Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 15: Prólogo

—Ahhh... Tão calmo.

Um jovem garoto loiro com roupas coladas, um arco em suas mãos, um capuz verde, botas altas e luvas mostrando os dedos. Ele estava, no momento, descansando sobre o galho de uma árvore.

—Cheirinho de natureza, que maravilha. Sem humanos, sem nada avançado, apenas o bom e velho som da natureza.

O jovem estava quase cochilando em seu galho, não importa o quê, ele não largava seu arco. Para ele era algo especial, dado por seu irmão há 13 anos, pouco antes dele partir em sua jornada para a floresta de Sherwood.

—Mais o que... dois meses? Sim, por aí e chegarei onde ele está.

Sim, era ele, Elias Locksley.

Pegou seu arco e o ajustou de olhos fechados. Posicionou uma flecha, puxou a corda e atirou.

—Pew!

A flecha voou pelas árvores, passou através de folhas, tendo um único destino: o sol. Infelizmente, isso não era possível. Ela chegou ao seu pico e fez sua trajetória de volta.

A mesma passou de raspão pelo cabelo do garoto loiro e...

—Squee!

Atingiu perfeitamente um esquilo distraído, acertando bem em sua cabeça, tudo que lhe foi dado foram seus últimos gritos de vida. O sangue preencheu seu corpo e o chão ao lado.

—Uah... Quase morri nessa brincadeira, melhor parar com isso...—Disse o garoto, quem finalizou com um suspiro.

Pássaros cantavam aos seus arredores. Bem distante ele conseguia ver alguns passarinhos azuis de barriga branca cantando.

Estentendo o indicador, alguns passarinhos voaram ao seu encontro, ficando 2 em seus dedos, e alguns em seus braços.

—Ah, natureza, isso sim.

O loiro abriu sua bolsa e catou uma fruta, mais especificamente, uma maçã, e lhe deu uma mordida.

—Hum?Vocês querem?

Notando a agitação dos pássaros, o garoto começou a cortar em pequenos pedaços com uma adaga que tinha em seu cinto, e esses pedaços posteriormente eram jogados no chão, para servir de alimento aos pássaros.

—Isso... Direitinho, assim mesmo.

Um dos pássaros não havia ido com os outros, ele havia ficado junto ao garoto. Sem dúvida era amado pelo universo, nascera com esse dom.

—O que foi, amiguinho?

O pássaro começou a bater suas asas intensamente, e com seu fino bico, deslizava-o pelo rosto do garoto, chegando a fazer cócegas nele.

—Há, há, há... para, para. Se não eu...... A... Ahhhhh!

Devido o constante movimento proporcionado pelas risadas, o encapuzado caiu do galho. Por sorte havia uma moita no local em que caiu.

—Ow! Pra que isso?—Gritou em direção ao passarinho.

O passarinho então, começou a diminuir sua altitude, até chegar em um dos pedaços de maçã do chão e pegá-lo com seu bico, sem engoli-lo, e rapidamente o levou até a mão do garoto, logo depois ele pousou em seu braço.

—Ah... Você queria me dar a maçã? Obrigado...?—Agradecia o garoto, mesmo que sua maçã inteira houvesse caído no chão, no sangue do esquilo.

Matematicamente, uma perca, mas ele não ligava pra isso, gostava de se enturmar com os pássaros, com animais em geral.

—Esquilinho... Desculpa, esse também é o meu trabalho.

Isso não o impedia de matar os animais, era necessário para ele continuar sua viagem. Era necessário, o ciclo da vida. Sendo assim, pagou respeito ao animal.

—Ah... Robin, farei o mesmo caminho que você. E em menos tempo!

Seu irmão havia ido de sua casa até Nottingham em sete meses, de acordo com uma carta que mandara. Já o garoto estava viajando há quatro, e pretendia chegar um mês antes de seu irmão mais velho.

—Irei vencê-lo... Ku ku .

Colocou suas mãos para baixo, levantou suas pernas e as desceu com força. Tudo isso para gerar um impulso, e então, ele se levantou com bastante facilidade, em um único pulo.

Sem dúvida, sua capacidade física era excepcional.

—Hum... Devo parar por hoje... Ou...?

Tentou olhar pro céu, mas infelizmente, as copas das árvores eram muito grandes, impedindo que grande parte da luz chegasse no solo. Consequentemente, não dava pra ver muito bem a posição do sol.

—Certo, vamos lá!

Escalando uma das árvores com suas habilidades e, principalmente, sua experiência, o garoto a subiu rapidamente, e colocando a cabeça para cima das folhas da copa, observou o sol.

Meio-dia.

—Hum... Devo ir logo, 2 meses caminhando passam tão rápido quanto uma flecha acerta seu alvo.

Olhando para o sol, claro, com a mão sobre os olhos para não ferí-los, o garoto aproveitou um pouco sua claridade. Já estava há 4 dias andando naquela floresta, e a luz do sol não era algo que aproveitava muito durante sua estadia.

—Ah... O sol, uma beleza incandescente, bom, devo chegar logo em Sherwood, não posso demorar.

Antes de descer da árvore, o jovem puxou mais uma vez seu arco, e lembrando-se das palavras do seu irmão:

“Não mire por muito tempo, necessista-se de muita força para puxar toda a corda”

Fez como o ensinado.

Ele havia mirado no sol, como se quisesse alcançá-lo, como se quisesse superá-lo, queria estar acima dele, mas a flecha não o alcançou, claro, ele sabia. Desde pequeno tentava, mas nunca uma de suas flechas havia chegado naquela bola de luz.

—Não foi dessa vez.

—Squee!

Mas não era no sol em que estava mirando, seus fortes reflexos e sentidos haviam visto de muito longe um pequeno esquilo arbóreo, um esquilo-vermelho.

Pulando pelos galhos das árvores, o moço de roupas coladas chegou perto de sua presa. Teve cuidado de certificar-se de sua morte.

Claro, não era necessário, afinal, a flecha havia acertado perfeitamente um de seus olhos, mas ele seguia os ensinamentos de seu irmão:

“Uma caçada é concluída assim que a presa estiver morta. Tome cuidado, se não, ela voltará contra você.”

—Tsk, quem deixaria uma caça virar o caçador...?

Puxando a flecha que estava intrinsecamente ligada ao esquilo,   o garoto a limpou e guardou em sua aljava, que se encontrava em suas costas.

Não estava perfeitamente limpa, mas dava pro gasto..

Pegou o animal e o pôs em uma pequena bolsa de couro, onde estava o outro esquilo que também havia pego.

—Janta!

Esse seria o jantar do dia.

...

Já de noite, o garoto havia andado bastante, mais de uma dezena de quilômetros antes do sol se pôr, e claro, estava com fome, mas ele sempre gostava de deixar suas flechas em ordem e limpas.

—Lá lá lá lá, sujeirinha vá, e deixe minhas flechas limpinhas.

Ele havia encontrado um rio na floresta, pura sorte. Não era facil encontrar um naquele lugar, então estava aproveitando para limpar suas flechas.

Não podia se dar ao luxo de fazer uma sempre que atirava, então sempre as pegava de volta e limpava, para tirar o cheiro e usar posteriormente. Também, a depender do nível de danos, podia consertá-la, afiar sua ponta ou, infelizmente, ter de desistir de sua posse.

O rio não estava coberto pelas copas das árvores, então era um bom lugar para aproveitar a visão da lua, e era igualmente proveitoso sentir sua luz límpida e branca no corpo.

Em suas costas, uma leve ardência, afinal, tinha uma fogueira atrás dele, feitas às pressas, e acima dela havia dois esquilos sem pelo sendo sustentados por um graveto, mortos, sendo esquentados para posterior consumo.

—Ah... Tão bom... E simples, adoro quando a floresta está calma desse jeito, foi isso que você viu? Irmão...

—Graaur!

Essa paz não durou muito tempo. Um grande rugido de fúria chegou aos seus ouvidos, ele nunca ouviu muitos rugidos raivosos desse tipo, claramente o animal estava irritado.

E ele conhecia esse som, era de um urso.

—Ah... Tsk tsk tsk, coitado do urso, brigando a essa hora? Gostaria de ajudá-lo, mas devo deixar a natureza seguir seu curso. Perdão, amiguito.

Não havia motivo para se assustar, o rugido havia vindo do outro lado da margem, ele não estava em perigo, e mesmo não querendo ver nenhuma espécie se machucar, deveria deixar a vida tomar seu próprio rumo.

—Cai pra cima, seu filho da puta!

—...!

Ouvindo vozes humanas, o garoto se assustou e, sem querer, deixou uma das flechas fluirem pelo rio.

Ele levantou sua cabeça. Bem distante viu uma silhueta, claramente um homem. Um pouco longe havia um urso, em sua clássica posição de 4 patas, com os dentes a mostra.

“Merda, merda, merda!”

Sem esperar um pedido de ajuda, o garoto imediatamente pulou no rio e começou a nadar até a outra margem, o rio não era forte, então não foi difícil tal façanha.

Chegando no outro lado, viu um homem alto, vestindo um capuz também, possuía cabelo verde e olhos amarelos, usava roupas estranhas, apenas roupas de mangas longas, todas pretas.

—Ei, senhor!Corre!

O homem logo virou sua cabeça, e o urso também.

O homem se aproximou do garoto, quem estava ensopado pelo nado e ficou ao seu lado, e apenas agora foi possível ver uma faca em sua mão.

—Ei, ei. Estava tentando matar um urso com uma faca!? Quem é idiota a esse ponto?

—Cale-se, eu vou conseguir. Sem usar magia, ainda.

—... Mágica? Vai derrotar um urso com mágica?

—Magia! Ouviu? M-a-g-i-a. Magia!

—Merda, brincamos demais.

O urso já estava incomodado pelo barulho, e estava olhando ferozmente para os 2 homens, e apenas agora foi possível vê-lo se levantando, mostrando as 2 patas dianteiras, chegando a uma altura de incríveis 3 metros!

—Um urso-pardo? Tão grande? Droga....

O garoto se assustou com tal visão, o urso já estava se preparando para correr na direção dele e do homem, um ser humano não é capaz de vencer um urso, pelo menos, não nesse mundo.

—Droga, tome isso... Então?

Ele tentou puxar seu arco de suas costas... Mas dado a correria, ele havia ficado na margem, e foi aí que o urso começou a correr até eles.

Um urso-pardo consegue correr a incríveis 50km/h! Muito mais rápido que um humano, até os mais rápidos não chegavam aos seus pés, pior ainda para manter a velocidade.

A distância entre os dois era pouco mais que 400 metros, não demoraria mais que 25 segundos para ele dar o bote.

—Moço, nade pelo rio, estará seguro do outro lado.

—E você?

—Vou tentar atrasá-lo, por favor, vai logo.

—...

Mais uma coisa que seu irmão havia dito:

“Ajude o próximo, não o deixe á mercê da natureza, ela é perigosa e complicada, humanos não têm capacidade para entendê-la, eles são idiotas, ajude-os.”

Ele não deixaria um humano para trás, mesmo que morresse no processo, não seria capaz de seguir sua vida quebrando um dos ensinamentos de seu irmão. Também, seu irmão havia contado que, pouco antes de partir, havia salvado o mundo inteiro. Se ele deixasse uma única pessoa morrer, como poderia se comparar ao seu irmão?

—Já que insiste.

O homem, sem parecer dar a mínima importância para o jovem que estava tentando salvar sua vida, segurou sua faca e pulou de costas no rio, e começou a nadar desse mesmo jeito, como se estivesse de férias em uma piscina.

—Realmente... Idiotas.

Vendo o comportamento calmo do homem, ele também conseguiu se acalmar um pouco, mas mal deu tempo, afinal, o urso já estava quase na sua frente.

Ele poderia tentar nadar também, mas ursos são exímios nadadores, não era certo de que o homem, ou ele mesmo saíssem vivos de lá.

—C-cai pra dentro!

Mesmo imerso em medo, ele não recuou.

Ele sabia, um homem com mãos nuas jamais conseguiria derrotar um urso, conhecido como um dos predadores mais temíveis no solo. Seria o mesmo que uma criança lutar contra um artista marcial.

Mas ele não correu. Esperou o urso chegar bem perto, e quando o mesmo pulou para dar o bote.

—Grauuur!!!

—Hoje não!

Ele rolou para o lado.

Sua roupa se sujou por inteiro pela lama no local. Por sorte, a mesma lama fez o urso deslizar um pouco, mas suas potentes garras o seguraram.

—Ow merda, acho que me arrependo agora.

O urso estava ainda mais irritado, e ignorou totalmente o homem nadando calmamente no rio. Ele nem parecia se esforçar para fugir.

Mais uma vez ele começou sua investida. A distância entre os dois não era grande, na verdade, era bem pequena, mas ainda sim, Elias fez o possível para dar tempo pro homem fugir.

O urso se aproximou e ficou de 2 patas, tentando segurá-lo pelo pescoço para cravar suas garras, mas o encapuzado foi mais rápido e pulou pra trás.

Não que adiantasse muito, afinal, o urso ainda era o rei das florestas.

Começou uma incessante troca de golpes, o urso com suas patas dianteiras não parava de jogá-la pelos lados, sendo patadas tão potentes quanto lâminas. Parecia que o ar quebrava a cada golpe.

Ele sobrevivia a cada um dos golpes graças aos seus reflexos  impecáveis e, principalmente, pela sorte.

Em um momento oportuno, enquanto o urso estava louco e desatento, aproveitou um deslize para, enquanto ambas as patas dianteiras estavam atacando suas pernas, acertar um chute em seu fucinho.

—Graurr!!!!

Isso o fez ficar mais irritado, e logo depois de limpar seu fucinho, voltou o ataque.

Ursos têm muita energia. Em contrapartida,  o  garoto estava muito cansado para continuar o combate.

Ele tentou correr, mas para onde ia o urso o perseguia e encurralava.

—Gah!

O urso balançou sua cabeça, e atingiu fortemente o estômago do garoto, que o fez voar alguns metros, até ser parado por uma árvore, a mesma que rachou um pouco pelo impacto.

Suas pernas estavam doloridas, suas costas machucadas, sua barriga mais ainda. Estava completamente incapacitado.

Na mesma hora, diversos sentimentos passaram pela sua cabeça: medo, ódio, raiva, angústia. Todavia, essas foram suas escolhas, não podia voltar atrás.

—Eh... Acho que vai ser aqui...

O urso pouco a pouco ia se aproximando, vendo a disputa ganha, ele não teve pressa. Diminuiu a distância lentamente, andando de duas patas para mostrar sua superioridade.

Já em frente à sua caça, o urso mostrou seus dentes, afiados como navalha... não, muito mais. Baba saía de sua boca. Sua refeição estava na sua frente.

E então...

*Shuish*

Um golpe foi desferido

Um pequeno pedaço de carne voou pelo local, seguidos de um grande grito de dor:

—GAHHHHHHHHHHHH!!!!
A perna direita do jovem havia sido dilacerada e jogada para bem longe, voou vários metros até passar por algumas folhas e se perder na escuridão da noite.

O sangue jorrava do ferimento, preenchia o chão, e então, ele percebeu, não viveria muito mais, mesmo que um milagre acontecesse e alguém o salvasse, ele não conseguiria viver muito mais.

Afinal...

Uma garra perfurou sua barriga logo em seguida.

As garras do feroz animal o perfuraram como nada, era como se atirassem em uma garrafa de vidro. Mal tinha resistência.

O corpo do garoto foi içado ao ar, e então, o urso abriu completamente sua boca, mostrando sua arcada dentária completa, uma visão bela, pelo menos para o garoto prestes a morrer.

—Irmão... Verei-te no outro mundo.

Conformado com suas decisões, e sabendo da morte certa, não havia mais nada para ele.

Sem uma perna, não seria capaz de superar seu irmão. Não superar seu irmão era o mesmo que matá-lo.

Algo que aconteceria em poucos instantes, de qualquer forma.

E para esse momento, o garoto fechou os olhos

O urso aproximou sua boca do pescoço de Elias e então...

—Eu não ligo.

—Eh!?

—E, por favor, se for contar uma história do seu passado, use a primeira pessoa. Falar de si mesmo na terceira é ridículo e vergonhoso.

Após a reunião dos invocados, Elias passou por um processo parecido ao de Sea. Agora, estava em uma carruagem. Ao seu lado, sua guia. Ambos em direção ao castelo de seus mestres para serem treinados.

—A propósito, nem sei o motivo para estar me contando isso. Eu não ligo nem um pouco para você ou seu passado.—No entanto, ela tinha de admitir que sua narração era acima da média.

A garota escolhida para lhe acompanhar possuía um cabelo curto e verde-escuro lindo, que passava por pouco de seus ombros. Seu rosto era fino e os olhos laranjas. No entanto, seus olhos caídos, cara fechada e atitude rabugenta lhe tiravam um pouco desse brilho. Elias não se importou muito e apenas lhe concedeu o primeiro nome que veio à mente “Maria.” Ela vestia um conjunto bastante natural; um jeans, o qual subia até o umbigo e ficava por cima da blusa; uma blusa, de manga média , que ia até seu cotovelo e, por fim, um tênis sem cadarço para proteger seus pés.

—Eu tava te falando sobre o outro invocado, “Sea Scalding”, não lembra? Ele desrespeitou o nome da minha família, então estava te contando minhas aventuras.

—E qual a correlação de uma coisa com a outra?

—Era que... Ah... bom...

Ela esperava por essa resposta. Vendo como ele não tinha motivos mais para contar sobre a história do urso, ela deu de braços e suspirou. Sinceramente, ela só veio nessa viagem devido as ordens de seu rei. Não tinha interesse algum no jogo em si, muito menos no invocado ao seu lado.

—Enfim...! Ainda assim, eu tô falando. Aquele cara, Sea, ele não me cheira bem. Tem algo de errado com ele! Como alguém pode ser tão cara de pau? Também, como ele pôde me socar de forma tão leviana!? Se vai me atacar, pois que não ataque como uma garota!

—...

Seu olhar desviou. Maria estava pronta para apenas ficar ignorando-o até chegarem no castelo, onde pensaria em alguma forma de desistir, ou simplesmente tentar sobreviver esses seis anos, ou... algo mais sombrio.

—Por que está utilizando mulheres como comparativo de fraqueza?

—Ah... Ah... ai, ai, ai! Tá bom, desculpa!

No entanto, neste exato momento, outra coisa lhe incomodava. Indiretamente foi atacada, e não deixaria isso passar.

Ela puxou o pulso de Elias e o torceu até que ele pedisse perdão. Seu olhar se mantinha sério, inexpressivo. Não iria aceitar esse tipo de fala.

—... Perdão, venha aqui.

Ainda assim, exagerou na dose. O pulso dele estava machucado, por isso, ela gentilmente segurou o braço e o pôs em seu colo. Em seguida, de sua palma, uma luz esbranquiçada surgiu, curando lentamente o ferimento.

Apenas por ser uma guia, sua capacidade física já devia ser superior a humanos normais, tanto é que fez o que fez com Elias. Ainda assim, ela possuía alta afinidade com magias medicinais.

—Desculpa...

—...

Ela apenas ficou em silêncio. Não tinha nada mais o que dizer.

—Enfim, só estou um pouco irritado com aquele homem, “Sea Scalding.” Blé, o nome dele chega a me dar nojo!

—Sim, sim. Muito nojo, meu mestre.—Ela decidiu que apenas ia responder no automático.

—... E também, ele sequer lutou a própria luta. Teve que vir um outro homem pra brigar por ele, um fraco!

—Sim, mestre, acredito. Esse Sea Scalding é uma péssima pessoa.

—E ainda por cima, vieram outras pessoas para nos atrapalhar. Como aquela mulhere de... pe... pei... gran...

—...

Ele também não levava jeito com mulheres. Uma pobre espécie de homem.

—Pronto, curei sua mão, mais alguma coisa, mestre?

—...

—Encarar meus seios não te fará perder a virgindade.

—E-eu sei!

A relação entre esses dois é relativamente complicada.

Elias trouxe sua mão para perto de seus olhos e a analisou com cuidado, estava perfeita. Uma mão torcida foi curada em poucos minutos.

—Uau... Isso é incrível.

...

—Ah, meu irmão era tão incrível, ele esbanjava carisma, força, agilidade, inteligência... Ah... Meu irmão.

—...

Por mais que Maria se mostrasse claramente incomodada, durante longos minutos Elias ficou falando de como seu encontro com Sea havia o incomodado. Até ela ficou irritada com isso. Ela pediu para que ele falasse sobre algo mais “divertido”, como família. Infelizmente, isso levou a longas horas sobre seu irmão.

Ela estava vermelha de tanto que estava segurando para não gritar.

—Ei, logo será noite, podemos finalizar por aqui?

—Mas eu ainda tenho histórias sobre o meu irmão!

—...—Ela levou sua mão à cabeça.

Não era criancice nem nada, ela realmente estava ficando com dor de cabeça com tudo isso. Todavia, querendo ou não, Elias era seu mestre, sua conduta moral era não ir contra suas ordens.

Felizmente, ele notou que realmente passara do ponto, então aceitou finalizar por ali.

Maria arrumou os cobertores para o sono, até que...

—Cadê ele...?

Notando que seu mestre não estava na cabine, ela saiu e começou a procurar pelos arredores. Eles haviam parado em um campo de vegetação rasa, tendo uma única e bela árvore no seu centro.

—Mestre, mestre, cadê você?—Gritava tentando encontrá-lo.

Maria se aproximou da bela árvore, talvez ele tivesse ido para lá fazer alguma coisa.

A árvore tinha vários metros de altura, chegava a bem mais que uma dezena de metros, 17.

—Mestre?

Olhando para cima, Servant viu seu mestre, Elias, deitado calmamente no galho mais alto, a 13 metros de altura do chão. Logo abaixo das belas folhas da copa da árvore.

“Como ele subiu lá?

Nem mesmo Servant tinha capacidade para subir aquilo, e isso porque ela possuía magia, como um homem sem magia havia subido?

—Mestre!

—Ah, oi. O que foi?

—... Sua cama está pronta.

—...

Como um macaco, Elias pulou em cada um dos galhos, descendo um por um até chegar à base da árvore. Suas habilidades nesse quesito chegaram a surpreender sua acompanhante.

—Não se preocupe, eu vou dormir lá encima.

—... Mas eu arrumei a cama na cabine.

—Ah... Pode dormir lá, considere como minhas desculpas por ter sido um pouco... grosso mais cedo.

—Mas eu... Hum...—Ela não viu demérito.—Se diz... Mas como subiu lá?

—Quer ajuda?—Disse Elias oferecendo sua mão para ajudá-la.

—...

Maria não sabia muito bem como responder a isso, mas realmente estava curiosa sobre como Elias escalara aquela árvore imensa.

Em poucos segundos ele já estava a alguns metros do chão, e começou a ajudá-la a subir.

Onde Elias pisava, Maria seguia, era quase perfeito como estavam em sincronia.

E em alguns minutos, os dois chegam num galho de altura mediana.

—Eh... Tome cuidado, cair é morte na certa.

—Não precisa me avisar disso.

—... Claro. Gostou da vista?

—...

Deslumbrando a bela visão do topo da árvore, Maria deu um suspiro. Aquilo era uma atitude bastante inútil, por que fizera isso?

Então, sua feição mudou um pouco, crescendo junto ao brilho dos olhos que subia.

—Ah, você sorriu! Eu vi.

—... Não, eu não sorri.

Elias quis continuar atazanando, mas não estava a fim de ser derrubado.

Vários vagalumes começaram a se amontoar em volta deles, isso não é muito normal, visto que humanos não tinham um bom relacionamento com animais nesse mundo.

Mas... Eles estavam circundando Elias, em seguida, pássaros começaram a subir em seus ombros, braços, e até pernas.

Alguns traziam comida, outros simplesmente vinham procurar por descanso porque sabiam...

Aquele era um amante da natureza.

“Isso é... bonito”

Tal cena deu uma leve pontada no coração de Maria. Aquela situação inteira era muito bela, tanto que adentrou seu coração frio.

Elias não parecia se importar com tantos animais à sua volta, e vendo a cara de dúvida de sua companheira, ele começou a explicar:

—Imagino que isso não seja muito normal por aqui, mas eu meio que nasci com esse “dom” na verdade, ser bom com a natureza a fará ser bom com você.

—Seu irmão disse isso?

—Sim... Eu o admiro bastante, sacrificando sua vida para o bem dos outros, é incrível, não?

—Hum...

—Ah, está com inveja? Quer ouvir o resto da história do urso, agora?

—...

A garota começou a demonstrar um pouco mais de suas emoções, e como resposta, virou sua cabeça, com os braços cruzados, deixando bem clara sua raiva.

—Vamos, meus amiguinhos são seus também.

Elias segurou a mão da mulher, e esperou uma resposta de permissão. Assentindo com a cabeça, e assim dando a permissão, Elias pegou um dos pássaros e o colocou gentilmente no dedo indicador da garota.

—Eh...

—Não tenha medo, ela não fará mal a você,

—É ela...? E eu não estou com medo.

—Não falei com você.

—...?...!

Depois de compreender o que Elias quis dizer com tais palavras, com a mesma mão em que se encontrava o pássaro, ela o afastou um pouco com força.

—Ow, ow, ou ou ou ou AHhh!!!

—MESTRE!

Caindo por todos os 13 metros da árvore, Elias se bate com; dezenas de galhos finos, várias folhas, ninhos de pássaro, tudo isso somado, por sorte, aliviou sua queda, senão, era morte certa.

E por fim, caiu em um pequeno arbusto que crescia junto a árvore.

—... Por quê?

Era como se o mundo quisesse ajudá-lo de alguma forma.

Uma pequena chama cresceu no coração dela, o que era aquilo que ela nunca havia sentido antes? Ela não sabia... Mas quis retribui-lo, de alguma forma.

Descendo rapidamente dos galhos, que era um trabalho que ela conseguia realizar. Foi ao encontro de seu mestre.

—Você está bem?

—Eh... Acho que sim, desculpa, acho que deveria ter avisado pra não empurrar pessoas de galhos.

—...

—A propósito, você gosta de esquilo?

—Sim...?

—Um momento.

Limpando as folhas que haviam ficado presas em suas roupas, Elias puxa seu arco dado pelo seu irmão, e puxando uma flecha da sua aljava destruída, fez um disparo.

A garota não viu motivo, mas também não o parou.

Elias mirou por pouco tempo, lembrando das palavras de seu irmão, e com perfeição, atirou em um ponto escuro.

—Squee!

Ponto escuro, que na verdade era uma moita, em que um pequeno esquilo dormia.

Tudo que ele pôde fazer foi soltar seus últimos gritos de apego à vida, antes de ser coberto pelo escuro e morrer.

—Janta!

—... Ei, você estava com raiva daquele garoto, não é?

—Hum?Sim, por quê?

—...

Ela pôs um sorriso em seu rosto. Sua face estava de costas para a lua, ainda assim, aquilo era belo. Isso fez o coração de Elias acelerar um pouco, também.

—Eu tive uma ideia.—E funcionando ou não, ela sairia ganhando.



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