Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 33: início do duelo

— Ah, uma raposinha! 

Já passava um pouco das duas da manhã, indicando que em menos de doze horas seria realizado o duelo. Após cortar o cabelo, Limit saiu do castelo, em direção à vila. Claro, acompanhada de seus mestres.

No caminho havia encontrado um grupo de raposas. De início ficou receosa. Não possuía uma boa relação com os animais, contudo, Bianca disse que enquanto estivesse por perto estariam seguros, portanto ela aproveitou. Pegou o que parecia um filhote branco e abraçou.

Por perto estavam vários da espécie, assim como alguns amarelos. Limit analisou todos. Aparentavam ser maiores que os da Terra, ainda assim, nenhum chegava nem perto dos colossais que havia visto há dois meses.

Com um rosto apático, Limit questionou, ainda abraçada da raposa:

— Hum, já que não podem me falar sobre aquelas coisas, podem dizer onde eles vão estar?

— Por quê? Pretende se encontrar com eles?—Bianca respondeu se aproximando.

— Hum, não eu, mas o paizinho deve gostar... elas pareciam ter consciência, né? Bom, não precisa responder, mas eu acho que sim. Ele deve gostar de conversar com elas. Não é todo dia que um animal pode contar suas histórias.

A Vassala levou um tempo até entender tudo, mas ao fim, apenas sorriu. Ficou extremamente perto de Limit e fez cafuné na cabeça da raposa, que abaixou o rosto em resposta.

— Eu falei que ia esperar contato, mas não falaram nada para mim... Ase, o que elas disseram?

— ...Huh?— Ele não estava interessado na conversa, por esse motivo soltou um barulho surpreso ao ter seu nome mencionado.

— Não vem com “Eh?”. Você falou com elas, né? Não adianta mentir. Então, não deve ter problema dizer, certo?

—...—Para pensar melhor, como de costume, ergueu seu cachecol até o nariz. Ficou pensando um pouco, e respondeu:— Também não é certeza, logo, tanto faz. Disseram que iam viajar no sentido anti-horário pelos reinos humanos antes de chegar no destino delas. Eu posso entrar em contato para algo mais específico, mas nah.

Com a resposta, Bianca encarou Limit, perguntando com os olhos se estava satisfeita. Vendo que a informação já era mais que o suficiente, preferiu não perguntar mais. Levou como um bônus, ser gananciosa podia dar problemas.

Ela podia não saber, mas a decisão das raposas era bastante simples. Como estavam tentando ajudar todos os invocados, e Domicia era o reino mais ao sudoeste, preferiram seguir essa rota para atender ao máximo de invocados possíveis, em prol de seu objetivo.

Não precisavam se preocupar com Lígula— Reino de Elias — Já que haviam o visto na floresta. Portanto, iriam acudir da forma que pudiam os outros.

Essa seria uma informação valiosa, mas infelizmente estava fora de seu alcance ou dedução.

Limit ainda imaginava existir um outro motivo por trás, como, qual o motivo de ter seu pai salvo pelas raposas? O que eram, exatamente?

Pensava sobre enquanto cuidava dos outros bichos ao seu redor.

Quase uma hora havia se passado, e para impedir que ficassem lá por muito tempo, Ase apressou ambas a sair. Ambas pois Bianca também estava brincando com os animais.

Limit passou as mãos pela calça e casaco, tirando os pelos. E assim a Vassala o fez.

Pouco antes de sair, Limit foi até a frente das raposas, que quase davam meia-volta, e se ajoelhou em frente delas. Também juntou as mãos.

— Descula pelo que aconteceu há dois meses...!— Seu rosto parecia bastante tenso já que forçava bastante os olhos a ficarem fechados, com medo da resposta.

Ficou assim por quase um minuto, até que abriu seus olhos. Inesperadamente todas as raposas já estavam longe, voltando para suas vidas normais.

São bichos da natureza, acostumados com a vida e morte como algo diário. A lei da selva havia levado os seus iguais, teria sido eles ou Limit, não havia porquê ficarem irritados.

Obviamente não se podia ler mentes, mas foi o que Limite pensou. Acenou uma vez como se aprovasse sua dedução, e então repetiu, desculpando-se a si mesma.

Não bastou muito mais que alguns passos para chegar ao fatídico buraco em que Sea fora aprisionado. Trazia muitos sentimento a tona, e com certeza não eram positivos.

— ...

Após encarar um pouco o fundo do buraco, no qual se encontrava os restos das raposas, Limit se agachou. Mais uma vez pediu perdão, mas dessa vez mentalmente.

— Olha...— Bianca veio por trás e tocou seu ombro.— Não sei muito bem como  funciona, mas aqui ainda era Sea, certo...? Não tá preocupada demais?

Suas palavras tinham intuito de confortar, mas Limit não sentiu assim. Na verdade, sentiu-se ainda mais desconfortável. Com os lábios trêmulos, disse:

— Foi aqui...

— Hum?

— ... Nada!

Irritada de pensar sobre o assunto, ela levantou em um pulo, obrigando a moça atrás de si a recuar. Deu uma última olhada para o buraco, um último pedido de desculpas, e continuou.

— Eu já fiz a decisão..

Soltando esse último sussurro recheado de melancolia, dirigiu-se até o vilarejo.

...

— Ora, se não é Sea Scalding.— O senhor da estalagem recebeu o trio. Em seguida notou os Vassalos, e ficou ainda mais surpreso.

— H-hur...

No entanto, esse nome parecia amaldiçoado. Limit puxou o capuz do casaco e escondeu seu rosto. Estava tão envergonhada que estava vermelha até as orelhas. Amaldiçoava seu pai por ter escolhido um nome tão vergonhoso quanto “Mar escaldando.”

Ignorando o dono do recinto, forçou a entrada e foi para um quarto qualquer.

Os Vassalos são bastante famosos, e Ase, por ser filho do Mestre Especialista, era especialmente conhecido. Bianca também, principalmente por ser extremamente adorável, além da personalidade explosiva. Devido seus status, seria um desrespeito sequer cobrá-los pela estadia, portanto lhes foi entregue o segundo melhor quarto do lugar.

Sim, segundo, pois...

— Ô, Ase!

— A-a-a aahh!

Outros já haviam pego o melhor quarto. Simplesmente por ordem de chegada.

O que lhe chamou atenção era um homem bem alto, com um corpo extremamente bem definido, mas em contraste, vestia-se de forma bastante formal. Uma camisa branca sob um terno de gravata, e calça de linho. Até seus sapatos pareciam polidos e de marca. Mesmo com esse visual incomum, o que mais se destacava era seu cabelo vermelho vibrante. Parecia extremamente afiado, de tão espetado. O mínimo toque seria o bastante para fazer qualquer um sangrar.

Quanto ao que jogava palavras vazias era um garoto de cabelo verde e olhos amarelos bem baixo, mal chegava a 1,60. Possuía uma capa e botas grandes. Aumentavm em alguns centímetros sua altura. Sua pele era bastante clara, e seus olhos eram baixos.

Ao ver a dupla chegando, a boca de Bianca abriu e ficou ampla. Escondeu-se atrás de seu marido. Ase, sabendo o que estava por vir, pôs a mão coberta pela luva sobre o rosto. Queria sumir dali.

O baixinho foi o primeiro a fazer um movimento. Ele primeiro abaixou sua coluna, como se se agachasse. Então, sua voz começou a oscilar, tão animado que mal conseguia falar direito. No fim, apontou o indicador para Ase e falou:

— E-eu venci! Ouviu!? Eu venci!

Ficou extremamente agitado, sem saber como se mover. Fez uma sequência extremamente rápida de um lado para o outro, para ao final se aproximar de Ase, jogando Limit para o lado.

— Você viu!? Cheguei mais cedo, e peguei o melhor quarto! Hahaa! Eu venci! Ganhei de você! Você é o segundo, eu sou o primeiro! Ahahhaaaaa... Ugyah...!

Antes que continuasse a incomodar os Vassalos, o homem musculoso veio por trás e o segurou pela camisa, quase o enforcando. Posteriormente o levou até seu lado e o soltou. O jovem ficou segurando o próprio pescoço, fazendo seu melhor para respirar.

Bianca saiu de trás de seu marido e analisou melhor a situação, procurando por perigo. Vendo que estava mais calmo, foi para o lado, mas continuava abraçada. Queria protegê-lo para o pior dos casos.

O musculoso fez uma expressão enojada e limpou seu terno, como se não quisesse que uma única partícula dessa existência repugnante fizesse parte de si.

Após isso foi até Limit, jogada ao chão. Curvou-se um pouco sobre uma perna e estendeu a mão, parecendo uum príncipe encantado, dizendo “Quer ajuda?”

Limit estendeu a mão, encabulada. Não esperava encontrar uma pessoa desse tipo por aqui. Por esse motivo foi para trás da Vassala. O homem, sem entender o motivo da reação, ficou se perguntando se havia feito algo errado.

— Qual o problema?— Bianca questionou.

— E-ele é tipo, total meu tipo...

Seus olhos eram brilhantes enquanto falava... seria esse o homem destinado a-

— Ah, sem chance, sem chance.— Antes que ela pudesse pensar mais, Bianca cortou seu pensamento.

— P-por quê!? Não acredita no amor?

— Ah, acredito, mas é que ele é gay.

 — Eh?

O cérebro dela parou por segundo. “Gay? É de comer?”, tentava até enganar a si mesmo. Voltou sua visão ao homem mais uma vez, ao corpo, modo de agir... isso não entrava em sua cabeça.

Seu coração sendo quebrado em pedaços podia ser ouvido a milhas de distância.

— Caham. Devo me aproveitar, então.— Ele tossiu a garganta para chamar a atenção.— Sou Hiro, atual Vassalo de Lígula. O idiota ao meu lado é o Ricky, também Vassalo de Lígula, mas pode chamá-lo da forma que preferir.

— E-ei!

— ...— Hiro ignorou totalmente seu companheiro e continuou.— E você deve ser Sea Scalding, sim? Prazer.— Disse ele dando a mão.

Mesmo com suas esperanças quebradas, Limit não esqueceria fácil assim esse garoto. Ainda assim, aproximou-se. Foi até perto dele e constrangida apertou a mão, dizendo “Prazer, Limit...”

 — Limit? Parece um nome feminino, não?

— É-é... sou uma garota.

— ...?

A reação dele era esperada, e por um segundo Limit se arrependeu de ter dito a verdade. Desse modo, rapidamente tentou amenizar:

— E-eu sei que é estranho, mas...-

— Não, nada de estranho. Fico feliz.— Dizendo essas palavras Hiro foi para mais perto e passou sua enorme mão pela cabeça dela, feliz por algum motivo.— Saiba que vou estar torcendo por você.

— Eh?

— Na verdade, se soubesse antes teria sabotado aquele moleque...

Limit ficou confusa com a intimidade elevada de forma rápida. Hiro parecia alguém amigável, que se dá bem com qualquer um, mas não era um pouco demais...?

— Tsc, um trans?— Ricky se meteu.— Porra, achei que cura para problema mental já houvesse sido encontrada a-... Argh, aaaaaaaaaaaah!!!!!!!

Antes que o baixinho pudesse terminar sua fala, Hiro o segurou pela garganta, colocando bastante força. O menino engasgou, e quando prestes a desmaiar, foi lançado pela parede. A madeira quebrou e o corpo fora lançado por vários metros. Havia sido um golpe quase fatal.

Após arrumar a manga que havia saído do lugar, Hiro falou:

— Aprenda a ter um pouco de respeito antes de qualquer coisa. E é “uma”, não “um”.

Nesse momento, Limit quase fez um pedido de casamento forçado. Assim como Sea e Safira.

Depois de cuidar de seu companheiro, Hiro reclamou “por que eu fiquei com ele...?”, e voltou-se para Ase.

— Perdão. Você sabe como ele é.

— Sem problemas.

— Então, tenho coisas a tratar com Elias. Desejo-lhe sorte, Limit.

Em seguida, ele passou pelos três e passou pela porta. Aproveitando para dar um tchau para a garota pouco antes de sair.

O rosto de Limit fervia.

Em contrapartida, Bianca parecia irritada e atenta, até seus dentes pareciam mais afiados.

— Titia, você não gosta dele...?

— Um inimigo em potencial... Um forte inimigo em potencial...

— Hum, entendo perfeitamente....

— Eu posso ouvir...— Mas não podia fazer nada para pará-las...— Eu vou resolver uma coisa, podem ir logo ao quarto.

— A-ah! Não vai se encontrar com ele, viu!? Não va-... Ah!

Para silenciá-la logo, Ase deu um beijo em sua testa. Toda feliz, ficou complacente e aceitou, sendo levada para o quarto por Limit.

...

— Tó.

— Hum...?

Ase jogou uma latinha de café no chão, ao lado de um corpo estirado. Era Ricky, recobrando sua consciência.

Para acompanhá-lo, Ase abriu um guaraná e começou a beber.

— Hur...

Como se acordando de uma enxaqueca, o Vassalo de Lígula se levantou, sentando-se de pernas cruzadas. Aparentava estar bem mais calmo. Tomou a lata de café e levou até a boca.

— Você devia parar de beber café.

— Não diga isso logo depois de me dar uma lata...

Para a resposta óbvia, Ase ignorou e continuou a beber seu próprio líquido. Ricky fez o mesmo e de uma só vez tomou todo o conteúdo. Ao fim soltou um som de satisfação e limpou a boca com a manga.

— Então, quer algo?

— Eh, nem fingiu... Não tá com saudade de um velho amigo?

— Não.

— Heh, bom, não sou seu amigo mesmo.

Para a negação Ricky desviou a cabeça.

— O que quer?

— Limit e Sea Scalding.

— O nome deles? A propósito, o que é Limit? Pseudônimo?

— Vai saber...— Logo em seguida ele virou completamente a lata, colocando-a no bolso para jogar fora depois.

— Podexá comigo! Mas pera, o que eu ganho!?

— Ah...

Já era esperado da relação deles. Sempre voltada nessas disputas...

— Quero um jogo! Jogo! Xadrez é uma boa.

— Vamos fazer do duelo de hoje uma disputa, certo?

— Apostar em quem vai ganhar? Cada um escolhe seu pupilo? Beleza! Fique sabendo que eu já esperava por essa, e treinei Elias muito bem!

— Ok...

Ase não se importava com esses combates. Apenas deu a primeira idéia que lhe veio à cabeça.

Assim que o trato foi feito, ele voltou para o quarto.

...

— Ah! Macio!

O quarto lhes entregue era bem maior que o último utilizado por Sea e Safira. Possuía duas camas de casal e um banheiro bastante extenso. A primeira coisa que Limit fez ao chegar foi ficar pulando nele.

Bianca sentou na cama disponível, e segurou com força a coxa. Queria muito fazer o mesmo, mas até para si havia limites. Tinha de se mostrar como uma adulta em frente a sua sobrinha!

— Oi, serviço de quarto.— Do lado de fora uma voz soava, seguida de alguns toques contra a madeira.

— Eu atendo!

Tinha de direcionar sua energia acumulada para outro lugar, por isso abriu rapidamente a porta. Abriu para se encontrar com Gana, filha do senhor da estalagem, que havia se encontrado com Sea e Safira há dois meses.

 — Vão querer algo ou...! ...!?

— Titiaa!!

Depois de ver quem era, Limit imediatamente saiu da cama e foi até lá, pulando na garota, dando-lhe um forte abraço. Ela tocava e mexia seu corpo por partes bem sugestivas da garota, mas a mesma não parecia se importar muito.

— Pera, o cargo de Titia já é da titia... Você seria de segundo grau? Prima? Melhor amiga da mamãe!? O quê!?

—  Vou precisar perguntar ou...?

— Longa história, longa...

Quando os movimentos começaram a passar dos limites, Gana a segurou pelos ombros e afastou de si. Contrariando as expectativas, Limit continuou com o sorriso infantil.

Sua cara estava bem próxima de uma poker face enquanto olhava pelo quarto. Também havia falado com seu pai, e chegado a conclusão que...

— Então os rumores eram verdade...

Não era impossível deduzir que os boatos se espalhavam com velocidade por Liv, ainda mais quando se está relacionado com o jogo. Afinal, eles eram constantemente monitorados e suas informações atualizadas ao público. No entanto, nesse caso em específico, o duelo havia sido anunciado há algumas semanas, e o ponto de ignição foi dado em conjunto.

Por ter dito em voz baixa, Limit não chegou a escutar. Ainda assim, Gana se sentiu decepcionada. Com um pouco de força jogou Limit na cama. A própria tinha se impressionado com a potência. Não parecia algo de uma moça comum.

— Olha, Sea, não sei a situação inteira. Nem o porque de estar agindo estranho nem como deixou Safira ser raptada. Mas é bom que arrume tudo, ouviu?

— Tá!

— ...

A resposta foi bastante automática e rápida, tanto que ela questionou se estava prestando a devida atenção, mas no fim, desistiu. Em seguida foi ao lado de Bianca e a cumprimentou devidamente. Perguntou sobre Sea, e foi respondida com um resumo bastante simplificado.

— Hum, imagino que não tenha motivo?

— Não, nada.— Respondeu a Vassala.

— Enfim, contanto que Safira volte, e faça ela feliz, tanto faz quem seja. Limit ou Sea.— Ela fez questão de disparar um olhar de ameaça em direção aos citados.—  Senhorita Bianca, vai querer algo ou...?

— Nah, não precisa, não! Já tenho comida aqui. Pega um pouco pra você!— Em questão de segundos ela abriu seu portal e puxou uma caixinha, a qual jogou para Gana.

Ela virou o objeto de cima para baixo com um rosto duvidoso, e depois saiu.

Limit se aproximou com um rosto pidão e também recebeu uma. Aparentava bastante ser um recipiente padrão de fast food. A base era branca e a capa vermelha, tendo uma abertura vertical.

— Por aqui tem Mac?

— Nah, nada do tipo. Ao menos não do jeito que conhece. Eu mesma faço e ponho aí. Melhora o gosto! Prova.

A pequena caixa foi aberta. O odor exalado percorria rapidamente o espaço, chegando até todo o quarto. Era um sanduíche simples de carne, queijo, pão e algumas verduras.

Devido suas condições financeiras Sea nunca havia experimentado um fast food, então não tinha a ideia do gosto. Só tinha conhecimento de fazer mal.

De certa forma, esse pensamento deixava a experiência mais excitante.

Limit deu uma mordida.

De uma só vez arrancou o pão superior e inferior, junto da carne, queijo e um pouco do alface. Não parecia algo normal. Talvez fosse por ser sua primeira vez, no entanto, o sentimento era indescritível. Sentia como se sua língua estivesse sido abençoada.

Não tinha como saber que estava com toda a comida nas bochechas, aproveitando ao máximo o sabor. Suas sobrancelhas brilhantes pareciam transmitir como o paladar estava.

Uma expressão de prazer puro.

Bianca ao lado não esperava por essa. Era um hambúrguer comum com ingredientes comprados. Perguntou-se do motivo, e terminou por pensar ser a embalagem. Também, claro, sua ótima culinária. De qualquer forma, aproveitou para ficar rindo das reações de Limit.

— Mais! Mas sem verdura!

— Será...?

— Hum...!

Assim que terminou Limit intensamente ficou pedindo por mais. Aquilo lhe havia preenchido de energia. Ficou balançando a Vassala para os lados, e a mesma ficou zoando com a cara dela. Tratando-a como criança.

No fim a jovem acabou comendo três sanduíches.

— Satisfeita?

— Uhum!— Limit respondeu com alegria.

— Não precisa de mais nada, né?

— Hum, na verdade...

— ?

Limit virou seus olhos, fixando-o em Bianca. A Vassala, confusa, não sabia exatamente o que queria dizer. Parecia que ela queria falar algo em seu ouvido, então se aproximou, cautelosa.

— Eu quero você~

— U----uah!

Com a conotação em que o desejo foi dito, Bianca deu um passo para trás, instintivamente se protegendo. Não queria repetir algo como no gramado perto do castelo. Não daria brecha para Limit se aproveitar novamente de sua pouca experiência com homens além de Ase.

— Nada para você! Vai descansar um pouco...— Por mais que tentasse, não conseguia esconder a vergonha.

— Own, titia, você é tão fofinha... Mas fica tranquila, também sou uma garota, tá?

Era engraçado ver Bianca, quem aparentava ser bastante infantil e desligada de coisas sérias reagir assim. Limit gostava.

Gostaria de viver assim para sempre...

A porta abriu, e da entrada se mostrou Ase, voltando de sua conversa com Ricky. No mesmo instante Limit tirou qualquer rosto ou pose maliciosa que estivesse fazendo.

Bianca correu para perto dele, escondendo-se atrás das costas.

— Protege!

— ...— Ele quis lembrar o quão forte era se comparada com um recém invocado, mas deixou passar.

— Ah. Chato...~— Soltou uma voz tosca enquanto levava os braços para trás da cabeça.— Se é assim, vou tomar um banho.— Ainda precisava tirar o cabelo do corpo.

Bianca observou atentamente. Era um cão prestes a atacar quem adentrasse seu território pessoal!

Pouco antes de entrar, Ase chamou sua atenção.

— Ei, garota.

— Huh?

— Depois quero falar com você. É um pedido.

— ...?

...

Finalmente a hora prometida havia chegado. O sol já estava perto do pico, indicando o início do duelo.

Em meio a um círculo sem nada um bom tanto de gente se reunia, ansiosos para assistir a batalha.

Limit já estava 100% enérgica, fazendo alongamentos em frente a estalagem. Atrás de si estava Ase e Bianca, com o primeiro vegetando, e a segunda com sono.

A silhueta distante veio.

Um homem de roupas coladas, altura um pouco mais baixa que a média, cabelo loiro e um arco nas mãos. O pior: um sorriso estampado no rosto.

Não via Maria ou Safira em lugar algum, contudo, tinha certeza de que a segunda estava bem. Havia sido confirmado por Ase.

Uma disputa quase que interna começou no corpo de Limit... Mas foi vencida pela mesma. Estava segurando para não deixar o ódio em si explodir... Seria o pior cenário.

— Ainda não...

Elias, mais perto, falou primeiro:

— Vejo que veio, estou feliz, sabia que não ia dar pra trás.

— ...

— É, vejo que não temos motivos para conversa... Eu não machuquei aquela garota, claro. Na verdade, nem daria certo...— Ele parecia um pouco abismado, recordando de algumas memórias... Porém, ele jogou isso para o fundo da cabeça. Não era o que importava agora.— Eu, Elias Locksley, desafio o invocado Sea Scalding para um duelo clássico.

— Não...

— ?

— Eu quero deixar algo aqui...— Falou para si mesmo. Logo em seguida aumentou a voz.— Não quero algo tão simples assim! Exijo um pseudo-mortal, o do teletransporte.

Havia sido mencionado quando o pedido foi feito. Existiam os dois, clássico e pseudo-mortal. Enquanto o primeiro era um combate normal que não afetaria nada além dos dois envolvidos, no pseudo ambos combatentes seriam transportados para uma região diferente.

De certa forma, os Vassalos esperavam esse desenrolar. Nem mesmo Elias se incomodou.

— Interessante, eu quem queria sugerir, mas fiquei na dúvida se você iria aceitar. Claro, por que não?

Com passos rasos e silenciosos, Elias se aproximou ainda mais. Queria ter certeza de estar de frente para quem pensava ser Sea.

— Eu, Elias Locksley, desafio o invocado Sea Scalding para um duelo pseudo-mortal.

— Aceito.— De forma seca e rápida, foi tudo que Limit disse.

Seus corpos foram envolvidos por um brilho, e posteriormente começavam a desaparecer pouco a pouco. Seguia uma direção clara, começando pelos pés até a cabeça.

Nenhum dos dois estavam com medo. Era um fato já consumado.

Eles seriam teleportados para um lugar quieto, sem ninguém para atrapalhá-los, para ter uma partida justa

Limit deu uma última olhada em seus tios.

Ela tinha um motivo, uma razão, um objetivo, e tinha como conquistá-lo.

Não seria como seu campo vazio, em que era impotente e danosa.

Por esse curto espaço de tempo era a protagonista.

Transbordando com o desejo de salvar sua mãe, Limit fez uma última promessa, e uma desculpa.

“Prometi nunca usar essa... Coisa...”

Uma desculpa para o mundo, pois iria colocá-lo em perigo.

O corpo de ambos foi coberto pela luz, desaparecendo por completo em seguida.

...

Após o sumiço de Elias e Limit, uma grande tela futurista apareceu no centro do local em que estavam.

Era o aparelho já mencionado, mas em escalas maiores. Retratava onde seria o duelo para que todos pudessem ver. No entanto, estava apagado no momento.

Mas isso não era o mais impressionante.

— Filhinha!

De longe Safira apareceu, com Maria ao seu lado. Não estava de coleira, e ambas pareciam em posição de iguais. Bianca a chamou.

— A-ah... Eu?

A Vassala foi correndo até a garota, e apenas não se jogou contra por ter sido parada pelos ombros por Safira. Ela se virou para Maria e perguntou:

— Q-quem é...?

— A sua Vassala.

— Hum...

Era estranho para ela pensar que essa garota infantil era sua Mestra.

Assim que sua mente voltou um pouco aos senso, notou que estava uma relação bastante estranha entre essas duas...

— Ei, qualé da amizadezinha entre vocês?

— Não é nada do tipo... Também, eu já apanhei o suficiente.... — Maria respondeu esfregando sua própria cabeça.

Safira parecia estranhamente orgulhosa.

— Bem, acaba aqui.— Sagazmente a ruiva foi para o lado de sua Vassala.— Não quero mais me encontrar com você.

Essas palavras percorreram a espinha de Maria como um raio, por mais que ela já esperasse por tal afirmação. Posteriormente foi até um canto para assistir o duelo.

Ali Safira cortaria todos os laços. Não se seguraria se a encontrasse em campo novamente. Tinha consciência se fosse a única danificada, mas até envolveu Sea... Por sorte ele não foi machucado, então não precisou fazer algo extremo.

— Nah...— Não queria mais pensar sobre. Não era exatamente prazeroso, por isso jogou para o fundo da mente.

— Ei! Me conta...!

 — Acho que vai ser necessário...

Bianca fez a pergunta bastante agitada. Pelo que havia visto, não era para Safira estar assim. A mesma percebeu que não daria pra sustentar essa mentira por muito tempo sem dizer para Sea ou os Vassalos.

Com um “depois, prometo,” conseguiu adiar o assunto. Acima de tudo estava com dor de cabeça com esses dois meses.

Foram até perto de Ase, que também não havia sido dito sobre. Tudo que perguntava era se estava segura, e assim os Vassalos de Elias respondiam.

Eles se cumprimentaram.

Safira se encostou contra a parede, deixando uma perna toda flexionada e a outra um pouco curvada. Seu braço direito estava completamente estirado enquanto o esquerdo o segurava pelo cotovelo. Ela olhava o chão em em dúvida.

— Fiz o certo...?

Não era uma resposta que conseguiria por si mesma.

De toda forma, quando imaginava que Sea havia ficado 2 meses treinando intensamente para si, seu corpo esquentava em excitação. Tinha desejo por ver os frutos desse treinamento.

A tela acendeu, mostrando lentamente o ambiente em que estavam. Ela deixou isso de lado. Agora era hora de torcer pro seu companheiro.

Se tinha algo que podia explicar resumidamente essa situação anormal dela era que....

Princesa em apuros não combinava com Safira Scalding



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