Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 24: Vassalos

Sea estava há pouco fugindo da floresta. Ainda que estivesse seguro dentro do castelo, não fazia ideia de como havia escapado do buraco. O que eram os raios, explosões e movimentos rápidos que ouviu? Não tinha como ter certeza absoluta, mas apenas pôde supor que as duas raposas que vira estavam lutando contra os vultos. Não sabia como estava envolvido nisso, nem se fora ajudado propositalmente ou de acidente, mas foi o que conseguiu pensar.

Obviamente, não faria sentido pensar muito nisso. Havia a possibilidade dele sair de onde estava e perguntar diretamente aos seres de fora, mas no pior dos casos, ele não viveria muito. Afinal, talvez, uma das duplas o estivesse atacando, e a outra o defendendo. Por mais que não tivesse como concretizar esses pensamentos, existindo a chance, não iria.

—Sendo assim...

Ele se virou, tirando a porta de entrada de sua visão.

Sempre foi do tipo de perguntar em vez de pensar por si próprio. Isso se baseava muito em seus estudos, também. Na história, atentando-se aos fatos das ocorrências em uma escala global, é possível compreender algo em específico. Por exemplo, se alguém perguntar os costumes de certo país em certo ano, basta você lembrar do espectro político-religioso da época, e assim terá uma resposta bastante próxima da realidade. Claro, é uma técnica apenas para o caso de não se lembrar de forma alguma da pergunta.

Sea conhece história em um sentido bastante amplo, mas claro, apenas com seus 17 anos, não chegou a aprofundar-se nela por completo. Sendo assim, ele preferia perguntar para outra pessoa, no seu caso, para os livros, em vez de tentar chegar a resposta por si só.

Pondo em prática sua personalidade no panorama atual, em vez de pensar em algo que talvez pudesse chegar em uma resposta, ou não, iria perguntar ao mestre desse setor. Na falta de uma resposta, iria pela alternativa mais difícil, claro, quando tivesse tempo livre e o problema atual fosse resolvido.

—Então, onde ele está...?

Queria questionar muitas coisas. Pelo que lhe foi dito, o dono desse castelo, o Mestre Especialista, é alguém importante. Com certeza ele teria conhecimentos vastos. Todavia, precisava encontrá-lo antes.

Para tal, procurou alguma pista no interior da construção, mas agora que analisava melhor... Via como era um lugar estranho.

Era um corredor único, bastante largo, do qual não se podia ver o outro lado. Muito longo ou falta de iluminação? Não tinha certeza.

Em ambas paredes haviam portas, distribuídas de forma padronizada. Um design bastante comum, uma maçaneta triangular e torta ligada a um arco de madeira. Também, a parede não possuía muita diversidade, sendo apenas um amontoado de tijolos riscados de cor marrom, deixando uma sensação bastante depressiva. A pouca iluminação era proveniente de algumas lâmpadas no teto.

Sem muito o que fazer, o invocado se aproximou da porta mais perto de si, a primeira da direita. Olhando um pouco mais, notou uma pequena placa de metal com alguns caracteres. Devia ser o conteúdo da sala, mas como não sabia a linguagem, não tinha como ler.

—Hum... Do outro lado dessa porta pode ter um monstro, mas ao mesmo tempo pode ser minha salvação... Eu deveria esperar ou...?

Sabe aqueles desafios? “Dentre as 3 portas, qual você escolhe?” São bobos, mas interessantes de se pensar, combinava perfeitamente com a situação atual.  Até onde sua visão podia chegar no corredor, tudo que encontrava eram mais portas. Normalmente, teria uma porta certa que o levaria ao caminho desejado, correto?

—Mas qual a porta...? Ainda tenho muito o que fazer...

Ele voltou para o centro do corredor e repensou nas possibilidaes. Mas não se estendeu muito... Sentindo um pouco de cansaço só de lembrar em como faria para salvar Safira, Sea simplesmente usou do bom e velho senso comum, a melhor forma de resolver uma questão de múltipla escolha!

—Uni duni tê, salameminguê, o escolhido é aquele que eu escolher, e esse será vooooooocê!—Falou apontando uma porta aleatória, e se dirigiu a ela.

—Paraíso de 72 virgens, lá vou eu...!

Ele se aproximou, tentou ouvir o que estava do outro lado colocando sua orelha contra a porta, mas não captou nada. No fim, tomado por uma coragem momentânea... abriu a porta.

—Alahu-

*Plec*

*BOOM*

Surpreendentemente, o desenrolar teve uma compatibilidade estranha com suas palavras.

Uma explosão veio de súbito bem na sua frente, no momento em que abrira a porta. Por não ter sido exatamente perto de si, e ter bons reflexos, Sea conseguiu pular para trás, por mais que tenha caído de mal jeito.

—Desculpa, Alá!Não mais usarei teu nome como zoação...!—Disse ajoelhado de mãos juntas, em pose de oração,

—Ei, não fica com medo!

Antes que pudesse reagir, teve sua cabeça forçada para a frente. Suas pernas estavam um pouco tortas, e a pessoa que veio em sua direção usou disso para apoiar seus joelhos no espaço vazio. Então, a mesma pegou a nuca de Sea com gentileza e levou contra seu ombro, dando-lhe um abraço e dizendo:

—Isso, isso, não fica com medo.

Como se uma mãe cuidasse de uma criança, a moça começou a passar delicadamente seus dedos no cabelo do garoto, fazendo o possível para acudi-lo.

—A-ah...

Não tendo certeza do que estava acontecendo, Sea deu um recuo, saindo forçadamente do abraço da garota.

Agora, livre, conseguia vê-la melhor. Ela parecia estar na melhor idade, pouco mais de vinte. Seu cabelo era completamente jogado para trás, tendo bastante volume no lado direito, direção que o corte seguia. Algumas mechas do lado esquerdo caíam pela sua testa, formando uma franja pequena. A cor era um amarelo bastante forte e queimado, que contrastrava fortemente com seus olhos amarelos claro. Tinha lábios e nariz pequenos, seus olhos pareciam bastante afiados, dando uma sensação de controle. Contudo, isso ia contra sua expressão confusa, já que Sea havia a largado.

Era alta, aproximadamente 1,77, maior que Sea. Vestia um pijama de conjunto único, estampado no formato de um animal, no caso, um coelho. Ficava mais claro vendo seu capuz, branco com protuberâncias que mais pareciam as orelhas. Assim como a roupa, sua pele era bastante branca. Era uma vestimenta até que infantil, mas não combinava com a aura protetora e acolhedora que passava. No entanto, combinava com as proporções de seu físico.

Sem que pudesse pôr os pensamentos em ordem, logo em sequência outro elemento foi posto. Uma mão pousou sobre o ombro da garota, ela olhou para cima, e se levantou, indo para trás do homem que apareceu. Então, deitou sua cabeça contra as costas dele e murmurou:

—A-ase... O que eu fiz de errado...? Não é isso que homens gostam? Pelo menos é o que você...

—Ei, não estenda.

—...—Com a resposta grossa, a garota deu um olhar surpreso, mas então seus olhos foram fechando, o entorno foi ficando molhado e, por fim, ela começou a chorar.

Aquele que apareceu, aparentemente Ase, era bem diferente da mulher ao seu lado.

Seu cabelo era completamente preto, penteado para o lado, por mais que um pouco encaracolado, e algumas falhas se mostrassem. Seus olhos eram bastante grandes, mas isso apenas piorava sua situação, já que sua íris aparentava não existir, sendo um negro completo... algo que a maioria acharia assustador. Sua idade já parecia de alguém um pouco mais velho que sua companheira, passando a sensação de alguém bem mais reservado.

Ele trajava vestes bem exóticas. Um casaco bastante grosso, de cor azul-escuro, que ia desde um pouco acima da base do pescoço até depois da cintura, e as mangas cobriam completamente seus braços. O zíper estava um pouco aberto, mas por dentro não havia outra camada de roupa, ficando apenas sua pele. Ele aparentava ser bastante musculoso. Cobrindo completamente suas mãos, uma luva completamente preta, mas que parecia ser bastante maleável para não atrapalhar nos afazeres do dia. Uma calça comum e sapatos nos pés, mas o que mais se destacava nele era, facilmente, o cachecol. Era completamente vermelho, e estava enrolado duas vezes em seu pescoço, sendo bastante largo. Era tão grande que conseguia chegar até o teto se fosse alongado, e com tanto volume, por pouco não cobria sua boca.

—E-ei, não chore...

—Mas... mas... eu fiz o meu melhor pra alegrar meu filhinho, e ele fugiu. T-também, eu só falei uma coisa, e meu marido ficou bravo comigo... vocês me odeiam... Uaah...

Terminando de falar, ela caiu de joelhos no chão, colocando suas mãos contra os olhos, que não paravam de derramar lágrimas. Rapidamente, Ase se ajoelhou na frente dela, passou sua mão esquerda pela testa dela, tirando o cabelo que caíra, e com a outra, pegou a ponta de seu cachecol e limpou as lágrimas.

—Eu não conseguiria ficar bravo ou te odiar, nem se eu quisesse. Eu te amo, Bianca.

—A-ase...!

Sea não sabia como, mas a situação havia se desenrolado para uma declaração de amor.  A garota, chamada Bianca, corou e pulou com força contra o peito de seu marido, ela sorria como se não estivesse chorando há poucos minutos.

—Mas que porra...

—Ah.

No meio tempo, Sea havia sido completamente esquecido pelo casal na sua frente, que mais parecia atuar uma comédia romântica. Ase, notando como havia esquecido do invocado, soltou uma exclamação e se levantou, levando Bianca consigo.

—Perdão por isso. Eu sou Ase, Vassalo do Mestre Especialista, e esta é minha esposa, Bianca, de mesma posição.

—Ei! Já falei para me apresentar como Bia, não Bianca!

 —Não faz diferença...

—Faz, sim! Só você pode me chamar pelo nome completo, é mais longo, mais especial...! Ah, mas não é pra enrolar, olha o que você fez o invocado ver. É... constrangedor!

—Mas você quem fez uma cena...

—Não se atente a detalhes.—Ela largou de Ase, e cruzou os braços, negando a culpa de tamanha enrolação. Então, tomando a dianteira, estendeu a mão ao jovem confuso, que continuava no chão, e continuou.—Vamos entrar?

...

Pela primeira vez, finalmente, Sea conseguiu dar uma boa olhada na sala.

Era bastante bonita, a cozinha estava bem preparada, com diversos equipamentos do seu mundo. Já quanto a sala, possuía uma mesa retangular com capacidade para oito pessoas. Também, tinha um sofá e... televisão. Parecia até demais uma casa simples da Terra. Os três combinaram de conversar na mesa.

—Own, filhinho, não tá entendendo nada? Quer carinho para se acalmar?

—É por ser tão invasiva que as pessoas não costumam gostar de você...

—As pessoas não gostam de mim!?

—... Não, não foi isso-

—Ei, parô!

Batendo as mãos contra a mesa, Sea foi bastante imperativo. Não queria perder ainda mais tempo no drama entre os dois.

—E-então é verdade...

Todavia, teve o efeito contrário, e parecia que a cena de antes iria se repetir...

Ase, vendo aquilo, lançou um olhar furioso para Sea, deixando bem claro que não se limitaria no âmbito verbal para repreendê-lo. A pressão era tão forte que o fez se desculpar com a Vassala, e a mesma desistiu do choro, assim como antes.

—Bom, desculpa por tudo até agora...—Por mais que Bianca tivesse dito que os acontecimentos até agora fossem “constrangedores”, claramente o mais incomodado era Ase, que passava o dedo pelo cabelo.

Por fim, a situação parecia ter se acalmado, então Sea fez um longo suspirou e, como planejado, começou as perguntas.

—Antes de qualquer coisa, onde está o Mestre especialista.

—Ah, o sogro...? Ele tá viajando por aí, como sempre.—Quem respondeu a pergunta foi Bianca.

—Sogro?

—Sim, ele é meu pai, mesmo que não de sangue.—Respondeu Ase prontamente.—Ele não costuma vir aqui, mas qualquer dúvida, basta nos perguntar. Não tem muita diferença.

Sea ponderou um pouco. Os Vassalos até foram citados no castelo, mas a ênfase estava quase que completa no mestre... sem falar que era um cargo maior, então ele tinha mais poder...?

—Bem, para acelerar as coisas, vou fazer um resumo.—Disse Bianca, que queria acabar logo as apresentações.—Cada reino tem um Mestre, e cada Mestre tem dois vassalos. Infelizmente, eles não costumam ficar muito em suas casas, ou seguirem ordens, então os Vassalos que cuidam em grande parte do treinamento... Bem, vamos te acompanhar pelos próximos seis anos, treinando e talz... Vez ou outra te mandar para algum lugar, mas claro, também têm momentos de diversão! Bom, num geral, é isso. Se tiver qualquer dúvida, pode falar aí.

—Ah, certo...

Foi um resumo até que bom, dado a personalidade que ela havia apresentado. De certa forma, ela estava nessa posição há bastante tempo, então era normal. Sea começou a colocar os pensamentos em ordem, e então, recordou da lista que deveria perguntar.

—Primeiro... vocês eram os vultos que eu vi há pouco tempo, com as raposas?

—Sim.

—Ah, que bom...

Como se um peso fosse tirado de seus ombros, Sea relaxou na cadeira. Desde o início suspeitava que esses dois eram as silhuetas que vira, e estava preocupado que não fossem boas pessoas, mas essa primeira interação havia quebrado isso. Basicamente, eles que tinham o salvado do buraco.

—Ah, então, obrigado por terem me salvado mais cedo...

—Hum... de nada?

Estava tendo um conflito de pontos de vistas. Bianca não se via como salvadora, mas Sea os via assim. Não havia entendido o sentido.

—Mas, então... Ah, quanto tempo fiquei lá? E, bem, se vocês me tiraram  hoje, por que demoraram tanto....? Não que esteja reclamando nem nada, mas...

Ase fez uma expressão duvidosa, e Bianca ficou um pouco desconcertada. Vendo como ela não se sentiria bem falando, o Vassalo respondeu:

—Não misture as coisas. Somos regrados, temos um limite até onde podemos te auxiliar. Veja, esse castelo é um ponto seguro, podemos te proteger aqui. Mas... fora dele, é por sua conta e risco. Quanto a primeira pergunta, três dias.

—Quê...? Então  o que faziam lá...? As raposas não estavam me...

—Também somos regrados nesse quesito.—Apontou Bianca.—Não podemos dar informações de alto nível ou de difícil acesso. Só podemos dar algumas informações gerais...

A mente de Sea entrou em confusão. Se os dois seres na sua frente não eram seus salvadores, então o que faziam lá, e o que eram as raposas...? Alguém o queria libertar, claro, mas... talvez tivesse sido um acidente?

“Vou ter de usar o caminho difícil, então...”

Uma certeza: Ase e Bianca não são inimigos, então, teria de pensar com mais cautela depois. Contudo, não se impedia de pensar do por que as coisas terem ido para esse caminho... O que o levou a ficar quieto por um bom tempo.

—...

Do outro lado da mesa, Ase, ficava cada vez mais irritado. Talvez Sea não percebesse, mas desde a primeira vez que se encontraram, o seu rosto só foi ficando mais feio e impaciente, por mais que não tenha mudado muito, devido sua personalidade um pouco fechada.

Seus braços estavam cruzados, seu dedo indicador batia constantemente contra seu ombro, deixando cada vez mais claro sua irritação. Sua esposa, com quem vivia há muitos anos, notava isso, e por esse motivo ficou com um claro olhar de preocupação.

Saindo do seu transe, Sea voltou o olhar a Bianca e, inocentemente, questionou:

—Então, qual o método de treinamento que vocês-

*Bum*

—!

Um punho cerrado desceu com força contra a mesa de madeira, fazendo um barulho enorme. Bianca, que já esperava por isso, apenas se afastou e fez uma cara de “deu ruim...”. Sea, ao contrário, ficou surpreso, dando um pequeno pulo de sua cadeira.

Ase, que havia chegado ao ápice de sua paciência, havia desferido o golpe. Sua expressão era bastante neutra, ele sabia bem esconder sua irritação. Levantou-se da cadeira e avançou, segurando a gola do invocado, erguendo-o um pouco.

—Por que tá enrolando tanto...?

Suas palavras, por mais que não demonstrassem emoções, eram bastante frias. Era o suficiente para deixar o corpo de Sea paralisado. E assim aconteceu, ele ficou sem reação, sem conseguir responder essa pergunta indireta.

Bianca sabia como Ase não era bom em transmitir o que sentia, e por isso, explicou o que estava acontecendo.

—Olha, filhinho, você não fez nada de errado, mas não acha que está esquecendo de algo mais importante para se perguntar...?

—...

Sea não compreendia bem, o que esquecera? Havia questionado sobre o buraco, quem eram, e sobre o treinamento que teria pelos próximos seis anos... treinamento...

“Safira...!”

Vendo que ele parecia ter entendido, Ase o soltou e voltou ao seu lugar, por mais que ainda estivesse bravo.

Sea se sentou e pôs a mão no rosto. Bem que ele estava sentindo um clima estranho, algo que também sentira no buraco... Por que estava esquecendo de algo tão importante quanto a mulher que amava...?

Sua unha ia entrando um pouco na pele do rosto, a confusão ficava marcada em seu rosto. Estava, por algum motivo, esquecendo daquela garota, a bela ruiva de olhos azuis que arriscou a vida para salvá-lo... por quê?

Algo estava errado.

Sua mente ficou nublada.

Seu consciente entrou em desespero.

Aflito. Como se procurasse por algo mesmo estando bem na sua frente. A primeira coisa que deveria ter perguntado ao encontrar o casal de Vassalos, mesmo tendo que interromper os drama, era “podem fazer algo por Safira?”

Mas não foi o que aconteceu. Ele ignorou e perguntou sobre assuntos também importantes, mas quando postos em uma balança, não chegavam nem perto da garota...

—Ei, por que vocês não ajudaram ela,  naquele momento....? Foi uma emboscada, e...

—Você não merece ela...

Com essas palavras, Ase se levantou. Ele não queria ficar mais perto de Sea. Estava tudo bem ele não ter perguntado no início, ou ter demorado um pouco... mas ele aparentava ter esquecido totalmente, e não iria lembrar sem ajuda externa.

Não queria que esse sentimento tóxico o contaminasse, então, sem olhar mais para Sea, saiu pela porta.

—E-ei, Ase! Não aja assim...

Sua esposa até tentou o segurar, mas o conhecia bem, melhor que qualquer outro... era bastante justificável.

—Hum, então... é, as coisas não acabaram da melhor forma... bem, sei que você não fez por mal, só deve estar um pouco estressado, até entendo devido pelo que passou... Bom, eu vou falar com o Ase, certo? Ele é uma boa pessoa, mas têm esses momentos... Pode ir pro seu quarto, é a quinta porta à direita... amanhã vamos falar com você.

Com um rosto confuso, Bianca levantou e fez o mesmo caminho que seu marido. Ela mesma não podia deixar de se sentir desconfortada com aquele clima, e por isso cerrava com força os punhos.

Todavia, antes que ela saísse, Sea, com um tom desesperado, chamou por ela.

—Ei, mas então... a Safira, ela... tá bem?

—...—A Vassala parou, aquelas palavras tinham acalmado um pouco suas emoções.—Sim, não podemos ajudar vocês, mas temos nossas informações... ela tá bem. Não se preocupe. Amanhã você conserta as coisas, certo?

Quando ela se virou, soltou um pequeno sorriso... Não sabia bem o porquê de Sea ter esquecido, ele não parecia frio a esse ponto. Parecia algo mais interferindo nele...

—...

Mas deixou de lado, e seguiu para onde Ase estaria.

Deixado só na sala, Sea parou de pôr força em todo seu corpo. A única coisa que o segurava na cadeira era a pressão do pescoço.

Ele observava o teto silenciosamente, tentando entender o porquê da relação com os Vassalos ter ido de um começo tão bom para algo ruim, e principalmente...

O que estava acontecendo consigo para esquecer Safira...

Sem conseguir chegar a uma resposta racional, seu subconsciente agiu e transmitiu o que ele sentia no momento...

Uma lágrima escorreu pelo rosto e caiu no chão... Mas ele não havia notado isso.



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