Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

capítulo 17: Ódio

—♪Katarenai nemunerai toroimerai Anata no miteru shoutai Daremo yomenai Karute♪

Safira acordou com o som do cantarolar. Espreguiçou os olhos e viu Sea arrumando os itens utilizados para dormir, como lençóis etc.

Recobrando um pouco melhor seus sentidos, ela se levantou, abanou suas roupas e lhe deu a saudação.

—Bom dia.

—Dia!

De certa forma, Sea não é alguém que acorda cedo, mas esteve disposto essa manhã, então tomou as rédeas da situação. Com um pouco de auxílio da ruiva, em poucos minutos estavam movendo a caruagem. Claro, após confirmarem o elfo na cabine, que ainda estava dormindo.

—Qualé a desse sorrisinho tosco?

—Só imaginando quanto tempo vai demorar até você se apaixonar perdidamente por mim! Vamos apostar? Dou no máximo 2 meses.

—...—A palavra aposta a persuadiu um pouco, mas ao lembrar do contexto, apenas ignorou.

—Você... Não vai falar nada?

—Hum? O quê?

—Algo do tipo “Se esforce”, ou “Você consegue”, e depois dar tapinhas na minha cabeça?

—Por quê?

Era a lógica, não? A esse ponto, ele não despertou nenhum poder, na realidade, comparado aos outros invocados, deveria ser um dos mais fracos. Outro ponto em sua mente para um isekai era ser frio e calculista, mas não era do seu feitio. Sendo assim, sobrou o harém, mas nem isso lhe era dado?

—Eu disse algo que eu não devia?

—Hunf! Você não entende como mundos de magia funcionam!

—Hum... Então, como exatamente eles funcionam?—Ela não ligava para esses delírios, mas Sea usava constantemente o “mundo de magia”, algo para ela normal. Por isso quis esclarecer.

Sea deu um bufo triunfoso. Fez uma cara arrogante e contou, como se fosse extremamente normal:

—A lógica nos mundos de magia é uma garota se apaixonar primeiro, aí vem outra garota, uma briga de garotas, e no fim acaba com um fucking harém de pelo menos 4 garotas!

—Q-quatro garotas...?—Isso era demais.

—Sim! Dentre elas, uma loira, tábua, com belos olhos azuis e cabelos longo, uma tsundere! Uma robô, ou andróide, de cabelo branco e que não demonstra sentimentos, mas me ama muito! A de cabelo azul, voltada às coisas aquáticas, que me ama sem motivo algum e é uma gata! Também, a garota meio-raposa, que é uma idiota, mas me ama demais! E é super fofa! Por fim, uma moça de cabelos pretos e olhos vermelhos, indicando frieza mas carinho!—Ele ficou tão animado que falou tudo de uma vez, sem se importar com sua necessidade de oxigênio.

Tal idiotice fez Safira ficar assustada. Agora, não sabia se o homem ao seu lado fosse normal... ou melhor, ela estava para confirmar, suspeitas já vinham de longa data.

Ainda assim, em meio a tanta estranheza, uma dúvida veio em sua mente?

—E eu? Quem seria? Nesse seu... “harém”—Mesmo em um sonho fantasioso, sua competitividade não enfraquecia.

—Há! Você seria a heroína principal, pelo menos na primeira temporada! A ruiva gata demais que é a primeira a se encontrar comigo, e cai de amor logo no início! No entanto, vai perdendo espaço entre as garotas até se tornar basicamente uma corna!

—...—Ela preferiu não ter perguntado.

—ah...—ele preferia não ter respondido. Pelo menos, não com sinceridade.

Com medo que isso fosse contagioso, ela deu alguns pulos ao lado, tentando se distanciar ao máximo desse projeto de pessoa auto-considerado ser humano. Sea estava caindo para algo abaixo de um ser vivo.

Entretanto, o assunto, querendo ou não, era uma forma de conhecer seu companheiro melhor, então ela questionou:

—Como, exatamente, você iria satisfazer todas essas garotas...?

—Sou um homem simples! Busco viver apenas de cafuné e beijinho na testa!

—Como um homem tão passivo pode sonhar em ter um harém...? Não tem vergonha?—Um pensamento passou por sua cabeça.—Heh...

No entanto, isso teve um entendimento diferente. Sea arregalou os olhos, demonstrando estranheza.

—O-o que essa risada significa?

—Seu babaca. nenhuma garota em sã consciência divide quem ama com outra pessoa. Também, você não parece conseguir cuidar nem de uma, imagine quatro ou mais! Desiste logo dessa ideia de criança, vira homem.

Claramente era uma opinião pessoal, não universal, mas sua posição contra poligamia era bastante fixada e clara. Sea não iria conseguir mudar isso.

Ouvindo a verdade nua e crua, Sea amoleceu. Como um derrotado, ele se encolheu no seu canto, e ficou murmurando.

—Também, se você tá pensando em me cortejar pra depois ficar dando em cima de outras garotas, pode ir esquecendo!

—Eh!?

—“Eh!?” o escambau. Homem de verdade não fica dividindo o amor. Isso é algo que você divide só com quem é especial.

Safira extrapolou sua opinião, indo além do que desejado. Tendo visto que passara do ponto, e já estava impondo sobre Sea, virou a cabeça, também, um pouco envergonhada por se estender em alto tão íntimo.

Sinceramente, Sea não realmente pensava isso. Mais como se fosse uma brincadeira, mas uma tendenciosa, que quase levasse ao pecado. No momento, ele não tinha planos para outras garotas, já que sequer tinha a primeira. Também, não era tão santinho.

Por mais que a conversa desse a entender que Safira fosse gostar menos de Sea, ela levou tudo na brincadeira. Não era tão ruim começar o dia com um pouco de animação.

O papo de harém se tornou encerrado

...

Mochila!

E assim um portal se abre no espaço.

—Aaah...! Muito maneiro a aparição dele. Vontade de ver várias vezes!—Exclamava Safira, que falava de forma mais descontraída nesses momentos mais animados.

—Maneiro, não é? Deixa eu tentar uma coisa...

Com seu dedo, ele tentou controlar o portal, de início não funcionou, mas logo ele começa a se mover lentamente até Sea ter um controle considerável sobre.

Sobre o tamanho que ele pode ficar... isso ficaria para depois.

—Safira, como eu pego algo do portal?

—Por que não tenta colocar a mão?

—Isso... Não é perigoso? Digo, e se ele fechar?—Eles apenas faziam perguntas, mas zero respostas.

A garota fez posição de desentendida, ela não teria como saber disso.

“Vamos tentar algo mais simples...”

—Dinheiro!

Subitamente, uma sacola saiu enquanto fazia barulhos metálicos.

Foi facil ao ponto de se decepcionarem.

Havia 200 moedas de cobre, 20 de prata e 10 de ouro

—Hm... Isso é muito?

—Acho que com essa quantia... Você poderia viver em um pequeno luxo por alguns meses, sendo alguém modesto talvez se sustentasse por um pouco mais de um ano, talvez?

—É, parece ser um bom dinheirinho inicial.

Logo Sea devolveu a sacola ao portal. Não seria utilizável agora. Aproveitando o momento, ele tirou alguns outros objetos de lá.

—Ah, o mapa-mundí de Liv?—Questionou Safira vendo o pergaminho.

—Sim, você sabe explicar bem ele?

—Sei, sei. Estende aí.

Com bastante expectativa, Sea pôs o dito mapa no chão.

A reação de ambos foi diferente, o amante de conhecimento fez uma cara suspeita, enquanto a idiota tinha um olhar admirado.

—Safira... Por que o rei me deu um mapa infantil?

—Infantil!?

—Digo, isso claramente parece ter sido desenhado por um moleque de 15 anos na pressa, com poucos recursos e um trabalho mal-feito, por sinal, no illustrator ou paint, e ele errou algumas proporções, provavelmente, não tem motivo para essas desordens em algo geométrico.

—Seu blasfemiador! Como ousa!?

—Espere... Então essa merda é realmente o mapa-mundí?

—N-não chame uma criação do criador de merda, peça desculpas!—Ela ameaçou atacar.

—C-certo! Desculpa!

Já caindo em depressão pelo primeiro mapa desse mundo ser realmente tão simples, Sea desistiu.

...

Sea não se importa, claro, com a complexidade ou simplicidade de uma cultura. Como um admirador da humanidade em sua totalidade, até seus “erros” e “acertos” o atraíam, mas... com mapas, é diferente.

Desde sua existência, eles tinham como objetivo se localizar melhor, auxiliar em viagens. Tendo em vista isso, algo tão simples, e aparentemente mal feito não era esperado.

O mapa era simples, parece ter sido feito por uma criancinha. Basicamente, um retângulo normal. Em cada uma das extremidades havia um retângulo, cada um com um nome diferente. No superior, tinha “elfo”; na esquerda, “vampiro”; embaixo, “trimais” e, por fim, na direita, “demônio”

No centro do mapa havia um heptágono, com cada uma das partes com o nome dos reinos. “Diocleci, Aurel, Pio, Lígula, Domicia, Tiber, Cômodo.” No meio dos reinos, no centro, um círculo, chamado “centro”, que agrupava território dos países humanos. Também, onde Sea e Safira estavam.

O maior problema era a simplicidade, não tinha indicações geográficas, não tinha como aquilo ser seriamente utilizado para localização. A sensação de uma criança ter feito aquilo voltou à sua mente.

De qualquer forma, reclamar seria inútil. Então, ele esperou que Safira explicasse o resto.

O círculo dentro do heptágono é o chamado “centro”. Cada território no centro é constituído de camponeses que fazem trabalho para agricultura, matéria-prima etc.

Agora, algo que chamou a atenção de Sea: esse mundo tem vampiros, elfos, demônios e... Trimais.

—Safira, o que seria Trimais?

—Ah, pessoas-bicho.

—Não, não. Eu entendi isso. Perguntei o porque de ser “tri”mais.

—Ah... Não sei!—Respondeu com um sorriso bonitinho.

Visto a ignorância, e a resposta como se não fosse culpa dela, Sea puxa suas bochechas, jogando a cara de Safira aos lados.

—Você tem sorte de ser fofinha.

—N-não puxa minhas bochechas.—Ela se afastou com um tapa.

Voltando ao tema principal, o mapa, ela continuou a explicar.

Os territórios são pré-delimitados pelo próprio criador, ou seja, se algum reino tentar acoplar terras que não são suas, o criador irá intervir.

Por exemplo, se o reino de Diocleci entrar em guerra com o reino de Aurel, e ganhar, não é permitido que Diocleci acople o território, pelo menos, no papel.É possível colocar um governante de seu próprio reino, mas pelo que Safira disse, os 11 reinos vivem em paz.

“Claramente isso é uma mentira...”, pensou Sea.  7 reinos um do lado do outro e ter paz? Impossível. Ele conhecia bem a história, e se tem algo que ele pode afirmar é: Não existe paz.

Continuando, ela não sabe o que são os 4 quadrados entre os reinos não-humanos.

Quando questionada sobre o reino anão, citado anteriormente a existência deles, não do reino, mas era a lógica, ela não soube responder.

Quando questionada sobre o espaço entre os reinos humanos e não-humanos, ela não soube responder.

Quando perguntada sobre o sistema político dos reinos, ela não soube responder.

A que conclusão isso levava?

—Você é uma péssima guia

—Desculpa...

—Parece que vou ter de falar com os mestres do castelo...

As cores que os reinos estão pintadas representa as cores de cabelos e olhos de quem nascer em seu território, claro, isso foi apenas durante a criação dos humanos. Respectivamente a ordem apresentada anteriormente, é: azul, laranja, verde, amarelo, vermelho, rosa e marrom.

Se alguém de cabelo e olhos azuis, ou seja, do reino Diocleci tiver um filho com alguém de cabelo e olhos vermelhos em Diocleci, ele não vai nascer com cabelo e olhos azuis. Nessa parte é pura genética, uma palavra que ela conhece, mas nunca se aprofundou no assunto.

Ele a questionou sobre os invocados, aparentemente o jogo dos invocados vem ocorrendo há um bom tempo.

—Ah... Cansei de informações, mesmo que um certo alguém não tenha me dado todas que eu queria.

—...—Ela começou a assobiar.

...

Com o sol em seu pico, Sea tirou um pano que havia pego no guarda roupa e estende no chão. Por sorte, pararam em um belo campo florido com grama baixa, o vento mediano e o sol ensolarado faziam o clima perfeito para um piquenique!

—Sea, vou tentar acordar o garoto.

—Certo!

Sentando-se sobre a toalha, Sea vislumbrou a beleza do céu azulado com a grama verdinha, dando uma verdadeira sensação de interior.

Logo Safira chegou e, com seu carinhoso sorriso de sempre, sentou-se ao lado com um prato de sanduíches triangulares.

Ela explicou que o garoto não tinha acordado, e assim como Sea, ela preferiu deixá-lo dormindo. Ele não parecia doente, então não viu problema nisso. Sea também não reclamou.

—Você fez os sanduíches?

—huh?Não, mas se você quiser eu posso fazer alguma coisa quando tivermos uma cozinha.

—Você... Sabe mesmo cozinhar?

—Claro que sei, o que te faz pensar o contrário!?

—Certo, certo, vou confiar em você, me surpreenda.

Sea pegou um dos 12 sanduíches e começa a comê-los. Não era nada muito diferente do seu mundo, o seu gosto era um pouco melhor, e deduziu ser pelos compostos orgânicos.

—Ei, agora que fui notar, mas não é ruim ter sanduíches para uma viagem de 10 dias?—Tempo estimado da viagem—Digo, a decomposição?

—Estragar?Acho que não tem problema. O saco em que estava parecia ser feito de Tínio.

—Tínio... O que é isso?

—Não tinha no seu mundo?É um material usado para colocar comida e coisas que estragam rápido, dentro dele o tempo passa mais devagar, mas isso depende da qualidade do Tínio.

Sea achou interessante os minérios mágicos, mas como provavelmente não seria devidamente respondido, preferiu esperar até encontrar o mestre especialista.

Já no fim dos sanduíches, Sea se lembrou do Candir. Ele pegou duas taças e a garrafa milagrosa.

Ele logo põe os copos sobre a lona, e os enche devidamente até perto da boca.

Para testar o que Atlas havia dito, ele colocou uma pequena gota na língua, e logo uma mensagem aparece em sua mente:

*Uma substância prejudicial foi detectada, deseja permitir sua ingestão?*

“Atlas?”

* Uma substância prejudicial foi detectada, deseja permitir sua ingestão?*

“Ah... É igual um jogo, ... Permitir?”

*Permissão concedida à substância, por favor, morra feliz, idiota.*

“Hum...”—Vindo de Atlas, ele conseguia imaginar esse final para uma mensagem automática.

—Sea, tudo bem?

Já que o tempo estava passando normalmente, Safira se preocupou por Sea estar como um bobo olhando para ao nada.

—Tá tudo bem, sim.

—Vamos, você só tomou um tequinho, bebe...

Mesmo sem ter sequer terminado, o copo foi preenchido. Dessa vez, até a boca.

Dando uma rápida olhada na garrafa, Sea notou que ela parecia ter perdido uma quantidade considerável de líquido

—Safira, quantos copos você já bebeu?

—Agora vai ser o meu terceiro...—Disse ela enchendo mais uma vez seu copo.

—Você não é fraca com bebidas?—Ele falou isso tendo em base a rapidez em que ficou bêbada no castelo.

—Ah, eu tinha bebido uns 14 copinhos disso, tem que ser bem mais de 3 pra me deixar bêbada, e ontem eu tava com sono, então o efeito foi mais forte, mas meu recorde com a 237 foi 21 copos!—Explicou ela com um sorriso inocente.

Tal fato deixou Sea pasmo, mas isso o fez lembrar de algo bem pior... De onde veio, a idade mínima é 18. Olhando agora para essa garota ao seu lado, ele não tinha ideia de sua real idade.

—Safira... Apenas para ter certeza, quantos anos você tem?

—Ah... 17, e você?

—17 também... Esse mundo não têm leis contra bebidas alcoólicas?

—Não, não, com 5 anos eu já bebia uns 5 copinhos disso. Pelo menos, não aqui...

Sea se questionou se esse mundo era doido o suficiente a ponto de permitir nessa idade, mas como era outra terra, preferiu deixar de lado e aceitar. Culturas diferentes, isso nem era exatamente estranho em seu mundo. Respeitar, acima de tudo.

—Vamos, Sea, bebe mais um pouquinho.

—N-não, já tô um pouco tonto só com 1 copo, acho que se eu tomar uns 3 vou ficar totalmente bêbado.

—Você não vai me acompanhar?—Disse ela batendo no lugar ao seu lado, pedindo para sentar lá.

Seu rostinho com olhos pidões chegavam a dar náuseas tão poderosas quanto o alcool. Sea simplesmente não conseguia resistir.

Ele vai até o seu lado, dá uma última olhada para o rosto da garota, sorridente e lindo, como sempre. Era isso que o dava forças para cometer uma besteira tão grande quanto.

Como prova de coragem, Sea virou o copo.

...

—Chega... Eu não aguento mais.

—Vamos Sea, você consegue.

—Não... Eu tô... cansado... Nunca mais vou beber.

—Sim, eu também disse isso quando tinha 5 anos. Adivinha?

Sea começou a ponderar sobre quão ridículo era sua tolerância a alcool, já que ele mal aguentara um copo, enquanto sua amada facilmente estava no terceiro, apenas um pouco vermelha.

Mas, bem, não é como se sua cognição estivesse em seus melhores dias.

—Sabe, você tá bem vermelho, parece um pimentão.

—naaaaum, não sou um pimentão.—O efeito do álcool o tornou um idiota.

—Você quer descansar um pouco antes de voltar?

Como uma criança, ele assente e fecha os olhos. Em seguida, ele se deitou sobre vários lençóis, bem ao lado de Safira. Ela começou a afagar seu cabelo.

—...?

—Vamos, nós já... caham, “dormimos” juntos. E também, eu meio que te forcei a ficar bêbado, isso não pode ser meu pedido de desculpas?

—Certo... Sendo assim vou aceitar.

Sem mais reclamações, Sea apenas deixou a situação o levar, aproveitando o momento.

—Ei... Eu posso estar bêbado mas continuo sendo um gênio, mas você quer algo?

—Eu estava curiosa sobre aquilo de antes.

—“aquilo”...?—Ele ainda estava um pouco nauseado pela bebida, então, realmente, não estava ligando muito para a conversa. Apenas respondendo quase que autonomamente.

—Sim, com o garoto, a lagoa.

—Ah...

—Sea... Vai me explicar melhor?

—Explicar?

—É. Algo vem à mente?

Ele conseguia entender e não ao mesmo tempo, seu estado não ajudava, mas ele prometera dar uma devida explicação. Ele começou a lembrar do passado...

—Olha, garoto. Por que não revida?

Essa conversa foi depois de uma briga... Ou melhor, um espancamento.

—Bater...?Por quê?

—Ué, você sempre é injustiçado, defenda-se!

—Mas... Eu... não vejo problema. Não tem nada de errado... eu... não sinto nada de errado...

Após lembrar da conversa, Sea silenciosamente se aprofundou nos olhos de Safira. Simplesmente, ele não conseguia encontrar algo para aquilo. Um motivo, por quê... ele tinha uma resposta vaga, mas não conseguia expressar.

Era como se, desde pequeno, ele não tivesse como sentir nada negativo. Sempre algo o parava. Auto controle? Força de vontade? Poder da amizade? Ele não sabia. Tinha algo, algo profundo.... algo muito complexo.

Ainda assim, vez ou outra, esse sentimento escapulia. Ele não tinha as respostas, e não sabia explicar... não se entendia, e odiava isso.

Ainda assim, da melhor forma que pôde, expressou-se.

—Eu...

—Sim?

—Tem algo...

—Sea?

—Algo que não sei explicar... dentro...

—Perdão...

Por mais que, à sua visão, não fizesse sentido, Safira percebeu que esse tipo de história não deveria ser contada enquanto nesse estado... era algo que ele mesmo deveria saber e estar disposto a contar. Por isso, ela se desculpou.

Rapidamente, ela arrumou as coisas e as guardou. Com gentileza, içou Sea pelo ombro e o pôs na posição de cocheiro.

—Você... prefere ficar comigo aqui, ou descansar na cabine?

—Hum...—Ele apenas respondeu balançando a cabeça de cima para baixo.

Em alguns minutos a carruagem começa a andar, com Safira guiando os cavalos. Ela tentou colocá-lo atrás, mas não teria uma posição confortável com o elfo ali.

Sea adormeceu, e Safira o deixou dormindo com a cabeça contra seu ombro. Pensou que merecia, ao menos isso.

Ainda assim, um sentimento estava em Sea... Não, para ser mais exato, era como se existisse algo extremamente concentrado, e ao mesmo tempo inexistente.

Esse sentimento.

A falta dele.

O atormentava.



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