Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 21: Casal rubro

Pouco depois de terem deixado Sea no buraco, já a algumas centenas de metros, Maria e Elias se dirigiam para seu destino final: seu respectivo castelo, em seu setor.

Ambos caminhavam pelo chão molhado e lamacento devido a chuva, que já parara um pouco, ficando apenas seus últimos resquícios. Por ser uma floresta, o solo era cheio de raízes e folhas, fazendo com que cada passo pudesse ser facilmente ouvido. Os dois andavam lado a lado, com Maria carregando a refém.

—Mestre, afinal, qual a necessidade daquela abordagem?

—Huh? Como assim?

—Por que eu fui atrás do invocado, e não da garota? Eu já havia avisado, ela era a mais forte dentre os dois. Na verdade, mesmo dentre nós quatro. Se era para ser uma emboscada dupla, não seria melhor eu ter ido contra ela já que, mesmo perdendo, uma guia teria menos peso de troca se comparado a um invocado?

Basicamente, ela dizia que se era para um dos dois se sacrificarem para capturar Sea, tinha de ser ela, por seus status serem menores que o de seu mestre.

Elias ficou alguns momentos pensando. Não por ela ter dito algo complexo, mas seu vocabulário não era bem familiar aos seus ouvidos. Ele pôs uma mão no queixo e fechou os olhos, à procura de uma resposta apropriada.

—Bom, o plano não teria funcionado.

—Como não?

—Eu teria solto aquele cara.

—...

Ela parou.

Os seus passos que faziam barulho ao pisar nas folhas da floresta pararam.

Seu olhar ficara pasmo. Uma feição boba podia ser vista em sua face. Seus olhos se arregalavam um pouco, e sua boca parecia aberta, não conseguindo fechar, devido a confusão.

Sim, confusão. Era essa palavra que definia seu estado mental. Essa tática não fazia sentido. Na verdade, mesmo antes de começar a armadilha isso passara por sua mente, claro. Foi contra o plano, mas a palavra final sempre seria do seu mestre.

Sendo assim, qual motivo levara Elias a optar por essa estratégia? Auto confiança de que, de alguma forma, conseguiria se sobressair em combate? Não, ela podia conhecê-lo há pouco tempo e achá-lo egocêntrico, mas ele possuía seus limites. Não tinha chance contra Maria, não teria com outro guia.

—Então, por quê...?

—Não é óbvio? Me importo com você.

Essa resposta foi dada quase que imediatamente. Não havia sido pensada, foi completamente automática e sincera.

Realmente, Elias odiava Sea, do fundo de seu coração, o odiava. O nome de sua família é algo importante, seu irmão é importante, e não deixaria que esse nome fosse manchado. Entretanto, nunca passou pela sua cabeça colocar a vida de outra pessoa em perigo para concluir sua vingança. Muito menos da garota ao seu lado.

O impacto foi tão forte que a garota em suas costas quase caíra. Na verdade, quase ter derrubado Safira a trouxe de volta à realidade. O coração batia rápido, o sangue bombeava, por consequência. Ia tudo direto para o cérebro, passando pelo rosto, deixando-a quente...

—Ei, seu rosto tá vermelho. Tá bem?

—!

Elias levou sua mão para a testa de sua companheira, queria medir sua temperatura, concluir se ela estava febril. No entanto, assim que tocou na franja, o corpo dela reagiu de forma exagerada, dando um pulo para trás.

Em seguida, seu rosto mudou novamente. Uma de suas sobrancelhas foi ao alto, enquanto a outra ficou baixa. Possuía um olhar duvidoso, desentendido.

—Não... é nada. Vamos logo, você não tem tempo a perder.

—Mas você quem parou e ficou agindo estranha, ora...!

Após essa breve conversa, Maria avançou para frente, tomando a liderança da caminhada.

De início, ficou irritada por não entender o porquê de estar assim. Então, ela respirou fundo e se acalmou. Refez a conversa em sua mente, buscando o que a fizera ficar assim.

“Eu me importo com você”

—...!

Dessa vez, sim, seu rosto ficou completamente enrubescido. Uma cor tão forte que chegava até suas orelhas. Por não saber o motivo disso, ela foi na frente, sem se deixar ser vista por Elias.

—...

Ele não compreendeu perfeitamente, mas entendeu aquela reação como positiva. “Eu também ficaria feliz se você dissesse que se importa comigo...” pensou.

Ele se recompôs e começou a seguir Maria. Todavia, vendo que houvera uma discussão estratégica há pouco, um pensamento veio à sua mente. De certa forma, se ambos tivessem abordado Sea, não haveria vítimas.

Lembrando os motivos para ter escolhido aquela estratégia em específico, seu rosto ficou levemente rubro.

—Caham...

Ele baixou o olhar, e deu uma tossida forçada para limpar a garganta. Finalmente, continuou a avançar. Ele sabia que tinha formas melhores de abordar seu rival e sua colega, mas um pensamento egoísa passava por sua mente ao ver as costas de Maria se afastarem.

“Não é errado querer me mostrar sendo legal, né...?”

Enfim, eles continuaram, rumo ao castelo de seu respectivo mestre.



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