenebroso.
Quando ele viu Ragnar sem sua armadura, uma risada estridente e aterrorizante saiu da sua boca.
“KEHAHAHA! O Leãozinho está sem sua armadura preciosa! Conte, o que aconteceu Leãozinho?”
Ragnar odiava, do fundo do seu coração, Amon. Esse Demônio sem idade tem carregado o posto de Líder desde antes de seu avô nascer. E, toda vez que aparecia, soltava comentários irritantes e nocivos para todos.
Então, Ragnar contou o que aconteceu dentro das Terras Gélidas. Não apenas os Tigres Amba haviam ficado mais espertos e poderosos, mas outras raças também. E durante sua estadia de 2 meses naquele ponto, eles viram hordas tentando voltar ao interior de Enir e outras indo para outros territórios.
Amon, com um grande sorriso que mostrava seus dentes iguais de um tubarão, contou o que sabia: “Leãozinho, tente não se surpreender agora. As Hordas estão se movendo porque há um ovo de Dragão no interior de Enir.”
Com essa resposta, todos os Líderes arregalaram os olhos. Os mais furiosos eram Sha’l e Ragnar, que, com um pisar forte no chão, foram capaz de rachar o solo.
Os dois gritaram: “Impossível!”
Em resposta ao grito dos dois, Amon apenas sorriu ainda mais. Um sorriso que quase chegava às suas orelhas de tão grande.
“Acham mesmo que nós, os Demônios Negros, daríamos uma informação errada? Uma informação que pode custar todas as vidas das Aldeias?”
Ragnar caminhou pesado até a frente de Amon, com uma expressão feroz: “Como tem um ovo de Dragão dentro de Enir se nenhum Dragão foi visto viajar para cá durante esses anos?!”
Era perceptível que essa noticia incomodava Ragnar mais do que qualquer outro Líder. Ouvindo essas perguntas Amon respondeu sem se importar muito: “Não faço ideia. O ovo está lá, e não sabemos quanto tempo tem para chocar. Além disso, para protegê-lo, as Hordas estão crescendo espontaneamente. O assunto sobre a Horda é real, mas vocês precisam ver com os próprios olhos a situação.”
Era óbvio que, mesmo sem ligar muito para o resultado, Amon ficou sério conforme respondia.
Kasmet se intrometeu no assunto. Ele, melhor que qualquer outro, sabia que quando Amon mudava seu tom significava que algo ruim iria acontecer em seguida, então, Kasmet logo acabou com esse assunto e mudou a questão.
“Ragnar e Sha’l, vocês que enfrentaram os Tigres Amba aqui, digam-me, comparado a antes, quão poderosos estão? Mesmo conosco aqui, são poucos membros? E, Amon, você não faz ideia do motivo das Bestas Mágicas estarem mais espertas?”
Sha’l, com uma expressão pesada, respondeu: “Estão diversas vezes mais poderosos. Não porque sua Mana está maior, mas por causa do trabalho em equipe. Apenas três já mostraram capacidade de acabar com um pequeno batalhão com sincronia,” ele suspirou e continuou: “Sim, cometemos o erro de entrar nesse território com poucas pessoas. Acredito que em uma batalha de frente com eles, talvez mais da metade dos membros morram, sem contar que um Líder pode acabar morrendo.”
Antes de ter a resposta de Ragnar, Amon deu de ombros e replicou facilmente à questão: “Kehaha. Não faço ideia do porquê de estarem mais espertas.”
Saindo da frente de Amon, Ragnar olhou para todos os Líderes e contou: “Enfrentei apenas um Tigre Amba, uma fêmea. Embora seja apenas uma, não sei se é a mais poderosa, mas ela foi capaz de devastar minha armadura e quase me matar. Se os Tigres Amba em geral estiverem nesse nível de poder, não teremos chance.”
Ouvindo essas respostas, o grande sorriso voltou ao rosto de Amon.
“Então, essas Bestas Mágicas se tornaram capazes de ameaçar a vida do nosso “grandioso” Leãozinho? Parece que essa batalha vai ser ainda mais perigosa que pensávamos. Será que devo visitar cada território desses gatinhos e estraçalhar todos os filhotinhos deles?! KEHAHAHAHA! QUE ÓTIMA IDEIA! SÓ DE PENSAR NO GRITO E LAMENTO DAQUELES PEQUENINOS SENDO ESMAGADOS E CORTADOS! ESSA RAÇA NEM PRECISA MAIS EXISTIR!” Euforia foi demonstrada por seus comentários nocivos. Essa era a atitude que os Líderes mais tinham nojo de Amon.
Como a raiva e choque de Ragnar não tinham sumido desde que ouviu que tinha um ovo de Dragão para lidar, ele só pôde explodir com um rugido furioso.
“NÃO FAÇA ESSA MERDA, AMON!”
O sorriso de Amon sumiu do seu rosto e olhou sério para Ragnar que estava para continuar a falar. No entanto, Kasmet e Sha’l agarraram suas armas, pois, poderiam ter que intervir caso Amon não suportasse os próximos comentários de Ragnar.
“Quem está invadindo o território deles somos nós, não eles! E não apenas isso, eles estão em constante ataque das Hordas que precisam passar pelo território deles. Se eles forem exterminados, toda a maldita Horda vai cair sobre nossos ombros! Eles não entendem que queremos apenas passar para ver o que está acontecendo no interior de Enir, por isso nos consideram como ameaça. Quando entrarmos, uma batalha entre nós e toda a raça deles será iniciada. Uma batalha que só vai trazer prejuízo para nós e eles.”
Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Amon.
“Você é tão sentimental, Leãozinho. Mesmo que diga que o território é deles, nós, Demônios Negros, estamos nesse continente antes mesmo de qualquer um dos seus ancestrais pisarem aqui. É mais correto dizer que todo o continente é território nosso por direito.”
Com os olhos semicerrados, Ragnar perguntou com raiva: “Você ainda quer continuar com essa ideia, Amon?”
Amon andou até a frente de Ragnar e, sem demonstrar qualquer medo ou hesitação, respondeu com um tom “amigável”: “Se o Leãozinho não concorda, não vou estragar a nossa maravilhosa amizade. Afinal, não quero ter que exterminar leões e tigres essa noite.” Nas últimas palavras, um tom ameaçador surgiu na voz dele.
Sha’l não pôde ficar quieto depois disso.
“Somos uma aliança! Esse é o único território que permite passagem terrestre até o interior de Enir. Devemos passar por ele de qualquer forma. Se uma batalha iniciar com toda a raça dos Tigres Amba, é obrigação nossa vencer.”
Os outros três Líderes assentiram ao comentário de Sha’l e juntaram todos os membros da expedição que vieram. Era hora de entrar no continente.
Se eles tivessem que voltar agora para pegar mais guerreiros, sentiam que algo horrível ocorreria em breve.
As Hordas se mostraram ainda mais velozes que antes e, conforme progrediam em seu objetivo, estavam empurrando as Bestas Mágicas locais para outros territórios, cada vez mais próximas das Aldeias.
Era uma necessidade imediata ver o que estava acontecendo no interior do continente para decidir o que fariam.
– Templo dos Tigres Amba –
Agora sim, rapaziada! Finalmente 1 ano de idade!!!! E, para melhorar tudo, o treinamento com Kei fechou em 2 meses. Eu já tava cansado de ficar com o pelo todo eriçado e carbonizado.
Do inicio ao fim desse treino, deu para ver quão efetivo foi em mim. Não só estou mais forte, mas minha velocidade de reação e resistência aumentaram em muito.
Agora, com 1,8m de altura, finalmente tenho uma altura normal entre os filhotes da minha idade. Por sinal, a velocidade de crescimento deu uma diminuída forte. Parece que é comum que na nossa raça ter uma explosão de crescimento no início e com 1 ano a velocidade começa a acalmar.
Algum tempo atrás, Kei tinha convocado uma reunião para nos avisar de algo. Porém, só hoje todos os Tigres Amba — todos os adultos, e os filhotes da competição — chegaram ao templo.
Quando vi minha mãe no templo, óbvio que não pude conter minha animação, mas Kei estava no começo do discurso, então não podia interromper.
“Há alguns dias, quando convoquei essa reunião, houve uma confirmação que os poucos membros das Aldeias entraram nas Terras Gélidas. Entretanto, por mais que sejam poucos em número, os quatro Líderes estão no meio.”
Quando ele falou sobre os tais “quatro Líderes”, a atmosfera dentro do templo ficou muito tensa.
“Irmãos, hoje é o dia. O dia da batalha! Como mais velho entre nós e líder dos Tigres Amba, eu devo me encarregar de Amon.” Um tom extremamente sério saiu da enorme boca de Kei, como se temesse o nome dessa pessoa.
Após decidir isso, seu olhar se virou para minha mãe e questionou: “Kan. Você me contou que lutou contra Ragnar, um da raça desgraçada, sozinha e ainda conseguiu empatar. Diga-me, acredita que conseguirá este feito novamente pelo bem da nossa raça?”
Minha mãe, que estava com os olhos fechados, respondeu à questão enquanto encarava todos os tigres adultos: “Filhotes precisar de futuro. Se raça precisa, farei,” então seu olhar caiu somente em mim, “Filhote, Pequeno Líder?”
Uma gargalhada alta foi soada por todo templo.
“Sim, Kan. Seu filhote é o Pequeno Líder Amba. O mais forte dos filhotes. Como avô, não posso estar mais maravilhado pela cria incrivelmente talentosa que você, minha nora, concedeu.”
É O QUE????!!! HÃ?! KEI É MEU AVÔ????!!! PAI DE ZAN?! POR QUE SÓ FOI DITO AGORA????
Logo o clima sentimental sumiu — e eu aqui com o queixo caído pela revelação —, e a tensão retornou.
Kei direcionou seu olhar para outros tigres.
“Yan, Ka’in e Le’in. Vocês devem atuar como bloqueio contra Sha’l.”
Os três assentiram de imediato. Já que pararam esse tal de “Sha’l” uma vez, outra não deve ser problema.
As instruções continuaram.
“Filhotes. Obedeçam às ordens do Pequeno Líder. Se vocês desobedecerem, não terá adulto que os protejam quando estiverem em perigo. Então, sem questionamentos, apenas obedeçam.”
Os filhotes não puderam ficar de fora da atmosfera tensa de uma batalha de vida ou morte.
Com suas últimas palavras, Kei terminou a reunião.
“IRMÃOS! É HORA DO FESTIVAL DE SANGUE!”
Todos adultos rugiram em animação. Só com essas últimas palavras, conseguiu animar todos no templo.
Depois de meus tímpanos quase sangrarem com esse rugido, saí do templo para respirar.
Tem muita coisa estranha acontecendo ao mesmo tempo… Hah… Essa batalha parece tão… sem sentido.
Enfim. A única coisa motivadora agora é que, depois de ter sido treinado pelo meu “avô” — que ainda é chocante para mim —, fiquei muito mais forte. Observem.
Pelo que deu para perceber, não tive como aumentar meu nível como antes. Toda carne que eu comi durante esses 2 meses foi trazida pelo Kei, e, logo em seguida, o treino continuava. Então, o que realmente aumentou foram os meus Atributos.
De acordo com Kei, minha Gema de Energia alcançou a Classificação (B). No entanto, eu ainda não entendo como funciona essas “Classificações”, é uma medida muito esquisita.
Toda vez que a Classificação eleva, sinto mais energia preencher o meu corpo. É perceptível que o cansaço diminuí e consigo acessar mais força que antes. É um sentimento muito bom!
Porém, mesmo que isso seja ótimo, a coisa que mais dei valor nas mudanças na elevação de Classificação foi que minha taxa de absorção de energia, tanto Chi quanto Mana, aumentou! Aquela trava de tempo dentro da Gema de Energia diminuiu por um pouco, mas isso ajuda tanto! Significa que a “purificação” de energia tem efeito maior e mais rápido.
Fora isso, também fiquei muito resistente. Eu nem preciso dizer porque esse Atributo subiu mais que qualquer outro né? Raios mortais… Frio de rachar… Foi como um passeio no parque, sabe.
Agora é hora de ver finalmente olhar as raças humanoides desse maldito lugar. Meu coração está até animado para isso!
Como imaginava, tivemos que descer da montanha gigante, que ficava o templo, e irmos para o começo da cordilheira. Porém, dessa vez minha mãe está me levando junto! Graças a Jeanne, imagina eu descer tudo isso de novo?!
Agora, em cima de uma colina alta, todos Tigres Amba adultos estavam enfileirados horizontalmente — é quase uma muralha gigante.
Os filhotes estão atrás dos adultos, mas não muito próximos. Só eu que estou escondido atrás da pata de Kei para analisar os inimigos — no caso dar uma olhada nessas criaturas novas — e o campo.
Hmm… Os inimigos estão vindo em marcha lenta. Diversos tipos, tamanhos e raças… Hã? O QUE É AQUILO PRETO COM ASAS ALI?!
MENTIRA! TEM UM DEMÔNIO ALI!!!!
MINHA SENHORA JEANNE, QUE PORRA ASSUSTADORA! PARECE O DIABO! TEM ATÉ CHIFRES!!
Não que eu esteja com medo dele ou algo assim. Claro que não. Só vou voltar para os filhotes, por precaução.
Ok. Como é de imaginar, os inimigos acreditam que só os adultos vão encará-los nessa batalha. Os filhotes estão escondidos atrás da colina. Agora é hora de bolar o plano com base no que temos aqui.
Floresta à esquerda, uma pequena colina à direita… Atrás montanhas, à frente um campo aberto coberto por neve fofa. Mais atrás da retaguarda dos inimigos, há algumas rochas de tamanhos variados.
Ao meu favor, temos o fator surpresa, 50 filhotes no controle e minha capacidade de planejar alguma tática simples para encurralar os inimigos dos flancos externos e da retaguarda.
Ao favor dos inimigos… Eh… Eles… mal têm a mesma quantidade que nós. Entretanto, têm os Líderes fodões para comandar… Julgando a confiança de Kei em deixar para que filhotes lidem com os outros combatentes do lado inimigo, então devem estar no nosso nível de poder.
Não importa como eu pense, isso está muito desfavorável para o oponente. Primeiro, por que viriam em tão pouca quantidade?
Eles nos subestimam? Mesmo depois de lidar com a entrada dos tais “Elfos Prateados” com três dos nossos…
Esquece isso, Henry! Balanço a cabeça com esse pensamento.
Ficar pensando muito sobre isso só vai atrapalhar. Eu só tenho um objetivo aqui: comandar os filhotes e lidar com os inimigos.
Dos quatro Líderes que vi, só um trouxe uma sensação esquisita para mim. E, não. Não foi o capeta lá. Foi um de juba. O desgraçado tem tipo, mais de 2 metros! Como diabos conseguiu crescer tanto?! Sem contar na aura dele! Parece como a de um grande mestre da minha vida anterior. Se ele for um mestre, então uma tática simples talvez seja captada na hora.
Além disso, esse exército que trouxeram é de raças variadas, mas não tem nenhum como ele. Será que escondeu os guerreiros dele? Se for assim, é fim de jogo para os filhotes e para mim.
Argh! Que raiva isso! É muita coisa para levar em conta. Terei que apostar que ele não escondeu os guerreiros.
Observando a formação do inimigo, é algo simples. Líderes na frente para lidar com os mais fortes dos Tigres Amba. A galerinha “normal” fica atrás, como reforço. Se fosse para definir alguma imagem para a formação deles, é como a ponta de uma lança.
Estratégia feita. É hora de iniciar o caos.
Imediatamente fui para o lado de Kei, que encarava o Demônio completamente preto. Eu quase engasguei quando vi de novo aquele diabo. Falei em voz baixa para ele: “Avô-han… Filhotes, floresta. Atrás, inimigo fraco. Certo?”
Ele apenas fechou os olhos devagar. Significava que entendeu e estava de acordo.
Mais uma vez tem alguém me encarando. Odeio essa sensação de estar sendo vigiado por alguém. Principalmente, quando é alguém mais forte.
Dei uma olhada para ver quem era. Eh? É aquele da juba… O que diabos ele quer?
Ficar chamando-o de “aquele da juba” não é legal, vou dar um apelido para facilitar falar dele… Hmm… Cabeludo? Não, muito bobo. Juba… Jubão! ISSO! Combina muito bem com ele.
Deixei de lado essa encarada dele e voltei para os filhotes. Daqui alguns segundos Kei deve iniciar a investida. Temos que usar esse espaço de tempo para nos ocultar pela floresta.
A ideia da minha tática é simples, mas deve ser efetiva — caso não tenha reforços escondidos — contra um exército tão pequeno: Devemos atravessar a floresta e, deixando alguns dos nossos camuflados, alcançarmos a área pedregosa para atacarmos por trás.
Tudo deve ser rápido e durante a investida dos adultos.
Comecei a dar as instruções para os filhotes: “Esquerda, floresta. Atrás, pedras. Passar floresta, alguns esconder. Chegar pedras, atacar inimigos, atrás.”
Que desgraça deve ter ficado quando expliquei esse plano nesse vocabulário tão raso. Que seja. Todos filhotes entenderam, então era hora de iniciar.
Após meio minuto, Kei rugiu e avançou nos inimigos, liderando todos os adultos. O passo pesado de todos adultos fazia a colina tremer e, como um trovão, o som reverberar pelo ambiente.
Não tem mais volta agora. Não posso subestimar o inimigo só porque estão em menor número ou distraídos. Temos que agir imediatamente. Assim que atacarmos a retaguarda, os guerreiros vão se virar para lidar conosco.
Por algum motivo sinto que não posso ficar com os filhotes. É mais como uma necessidade de ver a verdadeira luta. A luta da minha mãe contra aquele tal de “Ragnar”.
Eu sei. É errado da minha parte sair no meio da batalha, quando eu que sou o “Pequeno Líder”, então vou fazer com que esse plano dê certo e diminua todo o peso que teriam caso atacassem cegamente.
Com isso em mente, criei novas ideias a partir da tática original.
Conforme atravessávamos a floresta, era possível ver os diferentes clarões de luzes dos mantos sendo ativados. Uma visão linda, mas terrível. Uma névoa de sangue se erguia com o passar dos segundos.
Para nossa sorte, o inimigo não usou a floresta ou escondia nenhum reforço nela. Então, no máximo, devo imaginar que eles devem nos subestimar por sermos tigres. Subestimar um inimigo esperto sempre resultou em desastres.
Como parte da tática melhorada, ordenei alguns filhotes ficarem escondidos na floresta até eu dar o sinal para atacarem. O restante me seguiu para a área pedregosa.
Os 30 filhotes restantes estavam escondidos atrás das rochas.
Direcionei o olhar para Han e Ka’la, que estavam olhando para todos os lados. Era óbvio que estavam muito preocupados, afinal, essa era uma situação que nunca estiveram. Logo dei a última ordem para esses dois e mais outros 5 filhotes; contornar a colina do lado oposto da floresta e causar um ataque surpresa.
Dependendo da formação que os inimigos tomarem, será melhor chamar Han e Ka’la antes dos filhotes na floresta.
Contando com Han, apenas outros dois filhotes eram azuis, já os outros 3 eram amarelos, como Ka’la. Eles seriam nossos intermediadores, caso os inimigos fossem muito poderosos. O restante dos filhotes ficaria comigo no ataque na retaguarda.
Escondido atrás da rocha, olhei para a situação da batalha. Todos inimigos estavam concentrados nos adultos. Todos, do lado inimigo, na retaguarda eram Magos ou algo assim, já que estavam soltando poderes de suas armas ou mãos.
É hora de agir.
Primeiro seria eu, acompanhado dos filhotes que estavam escondidos atrás das pedras.
Avançamos rapidamente nos Demônios pretos, que estavam soltando poderes pelas mãos. Alguns notaram rapidamente o som dos nossos passos na neve, mas a maioria estava prestando atenção na batalha contra os adultos. Os que notaram seriam nossos alvos.
Antes de poderem abrir a boca, cada filhote se separou em pequenos grupos de 3. Dois pulariam em suas pernas e um em sua garganta.
Era óbvio que alguns não conseguiriam completar sua tarefa, mas o importante era matá-los, ou impossibilitar a fuga.
Saltei em cima de um desses Demônios e, derrubando-o no chão, estraçalhei sua garganta com uma mordida. Cuspi na hora que percebi a cor do sangue. Completamente negra, como petróleo. Espesso e viscoso.
Se esses porras tiverem sangue venenoso eu tô fodido.
Mesmo depois de matá-lo, outros dois filhotes quebraram suas pernas com a força de suas mandíbulas. Só por garantia, já que não sabemos do que são capazes. Mesmo que essa desgraça esteja viva não vai conseguir levantar.
Depois de matar cinco Magos, alguns sobreviveram e alertaram o restante que estavam sendo atacados pela retaguarda.
Sem demora alguma, os Magos correram para o meio da formação, e alguns Anões com escudos maiores que eles mesmo vieram para tomar o lugar. Eles giravam seus enormes martelos em suas mãos.
Então vai ser na base da força?
Rugi para o lado o meu lado esquerdo. Os sete filhotes saíram da colina. Han e Ka’la avançaram com os cinco. A pequena tigresa amarela estava na frente, com sua enorme velocidade, enquanto Han e os outros azuis, à distância, levantavam estacas de gelo do chão, forçando os Anões recuarem.
Agora, a atenção dos Anões estava dividida. Ka’la era sem dúvidas a mais veloz entre nós, atravessou os Anões, que ainda estavam em choque pela situação, e começou a atacar os Magos que estavam atrás dos Anões.
Han e os outros azuis não permitiam esses barbudos fazerem os movimentos que pretendiam.
Duas marretas vieram voando em minha direção. Rolei para o lado direito e, desviando por um triz, ativei meu manto na mesma hora, porque, além dos Anões, tinham flechas roxas caindo do céu.
Nessa hora percebi que eram fáceis de matar, mas lutar de frente não teríamos chance. Rugi para minha direita. Outro sinal para os filhotes da floresta. Nossa única opção era atacar de todos lados, encurralando esses guerreiros experientes. Até Ka’la teve que sair depois de matar mais um Mago.
Eu estava completamente concentrado nessa batalha, no entanto, uma enorme chama se levantou, trazendo um sentimento familiar como nunca. Um mal pressentimento subiu pela minha espinha como um calafrio.
Rugi alto para Han: “Ordens, você! Filhote, precisar, ir!”
Era óbvio que foi uma atitude terrível para com os filhotes, mas nunca me senti assim antes. Era como se uma força me puxasse para aquele local onde minha mãe estava.
Corri sem parar em direção à floresta. Sem ligar para se viriam ataques me almejando, avancei na velocidade mais rápida que conseguia. Quando dei a volta pela floresta tomei ideia do porquê do mal pressentimento.
Nada tinha ido como planejado por Kei.
Minha mãe e Le’in estavam enfrentando um Elfo galã com cabelo prateado segurando uma lança de madeira e o Jubão. Qual desses dois é o Ragnar? E por que Le’in está envolvido?
Olhando mais longe, dava para ver Ka’in e Kei juntos contra aquele diabo de asas. Era óbvio que estavam com problemas para lidar contra ele.
Avancei para mais próximo da minha mãe. Era uma grande distância para percorrer ainda. Olhando para o campo de batalha, percebi Yan e alguns adultos contra o exército e aquele Líder Anão, que estava comandando o pequeno exército.
A única coisa que deu a entender olhando tudo isso foi: Todos estavam com problemas.
Quando voltei o olhar para minha mãe, vi o manto mudar de vermelho para dourado.
MÃE, VOCÊ CONSEGUE IR TÃO LONGE COM OS MANTOS?! OBRIGADO PELOS TEUS MARAVILHOSOS GENES!!
Um sentimento de orgulho e satisfação encheu meu peito, me dando mais força para ir até ela.
Mas, mesmo esse manto sendo poderoso para cacete, ainda não foi capaz de deter o avanço do Jubão e o Elfo galã.
Cada soco que o Jubão lançava, forçava minha mãe a trocar de manto constantemente, sem contar que, até de longe, a onda de choque dos socos era capaz de me acertar!
O Elfo e o Le’in estavam se enfrentando com tudo o que tinham. Enormes feridas eram feitas em cada ataque que lançavam. Não sei como diabos aquele pedaço de mandeira, que o Elfo usava como lança, não quebrou, mesmo quando usava para defender dos ataques de Le’in.
Quanto mais próximo eu ficava da minha mãe, mais fraco eu me sentia.
Eu sei. Serei inútil nessa luta de seres poderosos. Eu sei que não posso fazer nada! Mas não consigo mais controlar meus instintos. Esse sentimento de que preciso ficar do lado dela… que preciso fazer algo! ARGH!
VAMOS, HENRY! PENSE! O QUE DIABOS ESTÁ PROVOCANDO ESSA GUERRA?!
Todas coisas que notei desde que cheguei na reunião voltaram para meu raciocínio.
O ódio dos Elfos Prateados? Ou nosso ódio contra eles? Não…
O que diabos está fazendo essa batalha acontecer…
A Horda… Dragão Negro…
Será que não é por ódio que as Aldeias estão invadindo nosso território, mas sim por outro objetivo?
Se isso tudo fosse por ódio… Por que usariam um exército tão pequeno? Se isso fosse uma vingança por 3 anos atrás, por que não fizeram isso mais cedo?!
Algo está fora do lugar… Não faz sentido essa merda!
Enquanto eu pensava com toda minha força na razão dessa merda, uma risada soou aos meus ouvidos.
“Hahahaha! Laranjinha está com problemas dessa vez porquê? Por acaso, não consegue ativar aquele poder novamente?!”
Que?! Eu consigo entender o Jubão?!!!
Se for assim…
Preciso arriscar!
Em um fluxo constante de ideias e possibilidades, decidi arriscar na mais perigosa que restava.