Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: Invocação

Um jovem se encontrava em um local escuro, repleto de breu. Vozes ecoavam por sua cabeça.

— Acorda. — Ecoava a temerosa voz pelos arredores.

Ele não queria ouvir essas vozes, escutá-las ou obedecê-las. Não gostava desse lugar, mesmo estando lotado, estava vazio. Simplesmente queria acordar desse pesadelo.

— Acorda!

Ele suplicava em não querer ouvi-las. Infelizmente, como durante toda sua vida, não podia ter controle sob sua vida.

— Acorda logo!! — um grito furioso chegou aos seus ouvidos e penetrou seu cérebro.

—... Quê? Quem... é você? — respondeu com uma voz sonolenta logo após seu despertar.

Risos e cochichos reverberaram pela sala. Não estavam rindo com ele, e sim dele.

Ao recobrar o mínimo de sua consciência notou sua situação. Porém pela sua lógica deveria dormir na cama, por que fazer algo do gênero? Ainda mais, por que num lugar desconhecido?

— Que droga você está fazendo? Dormindo na classe!?

Com as últimas falas compreendeu estar em sua sala de aula. Seus colegas de classe o cercavam, e por mais que a designação oficial deles fosse essa, permaneciam desconhecidos. O garoto ignorou.

Quem estava na sua frente era um homem alto de 1,78m de altura. Seu corpo era magro, não aparentando a existência de músculos se expondo. Seu rosto era fino com uma pitada de seriedade, característica dada principalmente por seus óculos retangulares. Seu cabelo preto e olhos azuis combinavam com seu terno de mesmas cores. Sua figura podia ser absorvida como atraente

— Professor... eu estou na sua frente uaaaah... para de gritar. Têm pessoas querendo aprender aqui — ele respondeu sem reação, claramente debochando da situação, por mais que inconscientemente. Essa atitude estava encrustada na sua carne.

— Sim, e você com certeza não é uma delas. — após perceber que o aluno não se adequaria em pouco tempo, para não interromper a aula o professor finalizou. — Eu. Você. Fim de aula.

O jovem, ainda sonolento, absorveu uma pequena parte do que fora dito e voltou à sua posição típica: pôs sua mão sob o queixo enquanto apoiava seu ombro na mesa, ainda estava sonolento. Obrigou-se a fingir prestar atenção.

...

*RING*

O adolescente acordou, por mais que um pouco desorientado. O toque do sino havia feito seu trabalho. Mesmo que quisesse incessantemente ir para casa, ele sentia como se algo o estivesse prendendo na sala, um instinto. Por esse motivo esperou.

Tudo que podia fazer era repousar sua cabeça contra a fria superfície de madeira da mesa. Esperava o juízo final.

— Garoto! — exclamou o professor. A irritação em sua face era bastante visível.

O jovem fez seu melhor para passar por desentendido. Não era sua primeira nessa espécie de situação, com o tempo vinha a experiência. Pôs um rosto bobo e falou:

— Desculpa professor...? ...?

O sorriso do professor se desfez momentaneamente, a anterior expressão de raiva estava ficando mais profunda, beirando ao ódio. Ele não conseguia compreender como esse aluno idiota, quem ensinou por vários anos, não conseguia sequer lembrar seu nome.

— Você é realmente tão idiota? — Falou o professor indignado.

— Não sou eu que passo dez horas por dia numa escola lecionando vagabundos por um salário mínimo. — sua resposta foi direta e dolorosa, claramente tentando mudar os rumos da conversa.

— Essa...! É verdade, mas não vamos fugir do cerne da questão...! Não tente dar uma de desentendido ou descolado, são dois termos que não combinam com você.

Tendo seu disfarce desmascarado, tudo que pôde fazer foi desistir. Não era bom em ludibriar pessoas. Encolheu os ombros e suspirou.

— Desembucha, vamos acabar logo com isso.

A expressão do professor já não era das melhores, agora com esse pequeno delinquente lhe zoando... seus nervos ficaram a mil.

— Por que um garoto tão esperto se desviou ao mal caminho...!? Essa é a tal semente saudável que cresce em meio aos espinhos...?

— Você tá destruindo minha autoestima... não...! Pare! Meu coração vai ser destruído! Tenha Mercy! — ele já podia sentir seu coração se partindo ao meio e depois se esmigalhar em pedacinhos.

— Sinceramente, crianças como você deveriam queimar no inferno...

— ....!? Pera, você continuou a pi-

— ! Não, chega, sem desviar mais.

O professor podia apenas querer chegar logo ao aviso que queria dar e terminar com tudo, porém a verdade é que estava envergonhado consigo mesmo por ter entrado no pequeno teatro de Undertale. Não batia com sua posição.

— Caham... — deu uma tossida para disfarçar o rosto ligeiramente corado. — Sabe por que está com problemas? — o jovem negou ligeiramente com a cabeça. — Bem, você acumulou diversas faltas, ocorrências e problemas nos últimos meses. — curto e seco foi a forma como a autoridade falou.

— Eu até me lembro das faltas, mas que problemas foram esses que causei?

O professor ergueu a cabeça em direção à luz, refletiu um pouco para pôr os pensamentos em ordem e, olhando para o garoto, elencou:

— Trinta faltas à aula, cinquenta ocorrências de perca do material escolar e setenta vezes pego dormindo durante a classe, forçando-me a parar diversas vezes de lecionar... refrescado?

O garoto se assustou. Basicamente faltou 15% das aulas do período escolar, nem ele pensou estar tão mal desse jeito. Pela primeira vez sua face mudou genuinamente, dando lugar a um rosto surpreso.

— Realmente, tô surpreso que não fui expulso ainda. — disse o garoto em um tom sincero. Fala a qual devia ser do seu professor.

O garoto direcionou a palavra ao professor, dessa vez encarando seus olhos com uma visão afiada.

— E então, o que você quer que eu faça? Duvido que tenha vindo me dizer apenas isso.

— Verdade, para não repetir de ano... de novo, tem que fazer um relatório para sábado de tarde.

— Sábado? Sussa...? Sábado...? Ei, hoje é sexta! — ele estudava no turno da tarde, então o sol já estava se pondo. Teria de terminar o relatório em pouco menos de doze horas...

Por mais que o professor tivesse uma relação conturbada com essa criança, admirava sua insistência em entregar um trabalho bem feito. Sua experiência deixava claro que a maioria dos alunos não gastaria mais de duas horas fazendo o que consideravam um bom relatório. Isso quando não copiavam. O famoso “copia mas não faz igual”, o terror dos professores.

— Bem, com metade do que você fez já deveria ter sido expulso. Tem sorte de ter uma... situação delicada. Enfim, tenho coisas a fazer, assuntos importantes a resolver, um grande projeto está para começar! Pegue esse papel, tem o nome do livro e como deve fazer o relatório. — ele entregou os itens citados. — Estou indo, até..— Disse o professor estranhamente animado.

— Uaaah... — a preguiça se fortificou no corpo do garoto ao receber a tarefa. Era fácil falar, difícil fazer.

Ele apenas foi começar a se movimentar após longos minutos de procrastinação. Por fim, pegou o papel e leu em voz alta, numa tentativa de se manter acordado.

— O jogo dos invocados...?

Ridículo. Apenas esse adjetivo se encaixava. Parecia um título mal pensado criado por um moleque de 15 anos escrevendo uma história boba. Ao menos foi o que passou em sua mente. Conseguia facilmente imaginar isso sendo postado em um site qualquer.

O garoto desistiu, entregue ao desespero. Com uma boa espreguiçada colocou seu casaco, o qual até o momento estava estirado na cadeira e se levantou. Juntou suas mãos na tentativa de aquecê-las e saiu para o corredor.

...

O adolescente estava parado em frente a porta. Sua altura excedia um pouco os 1,70m. Possuía cabelo preto e um pouco ondulado bastante comuns e olhos igualmente pretos, como se sua íris estivesse fundida à pupila. Também, sua pele era mais escura que o normal devido seu prolongado tempo sob o sol, tendo um aspecto bem moreno. Seu corpo não tinha destaques, sendo considerado bem normal, nem acima do peso nem abaixo. Suas vestes eram tão simples quanto. Seu casaco continha um bolso de abertura dupla próximo a cintura e um capuz que podia ser ajustado.

Nessa posição ele deu um bocejo. Um choque de interesses corria sua mente.

— Por mais que eu goste de vir aqui vez ou outra... é mais divertido quando não sou forçado a ler um livro e fazer um relatório em doze horas...— comentou para si mesmo como se tentasse uma técnica de automotivação.

Adentrou o espaço da biblioteca. Inesperadamente se encontrava quente, contrastando com a noite fria lá fora. Dentro estava uma figura peculiar no balcão: uma bela moça com cabelos pretos e longos, de olhos azuis, vestindo um jaleco branco com uma blusa xadrez. Ela estava sentada lendo mais um dos vários livros do acervo literário da escola.

Já tendo notado o garoto de antemão a moça fechou o livro lentamente e o colocou de lado. Em seguida virou o rosto, dando boas-vindas ao convidado. Tudo sem dizer nada, apenas com um singelo sorriso no rosto, muito bonito por sinal.

— Ah... oi, eu vim fazer um relatório. — falou timidamente.

— Se vocês, crianças, viessem ficar até tarde em dias normais, eu ganharia mais por hora extra. Agora, quando vem para cá em dias de inspeção, eu não ganho nada. Triste, não acha?

— ...

Tendo recebido um desabafo — o qual mal parecera como um, devido o tom calmo e gentil utilizado no mesmo — extremamente sincero, o colegial não teve ideia de como reagir. Deveria ignorar? Sentir-se culpado? Ou...

— Aqui, tó.

— ...?

Ele estendeu sua mão, e a mesma abriu revelando um pequeno pacote esverdeado. Uma pastilha.

— É como a melancia. Verde por fora, mas vermelha por dentro... No caso, é branca, mas... Ah, deixa, não sou bom nisso...

—... Hihi.

Vendo a cena desastrosa, a mulher começou a rir baixinho, tentando guardar suas risadas dentro da boca, fazendo o máximo para cobri-la. Em contrapartida o garoto desviou o olhar, com a feição um pouco corada. Após limpar algumas lágrimas que, por consequência, acabaram saindo, ela se acalmou. Com um sorrisinho besta no rosto, aceitou o pacote e respondeu:

—Se era para ser assim, a do anjo caindo do céu seria melhor... Haha. Se eu tivesse de adivinhar você é o tipo de cara que é legal de ter um caso rápido de um dia.

— Eu... não acho que isso tenha sido um elogio.

— Não deveria, mas com a geração que está por vir... para eles deve ser. Sinceramente, essas pessoas que só vivem pelo momento...

A moça desviou o olhar para o lado, parecendo pensativa. Pôs uma mão na bochecha e virou os olhos. Assim que abriu viu o garoto ainda em pé, esperando que concluíssem a conversa.

— Enfim, tenta a mesma com alguém com menos de vinte. Talvez eu quem esteja muito velha para esse tipo de coisa... — deu um suspiro ao pensar em como o tempo passa, mas logo voltou ao normal. — Se quiser usar o computador só pedir.

O jovem não sabia o motivo de ter feito aquela cantada — se é que tal desastre posso ser considerado cantada. Foi um impulso repentino.

— Ei, esse livro.

— Hum?

Antes de sair viu um livro simples de capa velha e mofada, era o que a mulher estava lendo. De relance, ele conseguia observar e reconhecer o livro, que contava a história de um assassino inglês fictício.

— Não parece ser do tipo que gosta dessas coisas.

— Moças delicadas não podem gostar de um bom suspense? — lançou um olhar julgador ao garoto, que respondeu não ter sido sua intenção. — Além do mais, esse livro é bem nostálgico... deveria tentar ler alguma hora.

— Nah, não curti tanto.

— ...

Ela não se importou com a rigidez na resposta.  Ficou irritada por ter dito sua experiência sem sequer ter lido.

Já quando o garoto se virava para ir até a mesa, a mulher lembrou de um ponto a mais e o chamou com o balançar das mãos

— Mesmo tendo dito aquilo, acho que você não é o tipo de pessoa para se apaixonar à primeira vista. Se encontrar alguma garotinha do seu interesse, tente passar bastante tempo com ela.

— ... — ele não pôde deixar de ficar embaraçado com essa última afirmação. Assim o fazia parecer que estava atrás de alguém.

“Estou sem camaradas por conta própria!” — mentiu para si mesmo mentalmente.

Voltando ao livro a moça percebeu algo estranho: ele estava virado. Não haviam indícios do conteúdo pela contracapa, como o garoto saberia o tipo de livro?

Curiosa, e já conhecendo o estudante por sua fama, ela foi confirmar. Na última página estava a lista de coleta, como de praxe. Surpreendentemente o nome do garoto estava lá.

Já lhe tinha emprestado muitos livros, afinal era sua função. Porém já se encontrava aqui há muitos anos, então quando teria ele começado a ler esse livro...? Muito pequeno, com certeza.

Com a fantasiosa situação, a morena mais uma vez riu, risada a qual lentamente foi se esvaindo...

Jogou duas pastilhas na boca como forma de terminar sua conversa.

...

Abriu a página um, que começava com o costumeiro “Em uma terra muito, muito distante...”

Julgando o livro pela capa era uma lenda. Bom, ele gostava de lendas. No entanto a leitura era extensa. Facilmente quatro horas focado. Para um relatório completo, então...

Na realidade sequer entendia o porque tinha de fazer um relatório sobre uma lenda desconhecida. Claro, gostaria de conhecer uma nova lenda, contudo não via motivo para ser uma tarefa escolar.

Continuou a folhear.

Seis reinos estavam perdidos sem saber o que fazer. Por esse motivo o Criador, o Deus daquele mundo, decidiu organizar um jogo com seis pessoas, cada uma para um reino. O reino vencedor poderia usufruir de graças intermináveis. Para tanto criou um ritual no qual pessoas de outro mundo protagonizariam esse jogo.

As qualificações eram simples: ser aprovado por um enviado do Criador e ter mais de dezesseis anos. Talvez se aprofundasse mais à frente sobre o primeiro ponto, que foi deixado em aberto.

Para se transportar do mundo normal até os reinos o aprovado deveria citar o ritual.

— ... — o garoto olhou para isso. A possibilidade “E se...” passou pela mente. Da mesma forma que todos já gritaram Shidori e Rasengan esperançosamente. — Para aqueles que em sua morada não querem estar, que seus passos rasos raízes querem tornar, que desejam ascender à glória, receber três desejos onipotentes e inúmeras graças, venha até mim! — citou como se um apresentador de teatro fizesse.

Depois de um tempo caiu a ficha. Imediatamente a vergonha tomou conta de si. Simplesmente baixaria a cabeça e continuaria a leitura, porém a bibliotecária o olhava com uma feição estranha... não podia ver por estar tapando sua boca com um livro, mas devido as bochechas erguidas conseguia imaginar as risadas intermináveis...

O embaraço já tomava conta do seu corpo. O rosto corou levemente, seguindo a situação. Não iria conseguir se concentrar com o pensamento daquela senhora rindo de si...

Daria um tempo, sim. Isso, um tempo.

Deitou a cabeça contra a mesa, virado para o lado contrário da bibliotecária, na intenção de esperar até que ela esquecesse.

Acabou cochilando.

...

— Acorde. —  mais uma vez a voz veio em sua mente.

Seria o professor interrompendo seu querido sono mais uma vez? Não, ele tinha o que fazer, provavelmente era a bibliotecária.

O pensamento de ser acordado por ela não pareceu uma má escolha, porém ao analisar melhor o som claramente era uma voz masculina. Raiva percorreu suas veias. Não agiria de forma tão pacífica como anteriormente....

— Cala a boca, droga! Por que...?
Estava prestes a lançar uma montanha de xingamentos, no entanto após o primeiro parou. Sua entonação ficou em dúvida, não sabia o que dizer. Em sua frente não estava a mesa ou cadeira. Na verdade... não tinha nada. Seu arredor estava repleto de um branco. Não sabia onde pisava, sequer onde devia se suportar.

Não, havia algo. Um pequeno movimento passou de relance por seus olhos. Uma pequena bola azul correu de um lado para o outro, se adequando ao campo de visão do garoto.

A incerteza percorria sua mente, no entanto, seus sentimentos estavam conturbados. Por algum motivo aquela bola passava uma sensação estranhamente... boa. De paz. Ao sentir isso a bola piscou verde duas vezes.

— Fui abduzido?

Perguntou a primeira ideia em sua mente. Claro, há poucos minutos leu uma invocação para outro reino, porém deveria se encontrar com um Deus ou ir direto para aquele mundo. Uma bola flutuante significa abdução.

A bola piscou algumas vezes, porém não disse nada.

O garoto não sabia como continuar... forçar mais perguntas, ou atacar de vez? Talvez tê-la como refém...

Não escolheu nenhuma dessas. Estava mais interessado no quão bem se sentia naquele espaço branco. Era uma situação estranha, com certeza. Deveria reagir de forma mais espalhafatosa.... no entanto não quis.

Independente do contexto em que estivesse, torcia para que essa bola não fosse Deus. Não iria para o céu se fosse o caso.

A bola brilhou com um verde resplandecente, algo parecia que ia acontecer. O garoto estendeu a mão para chegar à bola, todavia antes que pudesse toca-la... sentiu uma sensação de vazio. Negativo, vazio não era a palavra, era.... falta.

O que quer que estivesse o mantendo em pé havia se esvaído. O tempo pareceu correr mais lentamente. Ele pôde ver perfeitamente cada mínimo detalhe do seu entorno enquanto caía. Um buraco de contorno azul e interior preto, com pequenas luzes brancas estava sob si.

— Ai!

Soltou uma exclamação em resposta à queda. Fechou os olhos quando notou estar caindo, claramente na intenção de proteger os olhos. Também por reflexo. A sensação era de precipitar por um bom tempo, no entanto vendo os danos que levara, chegava perto de ter pulado um degrau.

— Hôu! Aqui está!

No entanto não deu tempo para pensar sobre os machucados.

Em sua frente estava um homem de aparência sábia, próximo aos quarenta anos, sentando sobre um trono digno de reis; ao seu lado direito uma mulher de idade aproximada; em contrapartida ao lado esquerdo estava uma moça jovem. Todos tinham cabelo e olhos vermelhos. Por fim tinha um trono menor ao lado da mais nova, porém vazio.

A situação se encaminhava para um rumo.... complicado.

— Senhores, aqui está o sétimo invocado. Comuniquem aos reinos. Preparem a escolha de títulos e a guia. Celebremos pelos próximos seis anos de jogo!

Uma salva de palmas percorreu todo o espaço.

Observando mais atentamente, dezenas de pessoas em vestes chiques aplaudiam ao seu redor, todas direcionadas ao garoto no meio, o “invocado”. Ao lado de um incrível tapete de veludo, dezenas de pilares paralelos se estendiam, todos tendo uma aparência gratificante.

Saiu de sua posição ajoelhada e levantou uma perna. Com ela de suporte ergueu todo o corpo e afiou os olhos. Entendeu rapidamente o ocorrido. Foi invocado ao mundo do livro. Claro, uma ideia fantasiosa, mas qualquer outra explicação era impossível.

Esse é o tipo de momento em que Sea se levantaria e faria uma piada “hahá, faltou o Truck-sama,” ou algo do tipo para sinalizar o isekai em que se encontrava. Contudo não desenrolou dessa forma.

Um sentimento desconhecido começou a percorrer suas veias. Passou por cada mililitro de seu sangue, indo do topo da cabeça e se acabando pelo resto do corpo. O homem em sua frente parecia querer dizer algo, mas ao perceber a mudança de tom no garoto se conteve.

O garoto avançou.

Me leva para- .... Aargh!

Ele começou a falar suas exigências. Independente do que estava para ocorrer, não havia pedido para ser invocado. Tudo que fizera foi citar uma citação boba de um livro clichê. Porém antes que conseguisse concluir seu corpo o forçou a parar. Seus membros enrijeceram, e sua figura foi ao chão. Todos os presentes ficaram em silêncio.

De sua boca emergiu um líquido vermelho-escarlate, sua textura era maleável e o gosto ferroso... sangue. Cuspia sangue pela boca. Não era uma quantidade alarmante, ainda assim era perigoso.

No instante seguinte seu corpo foi ao chão. Uma sensação estranha de prazer percorreu sua pele, eriçando seus pelos. O choque foi rápido, seguido de uma paz apaziguadora. Posteriormente se levantou como se nada tivesse acontecido. Sua expressão estava normal. Os ouvidos pareciam desfocados, porém nada grave.

— ...? — o senhor, quem Sea imaginou ser o rei, ficou estupefato. — Bem... imagino que esteja cansado de sua invocação. Vá descansar um pouco. Mais tarde darei início aos procedimentos iniciais do jogo. — fez seu melhor para manter uma faceta normal, no entanto sua voz saíra um pouco trêmula.

— ...?

O invocado ainda não havia voltado a si. Sua atenção parecia desfalcada, e seu corpo dormente. Depois de um tempo compreendeu a fala do rei e, seguindo suas palavras, virou-se em direção a uma grande porta. Lá estava uma garota fazendo sinais de mão, indicando para ir lá.

À medida que andava e os olhares o acompanhavam, sua consciência e auto-controle foram voltando. Invocação, jogo... de certa forma estava calmo.

Foi em direção à porta imerso em pensmanetos.

*...?*

 



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