Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 8: Duelo

—Por favor, ajude minha menina, ela está morrendo.

Essas são as palavras dos pais da garota quando ainda tinha seus 6 anos, na época uma perigosa doença se espalhava por sua vila, e infelizmente ela era uma de suas vítimas.

A Jovem estava de cama há 3 dias, sem dúvidas  não suportaria ficar nem mesmo mais uma noite naquele estado, mas aquele homem, ele chegou e disse uma única frase...

—Me divirta

O Mestre Chorão

...

A bela garota de olhos azuis como o mar, e cabelo vermelho como o fogo, acordou em uma cama quente, banhada de seu próprio suor. Ela se encontrava no mesmo quarto em que foi deixada para dormir.

—De novo... Hur...

Essa não foi a primeira vez que teve esse sonho, e com certeza não seria a última. Ela levou a mão e a posicionou sobre a testa. Estava com um pouco de dor de cabeça.

Seu olhar logo foi direcionado para o pouco de luz branca que entrava através de uma fresta na janela, em seguida para o resto do quarto. Antes de qualquer coisa, ela deixou escapar um bocejo, mas o calou fechando a boca.

—Sea...? A lua...?—Soltando essas palavras, seus olhos imediatamente se encheram de medo, raiva e culpa.—Ah... Aaaah......!!!

A serva olhou pelo quarto e viu os pertences de Sea espalhados pelo chão. Ele não estava lá, ele não a acordou. O que significava...

—Aquele filho da...

O tempo limite havia sido excedido. Um poderoso pulo veio em seguida, fazendo o lençol sobre si voar pelo ambiente.

Ainda foi necessário que ela abanasse suas roupas, na tentativa de retirar o suor causado pelo calor do quarto.

Logo depois abriu a porta do quarto e olhou pro relógio do lado de fora, marcando um horário muito além do combinado...

—U-uaaah... Eu vou... Uaaah...

—Algum problema?

Pouco antes de começar a chorar, a ruiva observa sua retaguarda e vê a serva-chefe do reino com sua postura de sempre, deixando claro seus anos de experiência.

É uma senhora já idosa, com seus cabelos brancos e rosto enrugado, mesmo assim mantém seu físico em perfeito estado. Ela serve o castelo há décadas, algumas pessoas dizem que ela já viveu por séculos e nunca deixou de servir o reino.

—Senhora Mami...!—Como último recurso, ela foi engatinhando até sua superior, agarrou a extremidade de seu uniforme e continuou:—Eu vô morrer...! Me salva!

—...?

Como primeira resposta, ela afastou a garota. Em seguida, segurou-a pelo cotovelo e a pôs em posição. Por fim, pediu para uma explicação detalhada, que logo foi dada, mesmo que com muito choro.

Com toda a história contada, a serva-mor respondeu:

—Hum... Vai morrer, com certeza.

—...!

Essa não era a resposta esperada.

Ela gostaria de terminar com um “arrependimento mata”, mas para o que tinha em mente, atrapalharia. A reação da jovem seria muito melhor sem essa informação.

—M-mas não tem jeito...!? Eu faço qualquer coisa...! Buuu...—Agarrando-se aos seus últimos fios de esperança, ela tentou, mais uma vez, mudar seu destino.

Ela tinha medo que o rei ficasse ainda mais irritado por ela não ter levado Sea para o local no horário combinado. Esse era o motivo de estar cogitando ser morta.

—Na verdade... tem um jeito...

—O quê!?

—Você sabe que a nomeação está acontecendo agora mesmo, não é?

—E daí!?

Mami, apenas pondo em questão o assunto da nomeação, já esperava que sua pupila entendesse. No entanto, também recordou que essa idiota nunca leu o manual, portanto, não teria a mínima ideia  de como se salvar. Isso já lhe dava o desejo de não explicar, mas suprimiu isso e continuou:

—Bom... se você acompanhar o invocado, legalmente, você será absolvida de todos suas trapalhadas... também, deixará o rei com bom humor. Agora, é apenas esse jeito.

—M-mas... eu não sei se ele...

—Você decide. Acompanha ele agora, ou morre. Mas é melhor ir rápido, acabo de me recordar, mas a nomeação já está ocorrendo...—Para dizer isso, a serva-chefe teve de dar uma conferida no seu relógio de bolso, para reafirmar:—É. Tá acontecendo.

—Eh!?

Agora não havia mais tempo para ela pensar. Aqui, ela tinha que tomar uma decisão muito difícil: De um lado, acompanhar um invocado, algo que ela sempre quis, mas não um “bom”; do outro, morrer

—...

Não precisou de muito para chegar à uma conclusão

—B-bom... eu sempre achei Sea um invocado incrível, mesmo...—Mentira.—Senhora Mami, onde está acontecendo a nomeação!?

—No salão principal.

—Bom!

Com os olhos revigorados, a menina deu um pulo ao alto, no intuito de ressaltar sua perseverança. Ela já estava prestes a correr para o local, até que sua superiora a segurou pelo ombro, virou-a para ficarem frente a frente, e arremessou um objeto de madeira, que chegava facilmente a 1,80 de comprimento, possuindo um raio bastante relevante.

Um bastão.

—Obrigada!—Recebendo o presente, mesmo que não entendesse porque, ela virou e disparou para a nomeação. Sua última chance de sobrevivência

No entanto, a sua mestra a pegou pela cabeça e a virou. Ela estava indo pelo lado errado. A jovem deu um olhar bobo e continuou o caminho.

Enquanto isso, a serva-chefe se encostou na parede suavemente enquanto recordava de memórias de décadas atrás...

Sua cabeça levemente ascendeu, para encarar a garota, que estava em dúvida se devia ir para esquerda ou direita.

—Ela nunca aprende...

No fim, ela foi pela direita. O caminho certo, mas por ter ficado em dúvida, a senhora Mami se encheu com um pouco de receio.

Repentinamente, ela tirou seu relógio de bolso. Ele é, sem dúvida, elegante. Sua casca era um ouro nobre, com uma ampulheta gravada na abertura. Mami, abrindo-o, mostrou seus ponteiros e corpo simples. Apenas os números em romano e ponteiros irregulares, que estavam completamente parados.

Ainda assim, aquilo sempre lhe traria recordações. Nas costas do relógio, há as palavras “Após o fim, há o começo”. Palavras ditas por aquele que o construiu.

—Fiz a escolha certa...?

Distanciando-se lentamente do seu lugar de origem, Mami apenas pensa em como esse invocado e essa serva a lembrava de si mesma e John no passado. É possível ouvir gotas de água caindo pelo corredor. Sua origem? Apenas especulações poderiam ser feitas sobre isso

...

—Maldição, logo agora vou me perder nesse castelo? Acho que realmente devia ter tentado decorar a planta...

Alguns minutos já haviam se passado desde o seu encontro com a mestra Mami, e a serva ainda estava perdida entre os longos corredores do castelo, que mais parecem um labirinto. Nem mesmo sua estadia por 10 anos naquele local a fez decorar todas as salas.

—Eu sempre me perco do salão principal, mas porque logo agora?—Diga-se de passagem, esse é um dos locais em que ela mais trabalha. Mas ela sempre é acompanhada.

Ainda inconformada com seu péssimo senso de direção, a serva desbravava os quartos e corredores do castelo, isso pelo menos até uma voz alta ecoar.

—Sendo assim, 237, a serva escolhida para a nomeação será a companheira do invocado pelos próximos 6 anos.

Ouvindo a retumbante voz ecoar pelos arredores, encontrou a localização da voz e começa a segui-la, era bem perto de onde estava e ela continuou ouvindo a voz soar.

—Se alguém tiver algo a falar, cale-se-

—Parem a nomeação!—Grita a garota, ignorando totalmente a última parte da frase anterior.

A serva que abrira a porta sem pensar duas vezes agora se deparava com um salão imenso, o salão em que Sea foi invocado. Cercando o salão haviam imensos pilares, os quais cada um continha um senhor/senhora de cabelos e olhos vermelhos ao seu lado.

Na sua frente há outra serva ruiva e olhos azuis, mudando apenas o comprimento de seu cabelo. Catalogada como 237, estava curvada em frente uma poderosa figura, o grande rei Júlio, o dono da origem da voz.

Ou pelo menos era isso que acontecia até sua abrupta chegada no salão, já que a cerimônia foi totalmente interrompida por sua chegada. Todos direcionaram seus olhares para a garota ofegante que abrira a porta, com olhares duvidosos.

—Então você chegou, 546...

A primeira a falar algo é 237, a serva escolhida para acompanhar Sea em sua jornada, a primeira também a demonstrar reação ao se levantar e se virar para a porta.

—Você é a garota que estava cuidando de Sea? Sua.... Hur...!!!—Como premeditado, o rei estava louco de raiva, já que essa mera serva o fez passar tanta vergonha na frente dos outros monarcas.

—...—Ouvindo isso, ela apenas respondeu mostrando a língua, enquanto fechava os punhos. Ela se aproveitou de que seus crimes seriam pagos, então não importaria.

Ao lado do público, estava a senhora Mami, que chegara lá em uma velocidade estrondosa. Vendo tal afronta contra a maior autoridade do reino, ela suspirou. Cuidou dessa garota por mais de uma década, ainda assim não conseguira pôr bons modos nessa cabeça.

Todos na sala estavam com uma grande tensão dada a súbita chegada da jovem.

Essa situação não era comum na nomeação, mas não  impossível. A nomeação acontece em todo jogo dos invocados, é um processo para escolher a pessoa mais adequada a guiar o invocado, ou seja, o mais forte e esperto seria o escolhido, ou seja, 237. Para ter certeza que o melhor guia seja escolhido, todos os servos têm direito a desafiar a escolhida, e se ganhar, possuirão o direito a guiar o invocado, que seria o objetivo de 546.

—Sim, meu rei.Sou eu mesma, estava dormin-... Me preparando para a nomeação e não pude acompanhar o invocado para a escolha de títulos.

—Você desobedeceu minhas ordens após me falar que não queria o cargo...!?

—Você tá muito caduco. Não vá colocando palavras na minha boca.—Realmente. Ela não estava nem um pouco ligando com o que iria acontecer. Isso refletia sua confiança.

Em contrapartida, o rei ficou vermelho de raiva, até mesmo os outros presentes, os nobres, incomodaram-se. Quanto atrevimento uma pessoa poderia ter para confrontar o rei de tal forma?

A serva, na verdade, possui um grande respeito. Mas, é como se você pudesse soltar toda sua indignação sem contestação, ela nunca mais teria essa chance. Então, ela aproveitou.

Perdendo-se em seus pensamentos, a jovem por um breve momento esquece o próprio motivo de estar lá, e quem a relembra é a própria escolhida.

—Então, 546.Você está aqui afim de um duelo real?

—Huh?Ah, sim. Estou aqui para isso mesmo.

—Sabia que você viria me desafiar, desde que você chegou aqui há 10 anos, eu sabia que nós iríamos nos enfrentar algum dia na nomeação.

—Uau, você parece ser incrível, nem tenho idéia de como sequer imaginou isso já naquela época. Como funciona sua predestinação? Curso de mãe de ná?

—Droga. por isso não gosto de você!

546 respondeu com uma dúvida sincera. Infelizmente, isso não foi bem recebido por sua adversária.

237 nasceu para ser uma serva, foi criada para ser uma poderosa guerreira e acompanhar o invocado.Já 546 chegou no castelo com 7 anos após ser vendida. 237 já treinava desde seu nascimento, mas não demorou muito para 546 chegar ao seu nível. No fim, ambas se tornaram rivais desde a infância, seus destinos eram lutar nesse mesmo salão desde que se encontraram.

—Você chegou sem nada, veio do nada, e está destinada ao nada. Eu treinei desde que nasci para este momento, esperei um invocado que me agradasse e me apresentei como escolhida, mas você, porque não pode ficar no seu lugar como uma boa garota?

Diante os questionamento, 546 responde:

—Heh. Quando eu ganhar essa besteira, vou ficar bem de boa. Sem crime nem nada. Por isso, pode vir! Meus delitos serão jogado pra debaixo do pano!

—...? Do que ela está falando?

—Eh...?

Predo, cansado de ouvir tanta discussão entre as duas garotas, e percebendo que isso se estenderia por um tempo prefere pará-las antes que piorasse.

—Quem te deu a idéia de que, tornando-se a companheira do invocado, seus crimes seriam perdoados?—Sua voz carregava fúria e indignação.

—E-eh...? mas o manual...

—Não tem nada sobre isso nele...—Falou 237, espontaneamente.

546, no mesmo instante, olhou para a senhora Mami no fundo, assobiando enquanto desvia o olhar. Nessa hora, ela entendeu que fora enganada.

Por sinal, seu cérebro já trabalhava em como fugir do local... Talvez se tornar uma renegada.

Antes que ela fosse fazer alguma contestação, a própria Mami foi até ao lado do rei e eles conversaram um pouco. Após isso, ele revelou um olhar de escárnio, mas também de  aceitação. Então disse:

—Certo... por sorte, você não fez nada mais que ofensas com palavras.—A princesa, ao lado do rei, ia contestar, mas a serva-chefe bateu em sua cabeça. Ela desmaiou—Por isso, se ganhar... te absolvirei...—Ele suspirou no fim.

—S-sério!?

A jovem já não sabia se agradecia sua mestra, ou a batia com toda sua força, já que ela podia ter cuidado de tudo sem forçá-la nisso. Ela estava inclinada para a segunda opção, mas deixou isso para depois.

Isso já estava demorando bastante, então o rei, após limpar brevemente a garganta, falou:

—Garota, convide sua amiga pro duelo real.

—Pódexá!—Ainda em frente ao rei, permitiu-se usar um vocabulário tão xulo.

Ficando em frente à sua adversária, 546 ergueu seu bastão e exclamou:

—Vem pro pau!

—Esse... esse não é o convite...! Você nem leu o manual!

—Vem pro pau!

—E-eu....! Urgh. Tá. Eu, 237, aceito o duelo real proposto por 546.

As duas garotas, ao citarem o ritual de duelo real, começaram a brilhar levemente, uma forte luz que logo se apaga.

—Bem, sendo assim. Nobres, peço que se retirem, ou pelo menos que se afastem

Com o aviso de Júlio, os nobres se afastam. Não que um aviso fosse necessário, afinal, muitos deles já presenciaram um duelo real, então todos já estavam se distanciando lentamente,  deixando um espaço  bastante grande para a batalha.

—Pois bem, o campo de batalha será  esse salão. Qualquer uma que sair dele, for nocauteada, ou desistir perderá. Morte não é aceitável, a última de pé será a guia do invocado, alguma objeção?

—Não, meu rei.

—Nadica!

Todos os nobres, por fim, ficaram atrás do rei, machucar espectadores é impensável em um duelo real. O campo de batalha, sendo assim, é todo o salão, contanto que não mexam com os nobres e o próprio rei.

—Então, é chegada a tão esperada hora, não é? 546.

—Eu estou casada com 3 filhos?

—Você....!!!

E assim, o duelo real começou.

...

Ambas as garotas assumiram suas posturas de luta, 237 lutava corpo-a-corpo .Já 546, nuca realmente treinou uma pose, mas seu bastão indicava uma lutadora de médio alcance. É perfeito um bastão de tamanho mediano, tanto para ataque quanto defesa.

Transbordando de raiva, a primeira a tomar iniciativa foi 237, o que é o certo, visto que seu principal objetivo é forçar uma luta de curta distância. Ela correu em direção à sua adversária.

Sua velocidade com certeza era alta, ambas são treinadas desde pequenas, e seus conhecimentos sobre magia ainda são baixos, portanto, sua velocidade não é incrível se comparada aos mais capacitados, mas para um humano “normal”, é sem dúvidas rápida.

Arrumando sua postura, 546 apenas esperou a chegada de sua oponente, investir não seria o melhor, visto que diminuiria ainda mais a distância, sem falar no cansaço que poucos segundos de corrida proporcionariam.

“Meus punhos são mais rápidos que aquele bastão lento”

Bem no momento do primeiro golpe, 546 faz algo inacreditável para o momento

—...?

O bastão que 546 estava segurando foi jogado para o alto, por um breve momento, toda a atenção de 237 que estava focada no bastão se dirigiu ao céu, perdendo sua oponente de vista.

—Sabe, você não é a única que sabe lutar de perto.

No breve momento que 237 perdia sua atenção, 546 se agachou e começou a correr com passos silenciosos, ela se abaixou para que demorasse mais até  sua localização ser descoberta, e com esse curto espaço de tempo, desferiu um soco na barriga.

—Urgh

A potência do soco foi suficiente para fazer a vítima cuspir água pela boca, apenas não foi pior pois sua palma, no último momento, interceptou o ataque de raspão.

Logo 237 recobrou seus sentidos e tentou acertar sua inimiga, que habilmente se distanciou e segurou seu bastão.

Em um combate, o normal é ter os olhos no equipamento inimigo, ainda mais contra um bastão. A jovem de cabelo longo usou disso para criar uma armadilha.

—Maldita, como ousa abandonar sua própria arma durante a luta?

—Arma...? Recebi essa coisa agora. Não é tipo um bomerangue?—Dizia a garota movendo o bastão aleatoriamente pelo ar.

—N-nunca aprendeu?Então porque trouxe essa droga?

—Hum...

—Você não sabe!?

Na realidade, ela simplesmente havia recebido de sua mestra, por isso o trouxe. Se estava lá, devia ter utilidade, então ela o usaria da melhor forma que conseguisse.

De longe, os nobres e o rei assistiam a luta.

—Rei, como está a luta?

—Ah, Mami... sinceramente, para quê tanto... aquela menina tem zero respeito. Enfim, quanto a batalha, a de cabelo longo parece ser meio avoada, mas foi a única a conceder danos reais.

—“Avoada” huh ... Sim, ela é assim mesmo. Passa essa impressão.

—Impressão?

—Desde pequena, a 237 sempre se esforçou. Do outro lado, 546 nunca teve o mesmo âmbito. Acordava tarde, dormia cedo. Não fazia as tarefas. Mas sua habilidade de adaptação são incríveis.

—Então, quem vencerá...?

 

 

 

 

 



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