Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Nome

O jovem deu de costas para o salão e passou pela grande porta. Possuía uma estranha sensação de calmaria. Levou a mão à cabeça para analisar se estava com febre, porém não encontrou nada parecido. Sua temperatura estava na média.

— Você tá bem?

Uma garota se aproximou ao seu lado. Seu cabelo era longo e vermelho. A franja era um tanto quanto longa, chegando quase na metade dos olhos. Os fios se estendiam até o fim de sua cintura, e pela limpidez e brilhante cor parecia muito bem cuidado. Sua íris era de um azul-escuro como a água do mar em uma profundidade elevada, longe de qualquer luz. Sua altura era de 166 centímetros, e suas vestes eram como as de uma empregada, porém as cores características preto-branco estavam trocadas por vermelha-azul, combinando perfeitamente com sua aparência. Sua pele era bem escura, e como acessório tinha a copa de um Geranium¹ à esquerda do cabelo. 

— Ei, falei com você.

— Ah...!

O garoto ainda estava um pouco desnorteado pelos últimos acontecimentos. Tanto que nem o chamado da moça foi notado, muito menos sua aproximação. Antes que percebesse ela invadiu seu espaço pessoal um pouco curvada, com as mãos para trás. Os olhos se afiaram, deixando claro sua irritação. Claramente não estava acostumada a ser ignorada.

Deu alguns estalos com os dedos e voltou para sua postura ereta, como esperado de uma serva. O invocado voltou aos sentidos e retrocedeu um pouco como forma de proteção. Agora que pensava sobre o que estava acontecendo, tudo parecia muito surreal.

— ... — a garota continuou irritada com a falta de resposta direta, no entanto virou os olhos, pensando na situação de alguns momentos atrás e relaxou a expressão. — Bem, deve estar cansado da sua viagem. Vou lhe levar ao seu quarto. — falou enquanto erguia um braço para mostrar o caminho.

O jovem pausou por alguns segundos para pensar melhor na situação e andou em frente. A garota só se moveu depois de encarar por instantes as costas do homem em sua frente. No fim fechou os olhos e deu de braços.

Durante alguns minutos ela tomou liderança, e depois retrocedeu para o lado do garoto. Ficou por segundos o encarando de frente com o rosto bem perto do dele, parecendo ver um animal exótico pela primeira vez. O garoto de cabelos negros não chegou a perceber essa invasão de privacidade, e quando notou deu um pulo de susto para trás.

— Hum, você é gay?

— Quê...? — a súbita pergunta despertou seus sentidos. — Não, não sou!

— Não consigo imaginar outros motivos para um menino evitar contato com uma garota bonita como eu. — sua voz saiu em um tom cômico. — Bem, não é como se eu realmente achasse isso. Só queria te acordar.

O estudante ficou paralisado por um tempo pensando no quão estranha era a garota em sua frente. Não estava ciente de tudo que lhe rodeava, mas em teoria não devia ter um status elevado como invocado, e a garota em sua frente uma merda serva...? Ela agia de forma muito informal para tal.

Para esse pequeno diálogo pararam momentaneamente. A garota mais uma vez desceu os olhos, refletindo seu incômodo. Deu um pequeno tapa seguido de um empurrão nas costas do garoto. A surpresa o fez dar dois pulinhos para se equilibrar, e vendo tal atitude desastrosa a serva suspirou em desgosto.

— Daqui em frente até seu quarto é uma linha reta. Não tem porque eu ir em frente. — ao terminar de falar se aproximou ainda mais e vestiu uma expressão desconfiada. — ou você não quer andar ao meu lado?

— Não é isso...? Sem problema...?

Sua resposta não tinha sido direta, e pelo pouco que havia interagido com a garota com certeza sua reação não seria positiva. Ele estava certo, porém não pôde confirmar já que avançou de forma robótica. A garota logo o seguiu.

Durante todo o caminho até o aposento não haviam conversado nada. Não por falta de iniciativa da serva. Tendo a porta em vista ela deu um pequeno suspiro e falou:

— Você não é muito popular com as garotas. —

— Com base em que...!

Ele tentou retrucar, mas a moça virou a cabeça previamente, deixando claro que sua intenção era só deixar o comentário, certa de estar correta. O jovem, sem ter como negar, baixou a cabeça e chegou ao quarto.

...

— Bem, é aqui.

Eles já haviam entrado no quarto, e encostada contra a porta aberta a empregada disse sinalizou o local. Sinceramente ele estava um pouco decepcionado. Claro, não esperava algo grandioso, não era chegado a luxo, contudo o quarto ser completamente comum o surpreendeu, e não de forma positiva.

Deu mais alguns passos para dentro para chegar ao centro. O tamanho era três metros por quatro. Uma cama de solteiro repousava ao lado de uma janela para o resto da cidade; uma escrivaninha básica se situava ao lado da porta, tendo os materiais necessários para tarefas simples; um armário de porta dupla para guardar seus itens; e por fim um banheiro ao lado do armário.

Primeiramente ele sentou na cama. Os lençóis estavam bem feitos, por isso ficou com pena de machuca-los. Em seguida apalpou suavemente o colchão, tentando ter certeza de que tudo era real, não um sonho.

— Você... realmente está bem?

— Hum? —

— Entendo que seja denso, cada um é cada um. Mas... cuspir sangue não é algo normal, e você parece bem zonzo.

— ...

Sim, ele sabia que não estava agindo nos conformes. Provavelmente deveria estar conhecendo as pessoas que o invocaram, talvez participando de uma festa ou encontro chique. Todavia devido ao escândalo que fez em frente ao rei os planos mudaram. Não era algo programado, e para não causar maiores problemas o rei lhe levou para longe, sob supervisão de uma empregada.

— Ah, não tem com o que se preocupar. — após refletir um pouco começou a falar. — aquilo acontece desde que tenho uns dez anos. Às vezes eu só... pareço perder a consciência por uns segundos e perco o controle do meu corpo. No fim me vejo jogado ao chão com sangue saindo da boca. Demoro um tempo até voltar ao normal. — ergueu as mãos como desculpa pela forma que estava agindo. — O médico que me examinou não viu nada como uma doença ou má formação genética, só que era um médico local então... se duvidar eu tô com uma doença mortal e ele não quis me contar, haha.

Sua última fala veio seguida de um riso seco. A moça cruzou os braços e deixou escapar um sorrisinho, porém ao perceber que o desafortunado estava tentando forçar um bom clima e que não era exatamente uma piada, seu rosto fechou.

— Realmente não sou muito popular. Nem com garotas nem com nada...

Ele disse como se sussurrasse para si mesmo, todavia foi perfeitamente escutado pela empregada, quem ouvia cada palavra com atenção. Ao perceber o silêncio o garoto notou que estava falando algo que não devia, e por esse motivo cerrou os punhos sobre as coxas.

Entretanto ele não conseguia imaginar o que estava por vir.

— Uaaah...!?

— Heh. — para a reação exagerada a serva soltou um pequeno riso.

A garota rapidamente se aproximou dele, silenciosa. Com a mão direita levantou sua franja para que não atrapalhasse e lhe deu um beijo na testa. O jovem teve uma reação um pouco lenta, e depois de perceber o “assédio” sofrido tampou o local beijado com uma mão e se curvou para trás.

— Mami sempre diz que beijos curam machucados, e você parece bem dodóizinho da cabeça... interprete como um tratamento. — levou o indicador e polegar ao queixo, indicando estar pensando em algo. — mas lembre que isso não cura personalidade desfalcada. E aí não faço milagres.

Falou de forma convencida, com os braços arqueados e punhos contra a cintura. Seu rosto estava bem confiante enquanto dizia, divertindo-se em ver a reação do invocado. Não conseguia o diferenciar de uma criança pequena.

Demorou um pouco até digerir a explicação, porém agora estava completamente desperto, voltado ao seu verdadeiro eu. O choque conseguiu levar qualquer desorientação para longe. Arrumou sua posição na cama e olhou diretamente para a serva.

— Posso estar entendendo errado, mas você não tá a fim de mim, né?

—... Boboca.

Mesmo o xingando ao fim, não soou como um xingamento. Caiu mais como uma forma carinhosa de se referir a ele. A empregada notou que o invocado estava mostrando sua verdadeira personalidade, e por esse motivo ficou levemente alegre. Não suportaria acompanhar uma porta.

— Vou trazer uma comida para te animar. Alergia a algo?

O jovem negou com a cabeça, e sorrindo em resposta a serva saiu do quarto, fechando a porta. Momentaneamente pensou ter pensado de forma negativa sobre ela estar vigiando-o para não causar problemas. Deu mais uma visualizada pelo quarto.

— Certo, vamos lá!

Agora, sendo ele mesmo, poderia começar a entender a situação que lhe cercava.

— Isekai! Essa é a palavra mágica!

Primeiramente tinha de analisar seus “itens iniciais”.

Procurou pelo armário, escrivaninha e debaixo da cama. Sem sorte. Nada estava escondido por lá. Apenas roupas genéricas e toalhas estavam no armário. Foi até a pia do banheiro e derramou um bocado de água gelada no rosto na esperança de acordar desse pesadelo. Sem sucesso.

Finalmente foi até a janela do quarto. Estava de noite, provavelmente em torno das 8 tendo em vista a posição da lua no céu — se é que aquele satélite realmente era a lua. A cidade se estendia até não poder ver seu fim. Estava curioso para saber em que tipo de realidade havia sido invocado, porém não conseguira descobrir muito. Devido a baixa claridade só podia ver bem os arredores próximos ao castelo. Várias casas e pequenos prédios podiam ser vistos de onde estava. Em geral não se diferenciavam muito da Terra, fora os detalhes e composição.

As paredes e teto pareciam ser feitos de um material irreconhecível. As casas pequenas estavam a dezenas de metros de distância do pé do castelo, e por mais que seu tamanho fosse diminuto, aparentavam ser de alta classe. A luz que vinha do interior era forte e o exterior bem polido. Era difícil ver, porém conseguia ver algumas pessoas sentadas numa espécie de sofá. Imaginou ser uma reunião familiar.

Já os prédios, em contrapartida, estavam escuros e sem sinal de vida. Por esse motivo não estavam bem iluminados, então sua composição era difícil de enxergar. Talvez locais de trabalho...? Não tinha como ter certeza. No fim notou que existia uma única estrada larga partindo do castelo, sendo o resto circundado pelas moradias. Preferiu esperar amanhecer ou perguntar diretamente à serva, não gostaria de tomar decisões precipitadas.

Deu de costas e fechou a janela. Deixou as cortinas abertas para aproveitar da pouca luz da lua. Deu uma voltinha sobre o próprio eixo para dar uma última conferida no quarto antes de pensar no próximo passo, e foi quando percebeu...

— Ah! — tocou o bolso da calça.

Seu celular se mantinha no bolso, claro. Nunca o tirava de lá praticamente. O pegou e confirmou estar em boas condições. Esperou alguns segundos para que ligasse. Sua expectativa e animação foram aumentando... para serem destruídas de forma avassaladora: sem sinal.

Isso já era esperado, entretanto ainda trouxe angústia.

— Ah, droga... maldito eu! O que fazer agora...?

Um estranho hábito seu... após tanto tempo ele começou a intercalar entre falar e pensar, um hábito estranho que tinha. Como se conversasse sozinho ao alto. Entretanto, sempre sentia que, se falasse, alguém o escutaria e entenderia o que estava passando...

Deixou sua reflexão de lado.

Voltou a atenção ao celular e conferiu a bateria. 80%, daria para algumas horas no Subway Surf e ouvir várias repetições de Prelude of the Journey, talvez alguns hip hops.

Tudo que estava disponível a se fazer no ambiente fora feito. Suspirou em formato de alívio, e junto veio uma estranha sensação de cansaço. Uma tontura logo lhe abateu e caiu na cama, mas não se machucou.

A claridade da luz acima se tornou inesperadamente incomodadora e por isso a tapou parcialmente com um braço. A fadiga do que estava carregando sobre os ombros tomou conta do corpo. Queria descansar, só que ainda tinha tanto a fazer...

E bem quando estava prestes a tirar um cochilo, um som ecoou da porta.

— Oi, voltei.

A voz familiar chegou aos ouvidos. Não queria a receber desajeitado, então se forçou a reter a canseira e ficou de pés. Esperou que entrasse, porém o abrir da porta não veio. Passou pela cabeça que ela estivesse com as mãos ocupadas para abrir, e devido a personalidade não permitiria ser ajudada... tendo isso em vista foi até lá e abriu a porta.

— Ah...!

Ela garota estava de pernas curvadas, agachada olhando para o lado. Surpreendeu-se com o abrir da porta, e por isso a bandeja em sua mão esquerda quase caiu. Retraiu o braço direito para ajudar no equilíbrio. Pôs uma cara descontente pela forma que fora abordada.

— Se quiser ajuda é só pedir. — o invocado falou em um tom zombeteiro.

— ... Hunf!

A garota empinou o queixo, como se dissesse que não precisava de ajuda. Fez questão de não desviar do garoto, quem teve de pular para o lado para não colidirem. A bandeja cheia de comida foi deixada sobre a cama. Ela cruzou os braços e sinalizou com a cabeça para que ele fosse comer logo.

O invocado, sem resposta, deu de braços e foi até lá. Pegou um sanduíche e comeu rapidamente, estava com muita fome. Percebeu que a serva ficara ligeiramente sorridente com sua expressão, e interpretou como se estivesse feliz por ter sua comida aprovada. Agradeceu e foi respondido com um balançar de cabeça e um abanar de mãos.

Após terminar o lanche se deu por satisfeito e se espreguiçou. Se já estava cansado de barriga vazia, com ela cheia estava morto... balançou a cabeça para afastar o sono e se propôs a pôr em prática o que estava pensando.

— Ei, eu queria perguntar algumas coisas.

— Gentilmente recuso.

— Pois bem... Hã?

A resposta que esperava não era essa. Estava confiante que ao menos um pouco pudesse ser explicado por agora, porém a serva o negou respostas muito rápido. Bem na hora que estava prestes a questionar o motivo ela se explicou.

— Você não parece muito bem, e ainda me preocupa o quanto sangue cuspiu...  não vai te fazer bem pensar assim. Descanse por hoje, amanhã farei o que quiser.

— ...

Ficou pasmo com como suas palavras foram gentis. Com certeza ela não parecia uma garota má, porém não esperava que fosse tão cuidadosa. Tanto as pessoas quanto seu interior estavam contra si, como forma de desistência deitou na cama e se remexeu até encontra uma posição confortável.

A empregada deixou um sorriso por ter sido obedecida. Não precisou bater boca nem discutir. Andou até fora do quarto e voltou com um pequeno brinquedo em mãos. Uma pelúcia. Era um gatinho preto e infantil. Seus olhos eram grandes e brancos. Os bigodes eram pintados e seu tamanho geral pequeno. Estava perfeitamente segurado pelas pequenas mãos da ruiva.

— Esse é o meu Bichano, Mingau. Para os mais íntimos é Gagau. — após dizer isso seu rosto repentinamente ficou desconfiado, e se corrigiu. — para você é Senhor Mingau.

O invocado não soube exatamente saber como reagir. Pela lógica Mingau era seu nome formal, então Senhor Mingau significava que a pelúcia tinha mais status que ele...? Uma gota de suor escorreu pela testa.

— E...? — ele esperou que o motivo do assunto ser trazido à tona fosse explicado.

— Bem, eu tô com ele desde meus dez anos, e sempre que passava por um problema difícil ele me ajudava... — com essa confissão extremamente pessoal ela corou um pouco e desviou o olhar. — por isso, só hoje vou deixar ele cuidar de você. — sua fala foi finalizada abraçando o boneco, indicando que estava indecisa quanto ao que estava prestes a fazer.

Sua feição estava um pouco embaraçada. Era um assunto bastante infantil, e ela mesmo tinha consciência disso. O invocado ter feito uma expressão de superioridade não ajudou muito. Seu rosto fechou indignada e simplesmente empurrou a pelúcia contra o garoto.

Ele o tomou em mãos e falou:

— Engraçado, jurava que o Mingau era branco.

— Hum...? Do que tá falando?

— Ah, nada.

Seu comentário foi mais para si. Achou conveniente um gatinho fofo ter o nome de Mingau, bastante parecido com o de uma certa revista popular de seu mundo. Por ter sido um presente com boas intenções ele aceitou de bom grado.

— A propósito, — antes que a noite se encerrasse, a serva trouxe mais um assunto à mesa. — qual seu nome?

— Odeio esse filme.

— Huh...? — ela não esperava essa resposta, e até repetiu para si para confirmar se era um nome, até perceber que não. — deixa de falar coisas sem sentido! Enquanto vinha para cá eu só conseguia pensar em você como ‘ele’, ‘invocado’ ou ‘garoto’, e não gosto disso. Qual seu nome?

— Ah, meu nome é...

Ele parou enquanto se apresentava.

O motivo? Simples: não sabia seu nome.

Ridículo. Porém desde pequeno foi assim. Era péssimo em decorar nomes e rostos de pessoas que conhecia em carne e osso. Os de livros lembrava perfeitamente. Seu próprio nome não era exceção à regra. Não foi uma única vez em que se assustou com seu próprio rosto no espelho.

Não é que não quisesse.... não gostava de lembrar de seu nome pois o lembrava de sua cidade natal... sua infância... Em toda sua vida só se deu o trabalho de decorar o nome de duas pessoas. Não estava incluso.

— Bem...

Uma ideia veio à mente. Como estava vivendo num mundo de fantasia, e ninguém aqui o conhecia, qual o problema de criar um nome? Sequer lembrava do seu de nascença, então se nomear não seria um problema. Na verdade, seria obrigação.

De imediato sua primeira ação foi procurar pistas pelo quarto. Seria legal algo como... um nome lendário dado por uma mãe cósmica, um nome oriundo do vasto Texas, ou uma fusão de seu nome real com o de uma besta mágica acorrentada por um longo tempo. Independente disso tinha de ser incrível!

Ele demorou a responder, refletia profundamente. A demora fez a garota questionar sobre seu bem-estar, agora estava ficando realmente preocupada sobre seu estado mental.

O invocado não pôde deixar de acha-la fofa...

Tudo em que ele conseguia se concentrar era... a garota. Sua personalidade traquina era tão chamativa que podia-se dizer ser bem carismática. “Droga”, pensou. Só ela lhe chamava atenção.

Seus olhos azuis eram cativantes. Suas íris cor Safira eram fenomenais. Pareciam até ser claras na parte superior, e gradativamente irem escurecendo à medida que desciam. Realmente como um mar profundo....

As grandes ideias surgem das menores coisas!

Um mar calmo de águas límpidas e ondas sincronizadas. Vindo de uma distância enorme e desabando sobre a areia amarelo-pálida da praia. Seu azul perfurante...

Sem dúvidas, essas dicas levariam a um ótimo no-

—  Sea...

— Hum?

— Hã?

Antes que pudesse se decidir essas três letras escapuliram da garganta. Simplesmente havia traduzido a palavra ‘mar’ para o inglês, resultando em Sea.

“Que droga eu sou!? Um maldito autor de isekai!?” — mentalmente se reprovou pela falta de criatividade.

Já estava prestes a reverter essa situação, entretanto foi tarde demais.

— Sea... Entendo. Sea. É um nome bonito.

Ele agradeceu por esse mundo muito provavelmente não saber inglês.

A serva recitou o nome mais algumas vezes para si, e como se o segurasse calorosamente levou o punho fechado ao peito.

Sea deixou esse desastre de nome de lado e fez as devidas apresentações.

— É... Sea. E você?

— ... — seu rosto ficou ligeiramente pasmo. — Não sei como é de onde veio... mas não me foi permitido um nome. Espero que possa entender.

— Ah, claro...

As palavras da empregada vieram com um peso, parecendo terem uma certa profundidade. O invocado respondeu de uma forma boba.

Com esse assunto sendo tocado de última hora, a garota pensou ser o momento certo para terminar a noite. Ela bateu as palmas para se trazer de volta à realidade e deu alguns tapas na saia do uniforme para limpar.

— Pois bem, fui informada que a princesa deve vir lhe explicar a situação de manhã, já que não pôde hoje. Vou vir te acordar previamente, então não se preocupe.

— Ah, certo. Obrigado.

A garota se levantou e curvou, indicando uma despedida formal. Andou em direção a porta, a abriu e saiu. Antes de fechá-la, porém, deu uma última olhada em Sea para assegurar que estava bem. Ele em resposta a encarou fixamente.

— O que foi? Tá querendo um beijinho de boa noite?

— ...

— F-foi brincadeira! Isso vai me fazer parecer uma mãe cuidando do filho, e sequer cheguei à maior idade...

Pretendia apenas fazer uma última brincadeira com Sea, no entanto ele ter respondido seriamente de forma afirmativa a pegou desprevenida. Tendo esse desenrolar em mente ela se frustrou e rapidamente rebateu.

Fez um beicinho enquanto se escondia atrás da porta, apenas com o rosto à mostra.

— Você é bem popular com garotos, imagino. — Sea falou remetendo a última fala que a serva lhe havia dito antes de chegarem ao quarto.

— Pode apostar que sim, tanto com garotos quanto pessoas em geral. — dessa vez ela respondeu citando a resposta dele no meio dessa última conversa.

Sea conseguia sentir uma boa sensação emanando dessa garota. Seria isso carisma...? Mesmo com sua atitude e personalidade traiçoeiras conseguira entender o porque ter recebido o cargo de acompanhar uma pessoa com altos status como ele. Independente do desenrolar o acompanhado não conseguiria desgostar dela.

— Enfim, boa noite. *chu*

No fim logo após se despedir a garota deu um beijo à distância para Sea, levando os dedos aos lábios para sinalizar a intenção. Sea não pôde deixar de ficar encabulado com esse último ataque. Antes que pudesse responder a porta foi fechada, sinalizando o fim da conversa entre ambos.

Do lado de fora, encostada na parede, ela imediatamente juntou as mãos e as pôs na boca, soprando um pouco de ar quente de sua boca na tentativa de se aquecer tendo em vista o clima frio.

—É, não deve ser tão ruim...— com essas palavras, ela deixou o local e se dirigiu até seu quarto.

Sea pegou alguns lençóis e se adequou melhor à cama. Seu corpo estava cansado então não demorou muito que o sono batesse na porta. Agora, depois de experimentar um ambiente tão caloroso com aquela garota, tudo parecia tão frio...

Fechou a cortina e as luzes para ajudar a dormir. Não demorou que Sea praticamente desmaiasse de exaustão. Ainda assim, o fez com um singelo sorriso no rosto.

 

 


Nota:

 

1 -

Podem pensar em algo como a imagem acima



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