Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 34: momento crítico

Notas do autor: 

Alguns termos específicos serão utilizados. Narrrarei como são e como funcionam, mas caso tenham interesse na aparência/funcionamento na vida real,  recomendo pesquisarem no google.

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— Claro...

Após o teleporte, Limit observou seus arredores, para confirmar que estava em uma floresta . A mesma possuía árvores relativamente altas, de 8 metros de altura. Possuíam troncos grossos e rígidos, sem dúvidas resistentes, tendo folhas apenas no seu topo, deixando uma parte mais fina do tronco descoberta.

O local era úmido e poucos raios solares chegavam ao chão. As raízes eram curtas, e as árvores bastante distanciadas na base, sempre se encontrando por meio de galhos. Não aparentava ter animais ou qualquer sinal de vida ali.

— Aquele cara era meio que o irmão do ladrão da Floresta de Sherwood, né....? Se duvidar, não foi a melhor das decisões...

Ela também se questionou da possibilidade de ser algo armado... Não podia confirmar ou negar, mas deixou em mente. Por mais que muito provavelmente não fosse verídico.

Aliás, de certa forma, era um ponto forte para Limit, também. Afinal, a infância de Sea inteira foi tida em meio a uma serra bastante parecida com essa, então era o ambiente no qual estava mais acostumado. Por mais que não se comparasse a Elias.

—  O que fazer?

Olhando seus arredores, o primeiro que Limit fez foi observar o território. Estava reconfirmando o local, buscando ao máximo algo que lhe desse vantagem. Porém, isso levava a outro problema. Não era tão inteligente quanto Sea, por isso era mais dificultoso do que seria para seu pai. Ainda assim, o que tinha a oferecer recompensava esse demérito.

— Hum....

Em seguida sentou de pernas cruzadas. Usou a lógica básica de que ambos competidores estariam distantes um do outro.

Isso não estava especificado em alguma regra, mas levando em conta que o sistema parecia bastante parecido com um jogo, chegou a tal conclusão.

Ou melhor, apenas parecia isso. Estava focando sua magia nos ouvidos, melhorando sua audição em muitas vezes. Nem muito para não ser facilmente detectado, nem pouco para ser inútil contra ataques furtivos.

Após pensar por quase um minuto, chegou a uma conclusão:

— Atlas!

Estava há um tempo sentindo que esquecera algo. Atlas, o seu “companheiro de jornada.” Ele estava bastante presente com Sea para passar o tempo, mas desde que Limit chegara, não havia dado um piu. O que, se parasse para pensar, era estranho.

“Escravo!” — Chamou. Mas sem resposta.

Até havia tentado chamá-lo a atenção... Mas tirando isso, ele não deveria ter aparecido assim que Sea estava agindo estranho? Limit se preocupou tanto com outras coisas que esquecera isso completamente.

— Ah, pera... Será que...

Uma ideia veio em sua mente.

Se, apenas se, Atlas era uma consciência com acesso a mente de Sea, e vivia por lá... Quando Limit selou a mente do invocado, o título a ele designado se foi junto...

“Ugyah!”  — ela soltou um grito mental.

Ela, sem querer, havia selado a consciência dele junto da de Sea... então como não tinha contato com a dele, não poderia acessar o interior.

Claro, isso era apenas teoria. A mente humana é algo fora dos limites da compreensão. Também podia ser ele de sacanagem.

De qualquer forma, parecia que não teria ajuda de seu título... Amaldiçoou esse empecilho. Atlas, querendo ou não, possui uma experiência avassaladora com suas memórias...

— Hunf! —  bateu em suas bochechas com a palma das mãos.

Talvez tivesse feito um barulho indevido, mas era necessário para voltar seus pensamentos à normalidade.

Sim, havia encontrado mais uma pedra no caminho, ainda assim, não sentia como se fosse perder. Levantou apenas com as pernas, arrastando as costas contra o tronco.

Quase escorregou no processo. O solo não era muito firme, deixando fácil pra alguém deslizar se estiver descuidado. Gostaria de usar isso para algum estrategema, mas sendo seu adversário quem é, algo de tão baixo nível não o surpreenderia.

— Vamos lá...!

Estendeu sua mão aberta à frente, e com esse movimento um certo grau de magia subia pelos seus braços. Após deixá-la fina, foi-se espalhando pelo corpo, até desabar nas pernas e braços.

— Issá!

As árvores não detinham muitos galhos, tendo um par a cada dois metros, aproximadamente. Se não usasse magia, além de demorar bastante, ficaria extremamente cansada. Ademais, não conseguia detectar água por perto, então nem poderia usar da bênção de Atlas.

Limit começou a escalar a árvore. Subia em um galho, utilizava da sua força de pulo para chegar ao outro. Em poucos segundos estava ao topo.

Só com esses pequenos movimentos conseguia notar o quão inexperiente era. Não sabia balancear a troca de posição da magia de forma rápida, por esse motivo tinha de deixar em ambos membros, dificultando mais sua posição e gastando energia desnecessária.

Havia um longo caminho a se seguir...

— Fu... Bem bonito aqui.

Buscando uma visão mais panorâmica, Limit tentou olhar para baixo, mas percebeu como a visibilidade era terrível devido as grandes folhas. Arriscou-se a tocá-las.

— Duro...

As folhas eram bem resistentes. Tentou pisar nelas, e aguentaram facilmente o seu peso. Em termos biológicos, uma árvore incrível. Podia ser um pensamento falho, mas talvez fosse própria desse mundo.

— Legal... Não, agora não é hora pra isso. — diferente de seu pai, tinha uma atração maior com a natureza. Mas deixou isso de lado.

Ficou em posição para o caso de qualquer ataque surpresa.

Ouviu um barulho forte um pouco distante. Parecia que as folhas estavam sendo mexidas com força, de forma não natural.

— ...

Ficou receosa quanto a isso. Existiam várias probabilidades para esse som que não estivessem sob seu conhecimento. Uma rajada de vento própria de certas posições da floresta, sistema pré-determinado, etc...

Porém, não podia deixar de apostar suas fichas em Elias...

Foi para lá. Sempre com extrema cautela. Ia de galho em galho como um macaco. Fazendo seu melhor para não ter barulho.

Suas mãos pareciam macias de tão suave que tocavam a madeira. Seus pés chegavam a uma textura parecida com eles descalços, devido a forma que se agarrava a superfície. Estava tudo indo perfeito. Aproximava-se do lugar...

No entanto, uma sensação passou de repente pelo seu corpo. Estava ocupada com a escalada, mas tinha esquecido completamente de ataques surpresas por meio de flechas... Um tiro certeiro seria fatal.

Ao relacionar isso com o fato de não estar com sua “armadura” de magia, arrepiou-se. Demoraria um tempo até completar o procedimento, e o pânico tomou seu corpo, assim como o nervosismo. Guiado por ele, moveu-se freneticamente pelos galhos, e por sorte...

— Ah!

Bem no segundo que havia iniciado, uma flecha foi disparada contra si. Isso não era algo que podia ser previsto com sua habilidade atual, nem com um fantasioso instinto.

Rapidamente observou para onde a flecha havia acertado. Calculou a direção e ficou encostada contra o tronco pelo lado oposto. Assim, ficaria segura, temporariamente.

Por mais que não estivesse cansada, a rápida viagem de sangue a deixou afobada. Tentou repensar a situação. A única certeza era a localização aproximada de Elias.

Na verdade, havia algo esquecido por completo por Limit: o título de Elias. Se fosse Sea não teria esquecido isso, e só nesse momento crítico fora recordar... Bateu várias vezes o punho contra a testa.

Existia um motivo certo para o desenrolar ter ocorrido assim. Elias tinha o título de Apolo. Uma de suas habilidades era um controle mínimo de sons. Controle o qual lhe permitia parar o som por um tempo, para ser lançado posteriormente. Mexeu as folhas e pausou o som. Depois, deu a volta pelo lado contrário de onde estava vindo, e esperou Limit aparecer.

Estava com o arco e flecha apontado há algumas dezenas de segundos, e sem dúvida poderia ter atirado, contudo, por Limit estar sem uma proteção de magia — algo lhe ensinado ser básico — interpretou como um truque, ou talvez uma habilidade do título. E por isso demorou. Quando resolveu arriscar foi tarde. E deu no que deu.

Claro, Limit não tinha como saber de tal poder específico, mesmo com seus conhecimentos sobre Apolo.

Alguns segundos depois do tiro, a voz de Elias soou:

— Conseguiu esquivar, hein?

— ...

A voz veio de onde havia imaginado. De um ponto cego para acertá-la. Parecia calma e serena, por mais que um pouco trêmula. Não havia sido influenciado pelo erro.

Limit preferiu recuperar o fôlego. Tomando cuidado para quaisquer ataques laterais. Elias não parecia estar continuando... queria uma conversa, ou...?

— Bom saber!

Ele lançou outra fala que parecia não fazer sentido para a situação. Limit sequer havia respondido. Ou será que havia algo a mais?

Devido essa incoerência, focou mais em seus arredores. E foi quando, com o canto dos olhos, enxergou um brilho indiscriminado. Imaginando o que era, abaixou-se imediatamente.

Pouco depois outra flecha chegou a se prender na madeira atrás de si, quase lhe acertando.

O atirador parecia estar ao nordeste, e antes de qualquer coisa, quis dar uma boa visualizada em quem era. Afinal, a voz vinha de trás, mas a pessoa estava na frente? Considerou ser uma flecha automática, por mais que tal dedução também possuísse problemas.

Viu, por dentre uma fenda das folhas, a figura de Elias. De trajes normais e sua tradicional aljava. Queria, antes de tudo, contar as flechas.

Mais três.

O braço foi para frente rapidamente, retraindo com igual velocidade para segurar a linha. O dedo indicador junto do médio traziam consigo uma flecha, posta exatamente na mira com mansidão. Uma pressão sem igual foi exercida na corda pelos três dedos, que no fim se tornaram apenas dois quando a ponta chegou perto da madeira.

Limit se moveu para desviar do projétil que se seguia.  

Elias ajustou a trajetória e lançou. Seja nesse mundo seja na Terra, não são muitas as coisas que podem vencer uma flecha. Por mais que tenha reagido o melhor que pôde, enquanto tentava ir para o outro lado do tronco fora acertada de raspão no ombro.

Podia ter evitado o arranhão se não houvesse pausado para pegar a flecha. Ao estar em um local segurou, quebrou a mesma. A quantidade para Elias era limitada, se ficasse deixando armas que apenas ele pudesse usar, seria um problema posterior.

Contudo, com tudo que estava acontecendo, tinha em mente que estava acontecendo algo estranho. Algumas possibilidades vieram à mente, com a principal sendo teletransporte. Era a explicação mais plausível levando em conta os conhecimentos retidos até o momento.

Haviam alguns problemas nessa teoria, mas não estava com muito tempo para pensar nisso.

— Ai.... —  ela levou a mão até o ombro para amenizar o sangramento.

O corte era superficial, mas doloroso. Podia atrapalhar movimentos futuros. Também, tinha de resolver rápido. Não era um lugar para brincadeiras.

— Ah... Fu... —  respirou profundamente e expirou. Concentrou sua mente nesse único aspecto.

Quase que instantaneamente a ferida se curou. O que levaria algumas horas foi curado em questão de segundos.

— Como pensei... as reações são mais rápidas comigo no controle... — deixou escapar, pensando ao vento.

Ofegava bastante. E quando ia levantar a cabeça para descansar, negou a si mesmo. Tinha de aproveitar o tempo. Fazer o que estava ao seu alcance o mais rápido possível. Por esse motivo quebrou a flecha em sua mãos.  

Quanto mais esperasse, mais tempo Elias teria para outra emboscada. Ainda tinha sob sua posse três chances. Tendo isso em vista, Limit correu pelas folhas e galhos no intuito de se distanciar e, no processo, pensar sobre como revidar.

Sim, teletransporte era uma possibilidade. Mas estaria isso correto?

Pela breve explicação lhe dita, para se teletransportar de um lugar para o outro é necessário contato direto com o destino. Devido a vegetação espessa, para Elias ter aparecido lá embaixo era... complicado.

De repente veio à consciência que Apolo era deus da música, então pensou ser algo relacionado a som... teria ele se esgueirado para aquele lugar e, com algum poder, ter transferido o som de posição? Outra possibilidade, mas se fosse assim, apenas a primeira fala era necessária. A segunda seria auto sabotagem. Tanto que a segunda lhe permitiu escapar.

Por esses motivos, pensou que a habilidade tivesse relação a sorte... algo não 100% certeiro.

— Conversa artificial?  — falando isso parou em outra árvore. Tinha fugido o suficiente.

Se levasse em conta que a habilidade o permitia gravar sons em determinados lugares... faria sentido. A primeira mensagem foi utilizada para fazê-la pensar que estava em X lugar, enquanto a segunda foi para descuidá-la. Teria sido perfeito se Elias não houvesse erado o tempo.

Ainda não era certeza, e estava aberta a reconsiderar, no entanto continuou assim.

Sobre si estava fazendo um forte. A sombra se projetava para o lado. Agachou-se para não deixar a localização ser descoberta.

Foi então que reparou...

— Huh?

Uma outra folha, mais à frente em cima. Era como qualquer outra, mas possuía algo diferente sob si...

Uma sombra. Muito fina e quase imperceptível, mas estava lá. Quando Limit içou sua visão para encontrar de onde vinha, viu que um galho era a origem.

Outro pensamento gelou sua espinha.

Saiu de cima da folha e foi para um tronco. Como estava antes. Se um galho tão longe deixava a sombra transparecer sob a folha, então seu corpo... devia ficar bem claro se visto do solo.

Nesse instante deu atenção às proximidades, para dar de cara com o mesmo fenômeno se repetindo por várias folhas...

Sendo assim...

...

Elias se movia pelos galhos e folhas. Nenhum barulho saía de si. Não apenas por sua habilidade natural de caçador, mas também graças a bênção de Apolo.

Habilidoso como era, não foi difícil rastrear Limit. Após subir em mais uma árvore, seguiu os indícios de sua aparição. Mesmo a menos coisinha era vista pelos seus olhos. Uma marca deixada contra uma folha, distorção de lascas de madeira etc.

Suas duas abordagens iniciais haviam sido falhas. E visto que a segunda possivelmente tinha comprometido sua tática, deixou-a de lado. Talvez não fosse o necessário para Limit descobrir, mas caso uma terceira falhasse, a habilidade seria selada.

— Hum...

Até que chegou num ponto sem mais pistas. Olhou para os cantos. Talvez tivesse deixado algo passar...?

Não, impossível. Limit não podia ter subido sem que notasse. Lascas da madeira seriam deixadas à mostra. Sendo assim, a única alternativa era que estivesse embaixo...

A visão não era clara de onde estava. Só conseguia enxergar por meio de buracos... Como Sea não tinha nenhum tipo de projétil, não achou que fosse ser problemático espiar.

Agachou-se com as pernas perto do tronco. Colocaria a cabeça e a giraria, com o propósito de encontrar alguma marca no chão. Devido o solo não devia ser tão difícil.

Curvou a espinha, levou a cabeça para baixo e atenciosamente levou a cabeça pelo buraco...

— ... Agh!

Todavia, de súbito uma força caricata o segurou pelo braço. Seu campo de visão não estava concentrado no buraco, por isso havia sido pego desprevenido. A folha em que estava começou a remexer devido a concentração excessiva de peso em um dos flancos.

Assim que virou sua cabeça para o braço que lhe agarrava, conseguiu ver Limit suspenso no ar, erguido apenas graças a Elias.

Por ser acostumado com as florestas europeias, Elias não se deu ao trabalho de analisar minuciosamente o campo atual. Por esse motivo não sabia que era possível se enxergar a sombra de algo acima da folha quando estava abaixo, mas não o contrário.

Limit tinha se pendurado no tronco e alguns galhos menores. Quando a sombra chegou perto o suficiente, apostou tudo e se jogou. Deu certo.

— Vem cá...! — ela rugiu cerrando os dentes.

O peso somado a força de Limit era bastante, e se fosse uma pessoa comum, teria caído de imediato.

Porém...

— Heh. Brincar de macaco combina com você.

— A-ah...!

Diferente de Limit, Elias possuía a vantagem de poder usar a força das pernas contra a folha, que continuava grossa. Sua magia foi canalizada no braço e pernas, e com esse poder, jogou Limit para cima. Ela se assustou de início, mas no meio conseguiu se soltar, recompor e aterrissar sem problemas em um outro galho.

Um combate a curta distância era inevitável. Por isso Elias tirou sua aljava. O peso de uma era bastante considerável, sem contar as flechas. Seu arco estava sendo segurado pela empunhadura pela mão esquerda, já a aljava com a direita.

— Toma! — ele abruptamente jogou a aljava contra Limit. A própria não esperava por essa ação, então demorou a reagir.

Deu um chute na lateral que fez a bolsa ser lançada alguns metros. Sem base, escorregou pelas folhas e fez um barulho ao cair

— Hã?

No meio tempo algo estranho ocorreu. Por mais tivesse dado prioridade à aljava, em nenhum momento tirara a visão de Elias. Contudo... ele não se encontrava mais presente.

Isso não era um jogo de sons, muito menos uma habilidade de Apolo.

Só uma possibilidade veio à mente: magia espacial de teletransporte.

Como estava tudo acontecendo rápido, e não tinha ideia de por onde ele viria, abaixou-se instintivamente, mas...

— Agh!

Não foi o suficiente.

De certo, havia sentido um vento passar sobre si. O primeiro chute. Tinha acertado o local. Mas relaxou por um segundo, pensando que Elias fosse recuar. Porém, no mesmo golpe ele continuou com a outra perna. Não tinha a mesma força, mas com certeza continuava tão perigoso quanto.

Atingiu seu braço na parte superior. Por ter sido de mal jeito não foi para longe, apenas rolou para a folha.

Elias aproveitou do estado momentaneamente incapacitado de seu inimigo e saltou para o lado, mas dessa vez, com a magia distribuída igualmente pelo seu corpo. Empunhava seu arco.

Limit também fez o mesmo e cobriu o corpo com sua magia.

Sua velocidade, força, e resistência estavam elevadas, e com isso, iniciou o combate a curta distância.

Os dois começaram a disputar golpes.

O arco chocava contra o antebraço várias vezes, a força dos ataques de Limit eram claramente maiores, mas Elias compensava isso com sua experiência e velocidade.

Limit tentava de várias formas acertar um golpe limpo, mas nenhum chegava no encapuzado.

 O mesmo para Elias, que também não conseguia passar pela defesa do seu adversário.

As trocas de golpes não pareciam que iriam levar a algum lugar. Contudo, Limit fez um golpe de meia-lua, indo da base do galho até a cabeça.

Elias defendeu com seu arco, mas o mesmo foi jogado para o alto. Devido a força imposta, a arma caiu em outra folha, um pouco distante.

Um dano contra o caçador, no entanto, não um grande. Também era bastante habilidoso em combate sem armamentos.

Elias desferiu um soco na direita, e Limit esquivou para o lado. Agachou-se e foi em frente, fingiu elevar o punho para distrair Elias. Caiu na finta e um chute de calcanhar veio pelo outro lado.

O caçador simplesmente exerceu pressão contra a perna com a palma da mão. Isso fez o chute ir para uma direção indesejada, e muito custou a Limit para não cair da árvore.

— Fácil, hein?

— Hur... — as palavras dele a irritavam.

Por fim Limit começou a utilizar o máximo que tinha de suas habilidades. Estava num momento crítico.

Seus olhos dilataram. Seu sangue bombeou mais rápido, acompanhando a aceleração do coração. Sua visão, audição, olfato, paladar, tato e reflexos foram incrementados. Não era questão de magia...

Quando dançava ou lutava, era como se sentisse na pele a dor dos que aguardaram calados, sofrendo da mais pura e infundada injustiça. O sentimento dos fracos que se agarraram à vida, a mistura perfetia entre dança, arte marcial e cultura.

Limit curvou um pouco sua coluna, de mãos levemente abertas.

Essa era a capoeira dos escravos brasileiros.

A postura básica: ginga.

Uma arte marcial desconhecida para Elias, tanto que o fez franzir o rosto em dúvida. Diferente de Limit que, através da vivência de seu pai, conhecia bastante do mundo.

De tudo sabia um pouco.

— Pode vir.

Um soco veloz de Elias veio almejando a cabeça de Limit, que redirecionou para o lado com as costas da mão. Lançou uma sequência contra o caçador, mas suas esquivas suaves foram o suficiente para evitar.

Limit usava golpes em arco da capoeira, usando uma perna para sustentação e a outra para um ataque alto ou baixo. Entretanto, onde estava não era adequado. Necessitava-se de uma base sólida. As folhas, mesmo que rígidas, continuavam instáveis.

A ideia de derrubá-lo veio.

E sabia de uma técnica ideal para concretizar isso.

Limit avançou, fingindo uma joelhada alta na cabeça de Elias, que por reflexo voltou sua parte superior para trás. Isso foi um erro crítico derivado de seu pouco conhecimento sobre a capoeira.

Afinal, o golpe em questão era a Ponteira. 

Fazendo uma finta com a joelhada, Limit colocou grande parte da sua magia na sola do seu pé, e aproveitando-se da finta, soltou um poderoso chute limpo na barriga de Elias.

— Huah?

Esse não é um golpe para inflingir grandes danos, afinal o movimento é parado e refeito no meio. Era uma forma de repudiar o adversário. E deu certo.

Sob circunstâncias normais não seria capaz de empurrar um corpo preparado para fora do galho, mas a finta tirou a atenção de Elias, deixando sua base mais fraca. Junto a magia de reforço e instabilidade, foi mais que o suficiente para Elias desabar pela floresta.

Elias caiu toda a altura do galho, aproximadamente quatro metros.

Limit já estava extremamente cansado. Não importa como a visse, sua magia estava claramente a ajudando, por mais que esgotasse sua energia.

— Ele morreu...?  —  quando se perguntou disso, notou que era uma altura perigosa...

Não não não não não não não não não não Não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não.

Tudo menos isso.

Não poderia encarar seu pai se tivesse matado uma pessoa, seja o pior dos homens seja o melhor.

Não se importou com o perigo em potencial. Sem mais tardar pulou diretamente no solo. Torceu a cabeça para todos os lados, tentando procurar Elias. Mas não o via em canto algum.

O suor escorria de seu rosto, olhava com dubiedade para o chão, mas agora que notara...

— Não houve som...?

Era tarde.

A linha branca, fina e mal cuidada foi puxada com velocidade. A madeira mal feita que dava sustentação à estrutura rangeu com o barulho, mas devido a distância, não foi audível. A flecha mal cuidada, de ponta lascada  e madeira inconsistente ganhou impulso. O atirador estava agitado como nunca estivera. Sua caça mais difícil. Sempre havia caçado animais irracionais, com instintos, mas não algo lógico, um humano. Sua respiração era pesada, entretanto fazia seu melhor para suprimí-la. Foram os segundos mais demorados que já viveu. Não podia errar, não tinha como errar.

*Vuush*

Os dedos foram tirados da corda.

A haste da flecha bambeou intensamente para os lados devido a frequência lançada. Sua ponta corajosamente cortava todo o ar na sua frente, como se dissesse que nada a podia parar. A pequena pena que servia para ser melhor posicionada caiu no meio termo, desviando um pouco a trajetória.

Ainda assim, era um tiro perfeito. E nada podia fazê-lo errar. Limit, sem mais nenhum indício do que estava por vir, não teve tempo de reagir. Apenas foi entender o que estava acontecendo quando a flecha adentrou sua carne e ali se alojou.

Não muito tempo depois o corpo de Elias sucumbiu ao cansaço extremo. Já Limit precipitou devido aos ferimentos.

— O-o quê...?

O arco estava na árvore, enquanto as flechas ao longe....

O desfecho do duelo estava se aproximando...



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