Volume 1 – Arco 1
Capítulo 11: Metamorfose
Minha mãe parecia estar irritada ao extremo com o Jubão.
“Raça desgraçada, ainda tenta vir!” disse ela em tom raivoso.
Com toda a minha velocidade, apenas para alcançá-los, passo a observar tudo o que está acontecendo. Analisando com toda minha capacidade, cada golpe, movimento e Habilidade que usam.
Não quero perder nada nesse combate, mas tudo está tão rápido! Meus olhos nem conseguem acompanhar!
Tem que ter uma resposta para mudar essa batalha sem sentido. Os motivos são tão ilógicos! Além disso, o exército inimigo não parece nem estar armado para uma guerra, principalmente para uma batalha de longa escala. Parecem estar em exploração ou algo assim.
Os territórios por aqui são perigosos, mas julgando esse tamanho de exército, poderiam aguentar bem. Agora, preciso saber o porquê de estarem aqui.
Era uma pergunta necessária. Essa guerra tem que ter um bom motivo! Vidas estão sendo jogadas fora!
Finalmente, cheguei próximo o suficiente. Meu coração está batendo para caralho. Eu posso perder a vida com um tapa, no entanto, preciso arriscar!
Minha mãe, Le’in e os dois Líderes notaram minha presença de imediato.
Sem qualquer demora, minha mãe rugiu em minha direção.
“Filhote! Aqui, não!”
Meu corpo tremeu com este rugido, era um tanto triste e preocupado. Isso seria suficiente para me parar e fazer fugir. Porém, forço minhas patas a continuarem.
Sim, estou morrendo de medo. Mas minha mãe também. Medo e tristeza estão refletindo nos olhos dela… O medo de perder seu filhote.
Mãe, desculpa… Mas preciso fazer.
Jubão, mais uma vez, cravou os olhos em mim. Será que ele é tipo um stalker ou algo assim?!
Le’in, raivoso, gritou: “CRIA IMUNDA! VOCÊ NOS FARÁ PERDER!”
Então, tudo ficou em câmera lenta para mim. Vi o movimento do Elfo com a lança. Ele não perdeu tempo como os outros, apenas agarrou sua arma e investiu em direção da minha mãe.
Mãe e Le’in estavam ocupados gritando para mim. Não tiveram tempo para reagir.
Eu rugi para avisá-los. Um rugido infeliz saiu da minha boca. Pois, o Elfo, mesmo na minha visão, que estava tudo lento, já tinha chegado na minha mãe.
Com apenas um movimento, sua lança entrou na barriga dela, que, imediatamente, revidou com sua enorme pata, mas era tarde demais.
Ao mesmo tempo, lágrimas saíram dos meus olhos com a cena dolorosa. A dor da minha mãe foi sentida por mim, o culpado disso…
Berrei, com lágrimas nos olhos, para Jubão: “POR QUE, GUERREAR?!”
Le’in reagiu tarde demais e foi incapaz de segurar o Elfo.
Ele esbravejou quando viu o Elfo acertar a barriga da minha mãe: “KANNNN!!!”
Com esse grito, seu manto aumentou o poder, ficando tão negro quanto o breu, e ele partiu para cima do Elfo.
Jubão, ainda sério, olhou para mim, ignorando minha mãe ferida. Ele apenas ficou me olhando, em pé, demonstrando que não iria atacar.
Como ele não faria nada — ao menos agora —, corri até o lado dela. Meu fôlego está prestes a acabar, correr até aqui me deixou exausto, mas não iria parar até chegar ao lado dela.
Ele deixou eu me aproximar dela. Minha mãe já tinha ativado o manto branco e perguntou, rangendo os dentes, assim que me aproximei: “Filhote, por que… aqui?”
Caindo lágrimas sem parar, olhei para ela, sem resposta e olhei para Jubão.
“G-guerra, sem sentido. Só, ódio?” Não consegui manter meu tom normal quando perguntei.
Por um momento, o Jubão ficou com os olhos arregalados, mas logo retornou para sua feição normal.
“Você é apenas um filhote, não entenderia.” ele balançou a cabeça devagar e respondeu em tom grave.
APENAS UM FILHOTE?! SEU DESGRAÇADO, EU COLOQUEI A VIDA DA MINHA MÃE EM RISCO PARA PERGUNTAR O MOTIVO DESSA MALDITA BATALHA! E VOCÊ ME VEM COM ESSA DESCULPA?!
Se é por causa que sou um filhote… É… Entendo. É por eu ser um tigre que estão me subestimando. Entendo, é só isso.
Seus desgraçados filhos de uma puta. Agora vejo que essa batalha não tem sentido algum! Não é por ódio. Eles acham que, por sermos tigres, não entenderemos caso falem. Agora, vamos ver como vão responder quando eu não for apenas mais um tigre.
Dei uma encarada no Jubão, analisando todo seu corpo.
Não é um humano. Tem orelhas de um felino, rabo, um grande porte e juba, além do fato que pode falar na nossa língua. Deve ser algo como uma besta felina humanoide ou algo assim.
É hora de tentar de novo essa bosta. Pelo menos agora deve funcionar.
Acho que nunca senti tanta raiva na minha vida. Esse corpo mexe demais comigo. Minha mente não consegue manter raciocínios claros. Porém, hoje, não sinto fúria do meu inimigo, mas sim da minha natureza. O motivo dessa “guerra” não existe.
É APENAS UM BANDO DE IMBECIS FAZENDO MERDA!
Se esses porras não pretendem parar porque somos tigres. Nos consideram como animais, que apenas bloqueiam o caminho.
Estou cansado de ver punhos usados para ameaçar ou matar. Punhos são usados para proteger! Não é mais questão de ódio como previamente dito.
É apenas um bando de idiotas que acreditam apenas no que querem acreditar e estão colocando a vida dos outros em risco! MAS QUE MERDA MESMO!
TANTO ÓDIO QUE SINTO AQUI. TANTA RAIVA QUE MEU CORPO ESTÁ LIBERTANDO.
ODEIO MINHA NATUREZA, QUE É INCAPAZ DE PROTEGER QUEM AMO.
ODEIO ESSAS PESSOAS QUE VÊM AQUI APENAS PARA NOS TRATAR COMO ANIMAIS PROBLEMÁTICOS.
ODEIO ESSA MALDITA GUERRINHA DE IMBECIS!
Então, no meu surto de ódio, um som nostálgico soou na minha mente.
Finalmente. Finalmente essa porcaria de Habilidade, que não consegui ativar por um ano inteiro, ativou. A necessidade me levou a entender como essa merda funciona. No momento mais desgraçado!
ACEITO!
Tudo foi muito rápido. Assim que ativei a Habilidade, na mesma hora, senti minha Mana sendo expulsa em um vapor colorido espesso, como uma sauna. Comecei a suar sem parar, meus músculos tencionaram e começaram a partir e voltavam a se reconstruir sozinhos em uma velocidade absurda. Até meus órgãos estavam se apertando sozinhos, como se estivessem sendo forçados a se comprimir.
O que diabos está acontecendo?!
Essa Habilidade está me matando!
É a pior dor que já senti em todas minhas vidas. Os meus ossos começaram a rachar e se quebrar, se retorciam para ficar menores. Só posso ranger os dentes e aguentar essa mudança.
Minha estrutura corporal estava sendo mudad— Não é a minha natureza inteira que está sofrendo alteração. O vapor colorido começou a perder a cor e passou a ficar quase transparente, mas ainda saindo.
Óbvio que notei o que era esses dois vapores que estão saindo. O colorido era a Mana e o transparente, que está ainda saindo, era o meu Chi.
Então, finalmente, depois do sofrimento infernal do início, meu corpo pareceu ter chegado no ponto para mudança, já que a dor diminuiu.
Minha forma mudou. Meus pelos do pescoço para baixo caíram, meu tamanho diminuiu, minhas patas ameaçadoras se tornaram em pés e mãos fofas e meus dentes ferozes ficaram menores — bom, as presas ainda continuam bem maiores que os dentes restantes —.
Eu puxei uma mexa do meu cabelo, que batia nos ombros. Laranja. Cabelo laranja. Toquei com o meu tão nostálgico dedo humano no meu “focinho”. Não era mais um focinho, mas um nariz pequeno.
Olhei para minhas mãos em seguida, parecendo chocado. Uma pele clara e macia…
Ah! Quase esqueci que estou no meio de uma batalha mortal! Essa Habilidade me deixou sem palavras.
Direcionei meu olhar para o Jubão. Ele estava com os olhos escancarados. Mudei o olhar para minha mãe. Não é diferente do Jubão. Está chocada. Até eu estou!
Literalmente, todos estão olhando com olhos arregalados para mim, sem fazer um único movimento.
Aproveitei esse momento de choque para tocar na minha cabeça. A Gema de Energia ainda está aqui.
Oh? Eu ainda tenho minhas duas orelhas de tigre sobre a cabeça! Se eu tenho orelhas…
Passei a mão na área acima da bunda.
Minha cauda! Bom, está menor e mais fina, mas ainda é ela.
Galera… Não tem motivo para continuarem chocados… Eu praticamente me revistei todo e vocês não falaram ou fizeram nad…!
Assim que olhei para baixo, eu quem ficou chocado.
EU TÔ PELADO!
ESTOU ME MOSTRANDO PARA TODO MUNDO! QUE VERGONHAAAA!
Henry! Mantenha a calma! É UMA BATALHA, VENÇA A VERGONHA!
Mais uma vez encarei o Jubão — lutando contra a vergonha —, questionei outra vez: “Problema… agora? Filhote não, mais, tigre. Motivo, guerra?”
AAAAHHHH! MINHA VOZ!!!!
Quando falei a primeira palavra para o Jubão, quis chorar de decepção. O meu rugido imponente, mesmo sendo um filhote, havia sumido! O que restava agora… era essa voz meiga e fofa…
Hah… Fazer o que né? Vou ter que aguentar por agora.
O, agora, abismado Jubão não tinha se movido nada, o mesmo vale para todos. Todos estavam travados como se estivessem sonhando acordado.
Jubão, seguinte: Eu não tenho todo o tempo do mundo! É frio aqui, eu tô pelado e estou morrendo de vergonha. Pelo amor de Jeanne, dá para responder de uma vez?!
Gaguejando, mas, enfim, me respondendo, ele falou como se estivesse descrente.
“Como você… fez isso?”, Ele respirava pesado enquanto questionava, “Você desistiu suas raízes? Mesmo que fosse isso…” em seguida, começou a falar muito baixo: “Somente depois de muitas gerações seria possível… Como diabos fez isso de uma só vez?”
PORRA! De novo essa coisa de desistir de raízes e merda aleatória. Ele podia só me responder de uma vez, mas não! Fica enrolando!
Com raiva, respondi, mas com a pergunta mais outra vez: “Isso, não importar. Guerra, motivo?!”
Le’in parecia ter acordado do choque e gritou em fúria: “DESONRA! DESISTIU DAS SUAS RAÍZES, MORRA DE UMA VEZ FILHOTE DESPREZÍVEL!”
Era possível ver um ódio verdadeiro por mim. E, ele avançou contra mim de uma só vez. Era como uma montanha vindo em minha direção.
Não pude evitar tremer com a pressão de Le’in.
No entanto, minha mãe, ainda ferida e chocada, levantou com rapidez e ficou na minha frente.
“LE’IN! FILHOTE, MEU!” disse ela, enquanto avançava, com dificuldade, ativando seu manto negro para ir contra Le’in.
Então, nessa hora escutei o bravejo alto do Jubão, como se estivesse desesperado.
“SHA’L, PARE ESSE TIGRE AGORA!” Gritou ele em direção do Elfo galã.
Ou seja, o Elfo é o tal Sha’l, enquanto o Jubão é o… Ragnar? Bom, vai continuar sendo Jubão, combina muito mais.
Mas, por que ele gritou com a Língua Bestial. Será que o Elfo também sabe essa língua, ou o Jubão fez de propósito?
O tal Sha’l, ainda estava perplexo com a situação, mas depois daquele grito desesperado, pareceu ter levado um grande choque, ainda maior que a minha metamorfose. Em seguida, correu em direção de Le’in.
Já o Jubão, veio na minha direção e gritou: “Laranjinha! Deixe o filhote comigo! Não irei machucá-lo!”
E, após o grito, uma cratera gigante se formou debaixo dos pés do Jubão. E, quando o som da explosão chegou aos meus ouvidos, ele já estava na minha frente.
CARALHO! ELE É RÁPIDO DEMAIS!!!
Então, antes que pudesse colocar as mãos em mim, uma enorme cauda veio ao lado dele, junto com um rugido raivoso.
“DESGRAÇADO, MENTIR! SUMA!” gritou minha mãe, que ainda estava segurando Le’in, mas prestava atenção em todas direções.
Kei e Ka’in não estavam mais lutando contra o demônio e estavam se aproximando de nós. Parece que quando os dois lados dessa batalha viram minha “transformação” decidiram mudar as estratégias.
Jubão foi empurrado para trás pela cauda da minha mãe, mas outra explosão soou abaixo do solo. E, do nada, quando reparei, eu estava em pleno ar.
Em seguida, outra explosão. Na minha frente, o enorme Jubão estava vindo me puxar. O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?! TÁ TUDO MUITO ESTRANHO!
Uma hora estou no chão, outra no ar, agora estou nos braços desse marmanjo velho?!
Antes de eu poder falar algo, ele finalmente respondeu rapidamente: “Filhote. Espero que fale depois o que fez. Essa guerra não deveria nem ter começado, as Aldeias não vieram para exterminar nada neste território, mas sim atravessar.”
Até que enfim me respondeu. É como imaginei, não era para ser uma guerra, mesmo que tenham lutado há três anos. E duvido que ele tenha motivos para mentir agora depois de tanta coisa estranha acontecendo.
Nesse momento, minha mãe conseguiu jogar Le’in para longe e raios furiosos começaram a sair do seu pelo.
“TIRE, AS, MÃOS, DO FILHOTE!” Gritou ela enquanto lançava um enorme raio em nossa direção.
MÃEE!!!! VOCÊ VAI ACABAR ME MATANDO JUNTO COM ELE DESSE JEITO!!
Em um instante, Jubão se inclinou para trás e, em pleno ar, com as duas pernas, chutou o ar com força.
AAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!
Vento feroz batia na minha cara. Olhando para direção de onde estávamos antes. Minha mãe foi lançada muito longe por causa da explosão que veio dos chutes. Jubão controle-se! Ela está ferida!
Jubão nos lançou em linha reta, igual um jato. A velocidade era absurda, até as pessoas no campo de batalha se tornaram formiguinhas.
Com o vento, nessa velocidade, batendo direto na minha cara, eu não conseguia falar nada. Então, senti uma energia se grudando na minha pele. Certamente era Mana isso, trazendo até um sentimento de leveza particular. Essa energia que me cobriu bloqueou o zumbido nos meus ouvidos e o vento feroz batendo no meu rosto.
“Mesmo que tenhamos lutado contra sua raça alguns anos atrás, apenas os Elfos Prateados guardam rancor pela sua raça inteira. Não era para essa batalha acontecer! Isso tudo foi uma perda de tempo, mas os Tigres Amba nunca deixariam passarmos sem causar algum problema.” Disse Jubão.
Escutei com atenção, já que eu sabia o porquê de os Tigres Amba irem contra, mas eu queria confirmação do outro lado também.
“Sua raça tem ódio dos Elfos Prateados, assim como eles sentem o mesmo pela sua raça, mas essa guerra, aos olhos das outras Aldeias é perda de tempo. O objetivo dos Elfos Prateados era só um: confirmar o que estava no interior do continente. Porém, já sabemos e precisamos passar com urgência.”
MAS QUE MERDA MESMO! ESSA GUERRA SÓ ACONTECEU PORQUE SOMOS TODOS IGNORANTES!
Então é tudo egoísmo que está acontecendo aqui e, para piorar, nós quem mais erramos! Por nosso orgulho e rancor, decidimos enfrentar os Elfos Prateados, impedindo ir ao interior do continente. Mas, pelo visto, esses líderes de aldeias confirmaram que o Dragão Negro deixou o ovo e vieram lidar com isso. No entanto, estávamos bloqueando o caminho desde o começo!
CHEGA DE MATANÇA! ESSA SITUAÇÃO PODE SER MUDADA!
Com o resultado em mente, falei com o Jubão: “Raça, não mais, guerrear, se, filhote explicar. Avô-han, odiar, mas, ser esperto. Filhote, deve, falar.”
Então, o Jubão moveu a mão para baixo e, de repente, enquanto estávamos indo em linha reta, fomos jogados para cima, interrompendo a velocidade.
QUE. PORRA. É. ESSA?! QUE DIABOS É ESSA TÉCNICA DOS NOVE INFERNOS?!!!
E, com um olhar sério, ele perguntou: “Certeza que consegue?”
Eu assenti com a cabeça. Então, mais uma explosão veio dos seus pés, jogando-nos em direção do campo de batalha.
Bem, chamar de “campo de batalha” se tornou errado agora. Todas as tropas e os Tigres Amba recuaram. Então, para ser exato, estamos voando em direção de onde os da minha raça estão.
Kei e Ka’in estavam ao lado da minha mãe. Ka’in e ela estavam com os mantos brancos ativos. A ferida da lança do Sha’l foi muito profunda e acabou piorando quando minha mãe ativou o manto negro.
Como eu ainda estou numa altura absurda, ainda deu para ver o lado “inimigo”. O anão estava, em berros, comandando todos os guerreiros para recuarem. Sha’l e o diabo negro não estavam em lugar algum.
A pior parte neste cenário foi ver alguns adultos carregando seus filhotes mortos, também havendo caso de alguns filhotes ao lado de seus pais mortos. Essa cena me fez odiar mais uma vez essa guerra de ódio.
Porém, era óbvio que o lado que teve mais baixas foi o do exército das Aldeias.
Jubão estava em silêncio absoluto com a cena.
Como minha visão continua muito aguçada, notei que Kei e os outros perceberam nós dois chegando. Estavam prontos para ativar seus mantos.
“Dourado, Avô-han. Falar, juntos, certo?” Perguntei para o Jubão.
Sem me dizer nada, ele apenas assentiu.
Então, para diminuir nossa velocidade e não ficarmos ao alcance dos mantos, Jubão interrompeu o avanço com pequenas explosões.
Assim que estávamos perto suficiente para eles nos escutar, rugi, ops, gritei olhando Kei e minha mãe, que seriam os únicos que me dariam ouvidos.
“Mãe-han, avô-han! Guerra, sem, sentido. Elfos, odiar, mas, objetivo maior. Não, atacar, só, passar! Dragão, horda, ameaças!”
Kei estendeu a pata na frente da minha mãe, que estava prestes a atacar o Jubão por estar me segurando.
Como era esperado, Kei não conseguiu segurar as suas incertezas.
“Filhote, desistiu das raízes?! Está do lado inimigo ou ameaçado e enganado?!”
Antes que eu pudesse responder, minha mãe respondeu em desespero: “Filhote, não, desistir de raízes, não, trair raça! Filhote, proteger, raça!”
Era claro que seria uma situação instável. Kei estava até com uma expressão complicada, seus olhos mostravam relutância. Agir por instinto levou à esta situação. Agora, sem saber o que é verdade ou não, mais pessoas opinando levariam ele a tomar uma decisão imediata.
Se eu não voltar para minha natureza anterior, eles jamais vão dar ouvidos ao que tenho a dizer.
Conforme a velocidade do avanço diminuiu, estamos caindo lentamente para o solo coberto de neve mais uma vez. Antes de eu voltar a ser um Tigre Amba, quero dar olhada como está minha Janela Geral. Seria triste não dar uma olhada, para ver se teve mudanças ou não.
Vamos começar pelos Atributos!
Por Jeanne! EU TO MUITO FRACO!
O que aconteceu com meus níveis?! OLHE ESSA MALDITA AGILIDADE! POR ACASO QUEBRARAM MINHAS PERNAS?!
Bem, talvez…?
Tudo bem, tudo bem. Acho que com isso deixou claro que uma criança… Eh… “Homem-Fera (Tigre)”… é muito mais fraca que uma Besta Mágica. Sério, é tão estranho se referir como criança quando sua raça tem “Homem” no início.
Voltando à análise. Fora meus níveis que caíram e minha raça que mudou, notei que os “Talentos” tiveram mudança também. Antes o Talento Mágico era SSS, e, agora, é SS+. Será que até a natureza influência o quão capaz é em determinada área? Bom, espero saber algum dia.
Hmm… Minha inteligência foi o único Atributo, sem relação com energias, que se manteve “alto”. Será que essa raça tem uma capacidade intelectual maior que os Tigres Amba?
Sei que não vou ter a resposta até começar a estudar ou algo assim. Enfim, por fim, minhas tão amadas energias acumuladas, agora são metade do que eu tinha na minha forma natural. Será que esse corpo não aguentaria ter tanta energia dentro ou algo assim?
Minha última questão é: Por que minha Gema não teve alteração? Argh… Isso vai me causar dor de cabeça, já tô vendo…
Agora que vi o estrago que a Habilidade fez comigo, é hora de ver a descrição dela e ver se a Habilidade mudou as outras também. Seria péssimo se as Habilidades ficaram mais fracas ou algo assim.
Puta merda! É MUITA COISA!
A primeira coisa que notei foi que nenhuma Habilidade foi alterada por causa da Metamorfose. Acho que isso é ótimo já.
Predador está com a Classificação (C-), e finalmente estou ganhando mais Atributos com ela, isso pode me ajudar a crescer nessa forma infantil que estou. Sobre poder ganhar Habilidade comendo Gemas, isso realmente é magnifico e do caralho, mas EU DUVIDO QUE EU MATE UMA BESTA MÁGICA COM CLASSIFICAÇÃO (A+), OU MAIOR! EU DUVIDO!
Enfim, ao que deu a entender, as limitações se tornaram pequenos influenciadores nessa Habilidade, então deixaram de ser limitações e sim “pequenos benefícios”. Por isso é apenas um aviso… Hum.
Sobre a Metamorfose e sua descrição enorme. É de fato uma Habilidade praticamente divina, se não tivesse que sofrer uma tortura quando ativada. Sério, é ótimo poder ter polegares! Além disso, não limita apenas a essa forma humanoide. Pelo visto, dá para eu me metamorfosear em outras raças também.
Não preciso comentar sobre o Talento ou Atributos diminuindo, mas ao que vi, alguns aumentarão mais que os originais, dependendo da natureza da raça. Agora… teve um ponto que me deu dúvida. Disse que não seria apenas Talentos e Atributos, isso insinua que pode haver outras características que vão mudar em mim?
Enfim, só vou saber testando-a.
Sobre as limitações, elas me dão um pequeno entendimento do que serei capaz de fazer no futuro, mas não tem nada que me interesse nisso por agora, apenas o aviso me fez pensar.
Por algum motivo, esse “aviso” parece estar irritado ou soando mais agressivo que o normal… Até o “necessário” está destacado. Bom, levando em conta que se me metamorfoseasse em um Homem-Fera de 1 ano de idade, possivelmente, eu seria apenas um bebê e poderia ter morrido de frio aqui…
É, realmente foi necessário eu ter a idade acelerada. Valeu, Habilidade!
Sobre eu manter essa idade simulada, pelo que entendi, vou manter essa mesma aparência e idade até alcançar a idade de 6 anos desde o meu nascimento real, só então voltarei a crescer…? Ao menos, é o que parece.
Sobre a Mente Criadora, eu nem preciso comentar. Ela só teve alteração na quantidade de slots limites que tenho.
Enfim, depois de ter analisado tudo isso, é claro que eu já estaria no chão, mas ainda nos braços do Jubão.
Sério, não é nada bonito eu estar nos braços dessa velha muralha de músculos. Contudo, ele notou que devia me largar. Assim, me desceu até o chão.
Frio assaltou meus pés fofos e me arrepiei todo.
É, melhor eu voltar para minha forma original. Não tem como eu aguentar nesse frio pelado não!
Dessa forma, ativei mais uma vez a Metamorfose, mas dessa vez o procedimento doloroso para um caralho veio no sentido reverso. A única parte boa foi o final, quando a Mana e Chi, que foram expulsos do meu corpo, voltaram, preenchendo todo o meu corpo.
Eu não quero ter que falar da dor que é ter os ossos alongados e dos músculos rompendo… Sério…
Todos da minha raça ficaram confusos com essa mudança.
Jubão ficou no lugar que me deixou, sem sair de lá, então comecei a andar em direção da minha mãe.
Assim que me aproximei o suficiente, ela me perguntou como se estivesse com algo preso na garganta.
“F-Filhote… desde… quando?”
Era visível a dúvida, medo e tristeza nos olhos dela. Até o tom que falou me deixou triste.
Tenho minhas dúvidas se poderia falar a verdade, ou se eles entenderiam ela. Então, apenas respondi: “Filhote, não saber. Só… sentir capaz.”
Dessa vez, era perceptível que eles estavam dispostos a ouvir o que eu tinha a dizer.
“Ódio, matou. Matou, pais. Matou, filhotes. Matou, irmãos,” minha garganta ficou seca conforme lembrei dos mortos no campo de batalha, “Guerra, por, ódio… só, trazer tristeza. Elfos, poder odiar. Raça, poder odiar. Mas, valer?”
Kei estava prestes a me dizer algo, porém, foi interrompido por uma voz grossa e séria.
“Os Elfos Prateados e vocês têm motivos para se odiar, é o que o filhote quis dizer. No entanto, viemos por um motivo que afeta todo o continente. Afeta seu território. Só lutamos, só perdemos nossas vidas, hoje, por um motivo. Um motivo que não envolve intrigas com a sua raça.”
Era o Jubão que respondeu no meu lugar. Eu sequer o vi se aproximar, mas já estava do meu lado. Bom, pelo menos ele tem eloquência quando fala, melhor do que eu, um filhote que mal sabe falar uma frase inteira.
“O objetivo dos Elfos Prateados era investigar e avisar do motivo das Hordas estarem tão ativas recentemente. Mas foram impedidos de andar neste território por causa do seu desejo de vingança. Líder atual dos Tigres Amba, aqui te pergunto, realmente importa a vingança quando estamos sendo atacados pelo mesmo inimigo?!”
Com essa pergunta, Kei olhou sério para o Jubão e, sem demora, respondeu: “Ragnar, a nossa raça só está segura agora porque estamos juntos. Não importa qual inimigo seja, defenderemos este território até o fim. Esta guerra não foi apenas por vingança de três anos atrás, mas a prova da nossa mudança…”
Ragnar não disse nada, como se esperasse algo a mais para ser dito. Então, sua espera foi recompensada pelo suspiro de Kei.
“Hah… Agora entendo. O meu neto viu algo que os meus velhos olhos não puderam. Ele é ainda é capaz de confiar, coisa que os adultos perderam. Algo que perdi depois que meu filho partiu. Só estamos vivos porque nos juntamos contra a Horda. Ragnar, como atual Líder, por mais que seja um da raça desgraçada, um inimigo, eu te pergunto, tuas palavras são dignas da confiança do meu neto?”
Um pequeno sorriso, mas sincero, apareceu no rosto do Jubão.
“Um filhote com tanta coragem, ou idiotice, para conversar em meio de uma guerra, como eu poderia mentir para ele?” disse ele com um sorriso zombeteiro.
Ei! Foi só coragem!
Kei fechou os olhos devagar.
“As Hordas têm estado incontroláveis e sedentas, sem auxilio, mesmo se nossa raça inteira ficasse protegendo a cordilheira, não duraremos até o nascimento da aberração,” disse ele com receio do futuro próximo.
Jubão aproveitou o momento para dizer, possivelmente, as palavras que tanto esperava: “A Aliança tem que passar pela cordilheira. Sabemos da existência do ovo através de Amon, mas precisamos ter mais detalhes! Tanto do ovo quanto de como está a situação das Hordas. Não temos que guerrear mais, a situação necessita que não percamos mais guerreiros!”
A urgência era refletida pela atitude do Jubão. Ele era quase imutável quando falava, sério e confiante, mas quando falou das Hordas e ovo, parece ter deixado extremamente nervoso.
Em prova da necessidade, Jubão se ajoelhou em um só joelho e abaixou a cabeça, provando não ser ameaça nenhuma e estar desesperado para concluir seu objetivo sem mais guerra.
Com a cabeça ainda baixa, ele falou uma última vez: “Precisamos passar. Tigres Amba, as Hordas, a futura guerra, todo o caos que virá dela, não será apenas o problema de algumas raças deste continente, mas todo ele. Se não nos ajudarmos agora, estaremos em risco!”
Nessa hora, Kei se aproximou do Jubão. Seu rosto estava tão próximo que poderia engoli-lo facilmente. No entanto, quando abriu a boca…
“Certo, Líder da Aldeia. Contudo, a confiança é conquistada,” assim, Kei também abaixou a cabeça como demonstração de igualdade, “Iremos ajudar como podemos.”
Antes que eu pudesse ficar animado, ou o Jubão falar, Kei falou mais uma coisa: “Como prova da confiança dos Tigres Amba, iremos compartilhar uma das poucas coisas que sabemos do interior.”
Logo, Jubão e ele ergueram suas cabeças.
“Dragão Negro escondeu isso por anos, só viemos saber durante a última Horda, a qual atacou as Aldeias. O ovo está em Enir faz 5 anos. Você sabe o que isso significa.” Falou Kei.
“…temos 7 anos até…” Jubão sussurrou.
“Agora, como prova de confiança e condição pela informação, somente os Líderes vão poder atravessar a cordilheira.”
Jubão deixou sua posição de ajoelhado e ficou totalmente em pé.
“Será o suficiente,” disse o Jubão com firmeza, “Assim que confirmarmos tudo, darei todo o auxilio que puder para ajudar contra as Hordas.”
Então, Kei fechou os olhos devagar, e o Jubão fez o mesmo.
“Líder dos Tigres Amba, gostaria de conversar com a tigresa que lutei alguns dias atrás. Há coisas que quero tratar com ela.”
Kei parecia confuso, mas não tinha motivo para recusar, já que ficaria perto. Depois de alguns segundos, minha mãe chegou.
Quando ela chegou, logo fui até ela. Logo de cara, eu recebi uma lambida de afeto.
Minha mãe se mostrou superprotetora, então, se eu ficasse do lado do Jubão, só traria mais problema.
Tendo tudo ajeitado para o papo em especial, Jubão comentou: “Antes de mais nada, me desculpe,” ele abaixou a cabeça quando se desculpou, “O que falei na nossa luta foi uma mentira. Seu keter não morreu para mim, na verdade, nem mesmo sei se morreu. Quando viu que todos os Tigres Amba da Horda morreram, ele ficou louco e recuou, nunca mais aparecendo na batalha.”
Com um suspiro triste, minha mãe respondeu: “Eu, saber. Jamais, keter, perder. Eu, keter dele, ele, meu keter. Saber, quando, vida acabar, de um.”
“Peço perdão por ter ameaçado seus filhotes na nossa lut…”
Antes de terminar de falar, foi interrompido pela minha mãe.
“Não. Lutas, sem desculpa. Filhos, mais preciosos, que vida. Viver, ser luta. Erro meu, arriscar, vida deles, quando inimigos, chegaram. Meu dever.”
Jubão sorriu com a resposta dela. Uma mãe com ciência do mundo que vive. Então, levar os filhotes para lugares perigosos, onde eles podem acabar morrendo, é algo natural, mas ela tem o dever de protegê-los.
Quanto mais ouço minha mãe, mais noto o quão ingênua e especial ela é… Isso é incrível, mãe.
Então, depois da resposta, o Jubão parecia querer tratar de mais uma coisa, então apontou para mim e perguntou: “Esse é o mesmo filhote da nossa luta?”
“Não. Ele, filhote mais forte. Por quê?” Ela ficou nervosa com a pergunta sendo direcionada ao filhote dela.
Calma mãe! É só uma pergunta.
Com a mão no queixo, o Jubão pareceu pensativo e refletindo sobre algo. Então com relutância ele disse: “É o mais forte então… Tem algo que quero perguntar para ele.”
Eu olhei para o rosto dele, esperando a pergunta.
Então, veio uma pergunta surpreendente.
“O que pretende fazer de agora em diante? Sei muito bem que você não pensa como os outros, filhote.”
Eu olhei para minha mãe, ela estava com olhos ansiosos. Olhei para o Jubão, que me encarava com fervor. Eh… Isso está mais estranho que eu esperava…
Bom… Agora que tenho tempo para pensar, é um fato que eu não quero viver como um tigre para sempre. Seria chato. Eu quero ver este mundo de uma vez! Quero aprender usar Magias! Quero poder voar com socos e chutes!
CARALHO, SÓ DE LEMBRAR ME FAZ QUERER AINDA MAIS! ESSA TÉCNICA FOI A COISA MAIS FODA QUE JÁ VI NESSA VIDA!
Com o espírito animado, olhei para Kei, minha mãe e o Jubão, antes de responder.
“Filhote, querer ver mundo.”
E, como se fosse o que ele esperava ouvir, o Jubão abriu um grande sorriso.
“Deseja vir comigo e ver o mundo?”
Minha mãe ficou irritada e estava prestes a interromper, mas Kei a parou e disse baixo: “Ele é o seu filhote e também o meu neto. Não é o que você me disse uma vez? Serão eles que decidirão suas próprias vidas, trilhar seus próprios caminhos. Então, é a hora dele, minha nora.” Na última frase, a voz de Kei soou como uma tristeza sem fim.
Minha mãe abaixou a cabeça e falou ainda mais baixo: “Keter, desejar o mesmo… Filhote, ter que ir, também? Doer… doer muito…”
Quando ouvi isso, vi minha mãe chorando e o meu avô com os olhos marejados. Pelo visto, meu pai tinha a mesma vontade.
Eu imagino a dor e tristeza que seja. Zan era filho de Kei, confiou no Dragão Negro e traiu nossa raça pelo seu desejo. Agora, eu, o seu neto, estava confiando em outra força para realizar o mesmo desejo… O quão doloroso deve ser? Não dá para imaginar…
É óbvio que não quero deixar minha raça, na realidade, sinto como se eu nunca pudesse. Só quando me metamorfoseei que pude sentir que poderia deixar a raça, mas agora, é quase impossível.
Analisando tudo aqui, eu não quero deixá-los, mas também não quero viver como tigre. Eu nem ao menos conheço esse Jubão marombeiro! A única coisa que sei dele é que pode voar com os punhos — que já é motivo suficiente para eu ir sem nem pensar.
Com essas incertezas em mente, perguntei: “Filhote ir… mas, poder, ver, mãe-han, avô-han, depois?
Com uma gargalhada longa, ele me respondeu sem demora.
“filhote, se vier comigo, deixarei ver sua mãe quando quiser. É a sua vida! Porém, entenda aqui. Uma guerra vai acontecer daqui 7 anos. Uma guerra de tamanho colossal. Você precisa estar preparado. Sua raça irá precisar de você e você deve ser forte nessa hora.”
Finalmente. Eu finalmente posso perguntar! EU QUERO É APRENDER VOAR COM SOCOS, MAS PRECISO ME SEGURAR!
Segurando minha vontade de perguntar se ele pode me ensinar isso, me contive para ser mais respeitoso: “Jubão, poder, ensinar, ser forte?”
Mas, o rosto do Jubão ficou vermelho como se estivesse para explodir. Era óbvio que ele segurou sua raiva e perguntou tremendo: “J-J-Jubão? D-de onde tirou esse nome?!”
“Porque, ter grande, juba. Então, Jubão.”
Quase explodindo de raiva, ele me disse: “Meu nome é Ragnar! Se quer ser forte, comece me chamando de Ragnar-han!”
Pffft. Para pedir isso para me ensinar, parece que desde o começo ele já queria me levar e ensinar.
Como não sou teimoso, mesmo que ainda aja como um filhote, só aceitei.
“Ragnar-han! Ensine filhote! Mostre, mundo!”