A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 2

Capítulo 67: Um inverno mais quente (3)

 

 

 

Na verdade, quanto mais pessoas dentre o nosso círculo se fortalecessem, melhor seria na hora de dar continuidade aos meus planos, assim como nos proteger das dificuldades que surgiriam no futuro.

— Hyan. Querido. Vocês não estão se esquecendo de algo...? — interrompeu Adália de repente, vendo seu filho divagar em seus pensamentos.

— E o que seria? — perguntei confusamente, vislumbrando sua expressão um tanto incomum.

— Acho que não lhe informaram. Bem, acredito que isso é normal, desde que você ficou ocupado com suas criações, assim como seu pai estava em reclusão devido ao seu cultivo... — expressou Adália, demonstrando uma atípica seriedade em seu semblante.

— Enfim, durante seu período de reclusão, um mensageiro da Família Dandin chegou à Cidade de Eydilian. E após uma rápida audiência, eles relembraram “gentilmente” dos laços matrimonias que nossas duas famílias se comprometeram antes mesmo do seu nascimento. — Recontou Adália um pouco hesitante, enquanto olhava para o semblante em plena mudança de seu filho.

— A Família Dandin espera nossa presença em seu território no caminho a Cidade das Águas Daguna, como pretendem que nós os acompanhemos durante a viagem, como tendo você finalmente a conhecer sua noiva — expressou Adália.

Tremor! Mau Pressentimento!!

Olhando para seus rostos, queria dizer algo a respeito. Porém, acabei engolindo minhas palavras, principalmente ao ver suas reações; onde não consegui conter o sentimento desagradável que surgiu em meu coração, quando compreendi rapidamente que as coisas não teriam o mesmo desenrolar que a minha vida passada.

Em minha vida anterior, após descobrir que era um não-praticante, a Família Dandin preferiu enfrentar a desonra, compensando a Família Fayfher, do que dar continuidade ao casamento. Essa situação ocorreu porque na época a Família Fayfher apesar de estar no controle de um Condado, tinha sua reputação e influência desmoronando lentamente com o tempo.

E apesar de serem desonrados ao quebrar o voto de casamento, a Família Dandin estava ciente que com o tempo e a queda provável da Família Fayfher, as pessoas iriam acabar esquecendo essa desonra na história de sua família.

No entanto, a atual Família Fayfher não estava nas mesmas condições. E mesmo que acabasse fingindo que era um não-praticante, a influência da Família Fayfher somente cresceria no futuro com a atual abertura da Mansão do Resplandecer Prateado, sem falar nos outros empreendimentos.

Era praticamente ilógico que a Família Dandin daria um encerramento a essa união, pelo contrário, a partir desse matrimônio, a Família Dandin teria um acesso mais fácil aos produtos da Mansão do Resplandecer Prateado, assim como poderia se aproveitar de sua influência.

E olhando para os meus pais, entendendo parcialmente como a política funcionava entre os nobres, rapidamente encontrei suas expressões indefesas, ciente que nenhum argumento poderia ser dito para encerrar esse matrimônio sem desonrar nossa família.

Não! Na verdade, não era nossa reputação a questão mais problemática, mesmo que forçássemos o encerramento desse casamento, a Família Fayfher teria que pagar uma compensação, e provavelmente os vários empreendimentos em nosso território seriam os alvos.

Portanto, após recusarmos esse matrimônio, não somente teríamos nos desonrado, como também teríamos que rejeitar a compensação imposta pela Família Dandin. Esse resultado era o mesmo que nos destruir em meio a sociedade nobre, dificultando imensamente nosso progresso futuro.

— Suspiro. Que tipo de relação temos com a Família Dandin? Também desejo saber que reputação detêm minha futura noiva — perguntei impotente, sentindo os olhares surpresos de Elise e Celine, como se não conseguissem acreditar nas minhas palavras.

— Bem, não sabemos muito sobre a Jovem Dama Annia, a não ser, que é dois meses mais velha que você... Quanto a Família Dandin, eles tem grande autoridade dentro da Cidade Fortaleza de Gorea — relatou Lytian, admirado com a compostura de seu filho.

— E apesar de não serem os governante dessa região, como uma fortaleza construída bem em meio as planícies de pirideta, a Cidade Fortaleza de Gorea é uma passagem obrigatória para o centro do reinado. E sendo os vassalos diretos do Visconde de Gorea, eles são os responsáveis pela administração do território, desde que a família principal do viscondado normalmente mantem sua residência na capital real.

— Mas o principal problema com essa situação é que a Família Fayfher tem um relacionamento de longa data com a Família Dandin. E devido a esse relacionamento que conseguimos manter nossa posição na Aliança Central da Região Sudoeste, como nos mantendo dentro da comunidade nobre da região... — explicou Lytian.

— Enfim, quebrar esse tipo de relacionamento traria uma péssima reputação a nossa família. Desonrados, sem uma justificativa credível, ocasionaria em muitos territórios se mantendo longe de nossa influência, como incapacitaria a criação de tratados benéficos para o desenvolvimento de nosso território, portanto... — Relatou Lytian um pouco impotente, sabendo como as coisas não seriam fáceis.

— Portanto... acredito que não temos alternativas além de conhecer minha noiva — comentei sarcasticamente, perdendo o sorriso habitual em meu semblante.

Encerrando assim o assunto, a atmosfera ficou claramente desagradável; quando os servos de repente nos interromperam, pedindo nossa permissão para servir o jantar, ao qual apreciamos a refeição diante um magnifico céu estrelado, acabando por ter cada um se retirando para seus aposentos, descansando brevemente para darmos continuidade a viagem.

Nos próximos cinco dias, a viagem foi bastante tranquila, e com a ajuda dos novos instrumentos mágicos, não nos deparamos com quaisquer bestas monstruosas. Na verdade, chegamos até mesmo encontrar outros comboios indo inesperadamente para a Cidade de Eydilian, ao qual deixaram sua vigilância de lado ao descobrirem nossa identidade.

E impressionado, alguns comerciantes até mesmo ousadamente ofereceram seus melhores produtos aos meus pais, prestando cordialmente sua assistência, tudo em busca de pavimentar um relacionamento mais próximo, onde meus pais recusaram sua cortesia; dando continuidade a viagem.

Então, após vários dias, avistamos a Cidade Fortaleza de Gorea, presenciando seus campos com diversos animais, assim como o orgulho de seu território, a cavalaria, que era evidentemente bem organizada, se prontificando diligentemente na proteção de suas terras.

E vislumbrando essa vista, tendo nossa presença revelada. A cavalaria em prontidão se aproximou de nosso grupo, oferecendo respeitosamente sua orientação em direção a Mansão da Família Dandin.

Um pouco surpreso com seus preparativos; sob sua orientação, passamos com relativa facilidade pela estrada, que se ocupava com um tráfego incessante de comerciantes e aventureiros, quando chegamos diante a um dos quatros portões principais de sua cidade.

E enormes a princípio, sendo reforçados por gigantescas colunas de pedra, relembrava as pessoas do motivo dessa cidade ser apelidada de Cidade Fortaleza de Gorea.

Afinal, com sua muralha extremamente alta, erguida em uma formação circular, a cidade tinha duas estradas principais que se cruzavam, dando surgimento a quatro portões de entrada, localizados exatamente nas quatros direções cardeais.

E conforme adentrávamos em seus domínios, onde as casas começavam modestas e particularmente humildes no entorno da muralha.

No decorrer do terreno, indo em direção mais próximo ao centro, as residências se tornavam vagarosamente mais luxuosas, dando finalmente visão ao Grande Castelo da Família Gonares.

E sendo basicamente semelhante a uma grande fortaleza, seu castelo compartilhava de uma única torre de vigilância, que era rodeado por três tipos de camadas protetivas, dando andamento ao interior do castelo, que apesar de pequeno ao ser comparado a de outros nobres, era requintado e surpreendentemente seguro, tendo sobrevivido a muitas guerras desde sua construção.

Contudo, nosso objetivo não era o magnifico castelo; mas a maior mansão ao seu lado, ao qual fomos prontamente escoltados, tendo o privilégio de vislumbrar parcialmente as formações defensivas que cercavam a fortaleza da Família Gonares.

Desta forma, sendo deixados no recinto exterior pela cavalaria, o Patriarca da Família Dandin estava nos esperando com sua esposa, assim como um grupo de servos, quando gentilmente deram boas-vindas a nossa chegada.

— Vossa Graça! Lady Adália! Sejam bem-vindos, é uma honra para minha família tê-los em nossa presença — expressou Dougan Dandin, vestindo elegantemente um jaleco arroxeado, com pequenos detalhes em branco, usando um colar com peças em ouro, tendo pequenas rubis em seu centro.

Sinceramente, apesar de sua cortesia, seus modos não me enganavam, deixando uma péssima impressão; pois percebi que sua atitude em relação a minha família era soberba.

E observando seu rosto com sua barba extensa, tendo cabelos cacheados chegando ao pescoço, seu sorriso aparentemente “sincero” não me deixava confortável em hipótese alguma, ao qual observava suas proporções razoavelmente vantajosas em completo silêncio.

E diante o meu olhar, como se sentisse a minha constante atenção, Dougan Dandin virou seu rosto em minha direção, enquanto me observava atentamente, fazendo o mesmo com Elise e Celine, que me acompanhavam logo atrás.

E conforme seu sorriso desaparecia, antes que pudesse dizer algo diante meu olhar excessivo, meu pai interveio, dizendo:

— Dougan. Acredito que faz muitos anos desde seu último encontro... Deixe-me apresenta-lo, esse é meu filho, Hyan — Expressou Lytian, dando-me um olhar de relance, ao qual não consegui evitar de suspirar em meu coração.

— Vossa Senhoria. É uma honra conhece-lo, espero como herdeiro da Família Fayfher que possamos estender nossa relação indeterminadamente... — Relatei cordialmente, indicando que Elise e Celine me acompanhassem ao se curvar, sabendo que Dougan Dandin possuía o título de Barão.

— Oh! Eu não esperava que o pequeno garoto daquela época se tornaria tão memorável. Na verdade, escutei muitos rumores sobre os seus feitos atualmente, e me sinto honrado com essa união, ao qual espero que o Jovem Mestre Hyan seja paciente com minha filha — declarou Dougan, demostrando um sorriso caloroso, expressando um leve desgosto ao vislumbrar novamente Elise e Celine ao meu lado.

Assim, sem mais palavras, Dougan indicou para adentrarmos sua residência, ao qual seguimos silenciosamente, observando no processo sua coleção de peças de arte, assim como estátuas de poderosas bestas monstruosas entre os corredores; algo extravagante, de fato, quando chegamos a um grande salão.

— Vossa Graça. Acredito que sua viagem tenha sido cansativa, permita-me apresentar alguns pratos especiais de nosso território, espero que seja de seu agrado — falou prontamente Dougan, sentando na mesa em meio ao grande salão, quando indicou para seguirmos o exemplo.

E tendo todos se acomodando, o Barão Dougan começou a discutir alguns assuntos relacionado ao território com meu pai, enquanto minha mãe se disponibilizou a conversar com sua esposa.

Desta forma, deixado praticamente sozinho, não tive escolha além de esperar pacientemente, tendo todos esperando a refeição.

Entediado, sem ninguém para conversar, olhei de relance para Elise e Celine, que estavam sentadas em um lugar afastado de ambas as famílias, o que acabou me deixando preocupado, quando olhei sutilmente para suas expressões, inseguro que fizessem algo indevido diante a ocasião um tanto quanto desagradável.

Entretanto, descobri agradavelmente que ambas não pareciam estranhas a atmosfera, onde subitamente vislumbrei de relance um sorriso presunçoso no rosto de minha mãe, que sinalizou orgulhosamente em minha direção.

Perplexo, entendendo quase de imediato sua atitude, compreendi que minha mãe devia ter ensinado a etiqueta básica da nobreza para as minhas duas companheiras, tornando-me a suspirar internamente, tendo medo de suas verdadeiras intenções.

Suspirando, não querendo dar continuidade a satisfação de minha mãe, me mantive observando o entorno, enquanto usava o meu Sentido Espiritual para aprender mais sobre o domínio e a intimidade da Família Dandin.

Passos! Chegada!!

No entanto, conforme me concentrava no meu Sentido Espiritual, encontrando inesperadamente algo de suma importância. Nesse exato momento, enquanto todos conversavam, alguém chegou no grande salão.

E se tratando da Jovem Dama da Família Dandin. Ela vestia um vestido despojado na cor amarela, contendo um cinto requintado e fino em sua cintura.

Em um primeiro vislumbre, a jovem aparentava ter uma boa aparência, contendo cabelos cacheados na altura dos ombros, com olhos sutis e delicados.

Porém, suas verdadeiras emoções não escaparam do meu sentido espiritual, e percebendo como tentava esconder seu desgosto ao vislumbrar de relance a minha família, não tive uma boa impressão, quando a observei ficando compostamente ao lado de seu pai.

— Vossa Graça. Essa é minha filha, Annia — declarou Dougan, dando um olhar de advertência a sua filha, que devolveu seu gesto com um lindo sorriso, enquanto observava todos os presentes.

E diante sua presença, tendo seus olhos parando repentinamente em minha figura, eles se iluminaram brevemente ao vislumbrar minha feição. Porém, essa mudança foi muito breve e sutil, se transformando em algo completamente diferente ao presenciar Elise e Celine, podendo sentir um leve sentimento de desgosto escondido em seu olhar.

— Annia. Sente-se em frente ao Jovem Mestre Hyan. Ele é seu noivo, acredito que tenham muito a conversar… — Ordenou Dougan casualmente, voltando a conversar com Lytian.

Um pouco contrariada, Annia se sentou em minha frente, quando seus olhos as vezes se dirigiam a Elise e Celine, que estavam quietas, não tendo a autoridade para se meter entre os assuntos da nobreza.

Entretanto, por mais que se mantivesse composta, emanava claramente uma sensação desagradável, ao qual percebendo esses sutis sentimentos, ambos escolhemos permanecer em silêncio, quando Annia decidiu tomar inesperadamente a iniciativa; dizendo:

— Jovem Mestre Hyan. Seria desagradável se você apresentasse suas acompanhantes? — indagou Annia, não conseguindo esconder completamente sua aversão.

E ouvindo suas palavras, diante seu claro descontentamento, todos os presentes inconscientemente direcionaram sua atenção em minha direção.

 

 

 

 

                      



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