Volume 2
Capítulo 74: Pura crueldade (2)
Se retirando; tendo a escuridão retornando ao seu silêncio habitual. Tudo o que poderia ser escutado era um jovem grunhindo em dor, quando lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
E por mais que se esforçasse para manter uma postura forte, seu corpo sentia uma dor indescritível, a fome o assombrava constantemente, e aquela escuridão interminável atormentava sua mente, parecendo que a luz jamais retornaria em sua vida.
Mesmo que tivesse confiança em seu pai, sabendo que provavelmente estaria em seu caminho para salva-lo. A cada dia parecia que essa esperança desvanecia de sua mente, tendo o desespero o envolvendo lentamente, corroendo seu coração.
A situação estava tão desesperançosa que as lágrimas não conseguiam parar de escorrer por seu rosto, e por mais que quisesse usar suas mãos para limpar, retornando sua frente forte. O peso dos grilhões impedia que seus braços se levantassem, tornando o único desejo do seu corpo ficar ali, sem ser incomodado.
Passos! Presença!!
E assim como o jovem pensou que teria um breve descanso diante a constante amargura que sofria nos últimos dias, passos surgiram na escuridão, quando seu corpo se enrijeceu inconscientemente, tendo suas pupilas encolhendo, olhando para o rosto da pessoa que se aproximava de seu corpo frágil e abatido.
— Não é fácil, é muito simples falar em resistir, em suportar... — Disse alguém se aproximando.
— Entretanto, por menor que seja, a esperança ainda está lá, esperando que alguém a encontre, escavando esse pequeno vislumbre de luz diante tanta escuridão... — Proclamei, lembrando brevemente do passado, tentando conter a raiva e a indignação dentro do meu coração, quando coloquei minha mão atrás do pescoço do jovem escravo, tentando lhe dar um elixir medicinal.
Porém, apesar do meu gesto gentil e cuidadoso, o jovem garoto engoliu uma parte do elixir, quando cuspiu desrespeitosamente na minha cara, olhando-me claramente com hostilidade.
— Grrr! Quem é você? — Rosnou o jovem, se recusando a ingerir o elixir.
— Um ninguém que aquela louca depravada estava mencionando anteriormente. Mas isso não é importante, com seu olfato apurado tenho certeza que pode dizer o que estou lhe oferecendo é algo benéfico, não seria melhor simplesmente beber? — Perguntei, vendo seu sorriso desdenhoso, persistindo em sua teimosia.
— Garoto. Por mais que entenda sua repulsa e rejeição aos humanos, é impossível que alguém da Tribo do Monte Branco consiga adentrar a cidade e salva-lo.
— O que desejo é muito simples, colabore, fiquei quieto e comportado, então irei te tirar desse lugar desagradável — Declarei, sentindo seu corpo tremer sutilmente, quando seus olhos animalescos me encararam violentamente.
— Então devo simplesmente confiar em você, alguém que nunca presenciei em minha vida, enquanto você salva todos os escravos? — indagou o jovem, mostrando um sorriso estranho.
— Entendo... outros já vieram, não é mesmo? — Comentei, compreendendo perfeitamente a situação em que o jovem fera se encontrava.
Afinal, diante esse mundo cruel, alguns nobres gostavam de interpretar um salvador, um herói que daria esperança ao escravo, somente para ver aquele brilho que surgiu com muita dificuldade desaparecer, demonstrando aquela face de desespero, loucura e decepção.
— Se você entende, então se perca! Eu não preciso de nenhuma compaixão! — Rosnou o jovem, cuspindo novamente em meu rosto.
E vendo sua atitude inadmissível, Celine que se mantinha nas sombras surgiu; querendo tomar uma ação, mas foi impedida por mim.
— Mantenha a guarda, se alguém aparecer simplesmente os mate — Ordenei, quando coloquei minhas mãos no entorno do pescoço do jovem escravo, convergindo minha energia a força, vendo o jovem me encarando, tendo assim um sorriso sutil em seu rosto, como se tudo se desenvolvesse como o esperado.
E diante meus olhos, sob a escuridão infindável, o jovem cerrou seus dentes, enquanto me olhava com grande violência, como se me desafiasse a fazê-lo gritar.
No entanto, após um curto período em dor, retirei minhas mãos, enquanto ele me olhava confusamente, sentindo que algo em seu corpo mudou, não conseguindo perceber ao certo do que realmente se tratava.
— O que você fez com meu corpo? — falou o jovem, olhando-me intensamente.
— Eu quebrei o selo de escravidão, mas não temos mais tempo para conversas, seu corpo está no limite — expressei, ignorando seu olhar, quando o golpeei; desmaiando-o.
Assim, cansado, levantando-me vagarosamente, arrumei minhas roupas, quando sinalizei para Celine, enquanto afagava Sharky, que entendeu minhas intenções, engolindo o menino tigre, quando me preparava para retornar.
— E os outros escravos? Iremos fazer algo a respeito? — indagou Celine, tendo uma breve oscilação em seu olhar, recompondo sua expressão indiferente de costume.
— Desculpe. Não podemos, pelo menos não agora, retornarei no futuro por eles, só espero que estejam vivos até esse dia chegar — declarei, cerrando meus dentes ao olhar na escuridão distante, conseguindo ver alguns indivíduos em péssimo estado sob a luz das tochas.
E por mais que tivesse compartilhado uma experiência semelhante, querendo ajuda-los; não podia deixar que essas emoções me levassem para um caminho sem volta, onde poderia desencadear na morte de todos os meus amigos e familiares, caso tomasse uma atitude errada.
Desta forma, consternado, impotente diante a situação, sabia que ainda me faltava força e a influência para mudar as coisas, quando retirei outro Talismã do Covil das Sombras, me adiantando a ingressar na sombra de Celine.
Em um quanto, acordando devido à luz do sol entrando pela janela, o jovem escravo abriu seus olhos, olhando com grande confusão o seu entorno.
E conforme se situava do lugar, percebeu surpreendidamente que não estava mais no subterrâneo, mas em um quarto, um bem requintado a princípio.
Confuso, pensando que toda aquela experiência não passava de um terrível pesadelo, o jovem estendeu o braço para bloquear um pouco a luz do sol, percebendo repentinamente que faltava ainda alguns de seus dedos em sua mão.
Porta se abrindo!!
Ouvindo o barulho repentino da porta, o jovem escravo se colocou em guarda, vislumbrando um jovem homem adentrando o quarto, mais precisamente, era o jovem que dizia suspeitosamente que iria salva-lo.
— Parece que finalmente acordou, hein... prepare-se, temos que sair em breve. — Apontei, vendo sua clara confusão e suspeita.
— Quem é você, porquê está me ajudando? — indagou o jovem desconfiadamente.
— Bom... eu sou o “noivo” da mulher que está te torturando por pura diversão. Quanto a porquê estou lhe ajudando. Simples, quero algo em troca. Agora, que tal dizer seu nome? Caso contrário, terei que te chamar de pequeno escravo — declarei, vendo um leve vestígio de raiva em seus olhos.
— O meu nome é Taigan, descendente da linhagem principal da Tribo do Monte Branco — declarou Taigan orgulhosamente; enquanto me observava com muita atenção.
— Hmm... Linhagem Principal, hein... isso é inesperado. — Murmurei, ficando um pouco surpreso.
A Tribo do Monte Branco era um grupo de nômades um pouco especiais. Em outras palavras, não só sua tribo não tinha um habitat fixo, mas seus membros eram espalhados por todo o continente, somente se encontrando a cada cinco anos.
Portanto, possuir a linhagem principal, que normalmente representava o seu direito de liderar a tribo, era de pouca serventia, desde que seus membros não estavam perto para formar uma força conjunta. Entretanto, as raças meio-humanas, pelo menos os bestiais, adoravam o que chamavam de Besta Sagrada.
E as pessoas que detinham a linhagem principal não somente tinha o direito de liderar seus membros de tribo, como detinha em maior quantidade o poder da Besta Sagrada em seu sangue, contendo um talento e potencial maiores que seus conterrâneos.
“Urgh! Eu estou prevendo, provavelmente terei algum problema com a pessoa que vira resgata-lo”. Pensei, querendo massagear minhas têmporas, tendo provavelmente algum tipo de obstáculo em meu plano.
— O que você pretende ao me salvar? Qual é o seu verdadeiro objetivo? — Indagou novamente Taigan, ficando mais visivelmente confortável ao saber que eu não era diferente de outros humanos em certos aspectos.
— Hehe! Você parece preparado para negociar a sua segurança, hein. Contudo, o que desejo não é grande coisa, por ter lhe ajudado, em troca, mate sua torturadora quando lhe der a permissão, simples. Certo? — indaguei, percebendo um brilho perigoso em seus olhos ao mencionar Annia.
— E quando seria isso? — Indagou Taigan, com um sorriso estranho em seu rosto.
— Você ainda não precisa saber disso. Na verdade, você pode parar de fingir; por mais que estejamos chegando a um acordo, quando seu “resgate” chegar, pela sua atitude, tudo o que conversamos será completamente inútil.
— Talvez você até mesmo tente me matar, não é mesmo? — expressei friamente. Esse jovem realmente não confiava em mim, mesmo tendo o libertado do selo de escravidão.
— O quê! Espera, o que você pretende? — Tendo suas intenções ocultas descobertas, Taigan que ainda estava bastante ferido sentiu algum desconforto ao ver a aproximação descarada do homem que o salvou, quando impotentemente, vislumbrou seu avanço, sendo golpeado — presenciando seu entorno escurecer totalmente.
Balanço! Desconforto!!
Abrindo novamente seus olhos, Taigan descobriu que estava em uma carruagem luxuosa, quando inesperadamente vislumbrou um casal de humanos em sua frente, percebendo assim como eles o encaravam estranhamente — querendo assim reagir sob aqueles olhares desconfortáveis.
No entanto, por mais que desejasse se mover; mesmo falar era impossível, tudo o que conseguia era assistir impotentemente como o casal de humanos se olhavam com algum desconforto.
— Hmm... O seu nome é Taigan, certo? — indagou Adália, vendo as emoções caóticas nos olhos do garoto que era um pouco mais novo que seu filho.
— Bem... eu não sei explicar com perfeição o que meu filho fez... então resumindo, ele o imobilizou para que não fizesse nada estúpido. Desde que sua torturadora está na carruagem ao lado, acompanhando nossa família em direção a Cidade das Águas Daguna — resumiu Adália, querendo explicar, mas as emoções turbulentas demostradas em seus olhos não pareciam de alguém colaborativo.
— Adália, não perca seu tempo tentando conseguir sua aprovação. Basta fazer o que nosso filho pediu, tente recuperar seus ferimentos, desde que você ainda não tentou usar sua energia divergente para recuperar um membro perdido — declarou Lytian a sua esposa, ignorando completamente as emoções do garoto fera.
Na verdade, Lytian somente aceitou a situação devido ao progresso de sua esposa no controle de sua energia. Caso contrário, preferia que seu filho o deixasse inconsciente dentro do Sharky.
Claro, isso não era porque Lytian era alguém sem coração, mas porquê conseguia perceber a instabilidade do garoto em sua frente, podendo causar muitas variáveis, não colaborando mesmo depois do seu filho se colocar em perigo para salva-lo.
— Hmm... Eu vou tentar... — respondeu Adália, sentindo-se um pouco insegura.
E inclinando-se um pouco para frente, tendo seu marido ajudando ao estender a mão esquerda de Taigan, Adália envolveu ambas as mãos no entorno da área lesionada, quando uma energia prateada começou a emanar do centro de sua palma, envolvendo a ferida, criando uma espécie de esboço bastante embaçado.
E diante a expectativa de todos, passando um longo tempo conforme a luz prateada brilhava em sua tonalidade única e encantadora. A expressão de Adália era de pura exaustão, quando gotas de suor escorriam por suas costas, tendo finalmente a luz se desvanecendo, quando um dos três dedos que lhe faltava estava no lugar.
— Impressionante... — resmungou Lytian quase descrente. Contudo, sua esposa de repente se apoio em seu ombro, enquanto respirava com grande dificuldade.
— Adália. Você está bem? — indagou Lytian com urgência, percebendo que algo estava errado.
— Eu... urgh! Eu preciso... descansar... — resmungou Adália com grande dificuldade, quando desmaiou.
— Adália...! — exclamando abruptamente, Lytian não pensou duas vezes, quando bateu apressadamente sob a cabeça de Sharky, que entendeu o recado, quando retirou sua língua, olhando maliciosamente para Taigan — que percebeu sua intenção, vendo aterrorizado uma força nefasta engolindo-o completamente.
Terminando assim sua tarefa, arrotando descaradamente. Sharky retornou sua língua, fingindo que era um simples saco de moedas, quando Lytian ordenou que parasse a carruagem, indo em busca de seu filho.