Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 32: LIMIT

—Bem, infelizmente, terei de protagonizar sua primeira batalha, paizinho!—Disse Limit enquanto se levantava.

Sob si estava Bianca, fazendo o melhor para voltar à normalidade. Já estava confusa o suficiente com a súbita mudança de personalidade do invocado, mas ter sua mão beijada não ajudou muito. Ela nunca teve uma relação assim fora seu marido, então ficou sem reagir.

—Hu... hu...

Como um animal indefeso, engatinhou lentamente até de trás de Ase, segurando sua perna com ambos braços. Os seus olhos deixavam claro as lágrimas querendo sair, mas as conteve.

—...

Parado estava Ase, como uma árvore. Sua feição não havia mudado, contudo, estava tentando entender o que estava ocorrendo.

Transtorno de personalidade? Havia considerado isso mais cedo, no entanto, por mais que se encaixasse agora, não batia com as estranhezas anteriores em que Sea continuava sendo ele mesmo, mas com “bloqueios”.

Estresse? Era uma opção, mas parecia ser algo abrupto demais para o momento. Não era normal ter um pico logo ao fim do treinamento. O certo seria no meio.

Existiam várias outras possibilidades, mas nenhuma batia. Então, só podia ser uma coisa...

Ele foi à frente. Mesmo com sua esposa choramingando sob seus pés, ele continuou. Apenas se deu ao trabalho de levá-la consigo, batendo-a no chão no processo.

—Huehue.—Limit ria, de costas viradas.—Eu estava ansiosa, sabe? Sempre quis sair um pouquinho daquele lugar. Bom, vamos ver...

Dizendo isso, ela começou a fazer uma série de movimentos. Englobando tanto o que Se aprendera ao longo da vida quanto o conhecimento adquirido no meio do treino.

Disparava chutes ao ar, seguido de socos. Para golpes mais potentes, utilizava-se da ajuda do solo e os braços como apoio. Após ver que estava tudo nos conformes, fez uma sequência de acrobacias, mas errou ainda na segunda. Terminou dizendo um “ai, ai...” enquanto se levantava.

—....

Após o erro, ergueu-se e olhou para seus membros. Moveu delicadamente cada um de seus dedos, fazendo movimentos sincronizados. “Como imaginei...”, ela soltou.

Limit se ajoelhou, colocando todo seu peso sobre uma perna. Levou a mão direita até o peito esquerdo e relaxou o corpo, inspirando profundamente.

—É diferente....

Ela apertou ainda mais o casaco, torcendo-o bastante. Sua expressão ficou mais cansada, e um pouco de suor escorreu pelo rosto. Fechou os olhos para se concentrar melhor, e...

*TUM*

*TUM TUM*

—Urgh... É, entendi.

 Abriu os olhos. Suas pupilas pareciam estar bem diferentes, bastante dilatadas. Seu coração começou a bater mais rápido, em uma velocidade nunca vista antes. Até sua percepção de tempo-espaço estava distorcida, bem mais lenta...

Voltou à posição de acrobacias. Mais uma vez, tentou os mesmos movimentos. Era fato de que Sea, por mais que houvesse treinado por dois meses sem descanso, com adição de seu boost, não era capaz de um movimento tão complexo, mas...

—!

Com uma agilidade impressionante, conseguiu tornar a ação em realidade. Seus membros voavam pelo ar de forma fluida, parecendo exercer a mobilidade da melhor forma possível. Isso continuou por algumas sequências, até que, finalmente, caiu.

—Ugyah!—Com a colisão soltou um grito.

Mais uma vez estirado contra o solo, Limit dessa vez se acalmou.

—Mesmo sem limitador, melhor não tentar algo sobre humano...

Assentiu com a cabeça como se fizesse uma nota mental, e com um sorriso, descansou a cabeça. Cantarolou um pouco uma música que gostava, e voltou a abrir os olhos. Podia ver o céu limpo, apenas com a lua em um vasto universo negro. Com os olhos apertados, deixou escapar um “he...” caricato.

Em seguida, primeiro, levantou as duas pernas ao alto, fazendo um ângulo de 90 graus. Depois, com um único pulo, voltou a posição normal, equilibrando-se como se andasse em uma corda bamba.

Havia se movido tanto que, agora, encontrava-se ao lado de uma árvore. Tinha adentrado a floresta. Observou como o tronco era grosso, dando uma aparência resistente.

—Preciso de só um pouco...—Terminou com um “vamos tentar!” de punhos fechados.

Respirou fundo, pondo toda sua concentração nesse aspecto. Sentiu o sangue correr, passar pelas veias, nutrindo o corpo...

—Há!

Lançou um chute reforçado de magia contra a árvore. O som de algo se separando pôde ser ouvido, assim como o rachar superficial da madeira. Não possuía potência o suficiente para partí-la, mas causara um bom estrago.

—É, parece que magia também não tem problemas...

Concluindo suas revisões, Limit estirou o corpo, flexionando ao máximo todos seus membros. Após vários estralos ocuparem o espaço ao redor de si, expirou. Sentou-se no chão e concentrou toda sua consciência.

—Hm... É, nada. Vai ter de ser um humano, mesmo...

Dizendo isso, sua visão se direcionou ao caminho que tinha de tomar para chegar na vila. Imaginando o que viria por acontecer nas próximas horas, sua boca se estendeu de orelha a orelha. Estava ansiosa por aquilo.

—Cabô.

—Fuah~!

—...?

Após todo o showzinho que havia feito, Ase lhe alcançou e segurou pela gola do casaco. Estava pronto para fazer uma série de perguntar. Afinal, não deixaria aquilo passar livre. Porém, quando realizou a ação, Limit soltou um gemido estranho e se desprendeu, movendo as mãos como se estivesse protegendo o tórax.

—O-o que você pensa que tá fazendo!? E-eu sei que não pareço, mas ainda sou uma garota, viu? E... eles não são tão grandes, mas não quer dizer que eu não me importo...

Ase podia ter passado por muita coisa ao longo de sua vida. Essa não era uma delas. Na verdade, ele não tinha muita certeza de como reagir.

—Ai!

—Raar!

E para ajudar, em seus pés estava Bianca, mordendo-o com força. Seus dentes afiados passavam pela calça, e seus olhos vermelhos deixavam transparecer sua raiva.

—Pra quê tá assediando outra garota!? Eu tô aqui pra isso!

—A-ah... aah!

Ele ficou curioso em perguntar se ela realmente quis dizer “isso” ou se foi uma afobação nas palavras, mas sabia que apenas passaria mais vergonha, então deixou de lado.

Além do mais, vendo sua hesitação, a garota apenas cravou seus dentes ainda mais fundo. Ase podia se proteger com magia, claro, mas isso poderia acabar machucando-a, então...

—Larga...!

—Rar!

Ele tentou forçá-la a sair empurrando sua cabeça, enquanto a mesma se segurava na perna com braços e dentes.

Um pouco distante estava Limit jogada ao chão. Na mesma posição ainda derrubava lágrimas, mas após um tempo tocando seu peito, notara que havia mudado um pouco...

—Tão... duro...

De pouco em pouco sua expressão foi mudando. Antes os olhos que fechavam várias vezes iam ficando mais claros, olhando para baixo de si. As mãos que pareciam proteger a região do tórax abriram, começando a apalpar a região.

—Hue... Hue...

O local antes macio estava muito mais resistente. Limit se lembrava de quando o corpo de Sea mal possuía músculos. “Esses dois meses foram divinos...” ela pensava consigo mesmo.

Depois ela comparou o corpo atual inteiro com o do passado. Sempre dando bastante atenção para os músculos criados no treinamento.

—Ei!

No segundo seguinte a Ase ter conseguido retirar os dentes de Bianca, ela voltou sua atenção a Limit, e viu suas ações controversas.

Ignorando completamente seu marido, ela foi até o invocado e o derrubou novamente, segurando-o por suas mãos. Para prendê-la usou seus joelhos, selando a parte inferior do corpo.

—T-titia, e-eu também te amo muito, mas... Isso é algo pra se fazer com quem você mais ama. Sei que o paizinho é muito bonito, mas você já tem o titio...

—...!?

Demorou alguns segundos para Bianca processar o que foi dito, mas quando deu outra visão para a posição em que estava, ela parecia bastante... cheia de segundas intenções.

Soltou Limit, desesperada. Seus braços foram retraídos, enquanto suas pernas amoleceram. Ase costuma ser bastante calmo, então não tinha muita experiência desse tipo com outras pessoas...

 Aproveitando-se disso, Limit rastejou para longe, apenas pensando no quão fofa ela estava sendo. Na realidade, ela até ficava tímida com homens, mas com Bianca fez apenas uma brincadeira.

Ase terminou de parar com sua perna e chegou mais perto de sua esposa. Certificou-se de que estava tudo bem com ela e a acalmou.

Posteriormente se dirigiu até Limit. Sua garganta ficou seca. Tinha ideia do quão ciumento ele era, então imaginou o pior vindo dele, depois do que tinha feito com sua amada, mas...

—Boa garota.

—...

Inesperadamente ele levou sua mão enluvada até o cabelo de Limit e afagou. Até seu rosto estava um pouco corado. Como se a estivesse recompensando, acariciou ela por um bom tempo.

—Titio...

Limit já estava com os olhos prontos para chorar. Contudo, com a ação inesperada de seu tio, mudou seu rosto, esbanjando um sorriso extremamente infantil. Ela abraçou Ase.

—Vamos nos acalmar.—Ele disse enquanto movia sua mão.

Era uma visão extremamente gay entre dois homens demonstrando afeto um ao outro.

...

—Certo, quem é você?

—Limit! Bem, é assim que o paizinho me chamava, mas talvez eu precise de um novo nome. Hum, parando para pensar, parece um nome americano... odeio Americanos, mas “Limite” fica tão feio...

—Não foi o que eu quis dizer...

—Por que você se veste como um inuíte?

—Mudou de assunto rápido...—Ase suspirou.

Após toda a confusão, Bianca separou todos. Foi bem estranho ter de separar seu marido de outro homem, mas assim o fez. Então, todos combinaram de se sentar numa roda.

—Hey! Eu pergunto, você responde! Eu sou a detetive aqui.

—Sabe, não precisava até ter trocado a roupa...

—Tiro?

—Não...

Era algo que Bianca gostava de fazer: trocar de roupa a depender do seu papel. Por esse motivo havia mudado seu pijama habitual para uma blusa e calça pretas colada, até com um chapéu de policial. Seu uniforme também tinha um cacetete, mas como ela parecia estar com ciúmes de Limit, Ase o guardou.

—Se não vai adicionar, fique calado, Watson!

—Não misture os temas...

Bianca, também, não tinha um grande acervo midiático, então acabava confundindo...

—Posso ser o Moriarty!?—Limit perguntou, animada, mas com o olhar de reprovação de ambos investigadores, conteve-se.—Hum, ó! Eu não vou dizer nada pra vocês! O único com quem quero falar é o paizinho!

—Hey!

A Vassala bateu com força contra a grama, possivelmente com magia, já que o som foi perfeitamente audível. Ela deu um olhar severo e voltou à posição normal. Como se tentasse impôr respeito, pôs um óculos escuros e um cigarro na boca, já com isqueiro em mãos.

Quando desceu a cabeça para aproximar o cigarro da mão...

—Não pode! Faz mal!

Recebeu um tapa na bochecha, seguido das palavras de Limit. A força foi tamanha que o cigarro saiu da boca e caiu no chão. Se o som de bater na grama havia sido alto, isso havia sido acima do som.

A região acertada ficou vermelha. De início, Bianca não soube reagir. “Eh?”, ela nem conseguia digerir o que aconteceu. Sua vida em Liv toda havia sido bastante fácil, detendo um poder extremo, então nunca se machucou seriamente...

—U-u...Uah...

—A-ah...

Como uma criança sem saber revidar, ela tirou os óculos e abraçou seu esposo, encarando-o com os olhos chorosos, implorando para ele resolver isso. Limit, vendo o que acabara de ter feito, ficou intimidada.

—...

Ase limpou o rosto de Bianca com seu cachecol, e a distanciou. Ergueu-se, deixando-a no chão, e foi até Limit. A Vassala, ainda com o rosto amuado, tinha um olhar de determinação.

—Uh... Uh...

Lembrava-se dos meses de treinamento com Sea. Seu corpo ainda tinha um medo natural de Ase construído com o tempo. Ela se deixava levar bastante pelas emoções, mas depois, sempre se arrependia...

—Boa garota.

—...

Mas, novamente, ele apenas passou sua mão pela cabeça dela. Mais um carinho. Dessa vez ela até podia ver seus lábios se curvando para cima...

—E-ei! Ase! Querido!

Sem demoras Bianca foi reclamar sua vingança, mas em troca só recebeu um golpe de karatê leve em sua testa, com Ase dizendo “Não fume.” Para ela.

Chocada com o ataque de quem mais confiava, protegeu a região acertada com ambas mãos, ficou de joelhos na grama e começou a chorar, como uma criança.

Ase não se arrependia de suas ações.

—Certo, sem enrolações.

—Eh?

—O que é você?

Dessa vez, ele não se segurou. Para não cometer o mesmo erro de anteriormente, segurou Limit pelo capuz. Ela nem sequer tentou revidar, apenas fazia uma cara desengonçada.

—Só pro... paizinho...

—...

—M-mas eu prometo que depois do duelo ele vai voltar aqui! Sério, eu tô protegendo ele...  eu só quero aproveitar esses momentos...

Claro que Ase não tinha como diferenciar a verdade da mentira. Mesmo com sua vasta experiência, não podia dizer com perfeição.

Por esse motivo, mais uma vez, uma redoma eclodiu de seu corpo. Sua cor azulada espalhava-se ao redor, indo de uma trajetória micro até a macro, expandindo-se até cobrir todo o castelo, floresta e vilarejo.

Ao fim, retraiu a redoma e após analisar um pouco, soltou um suspiro fraco. Posteriormente soltou Limit, que caiu no chão com uma cara confusa.

—Se você diz.

Ele só deu de braços e deixou a situação seguir seu curso normal. Ao lado, no chão, estava Bianca, já com seu rosto normal, encarou seu marido. O jeito que havia mudado tão rapidamente sua expressão indicava a seriedade em que se encontrava.

—O que deu?

—Nada.

—Ah...? Nada...?

Seus olhos e boca fecharam no formato V, indicando uma cara pensativa. Suas mãos foram até o queixo ajudar na concentração.  A gota de suor escorrendo pela testa deixava claro o esforço, mas...

—Bem, vamos ver.

Não se importava o suficiente. Não afetaria sua vida junto de Ase, então não tinha relevância. Tinha Sea, claro, mas se Limit falou que ele ficaria bem, e Ase acreditou, ela não iria esquentar com isso.

—Bem, Limit, bem-vinda ao grupo! Mas fique sabendo que começou com o pé esquerdo, e vai demorar um looongo tempo até nos entendermos, ouviu?

—D-desculpa, mamãe... Farei meu melhor!

—A-ah...!!

Ouvindo isso, o rosto da Vassala corou e sua mente ficou perdida. Há muito tempo um invocado não a chamava por isso, e foi pega desprevenida.

—Awn! Isso, isso, boa menina.

Trouxe a cabeça de Limit para perto de si e começou a passar sua mão pelo cabelo dela, assim como fazia com Sea. Ela havia mudado rapidamente de opinião.

...

—Hum... cabelo?

—Uhum! Se for vencer, não quero vencer parecendo um gay!

 —Gay...?

Após a reconciliação entre os três, estavam prontos para ir até a vila, mas após o cabelo incomodar os ouvidos de Limit, ela insistiu por um corte.

—Sim! Afinal, a imagem do paizinho tá em jogo. E homem de cabelo longo é muuuito gay! Não vou deixar ele passar por isso.

Bianca até deu a ideia de apenas amarrá-lo, contudo, Limit não arredou o pé. Empacou nessa necessidade e reclamou até ter o que queria.

Ase ligeiramente tocou seu próprio cabelo, medindo-o mentalmente... sua feição ficou um pouco mais insegura depois.

—Feliz?

—Eu já imaginava, mas Uooooouu!

Ase apresentou mais uma sala dentre as inúmeras do castelo, e claro, havia um salão. Não parecia tão moderno, mas para a época que parecia ser, podia-se ser dito bastante chique.

As paredes eram de um mármore cinzento, sendo preenchidas de estantes e armários para guardar itens. Vários estilos de tesouras, barbeadores, máquinas etc. E, claro, não podia faltar o espelho deslumbrante junto da cadeira.

—A-ah!

Como uma criancinha, Limit saiu pelos arredores do salão, vendo de perto todos os itens. Em nenhum momento sua expressão parecia desabar, sempre tendo um sorriso um tanto quanto infantil na face.

—Uah!

—Calminha.

Sua agitação foi tamanha que chegou a derrubar um borrifador de uma das prateleiras, que só não quebrou devido a Vassala tê-lo pego a poucos centímetros do solo. Seus olhos baixaram, deixando uma clara expressão irritada. Limit apenas soltou um riso irônico e se afastou lentamente...

—Ah!

Finalmente, ela foi logo de encontro à cadeira. Chegou em um pulo, deixando os joelhos na almofada. A cadeira tremulou e se moveu, mas nada mais aconteceu. Em seguida, ela começou a girar com o impulso dos pés de Limit, que soltava um “Uiii.”

—Não quebre nada.

Com uma única mão, Ase segurou as costas da cadeira e a parou. Teve até de segurar Limit para não cair devido o breque. Segurou-a pelos ombros e a deixou na posição correta, pondo o avental logo em seguida. Ela continuava se movendo um pouco enquanto cantarolava uma música.

—Cadê o cabeleleiro? —Ela se levantou para perguntar.

—Sou eu. E é cabeleireiro.—Ase a corrigiu impondo pressão em sua cabeça, obrigando-a a voltar para a posição original.

—Ai! Você?

—Bem, após viver tanto, você tenta economizar o máximo que pode, então aprendemos uma coisa ou outra.—Explicou Bianca.—Também, Ase se importa bastante com meu cabelo, então essa tarefa ficou para ele... Ah.

A Vassala foi recebida com um olhar severo de seu marido, que dizia claramente que essa última parte não deveria ter sido dita. Ela juntou as mãos e pediu desculpas.

Limit, vendo a relação de seus tios, não pode deixar de soltou uma risadinha.

Ase pegou alguns produtos e começou a passar pelo cabelo, deixando-o mais maleável e hidratado. Também o penteou bastante para tirar os nós. Não havia sido bem cuidado nos últimos meses, então fora necessário.

Ele começou com o básico. Cortava as pontas de início para depois ser mais simples para passar a máquina. Ficou uns bons minutos nisso, e ao terminar, colocou mais uns cremes e água.

Limit esperava calmamente, de olhos fechados, cantando uma música. Algo como, “E nesses momentos a slágrimas~...”.

Bianca apenas assistia de fora.

Perto do meio do processo, Ase puxou um equipamento e conectou a um cabo. Posicionou melhor em sua mão, tendo todo o cuidado para que a luva não atrapalhasse, e o encostou contra a nuca de Limit.

—U-ugyah!

—?

A máquina em si era uma de cortar cabelo. Assim que o Vassalo ligou, e o barulho soou, Limit imediatamente deu um pulo para frente, assustada com aquilo. 

—E-eu não gostei disso! Não gostei! Era para avisar!

—Isso é comum.

—Meu paizinho foi transportado para um mundo de magia e atualmente eu sou uma garota no corpo de um homem com 100% de controle sobre o organismo! Não me vem com “É comum,”—Ela fez questão de o imitar.—, não!

Ela falou tudo em uma velocidade extremamente elevada, tamanha que deixou suas bochechas vermelhas. Após o fim do pânico, repensou melhor e voltou para a posição original, de cabeça baixa.

—Por favor, não usa de novo...

Sua expressão transparecia um sentimento genuíno de medo, não comparado ao que havia sido mostrado até então. Em resposta a isso, Ase não pôde fazer mais que suspirar e terminar o trabalho só com a tesoura, mesmo que demorasse bastante.

Ao fim do processo, Limit deu algumas voltas no espelho, analisando o cabelo de vários ângulos. Podia dizer que, sem dúvidas, Ase era de primeira categoria!

Em seguida, com um “Parô a enrolação! Vamo simbora”, ela se despediu da sala, e do castelo, e agora, sim, dirigiu-se até o vilarejo, junto de seus “tios.”

—...

Por mais que sua face houvesse demonstrado várias emoções até lá; medo, luxúria, alegria, carência etc, nada podia ser comparado ao que expressava nesse momento.

Seu olhar era afiado e sério, parecendo poder enxergar milhas de distância. Determinado, era como estava. Não deixaria nada obstruir seu caminho.

—Só um pouco... para poder falar com ele...

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