Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Escolha de títulos

‘Escolha de Títulos’ foi citado duas vezes anteriormente, e Sea franziu o cenho em resposta à terceira menção. Predo deixou escapar um barulho de surpresa ao se lembrar que o jovem na sua frente provavelmente também não tinha consciência disso. Esfregou a testa para se acalmar e explicou.

— Em síntese você não tem de fazer nada. Na realidade esse é o melhor. Irei com você até uma sala onde receberá seu ‘Título’. Vai ser explicado pelo seu Título, mas simplificadamente... é um poder que cada invocado recebe a cada início de jogo.

— Não dá pra dar uma adiantada e explicar melhor não...?

Sea não via motivo para ter essa informação negada. Pelo seu entendimento era uma informação de senso comum, por isso ser dito agora ou depois não faria diferença. O rei negou com a cabeça lentamente e finalizou:

— Já houveram problemas com aqueles que já sabiam antes de ter seu Título... não todos, porém a depender do Título é problemático.

Se a negação era tão forte, e possuía experiência por trás, Sea não viu motivo para continuar a questionar. Deu de braços e suspirou como se tentasse tirar o infortúnio de dentro de si. Predo, satisfeito por ter sido obedecido, andou em frente logo após se despedir de sua família.

— Na verdade, acho que estamos quase atrasados... é, você devia ter chegado mais cedo. — pôs a culpa no sono de Sea. — Bem, se formos agora não deve ter problema.

O invocado assentiu e seguiu o rei. Também deu um tchau para a Rainha que ia ficando menor à medida que andava. Entretanto a princesa ficou afetada e respondeu com um rosnado.

— Enfim, me dá uma palinha. — uma ideia passou pela mente do jovem. — Vou ganhar um stand!? Ora!

— Quê...?

— Oh no! Oh my god!

Disparou uma chuva de socos enquanto imitava um inglês espalhafatoso. Por um certo tempo o rei se perguntou se realmente era uma boa ideia confiar nesse adolescente para o jogo. Quer dizer, não podia mudar sua escolha, ainda assim ficou receoso.

Pelo resto da caminhada Sea ficou cantarolando Landslide.

O garoto ficou ansioso querendo perguntar mais sobre sua habilidade. Se pudesse escolher, uma Spin Ball era o suficiente.

Ficou animado só de pensar no que sua habilidade seria.

— A propósito, e quanto a ruiva...?

— Todos aqui são ruivos.

— Ah, tá. — Sendo sincero ele já havia esquecido a aparência de todos com quem se encontrara fora a serva.

— Se estiver falando sobre a garota que estava te acompanhando, não precisa se preocupar. Como eu disse: vão ficar juntos logo.

Sea relaxou ao receber a confirmação. Ainda, se tivesse de viajar, poderia leva-la de alguma forma...? Pensou em uma maneira para tal.

O rei olhou para um relógio na parede e acelerou o passo. Por Sea ser consideravelmente menor ele aparentou estar fazendo uma pequena corrida. Não demorou muito até que chegassem na sala da Escolha.

— Aah! Droga, eu esqueci do mais importante... seu nome? — O rei desfrutou tanto da conversa que esqueceu de algo de tamanha importância.

— Sea. — respondeu envergonhado. O rei falou “E?”, indicando querer um sobrenome. Mas o invocado disse não ter.

— Certo...? — não entendeu direito a resposta. — Bem, pense logo. Vai ser necessário.

O rei abriu a porta e deixou com que Sea entrasse primeiro. Em seguida ele mesmo entrou e selou a entrada. Era um local bem diferente do imaginado...

No lugar em que se realizava a escolha havia 13 pessoas contando Sea e Predo. O salão se dividia em um hexágono com um pequeno círculo no meio. Em cada território haviam respectivamente 2 pessoas. No entanto, no centro era diferente: Apenas um pequeno homem verde, com uma roupa que parecia uma tanga e uma camisa, com uma das alças rasgadas.

Parecia bastante um goblin.

Ainda no quesito os participantes, deixava-se claro quem era o rei e invocado pelas roupas. Porém algo chamou a atenção de Sea: cada invocado trajava uma roupa diferente, mais especificamente de épocas diferentes...

Só agora a possibilidade de viagem no tempo passou em sua mente.

Com a chegada dos últimos representantes do reino murmúrios ecoaram pelo salão, todavia foram logo silenciados por um poderoso “Silêncio!” do goblin no meio, precedido pelo bater de uma pequena clava.

Era incrível como um ser tão ínfimo poderia estar mandando nos chefes de Estado desse mundo. Por fim, ele continuou:

— Aos invocados, três passos à frente. Fiquem sobre os pedestais — ordenava enquanto apontava para uma pequena elevação conectada ao círculo central.

Sem exceção, e comprovando a teoria de Sea, as seis pessoas de trajes “exóticos” foram à frente. No geral eram 5 homens e 2 mulheres. Contudo, havia um problema...

Em uma das partições estava um garoto desmaiado jogado contra a parede, a qual estava rachada. O homem ao lado, o mandatário do reino, estava claramente preocupado, mas fazia o possível para manter a faceta.

— Que pena, e logo com o reino de Aurel... estão perdidos... — comentou Predo para si, porém Sea conseguiu ouvir.

Predo segurou o ombro de Sea e apenas sussurrou “Não se afobe. Ele agiu de forma precipitada e perdeu o Título inicial. Apenas faça como mandam.”

Uma gota de suor escorreu pelo seu rosto, mas ele já não pretendia fazer nada por enquanto.

O goblin limpou a garganta para então apontar para um dos invocados, uma garota, que na mesma hora sentiu nojo por estar perto desse anão.

— Certo, certo, pois bem, acho que podemos começar. — com olhos severos, ele continuou: — Garota, diga seu nome. — com essa ordem, ele a apontou o dedo, e dele saiu uma bola azul. Ela parecia pura luz, e também não havia surgido do nada. Era mais como se simplesmente tivesse saído de trás de seu braço. Sea sentiu um sentimento de nostalgia...

Seu cabelo era roxo e os olhos verdes, e usava uma roupa de serva desse mundo, assim como a garota que acompanhara Sea usava. Porém as cores eram diferentes. Ela notou Sea lhe dando atenção e virou o olhar. Deu um passo para frente e bateu o punho contra o peito.

— Mina Legosier. — falou sem ter sido chamada.

A bola ficou parada por alguns instantes. Não esperava esse movimento. O rei de Mina ficou estonteado e suas mãos ficaram trêmulas por não ter feito os processos de acordo.

De repente, em vez de ser o goblin a responder, a bola se moveu de forma desengonçada para cima e baixo. Sua superfície mudou drasticamente enquanto o fazia. Várias imagens passavam tão rápido que era impossível as identifica-las. Parecia um caça-níquel. E no fim um nome apareceu na bola em Preto, com a superfície verde, por exceção do centro do nome que tinha a imagem de uma mulher.

A voz ecoou como um trovão em meio a nuvens furiosas de uma tempestade.

— ‘Detentora das impurezas,’ Hela.

Seu corpo nem levitou nem se moveu. Simplesmente uma luz branca cobriu seu rosto, nada mais. A garota ainda olhou seu para si para ver se não estava perdida, e no fim voltou ao seu canto. Mas não sem antes dar uma boa encarada em Sea.

Alguns invocados ficaram chocados, consequentemente seus respectivos reis foram acudi-los.

Sea assistiu tudo aquilo quieto.

A esfera se distanciou e aproximou algumas vezes, como se escolhesse seu próximo alvo. Terminou por escolher um garoto de cabelos grisalhos e olhos azuis. Suas vestes são um terno azul escuro, uma camisa clara e uma gravata preta, junto a calça social. Ele possuía aspectos orientais.

Ao analisar melhor o menino, Sea amaldiçoou sua sorte. Seu maior medo havia se concretizado: outra pessoa de sua era foi invocada. Poderia ser de seu passado recente ou futuro, e a depender, estava com problemas. O pior inimigo é aquele que não se conhece.

O goblin apontou com seu bastão para o garoto, indicando querer o nome. E o mesmo respondeu:

— Jun Shigami. — sua voz saiu clara e resoluta.

Por algum motivo Sea não foi com a cara dele. Não pela era de nascimento, mas sua própria atitude parecia ser... problemática.

Enfim, a bola fez as mesmas ações de antes. Várias figuras passaram pela sua superfície como se trocassem os canais de uma televisão rapidamente. Sea já imaginava o que aquilo significava...

— ‘Provindo de excelência’, Teseu.— mais uma vez o som opressor propagou pela sala.

O processo foi o mesmo: ele levitou e uma “arma” caiu sobre seus braços. Dessa vez, no entanto, o objeto foi tomou a forma de um chicote. Um emaranhado de fibras marrom com cabo dourado. O garoto soltou um sorriso irônico e voltou ao seu lugar.

A bola escolheu seu próximo alvo. O moço possuía uma altura elevada, vestia roupas coladas com um capuz alternando os tons entre verde e marrom. Usava botas e luvas com os dedos aparecendo. Suas roupas no geral parecem estar bastante surradas e esfarrapadas. Seus olhos eram azuis e o cabelo loiro.

Diferente de Jun, Sea retrocedeu. Não por ter causado uma má impressão, por suas habilidades nem pela era... não sabia explicar, mas aquela pessoa... essa existência o causava desconforto, raiva... ####...

— Eu sou Elias Locksley. — reforçou com bastante força o sobrenome.

A bola reagiu de uma maneira diferente. Sua cor característica branca mudou para um vermelho, porém após alguns segundos voltou ao branco de novo. Ela chacoalhou para os lados enquanto fazia seu processo costumeiro

 — “Enviado do som”, Apolo.

Em suas mãos caiu uma pequena lira — o instrumento musical. Sua composição parecia banhada em ouro, e os cabos platinados. Não entendeu bem o propósito daquele objeto, no entanto ficou calado e voltou ao seu lugar.

— Sea, tudo bem?

— Hum...?

Os olhos do garoto ficaram o tempo todo fixados em Elias. Até o pouco brilho que separava sua íris de uma escuridão completa caía com o tempo... bateu as mãos nas bochechas para deixar esse desvio de atenção de lado.

O goblin passou uma olhada por Sea, quem imaginou ser o próximo. Todavia ele soltou um suspiro e negou com a cabeça para si. “Decepção...?” foi tudo que Sea pôde pensar. O anãozinho virou para um homem musculoso. Sua altura chegava perto dos dois metros, e seu cabelo chegava até o ombro, de cor verde-camuflado. Já seus olhos eram castanhos.

— Você parece bem treinado. — foi o primeiro invocado a receber palavras do goblin.

— Pode ter certeza, criança deformada.

Ele não sabia o que era a existência que sequer chegava à sua cintura, então falou a primeira ideia que veio à mente. O goblin riu de forma seca e balançou a cabeça.

— Pietro Parso, com orgulho.

A esfera branca ficou momentaneamente azul, e piscou verde algumas vezes. Com essa ação Sea recordou com perfeição do momento num espaço branco entre sua estadia na biblioteca e o colapso no salão.

— ‘Inabalável’, Tetraites.

Diferentemente dos outros, o homem não foi retirado do chão. Na verdade ele forçou com o próprio peso a ficar em contato com o solo. E em vez de os itens descerem até ele, o próprio foi até os espaços brilhantes em sua frente. Contrariando as expectativas disse:

— Sou bem grandinho para os outros me vestirem.

Prometendo o que falou, em pleno ar pegou os objetos cintilante e pôs em si mesmo. Os equipamentos eram: espada curta, um grande escudo retangular, um capacete, protetores de braço e caneleiras.

Todos os reis ficaram espantados. Que lembrassem tal ação nunca havia acontecido. Todos sem exceção ficaram boquiabertos.

Mesmo Sea, porém por um outro motivo. Ele ergueu a postura e preparou para o que estava para fazer. Quando Pietro retrocedeu foi o momento.

— Sea! — esbravejou com força. — Me volta...!

Disparou com toda a velocidade em direção a esfera. Pelo que havia entendido com todo o ocorrido, aquela coisa era o Criador... quem o trouxera para cá.

Já tinha visto a saída normal, a falha e a estupenda. O que aconteceria se quebrasse esses limites e fosse além...?

Limite.

— Ah...?

— Não podia esperar nem um pouco, mesmo?

Antes que tocasse a bola o goblin desapareceu em sua frente e, por mais que sem perceber, reaparecera atrás de si. Seu bastão desceu em uma velocidade alarmante, e enquanto isso ocorria a voz soou:

— ‘Sofredor’,

— Sinceramente, para irritar o Criador...

— 'O Sofredor', Atlas.

O crânio e o objeto de madeira entraram em contato, e sem mais tardar a sua consciência se esvaiu, indo para outro lugar...

Não tinha uma boa impressão quanto a isso...



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