Volume 1 – Arco 1
Capítulo 9: Prelúdio da Guerra
Hã? Mudanças na Habilidade?
Que inesperado. Isso aconteceu porque tô com dois mantos diferentes? Será que quando eu adquirir mais, outras mudanças vão acontecer?
Bom, não adianta ficar só questionando. Vamos logo ver as mudanças.
Eita! Mudou muito! Tem tanta coisa nova que nem sabia!
Hmm…
Hmm… Uhm…
Analisando a lista de mantos disponíveis, talvez seja um pouco prematuro julgar, mas ela está na ordem que eu liberei. Então, possivelmente, na ordem dos mantos indisponíveis o próximo que vou adquirir é o manto branco.
Por que acho isso? Simples, dentre todos os listados no indisponíveis, o manto branco foi o que eu mais tive contato, só empatando com o azul.
Além disso, tem muita coisa aqui! Minha cabeça vai pifar desse jeito!
É tanta coisa para levar em consideração. “Criação”, “Segunda Divisão Elementar”, o motivo do manto azul estar no fim e não em segundo lugar… Argh! Foda-se! Penso nisso mais tarde.
Fechei os olhos me preparando para dormir. Tem mais um mês pela frente. E, essas feridas só vão se curar com a ajuda de Ka’in. É hora de descansar minha mente e corpo, e não me preocupar mais com nada por agora.
– Terras Gélidas –
A tigresa, que estava indo contra Ragnar, não era outra senão Kan, a mãe de Henry.
Enquanto vagava pelo seu novo território com seus filhotes, notou que havia um batalhão de uma Horda vindo em direção da sua toca. Era uma situação que não poderia ser evitada. Se o batalhão sentisse o cheiro deles na toca, viriam atrás da mesma forma. Então, ela tomou a decisão que, antes dos seus inimigos percebessem suas existências, era melhor atacar agora do que seu novo território ficar comprometido.
Porém, como um animal concentrado em sua presa, Kan não foi capaz de notar o outro batalhão que se aproximava por trás dela. Somente quando notou que sua aura se elevou para salvar seus filhotes imediatamente. Dessa forma, havia alertado a Horda, que estava dividida em batalhões, inteira.
Aproveitando que o batalhão, que estava indo para sua toca, ainda permanecia distante, Kan lidou rapidamente com o que estava atrás. O tempo da batalha foi o suficiente para que o outro batalhão se aproximasse.
Porém, antes mesmo de poder fazer algo com esse novo inimigo, uma aura explodiu mais a frente. Acima de uma árvore, um Homem-Fera saltou e, com um grande sorriso em seu rosto, emitia uma aura aterradora.
Ela sabia quão ameaçador era esse Homem-Fera. Ele portava uma aura que só poderia ser alcançada com centenas de anos sendo banhado no sangue de seus inimigos. Há três anos, na última grande guerra com Hordas, ela tinha visto Ragnar lutar contra seus semelhantes.
Por mais que não tenha participado da Horda com Zan, ela seguiu seu amado de longe, para observá-lo. Queria vê-lo lutar, vê-lo bem e, acima de tudo, vivo. Essa era a demonstração de amor que poderia expressar em tempos complicados como aquele. O keter de um Tigre Amba é único, não havendo um segundo.
Kan o amava ao ponto de jogar sua vida fora, porém, Kei, que aconselhou ela a vida inteira, provou que aquela guerra era uma armadilha. Dessa forma, só pôde ficar para trás, porém, não só por esse motivo, mas porque estava grávida de seus filhotes.
A gravidez dos Tigres Amba é um caso raro na vida deles. Podendo gerar apenas duas ninhadas em toda sua vida. O período mais fértil seria aos 300 anos e o segundo mais fértil aos 500. E, normalmente, a gestação de um Tigre Amba leva 3 anos, gerando no máximo 7 filhotes.
Dessa forma, só pode observá-lo de longe. E, mesmo se Kei não tivesse dito sobre a realidade dessa guerra, ela já tinha a plena noção desde o início. Entretanto, Kan seguiria o seu amado sem pensar duas vezes, não importando se estava sendo enganado pelo Dragão Negro. Porque sabia que ele faria o mesmo por ela.
Desde o começo, com Zan idealizando que os Tigres Amba fossem para a batalha, manteve-se quieta. Kan nunca o pediu para desistir dessa ideia, porque confiava nas decisões de seu keter mais do que qualquer outra coisa.
Na batalha, ela o observou até o último momento que pôde. Uma batalha contra a Aldeia dos Homens-Fera do Clão Leão. Zan e mais dois laranjas foram contra Ragnar. Kan olhou essa luta o suficiente para descobrir as fraquezas e dificuldades de Ragnar, além da sua maneira de lutar.
Ela tinha gravado a última batalha do seu keter. Seu igual, um laranja, foi capaz de mostrar as fraquezas de Ragnar com o manto azul.
Porém, Kan só pôde olhar a batalha até os dois laranjas serem mortos por Ragnar em uma luta de três contra um. Durante a batalha contra Zan e Ragnar, os Homens-Fera notaram a presença dela e partiram em perseguição, achando que era parte da Horda. Então, só pôde fugir naquele momento.
Agora, ela estava indo para cima de Ragnar. Não deixaria que ele fizesse movimentos, do contrário, morreria imediatamente. Então, com um bote com sua enorme boca, Kan buscava o fim dessa luta.
Quando sua boca o alcançou, a força da sua mandíbula foi interrompida por outra força. Ragnar deteve seu bote com as mãos, segurando os dentes com suas manoplas de guerra.
Não apenas isso, mas Ragnar foi empurrado apenas alguns passos para trás. Era como se quisesse exibir sua força descomunal.
Estando com as manoplas de guerra equipadas, o metal era um grande condutor de eletricidade. Entretanto, mesmo diante de uma eletricidade forte o suficiente para matar dezenas de criaturas, ele continuava a sorrir. Era como se o choque do manto não fizesse efeito nele.
Por dentro, Ragnar estava sofrendo, mas a adrenalina reprimia boa parte da dor. Para ignorar o restante da dor, gargalhou alto e disse: “Laranjinha! Você está apressada demais! Desse jeito seus filhotes vão morrer.”
Quando disse isso, os olhos de Kan se alargaram. Tudo estava em câmera lenta, apenas para ver cada pequeno movimento do corpo dele.
Ele levantou a perna para atingir o chão. Nessa hora, o manto dourado se tornou azul, e uma enorme bola de neve foi criada envolta dos filhotes.
Ragnar não iria apenas enganar ela nesse ataque. Quando seu pé pisou no chão outra vez, conduziu a explosão diretamente embaixo dos filhotes.
O impacto foi imenso. A bola de neve inteira se desmanchou, e os filhotes foram lançados para longe.
Kan, que viu tudo isso, alcançou o ápice da sua raiva e loucura nessa hora.
Essa raça desgraçada que traiu suas raízes!
Ele iria pagar por tentar tocar nos seus filhotes!
Prestes a fazer algo, Ragnar a levantou pelos dentes e a arremessou para longe.
“Laranjinha boba. Protegê-los será sua queda! Venha e me mostre tudo o que tem!”
Kan elevou o poder de seu manto azul. Esse manto, que ia contra as leis naturais, portava uma chama tão fria que era capaz de congelar as criaturas que se aproximassem e moldar objetos ao bel prazer. Contudo, Ragnar sequer teve suas manoplas esfriadas.
Em comparação de talento, até Yan, que era um azul que viveu dezenas de anos a mais que Kan, perderia quando se tratava de maestria de ataques mágicos utilizando o manto azul.
Então, ela começou a usar sua Magia de Gelo em conjunto com o Manto de Gelo ao limite. Lanças saíram abaixo de Ragnar. Quando estava prestes a pular para esquivar, quatro paredes de gelo se ergueram e o prenderam. Como se não bastasse, ela formou nove espadas que foram atiradas de todos os lados das paredes, cravando-as dentro. Era um caixão de gelo.
Dentro daquelas paredes não houve qualquer movimento. Contudo, Kan sabia que ele não havia morrido com isso. Sua visão no sentido de tigre ainda permanecia, então podia ver que seu inimigo estava ainda vivo dentro daquele caixão.
Dentro do caixão uma estratégia única foi utilizada.
Ragnar não era apenas um monstro em quesito força, mas um gênio em batalhas com centenas de anos de experiência. Quando foi preso no caixão, imediatamente, criou um campo de mana em volta do caixão.
Enquanto as lanças vinham debaixo, ele destruiu algumas e desviou de outras naquele espaço minúsculo. Quando as espadas foram criadas, não tinha nem pensado que isso seria usado, entretanto, quando o campo de mana sofreu alterações pela passagem em alta velocidade das espadas, ele sabia que projéteis foram atirados para o caixão.
Sabendo a trajetória das espadas, ele só precisou esquivar de cada uma. Quando uma espada adentrava o caixão, sua lâmina era destruída pelo punho dele, apenas para obter mais espaço para desviar das outras. Isso tudo em milésimos de segundo.
Quando todas as nove espadas alcançaram o caixão, uma das paredes de gelo espesso foi destruída por um punho. Ragnar saiu sem qualquer ferimento.
Kan não imaginava o quão poderoso e ágil precisaria ser para sair daquela situação sem qualquer arranhão. Porém, isso a lembrou que não tinha como ser tão fácil. Era hora de outras opções.
Dessa vez seu manto azul voltou ao dourado. Ela não estava cansada, pelo contrário, seu sangue estava fervendo e a raiva aumentando. Cada vez que esse inimigo se provava mais complicado, mais furiosa ficava e mais poder sentia chegando.
Não era diferente para Ragnar. Quando enfrentava alguém complicado, sentia-se invencível e cada vez mais poderoso. Sempre buscando o potencial máximo do seu inimigo para que o seu poder se elevasse junto.
Entretanto, enquanto estava preso no caixão, Ragnar não notou uma coisa. Os filhotes haviam desaparecido. Ela havia utilizado aquela chance para escondê-los e não para matar Ragnar.
Na verdade, Kan tinha envolvido seus filhotes em neve e os lançou para longe daquela batalha. Nem mesmo ela sabia onde estavam. Ela sempre pensou em seus filhos antes de qualquer coisa. Agora, toda sua concentração estava nessa batalha, sem nada para restringi-la.
Para provocá-la ainda mais, Ragnar falou em tom ameaçador: “Se você cair muito rápido, irei encontrar cada filhote seu e vou matá-los, um a um, na sua frente, Laranjinha. Então, não me decepcione.”
Por mais que fosse uma provocação, absurdamente louca, ele não faria isso. Ragnar estava apenas a instigando aos limites da sua raiva. Ele, como um Homem-Fera, sabia muito bem como trazer a verdadeira fúria de uma fera como ela.
Enquanto Ragnar a provocava, Kan apenas planejava uma estratégia.
Seu objetivo agora era derreter a neve no ambiente para formar uma grande quantidade de água abaixo dos pés de ambos e usar o poder total do seu manto dourado para conduzir uma descarga elétrica diversas vezes mais forte no inimigo.
O Homem-Fera sequer notou esse plano, porque considerava todas Bestas Mágicas idiotas em comparação com sua inteligência. Mesmo que fosse surpreendido algumas vezes pela perspicácia de Kan para proteger seus filhotes criando fintas elaboradas, ainda não foi suficiente para ele mudar sua mentalidade.
Além disso, Ragnar tinha força suficiente para levantá-la pelos dentes e acertá-la à distância, então, para ele, poderia subjugar qualquer esforço da tigresa a sua frente.
Por outro lado, Kan avaliou a situação e decidiu que uma batalha próxima era melhor. Os golpes do inimigo eram mais mortais quando distante. Logo, uma batalha física era uma opção melhor para retardar o inimigo.
As garras da tigresa furiosa cortavam o ar, criando um vácuo puxando o oxigênio dos arredores. Era como um raio.
Ragnar poderia ser poderoso, mas ainda não era capaz de acompanhar a velocidade dela, utilizando o manto dourado, com os olhos.
Se ela não investisse de frente, ele não conseguiria nem defender dos ataques. E, quando Kan passou a usar a cauda e as garras traseiras, a batalha ficou problemática para ele.
Tão complicada que sequer conseguia prever aonde Kan estaria. Quando tentava acertá-la com uma grande explosão, ela imediatamente mudaria seu manto e usaria uma enorme barragem de neve para impedir o impacto da explosão alcançá-la com total força.
Contudo, agora, a armadura de Ragnar estava aos cacos. Rasgada e quebrada. As garras não precisavam nem o tocar, porque toda vez que as passavam próximas por ele, a eletricidade contida iria ser puxada para a armadura, assim, atingindo seu corpo.
Dessa forma, Ragnar percebeu que deveria utilizar suas Habilidades reais nesse ponto. A batalha que ele mesmo iniciou havia saído do controle.
Usando uma explosão para se lançar ao ar, ele usou de uma vez sua Habilidade, Estrondo da Palma. Quando suas palmas se tocaram, uma enorme explosão ocorreu no ar. O chão foi prensado pela explosão, abrindo uma enorme cratera.
Kan só pôde aguentar a pressão da explosão a empurrando para baixo. Era quase como ser espremida por uma força invisível.
Do outro lado, Ragnar foi lançado ainda mais alto no ar, quase alcançando as nuvens.
Gargalhando no ar, ele desceu como uma bala em direção dela. Seu punho estava estendido para frente, almejando acertar a cabeça da tigresa com um poder ainda maior.
A chama elétrica sumiu nessa hora. Um fogo vermelho se levantou duas vezes mais alto do que o comum. Enquanto descia, Ragnar só pôde franzir quando notou que a cor variou diversas vezes. O vermelho alcançou um amarelo brilhante, que logo se tornou vermelho escuro, porém, ainda variava entre diversos tons, até que um brilho o cegou.
Quando o clarão passou, a chama de Kan não era mais vermelha, mas um azul forte e poderoso. Isso tudo aconteceu em poucos segundos. Não apenas o manto vermelho se tornou azul, mas em um raio de 500 metros dela, todo o gelo se tornou água fervente em um piscar de olhos.
Ragnar, que ainda descia, notou que, se tocasse nela, acabaria se ferindo mais do que feriria ela. Era óbvio que tinha noção do grau de perigo que essa chama representava.
Ele logo desistiu de atingi-la com o soco de frente, então, usou um impacto para se jogar para trás. Para o azar de Kan, ele acabou pousando em uma árvore.
Ela rugiu alto: “Raça desgraçada, medo, agora?!”
Kan nunca esteve tão irada. Porém, esse ódio gerou confiança da vitória nessa luta.
No entanto, Ragnar apenas coçou o queixo, analisando a situação. Atualmente, a mentalidade dele havia começado a mudar em relação a essa raça. Ele tinha noção que se tornaram não apenas mais fortes, mas também muito mais espertos.
Então, ele não analisaria apenas a luta, mas a própria tigresa, dessa vez.
“Você teve quatro filhotes. Cada um com cores diferentes… E apenas um deles tinha sua cor. Isso só pode ser conseguido de duas maneiras… Ou os avós deles eram híbridos, ou seu keter era.”
Um grande sorriso apareceu em seu rosto com a linha de pensamento.
“Será que aquele híbrido de três anos atrás era seu keter?”
Seu tom era ameaçador, mas também zombeteiro.
Na Língua Bestial, poucas palavras portavam um significado tão valoroso. Keter era uma dessas palavras. Significava par eterno, aquele que será único em sua vida e amor de uma vida.
Ragnar sabia muito bem que, desde a época de seu avô, só houveram dois Tigres Amba híbridos. Então, o seu julgamento dificilmente estaria errado.
As chamas de Kan vacilaram quando escutou a palavra keter. E, um olhar aterrorizante foi direcionado para Ragnar.
“O que, fala, desgraçado?”
Ragnar não pôde segurar sua risada.
Ela ainda é apenas um animal. Um pouco mais esperto, mas não sabe conter suas emoções.
Ele, que esteve na última batalha contra aquele tigre híbrido, sabia o que tinha acontecido. Porém, para provocá-la, afirmou: “Aquele tigre medroso foi empalhado na minha residência. Se quiser, deixo você dar uma olhada nele.”
Kan era a keter de Zan. Quando dois Tigres Amba se tornam keter um do outro, o vínculo criado é muito maior do que sentimental. Era espiritual. Qualquer coisa o envolvendo seria transmitido para ela. Falar de seu keter de tal maneira era o pior insulto e provocação que ela poderia ouvir em toda a vida.
As labaredas azuis dançavam ainda mais alto, chegando até 3 vezes mais alto que ela.
Com a expressão mais furiosa em toda sua vida, como um demônio de um pesadelo, ela afirmou: “Ousou tocar, filhotes. Ousou falar, keter. Ousou manchar, território. Imundo, desgraçado, sem raiz, sem origem, morrer hoje.”
O manto de chamas azuis mudou mais uma vez. Dessa vez o Manto da Escuridão se levantou. O ódio foi tão grande que o Elemento se manifestou mais forte do que a chama azul. A cor preta das chamas estava sofrendo mudanças drásticas. As labaredas se abaixaram e um vapor saía do pelo de Kan.
O vapor era espesso e portava uma cor única. Um violeta escuro apareceu, mas não parou sua mudança. O violeta só parou de mudar quando alcançou a cor roxo-escuro.
Ragnar nunca escutou falar de um Tigre Amba com esse manto em toda sua vida. Ele não fazia ideia do que era.
Nessa hora, ele sabia que essa batalha deveria acabar agora. Ragnar não fazia ideia do que poderia vir. Então, usou mais uma vez a Explosão Terrestre em conjunto com o Estrondo da Palma. Ao usar essas duas Habilidades juntas só significava que ele pretendia espremer a Kan no meio dos dois impactos explosivos.
Kan não se moveu. Deixou que as duas explosões viessem.
Entretanto, o mais aterrorizante aconteceu para Ragnar. Quando os impactos explosivos chegaram em Kan, não aconteceu nada. A terra não explodiu, muito menos prensada.
Com a visão dos seus impactos mais poderosos serem engolidos pelo manto da tigresa a sua frente, Ragnar sentiu o medo da morte pela terceira vez em sua vida.
Sua visão ficou vermelha igual à dos Tigres Amba quando em perigo de morte. Era uma luta de vida ou morte para ele. Ragnar tinha noção que ela não o deixaria ir embora depois de tudo o que fez.
Ele já não achava mais essa luta divertida. Ela poderia matá-lo antes de descobrir o que era esse manto roxo.
Decidiu que era mais sábio deixar de usar os punhos explosivos. Ele passaria a usar uma arte marcial. Querendo incapacitar a Besta Mágica e sair dali o quanto antes. Ragnar já não tinha mais certeza que poderia lidar com ela.
Ele se aproximou lentamente dela. Porém, Kan não se moveu. Apenas o olhava com fúria.
Na realidade, Kan não tinha como realmente se mover. Todo seu corpo doía. Esse manto a permitia absorver tudo o que tem mana integrada: Magias. Era o Manto do Vazio. Contudo, por ser tão poderoso e novo para ela, também se tornou um fardo enorme para seu corpo.
Não podendo se mover, ela teve que aguentar e manter o manto roxo ativo até Ragnar se aproximar e pisar na água para poder mudar seu manto mais uma vez para o dourado e usar seu último ataque para sair dali logo.
Sua energia ao usar o Manto do Vazio estava exaurindo rapidamente. Ela não podia continuar essa luta de vida ou morte, por mais que estivesse furiosa, tinha que proteger seus filhotes, e sua raça precisava dela na próxima batalha.
Embora esse Homem-Fera tivesse a ameaçado diversas vezes, até sua aura demonstrava que mataria Kan, ela nunca realmente sentiu perigo real dele. Se ele quisesse matá-la desde o início, ou ferir seus filhotes, ela sabia que Ragnar tinha o poder de fazer isso, porém, ele não fez.
Quando ele falou de seu keter, Kan sabia que não era verdade. Zan era mais poderoso que ela naquele ano, mais do que os dois laranjas que Ragnar enfrentou, muito mais poderoso. Ele não teria morrido mesmo se desejasse, então, algo tinha acontecido.
Ragnar finalmente tinha pisado na água, que antes era neve, então seu manto mudou de imediato. O tempo de duração foi trocado pelo poder. Esse manto dourado duraria apenas um segundo, mas seria o raio mais forte que poderia usar nessa situação.
O Homem-Fera só pôde arregalar os olhos quando viu o manto dourado sendo ativo outra vez. Antes de poder fazer algo, a água já estava conduzindo a eletricidade até ele.
Ragnar gritou de dor. Nunca sentiu tal poder antes. Até os raios de antes machucavam um pouco, mas esse foi capaz de acabar com o resto de armadura dele e derreter suas manoplas, que acabaram caindo na água. Seu pelo queimou e sua juba, que outrora era grisalha, tornou-se preta.
No entanto, ele ainda estava de pé. Sem dar um passo para trás. Porém, olhando de perto, se podia notar que os seus olhos estavam virados para cima. Ele havia perdido a consciência.
Kan, que alcançou seu limite físico e mágico, saiu imediatamente para uma direção diferente dos seus filhotes e se escondeu atrás de uma montanha usando o restante de seu poder no Manto de Gelo para se ocultar.
Ragnar ficou lá, pensativo. Em pé em uma água fervente. O que restou da sua armadura, para sua sorte, foi a parte de baixo.
Se essa Tigre Amba participar da batalha para impedir o avanço da expedição, muitos vão morrer… Algo precisa ser feito sobre isso. Só eu não posso acabar com ela agora. Preciso do apoio dos outros Líderes. Ou precisamos tentar outra maneira para passar pelo território deles sem perdas.
Com isso em mente, ele perdeu toda sua vontade de ir na cordilheira dos Tigres Amba.
Ele, lentamente, com dores nas juntas, saiu daquele lugar e se dirigiu para o acampamento de Sha’l.
Estava bem desanimado e pensativo depois dessa luta. Não esperava esse resultado. Então decidiu voltar calmamente para Sha’l e avisá-lo que talvez seja um erro ir contra os Tigres Amba.
Havia se passado três dias. Ragnar chegou ao acampamento. Sua juba tinha voltado a sua cor normal, ela só ficou preta por causa da fuligem que ficou grudada. Porém, suas vestimentas ainda estavam devastadas.
Sha’l olhou abismado para Ragnar e perguntou: “Ragnar-han, o que aconteceu? Quem conseguiu fazer isso com você?”
Com uma expressão séria, ele respondeu: “Não se importe com isso agora. Os mensageiros já voltaram?”
Ainda confuso, mas como foi um pedido de Ragnar, Sha’l ignorou por ora.
“Sim. 12 Anões Trovejantes, contando com o Líder dos Anões Trovejantes, Kasmet, estão vindo. 15 Demônios Negros estão se encaminhando, acompanhados pelo Amon. Mesmo que sejam grupos pequenos, cada Líder está acompanhando. Certamente em 1 mês e meio estarão aqui.”
No entanto, depois de falar tudo, Sha’l parecia inquieto com algo. Ragnar captou isso rapidamente e questionou: “Pequeno Sha’l, você e seu pai tinham as mesmas manias para disfarçar algo. Se você quer contar, mas é interno da sua Aldeia, deve se levar tudo em consideração. Posso ser o velho amigo do seu pai, mas a decisão de me contar sobre isso é sua.”
Quando ouviu a primeira parte, Sha’l só pôde tentar disfarçar a vergonha. Porém, logo uma verdadeira compleição de um líder apareceu em seu rosto.
“Ragnar. Eu confio em você, assim como meu pai confiava. Esse assunto não remete somente a minha Aldeia, mas para todo o continente, talvez todo a Saphir. Minha filha, A’ela, foi comunicada com a Mãe Natureza.” Sha’l teve que dar uma pausa para engolir seco, mas logo continuou, “E, foi entregue uma profecia para ela.”
Logo, choque e surpresa apareceram no rosto de Ragnar, que estava sério até agora há pouco. Com dúvidas, perguntou de uma vez: “Sua filha?! Sha’l, esse é o segundo acontecimento em toda história de Saphir! O que foi dito para ela?”
Sha’l falou exatamente o que foi entregue para ele pelo mensageiro: “Embora pequeno, tem dentes e garras afiadas. Sua cauda e cabelo laranja são únicos. Aquele que mudará a visão de tudo aparecerá em meio à uma batalha.”
Ragnar imediatamente ficou pensativo na profecia. Se era referente a Mãe Natureza, era algo de extrema urgência. Se aquilo foi dito para a pequena A’ela, então era relacionado a Enir e a atual batalha.
Ele analisou de diversos pontos a profecia. Analisou todas criaturas com as características citadas, a batalha, se era a recente ou a futura. Logo, chegou aos acontecimentos de 3 dias atrás.
Diante de tudo o que foi dito, apenas uma coisa encaixou nas palavras. Havia um filhote laranja sendo protegido pela tigresa que lutou. Quando chegou nesse pensamento, ele só pôde ficar ainda mais surpreso.
Poderia ser aquele filhote?
Ragnar contou os acontecimentos para Sha’l logo em seguida. O Elfo Prateado respondeu com diversos tipos de expressões. Medo, anseio, terror. Sha’l não imaginava que existisse uma Besta Mágica capaz de lutar de frente com Ragnar e empatar.
“A batalha iniciará de qualquer maneira. As outras Aldeias não saberão da profecia, Ragnar-han. Contei pela confiança que tenho em você, como instrutor e amigo de velha data.” Sha’l considerou como os outros Líderes reagiriam e preferiu manter para apenas os dois Líderes esse fato.
“Não acho que envolva os Tigres Amba, mas se for como você espera, Ragnar-han… Então vai ser ainda mais problemático que imaginamos.”
– Terras Gélidas, Templo dos Tigres Amba –
Enquanto isso, estou aqui na porcaria do cume dessa montanha. Esse frio é uma desgraça! Argh!
Dessa vez o treinamento não será com o Yan, mas pelo próprio Kei. Tá ruim? Tá. Pode piorar? Claro que pode! PORQUE DESSA VEZ EU NÃO TENHO KA’IN PARA ME AJUDAR!
Então… Estou ferrado?
Kei disse em um tom sério: “Filhote, a guerra está próxima. E, você, o mais forte dos filhotes, precisa ser treinado pelo melhor da raça.”
É. Eu tô muito ferrado.