Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 16: Elfo negro

A dupla já estava viajando há alguns dias.

Por sorte, Liv é bem velho. Os habitantes do centro já fizeram vários locais de banho para transeuntes, ao passo que outros banhos naturais já existiam.

Agora, Safira se encontra vislumbrando calmamente o lago a sua frente, que resplandecia a bela luz do sol, que estava prestes a nascer. O local era rodeado de floresta densa por toda a circunferência.

—Ah... Isso é bom...—Ela pôs sua perna, até a canela, na água. Por mais que fosse noite, a temperatura ambiente constava em um tom bem agradável, pendendo mais para o quente.

Ela já havia se limpado, e agora apenas estava descansando.

Ainda balançando os pés, ela pensava silenciosamente sobre seu companheiro. A tal ponto, já se pode deduzir que são bons amigos, agora, como essa relação iria progredir... Só o tempo dirá.

—Bom, de mim, não espere nada...—Dizia para si mesmo, em tom de concordância.

Já estava quase passando do horário para sair e continuar a viagem, mas então...

—Aquilo é...

Na outra extremidade, algumas frutas caíram, assim como um vulto envolto de panos pretos, que acabara de bater em uma árvore, fazendo um barulho estranho.

—U-u... Ugyaaah!

...

Alguns minutos antes...

—Tsk... Você tem ideia de quantas meninas no mundo morreriam para se banharem comigo!?

Sea, um jovem que estava levemente incomodado por não poder tomar banho, encontrava-se deitado no teto da carruagem, olhando o céu.

—O céu... daqui é bonito...—Ele comparava, já que em sua cidade a poluição atrapalhava a bela visão.

Olhando mais atentamente para a lagoa, na esperança de encontrar alguma coisa por lá, vários pássaros abriram as asas e começarem seu voo, seguido de um poderoso grito.

—Ugyaaah!

Foi poderoso o suficiente para fazê-lo pular do teto da carruagem e ir em direção a sua origem.

Ele pulava por raízes, desviava de árvores e evitava ao máximo pisar em qualquer inseto/planta exótica que ele nunca houvesse visto.

Em poucos segundos de corrida ele chegou.

—O-o que foi?

—O garoto...

Quando ele foi se dar conta, as vestes de Safira estavam inteiramente molhadas, e sua respiração era extremamente ofegante. Em seus braços estava um jovem garoto envolto de muitos panos.

Conectando isso com o fato do outro lado da margem estar bastante molhado, em uma região que a água não devia chegar, Sea chegou à conclusão. Safira viu o garoto necessitado do outro lado e foi ao seu encalço.

O problema era...

—Tudo isso..?

A distância das margens era bastante grande, e se ela gritou antes de começar a atravessar, ela teria ido e voltado em apenas dois minutos, cento e vinte segundos...

Isso era demais para um corpo humano.

Como se o corpo dela acompanhasse o pensamento de Sea, sem mais tardar ela sucumbiu, mas tomando cuidado para não machucar a criança, quem abraçou com ainda mais força.

—E-ei, você tá bem?

—Sim, apenas exagerei um pouco... mas mais importante...

Ela colocou gentilmente o menino no gramado, tirando também o pano que o rodeava. Sua altura era bem baixa, aparentando estar entre seus 12-13 anos. Ele tinha 1.52m e um cabelo cinza, sua pele era bem escura e se encontrava com roupas imundas e um estado desacordado.

O mais problemático disso era que Sea, devido seu poder com líquidos, podia nadar sem resistência por lá, na verdade, seria até mais facil... Ele descobrira isso há algum tempo em uma chuva, e Atlas lhe explicou o processo. Basicamente, nadar seria tão simples quanto correr. No entanto, sabendo disso, por que Safira apenas não o esperou...?

—Ei, Sea, vamos ajudar ele...

...

O sol estava em seu pico, e dessa vez optaram por fazer o almoço ao lado da lagoa. Realmente era um lugar bem bonito, tinha águas limpas e centenas de árvores a rodeando. Também havia várias plantas e insetos exóticos desse mundo, mas Sea não tem um interesse tão grande nisso, ele se interessa mais por seres puramente conscientes.

—Ele vai demorar muito?

—Tenho cara de mãe de ná? Só espera.

—Ele só vai piorar se ficar assim...

Apenas de olhar para o seu corpo, podia-se dizer que ele estava passando fome e sede. Alimentá-lo seria o melhor, mas fazer isso nesse estado talvez o fizesse engasgar. Todavia, não saber quanto tempo iria ficar assim era um problema...

—Certo, deixa eu acordar ele.

—Assim que se fala, sim, sim. Como esperado de uma alma bondosa como você.

Enquanto Sea falava em um tom confiante, sua guia pegou um balde, encheu com um pouco de água e passou pelo invocado. O frio na espinha fez seus olhos abrirem de uma forma bastante patética.

—Vamos acordando!—Ela despejou o balde sobre o garoto.

—Sua maluca!

—Você quem disse!

—Não dessa forma! A ideia era exatamente não trazer outros problemas, você quer que ele morra de hipotermia!?

Eles ficaram se encarando por um tempo. Dada a confusão, demorou um pouco para perceberem o garoto tossindo e cuspindo no chão. Ele passou a mãe pelo seu cabelo, olhou para seu estado e começou a tremer desesperadamente.

Sea pegou um cobertor e pôs sobre o garoto, ele não necessariamente é do tipo que ajuda por caridade, mas se havia começado, ia terminar o trabalho.

O garoto se enrolou no cobertor e finalmente tira seu capuz, revelando orelhas pontudas que tinham um tamanho considerável e apontadas para a horizontal. Um elfo clássico!

O jovem elfo de pele escura os olhava com bastante atenção, ele tinha olhos castanhos, um castanho bem escuro, quase negro.

—Vamos, vamos. Você está entre amigos, belezinha? Ninguém vai te machucar.

—...

O garoto não respondeu Sea, e continou a se encolher no cobertor.

—Ei, responde.

—...

Mais uma vez Sea foi ignorado.

Ele relevou seu comportamento devido seu estado, mas chegou perto para tentá-lo fazer abrir a boca.

—Olha aqui, eu...

Antes de terminar o sermão, Sea olhou bem no fundo dos olhos do elfo, seus olhos cinza, ainda mais profundo, bem no fundo haviam um negro, algo... tenebroso...

Olhos completamente sem esperança ou brilho. Sea já conhecia, conhecia bem até demais... Não, não havia nada que ele repudiasse mais que esse olhar... essa condição

A desistência de tudo. Ele odiava, odiava, odiava completamente. Por um momento, ele começou a imaginar o sofrimento que esse garoto passara... não foi pouco, ainda assim, não era motivo.

Isso o deixou transtornado. Transtornado em excesso. O pequeno brilho em seus olhos foi... se tornando mais transparente, até que desapareceu. Como se sal caísse em água, e se dispersasse... consumido por algo muito mais forte.

—Sea...?

—...

Não era normal sua quietude, mesmo alguém que nunca o conheceu notaria isso, e não foi diferente para sua acompanhante.

O jovem na sua frente não se importava com o que acontecia na frente, ele não tinha motivos para viver, nem razão e acima de tudo... o problema não era esse, ele não queria.

Ele entendia perfeitamente Sea já que ele fala todas as línguas, mas não entendia Safira.

Sea não estava pensando. Não que não queira, algo mais denso o impedia, como se fosse uma ação programada a qual não o deixaria parar. Ruiria o mundo se fosse preciso para atingir seus objetivos.

—S-SEA!

Quando Safira gritou por seu nome, já era tarde. Ela demorou para pará-lo.

Apenas foi perceber ao ver o resultado com seus próprios olhos...

O jovem elfo voando em uma parábola em direção à água fria...

...

“Onde... Eu...?”

O jovem, que estava lentamente afundando na lagoa, começara a recobrar a consciência. Tudo que tinha em volta de seu corpo era pura água, e bolhas de oxigênio ao seu redor. Ele não entendia muito bem o que estava acontecendo no momento.

“Os túneis...?”

Não, uma mudança muito drástica de ambiente, negou.

O garoto começou a mover sua cabeça para os lados, mesmo que com uma imensa dificuldade. Ele conseguia ver um clarão sobre sua cabeça, eram os raios solares.

“Tanto faz...”

O elfo não tinha motivos para continuar, sua força não era capaz de o salvar por conta própria, e, principalmente, ele não tinha motivos para isso.

“Logo irei...”

Enquanto sua consciência ia se esvaindo, o que resultaria na morte certa, o garoto lembrava de sua família, seu pai e sua mãe.

Por poucos segundos ele foi capaz de ver dois corpos serem cruelmente decapitados. Sangue escorria por todos os lados, caindo sobre si mesmo.

Naquele momento esse jovem não havia ficado triste, não havia ficado com raiva. Simplesmente ele não sentira nada.

“Por que...?” ‘não senti nada?’, mas esse pensamento não passou por sua cabeça.

Quem lhe deu o dom da vida foi morto bem em sua frente, por que não sentiu nada?

“Eu deveria sentir algo?”

Lembrando das incansáveis chicotadas que o obrigavam a trabalhar, o jovem apenas confirmou que não havia motivos para se manter. Não ali, nem em outro lugar, seu corpo não conseguiria se acostumar a outro local...

Mas...

Um olhar...

Um homem olhando.

Seu olhar fixo, tão severo... não, não é assim. Não esse adjetivo... Se algo pudesse caracterizar aquilo seria...

“hipocrisia.”

Utilizando toda a força que restava em seus braços e pernas, o garoto começou a desesperadamente se debater na água. Ele não comia há dias, e não tinha energia o suficiente, e então um suspiro ecoou pela sua mente.

Fraco, carregava o mesmo sentimento que aquele olhar. Como? Por que aquilo o impactava? Como algo tão simples podia ter um sentimento tão forte ao ponto de tocar uma casca fria que sequer se importava consigo mesmo ou os pais?

Ele não sabia. Não sabia o porquê esses breves atos penetraram sua carne,mas...

“Eu quero saber.”

E com esse pensamento, seu corpo começou a obedecê-lo. Mesmo de uma forma ridícula, ele estava conseguindo vencer o empuxo da água, e estava ascendendo.

“Urgh.”

Infelizmente, pelo tempo que já estava sem oxigênio pelo corpo, encontrava-se em estado de anorexia. Com a falta de capacidade para manter seus sentidos funcionando, a água cristalina começou a ficar mais turva, até ficar escura e, finalmente, desaparecer. A distância para a superfície estava chegando a um ponto irrevertível... não, desde que caíra ali, estava sem chances de retornar.

*Vup.*

Então, ele sentiu as águas se deformando, e um delicado ser negro aparecer em sua frente. Seus olhos lembravam-no da sensação que tivera há pouco de seu passado, aquele olhar... mas esse...

Talvez fosse a falta de funcionamento cerebral, mas...

Não parecia algo humano. Ainda assim, em seus olhos era possível decifrar uma bondade alheia.

—Ah...!!!

O garoto ofegava profundamente, respirava rápido para oxigenar o cérebro. Estava vivo graças a Sea.

Finalmente em solo, ele ficou de quatro cuspindo toda a água que havia entrado dentro de seu corpo. Por muito pouco não havia partido para o outro mundo. Na sua frente, o garoto de cabelo negro estava parado, sem nenhuma penitência.

—Garoto! você tá bem!?

O garoto não conseguia entender o que a ruiva falava, mas o abraço que lhe dera foi bastante entendível.

Infelizmente, por já estar exausto devido ao esforço extremo, e pela falta de nutrientes, o garoto desmaiou.

...

—A vida é uma dádiva, não importa o quão ruim seja a vida, sempre será melhor que a morte, não importa o quão ruim esteja, sempre pode melhorar. Se alguém desiste de viver, deve morrer logo.

—Você jogou ele na lagoa para ver se ele queria sobreviver!?—Ela simplesmente não conseguia acreditar.

—Mais ou menos.—Sea deu de braços.

—O que faria se ele tivesse... morrido!?—Ela esperava algo como “ele não morreria”, mas recebeu um:

—... Cavaria uma cova, pegaria um pouco de ácido fluorídrico, colocaria o corpo, mas faria questão do meu ajudante maldito comprar o material certo, e não usar a banhei-

—Tá querendo outro!? Seu filho da...!—Ela gostaria de terminar, mas haviam crianças no local.

Assim que Safira notou que Sea havia JOGADO o garoto desnutrido lagoa a baixo, inicialmente entrou em pânico. Logo em seguida viu Sea indo ao seu resgate e ficou confusa. Assim que ele emergiu, ela quase chegou a matá-lol.

—Ei... Você teve algum motivo para fazer isso?

—Eu tenho, claro

—Você vai me explicar essa história direitinho depois, viu?—Ela ainda pretendia dar o benefício da dúvida, por mais que parecesse ilógico.—Agora, coloca ele na carruagem. Não dá pra ficar parando toda hora.

...

“Huh?”

No momento que o elfo acordou, já haviam se passado 2 dias desde seu desmaio, ele se encontrava com um cobertor e estava sentado ao lado de uma fogueira em uma bela noite de “lua” cheia.

Nesse meio tempo, Sea fez questão de explicar passo a passo do porquê fez o que fez. Safira não acreditou no isso, mas após escutar vários relatos, e, de acordo com Sea, aquele ter sido o único “tratamento” possível, ela cedeu. Isso, também somado à expressão de Sea claramente mostrar arrependimento.

—Safira, tem certeza que não quer o cobertor?

—N-não. Brrr... Tô super d-de... Atchim! De boa....—Devido ao clima extremamente frio, e sua pressa ao resgatar o garoto, ela pegara um resfriado. Mas se recusava a usar o cobertor do elfo.

—Quer um abraço pra esquentar?

—...—Ela já pensava em medidas drásticas.

—Eh... Com licença, pode pegar isso aqui—Interviu o elfo estendendo o cobertor.

A garota, mesmo não entendendo, rapidamente pegou o cobertor e se enrolou nele, pelo menos umas 3 vezes.

—Moleque maldito... Me arrependo de não ter te jogado mais longe.—Murmurava o jovem de cabelo negro para si mesmo.

—Ô... Tô aqui.

—Sim, tô tentando fazer você se sentir mal!

—...

Sea coçou um pouco sua cabeça, levemente irritado por ter perdido sua chance. Logo se aproximou um pouco mais do elfo e estendeu alguns sandubas em um prato.

—Come isso aí.

Os olhos do elfo brilharam tanto quanto estrelas! Era uma fusão de ele estar sem comer há dias, pela sua fome tremenda além do fato de nunca ter provado.

De início, ele olhou atentamente para o sanduíche, em sua concepção poderia estar envenenado ou algo do tipo, ele pensava isso, mas sua baba deixava claro seus reais desejos.

—Se você não vai comer eu vou.

—N-não.

Dada a ameaça, o garoto começou a comer loucamente os sanduíches. Ao todo tinha cinco no prato, e em poucos minutos ele ingeriu quatro, e o quinto estava prestes a ter o mesmo destino.

Como Sea tinha pisado na bola, preferiu tratar bem a criança.

—Ei.—Safira deu uns tapinhas na grama ao seu lado.

Mesmo que as palavras da ruiva não fossem compreendidas, o elfo conseguia facilmente entender as suas intenções. Claro, não com as palavras certinhas, mas podia decifrar um pouco.

Ele prendeu o sanduba com a boca e foi engatinhando até o local, onde foi recebido de braços abertos por um corpo caloroso e macio. Um sorriso escapou de seu rosto, e o mesmo ficou corado.

O garoto olhou de relance para o moreno ao lado do fogo e perguntou:

—Quem é você?

—Sei lá, a humanidade faz essa pergunta a si mesmo há mais de 4 mil anos, e quer que eu responda?

—Eh?

Uma rápida conversa entre eles, e alguns esclarecimentos, ele responde:

—Aparentemente Sea Scalding, e você?

—Eu... Não tenho nome

—Claro que não tem... Mas fala só, você é um elfo negro, né!?—Suas palavras, finalmente, continham excitação.

—Sim...   

—Maneiro... “Elfo negro” Bem mais maneiro que “Elfo”. Sabe? Tipo, parece que você tem uma carta na manga.

—... Você tá bem?

—Beleza, vou ficar quietin. Aqui, no meu canto.

O garoto preferia conversar com alguém mais normal como a moça ao seu lado, mas em pouco tempo ela tinha dormido. O resfriado estava drenando sua energia.

Sea se deitou em frente a fogueira e começou a observar atentamente o fogo. Para ele, isso é algo extremamente recomfortante, o fogo muda a todo momento, ele nunca é o mesmo. De alguma forma isso o trazia paz interior.

—Porque olha tão atentamente para o fogo?

—Ele é meio incrível, não acha? Um filósofo, Heráclito, uma vez disse “ Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes”. Eu olho para o fogo, e vejo como é incrivelmente crível essa frase, o fogo a cada momento utiliza do princípio da combustão, a todo momento centenas de milhões de moléculas estão sendo transformadas quimicamente, ele nunca é o mesmo, não importa o quão pequeno, ou o quão grande seja. Por mais que não pareça. Se formos olhar de uma escala macroscópica, podemos dizer que o planeta em si é o fogo e nós, as moléculas.

—Eu... Não entendi a relação do rio com o fogo... Não entendi o início... na real não entendi nada.

—... Se entendesse, eu me preocuparia.

O elfo olhou pelo seu corpo, tocando-o minuciosamente. Há algumas feridas, arranhões e marcas de chicote, mas nenhum perigo fatal, todas estavam fechadas.

—Não responderei perguntas, nem contarei nada...

—... Hum... Fodasse? A propósito, que rude

—Rude? Você quase me matou e... acabou de me mandar se foder!

—Ah... haha. Você lembra daquilo? Merda...—Ele confiou que a falta de oxigênio mexesse com a memória. Entretanto, não foi o caso.—Se quer saber, eu salvei sua vida.

—Eu não-

—... Vamos apenas ver o fogo, certo?Olha que bonito, olha lá, olha esses raios de luz.

—Eu-

—Olha que bacana.

O garoto continuava com raiva, afinal, esse homem havia o jogado em um lago frio e o deixado para morrer, pelo menos de seu ponto de vista. Mesmo assim, essa mesma pessoa o deu comida, água e calor, o que fazer nessas horas?

—Por que tentou me matar e... agora tá me ajudando?

—Vejamos... A razão de tentar te matar... Você meio que me irritou. E te salvar... Bem, a primeira resposta responde essa.

O elfo já percebeu que esse lunático, muito provavelmente, não batesse bem da cabeça. Sendo assim, ele trocou o cerne da questão.

—... Aquela garota, qual o nome dela?

—Ei, ela já tá comprometida! Mais ou menos, tipo... É questão de tempo, ela é minha princesa em um cavalo branco, e nesse cavalo não há espaço para você!

—...  Alguém já disse que você é muito estranho e irritante?

Sea olhou de relance nos olhos do elfo “Eu sou mesmo tão irritante?” Pensava ele, afinal, quantas pessoas já não disseram isso?

—Safira Scalding.

—Ela é sua irmã?

—Esposa!

—Haha...—Por incrível que pareça, essa foi sua primeira risada na vida, e pior, em um tom claro de deboche.

—Eu... sei, tecnicamente realmente não consegui.

Sea já estava bem triste com o rumo que estava tomando a conversa, até se lembrar de um pequeno fato importante, “Eu não sou o adulto da situação?”

—Moleque, pode ir dormir logo. Amanhã eu faço qualquer uma dessas coisas... proativas, ou gentis...

—Uhum...

Sea foi deixar o garoto dentro da carruagem, afinal, ele não queria perder a oportunidade de dormir fora, ao lado de Safira.

Sendo deixado na cabine, ele fez uma pergunta:

—Ei! Eu sou um estranho, vai mesmo me deixar aqui?

—Para com esse papo... Se você fugir, aquela garota te persegue até o inferno, sério, ela pode ser bonitinha por fora mas é o capeta encarnado por dentro.

—Ela...?

—...—Sea não gostou da forma que ele mesmo definiu sua própria esposa.

Um pouco antes de fechar a porta, agora é Sea quem faz a última pergunta, para finalizar a noite

—Ei, na lagoa, qual o motivo para se apegar à vida?

—...

—Boa noite.

Era algo tão profundo, algo que nem mesmo ele entendia, que preferiu não falar.

Fechando a porta, Sea deixou o elfo negro na cabine, que mesmo não parecendo, era o lugar mais quente para dormir.

Ele volta ao lado de Safira, tendo cuidado de não invadir seu espaço pessoal.

Por mais que a razão do garoto continuar vivendo fosse um mistério, Sea pôde concluir duas coisas: ele não estava vivendo por vingança; e dois, por mais que não fosse o desejo que continuava sua vida...

—Certo... qual história eu uso?

Não era algo a ser menosprezado... não aquele olhar sedento.



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