A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 9: O Intenso Treinamento

 

— Está pronta? Irei revidar agora… — declarei, vendo Elise assentindo com seriedade, enquanto erguia seu escudo pentagonal na altura do peito, constituído em sua maior parte de madeira, contendo uma leve borda de metal, escondendo assim uma parte de seu rosto.

Nos últimos três meses, ajudei no treinamento intensivo de Elise, e devo dizer, não foi fácil. Se acostumar com o uso de um grande escudo, acompanhado de uma espada longa, o peso que tudo isso exerce sobre o corpo sem o auxílio da energia interna era algo que causava uma imensa exaustão.

Sinceramente, não pensei a princípio que Elise conseguiria se adaptar a esse novo estilo, mesmo sob a melhoria constante de nossa técnica secreta.

Mas para a minha surpresa, contrariando minhas expectativas, Elise seguiu fielmente o treinamento rigoroso, progredindo esplendidamente em suas técnicas de combate.

Desta forma, não somente sua defesa se mostrou bastante robusta, mesmo seu ataque começou a demonstrar lentamente sua letalidade, acabando por se adaptar ao seu novo estilo de combate.

— Estou pronta! — respondeu Elise, avançando em seu ataque.

Assim, varrendo uma estocada com sua espada longa, me esquivei por pouco de seu ataque, enquanto girava meu corpo, sentindo simultaneamente o vento provocado por sua espada, quando a golpeei maliciosamente sem nenhum aviso.

No entanto, como se esperasse essa reação, Elise também girou seu corpo, mas em uma direção oposta, varrendo sabiamente seu escudo para colidir com minha espada.

Colisão!!

Sentindo a força repulsora envolvendo minha espada, acabamos nos separando brevemente, quando era minha vez de investir.

Deslizando meus pés pela terra, firmando assim minha postura; avancei imediatamente, indo de frente para Elise, quando fingia executar uma estocada, ao qual ela levantou prontamente seu escudo.

Sorrindo, reprimindo a malicia que surgiu em meu coração. Conforme Elise se preparou para o ataque, desapareci de sua visão, usando assim seu próprio escudo para esconder minha presença.

Desta forma, desferindo um golpe entre a brecha em sua postura, logo após seu escudo, interrompi o meu ataque a poucos centímetros de seu rosto, quando ela se assustou com brilho frio da minha lâmina.

— Hah! — Surpreendida, Elise recuou, levantando inconscientemente uma postura mais fechada, quando sentiu seu coração pulsar intensamente.

— Elise, sua defesa é bastante robusta, isso é um fato. Entretanto, nunca se esqueça, ela pode também acabar por ocultar sua própria visão.

— Por isso, você sempre deve estar ciente desse fato durante suas batalhas, ainda mais quando seu oponente é ágil. Nunca o perca de vista… — Aconselhei, vendo sua expressão levemente pálida.

Dito isso, se recompondo gradualmente ao escutar os meus conselhos. Elise se acalmou, quando olhou em minha direção, tendo seus olhos brilhando com intenso desejo de batalha.

Assim, adentrando novamente em uma postura de combate, demonstrando que estava disposta a lutar de novo. Executei o mesmo movimento, varrendo uma falsa estocada, enquanto percorria a sua lateral, alvejando novamente o seu rosto.

Elise, como se entendesse minhas intenções, demonstrou seu avanço com ações. E recuando rapidamente seu pé esquerdo, Elise moveu sabiamente seu corpo, ficando novamente de frente com seu adversário, quando golpeou diagonalmente com sua espada.

Entretanto, surpresa com a reação do seu oponente, Elise ficou deslumbrada com o inesperado resultado.

Essa situação ocorreu porque durante seu movimento, seu oponente interrompeu bruscamente seu avanço, quando marcas bastante aparentes se formaram na terra, quando se inclinou apressadamente, tendo sua espada roçando levemente o seu rosto, quando conseguiu com sucesso se esquivar de seu ataque.

E diante esse incrível movimento, foi quando seu oponente encontrou a abertura que precisava, fazendo o seu contra-ataque.

Elise, que observou estupidamente seu oponente girando seu corpo, se livrando da tensão provocada por suas ações anteriores; olhou surpreendidamente a espada do seu oponente parada em seu pescoço, onde ainda tentava se recompor de seu próprio movimento.

— Fuh! Esse foi sem dúvidas um bom movimento. Contudo, nunca se esqueça de movimentar seus pés, é algo fundamental em uma batalha…

— Se não tivesse esquecido, talvez esse ataque tivesse passado perto, mais ainda não teria lhe atingido, dando continuidade ao nosso confronto — esclareci, um pouco cansado do último movimento.

— Enfim, é o suficiente por hoje… vamos encerrar, tenho ainda que ir caçar na Floresta da Perdição Rubra; caso contrário, não teremos sangue bestial o suficiente para dar continuidade a nossa técnica secreta… sem falar… estamos ficando sem dunares — comentei, suspirando internamente.

— Desculpe. Se não fosse por minha presença… — murmurou Elise, abaixando sutilmente seu rosto.

— Pare! Não continue! Você sabe que não gosto quando age assim… — Bufei, a repreendendo.

— Além disso, ver seu progresso é mais do que satisfatório. Portanto, pretendo aumentar a dificuldade de nosso treino, preparando assim novos tipos de treinamento… Espero que esteja preparada — declarei, vendo sua concordância, assim como sua determinação.

Dito isso, lhe mostrando um leve sorriso, Elise retribuiu com uma linda expressão, quando voltamos calmamente para a pousada, conversando agradavelmente pelo caminho

 

***       **       ***

 

Adentrando a Floresta da Perdição Rubra, tirando a minha máscara; comecei cautelosamente a procurar por bestas monstruosas.

Nesse período, após acompanhar Elise em seu treinamento, assim como as constantes caçadas, acabei ficando cada vez mais proficiente em coordenar meu corpo, como acabei perdendo um pouco da minha aparência apática, aumentando assim a minha força de combate.

Infelizmente, ao meu contragosto, ainda tinha um grande empecilho, que era não possuir nenhum instrumento mágico de armazenamento, não conseguindo carregar assim muito dos meus despojos, tendo que sabiamente escolher o que queria trazer de volta para a cidade.

Arbusto! Passos!

E assim como ponderava sobre minha atual situação, se aprofundando cada vez mais na floresta nesses últimos dias, a partir do meu sentido espiritual, percebi um Lobo Assassino se aproximando furtivamente.

Exultante com o surgimento da minha primeira presa; diferente de seus contemporâneos, o Lobo Assassino não gostava de caçar em matilhas, sempre dando prosseguimento as suas caçadas solitariamente.

Desta forma, contendo inesperadamente um terceiro olho em sua testa, o Lobo Assassino tinha esplendidos sentidos, o tornando bastante hábil e letal, como tinha preferência em executar emboscadas, evitando assim confrontos diretos.

Enfim, alegre com sua aparição, o que me distinguia de outros aventureiros. Me mantive atuando normalmente, sem o alertar que sua presença tinha sido exposta, enquanto o observava em silêncio através do meu sentido espiritual.

E sentindo o Lobo Assassino se arrastar lentamente, se aproximando cada vez mais, escondendo sua estatura em meio a vegetação. Vislumbrei a besta romper abruptamente com o seu avanço, considerando o suficiente de nossa distância para o sucesso de sua emboscada.

Infelizmente, para o seu azar, observando calmamente sua figura pulando da vegetação. Usei decididamente minha energia interna para interferir em seus sentidos, desviando por pouco de suas garras, quando o cortei em sua parte inferior.

— Caiimmm!!! — Chorando lamentavelmente, o Lobo Assassino caiu no chão, rodopiando assim algumas vezes, quando virou com dificuldades para mim, rosnando ameaçadoramente, enquanto demonstrava confusão em seus olhos, exibindo com ferocidade os seus dentes.

Bufando, ignorando sua aparência ameaçadora, avancei. Desta forma, o Lobo Assassino, percebendo que sua intimidação foi ineficaz, pulou novamente, tentando assim tirar vantagem do seu tamanho.

E ciente que esse seria provavelmente nosso último confronto, a criatura tentou seu último e mais poderoso recurso, lançando-me um ataque espiritual, enquanto abocanhava em minha direção.

Entretanto, sendo um ataque espiritual bastante semelhante as minhas habilidades, devido a minha afinidade e maestria, possuía uma grande resistência a esse tipo de ataque, tornando o seu maior trunfo ineficaz.

Mordida! Choque!!!

Defendendo sua abocanhada com minha espada, conduzi seu peso levemente para o lado, quando desferi um chute com toda a minha força sobre sua ferida.

E soltando minha espada, chorando miseravelmente devido à dor e a incredulidade que o envolveu, a criatura ficou momentaneamente exposta, onde não perdi a oportunidade, girando impetuosamente o meu corpo para ganhar impulso, cortando assim em direção ao seu pescoço.

Espirro! Baque!!!

Caindo, tremendo por um curto período, o sangue se espalhou, tendo a vida rapidamente se esvaindo de seus olhos.

E arfando pesadamente por um curto intervalo, observei minha espada cravada em seu pescoço, quando presenciei desconfortavelmente o seu terceiro olho aberto, me fitando venenosamente.

— Tsk! Não consigo me sentir confortável diante esse olhar… — murmurei desconfortavelmente, adiantando-me a colher o seu sangue.

Afinal, apesar das minhas palavras, um sorriso dominou inconscientemente o meu rosto, me livrando assim do meu desconforto.

Além disso, entre as incontáveis bestas monstruosas que existiam em nosso mundo, algumas poderiam usar uma habilidade espiritual inata; e se tivesse sorte, essas criaturas poderiam acabar por cultivar uma espécie de núcleo espiritual.

Nesse caso, o Lobo Assassino, apesar de estar na parte inferior da cadeia alimentar, dentro do seu terceiro olho poderia crescer um pequeno nódulo, e esse seria seu núcleo espiritual, que poderia acabar me fornecendo uma fonte externa de energia, evoluindo assim a minha cultivação.

Enfim, satisfeito com minha conquista, ansiando por um pouco de sorte, apesar de poder continuar em minha caçada, coloquei o Lobo Assassino completamente sobre as minhas costas, quando comecei a me retirar lentamente da floresta.

 

***       **       ***

 

— Oh! Hyan! Você conseguiu caçar um Lobo Assassino sozinho?! — expressou Elise animadamente, não conseguindo conter sua admiração, ciente que essa besta monstruosa era uma das criaturas mais poderosas dentre os animais presentes na periferia da floresta.

— Urgh! Ajude-me, tudo bem? Essa besta monstruosa é inesperadamente pesada… — comentei exaustivamente, sentindo-me indescritivelmente cansado, me arrependendo um pouco de minhas ações.

— Hã?! Ah! Sim, estou indo — expressou Elise, percebendo finalmente minhas dificuldades, quando se prontificou, ajudando-me imediatamente.

“Sério. Preciso colocar minhas mãos em um instrumento mágico de armazenamento, ou pelo menos, inventar alguma forma de facilitar o transporte de meus despojos, mesmo que tiver que ser uma maldita carroça, ainda é melhor que a minha atual situação…”. Ponderei internamente, suspirando em resignação.

Desta forma, planejando nosso retorno, amarrando o Lobo Assassino em um longo galho, apoiei sobre minhas costas, tendo Elise fazendo o mesmo sob a outra extremidade, quando lentamente voltamos para a Cidade de Eydilian.

No caminho, percebendo nossa chegada, muitas pessoas adentraram em uma discussão acalorada, quando paravam para admirar o Lobo Assassino completamente morto, olhando assim com diferentes expressões o seu terceiro olho totalmente aberto.

Na verdade, mesmo os guardas na entrada da cidade não eram diferentes, e percebendo como éramos jovens, olhavam-nos com surpresa, percebendo que não tínhamos o menor dos ferimentos.

Um pouco feliz, principalmente ao ver Elise observando com orgulho a multidão, queria levar nosso troféu de volta para a pousada, onde pessoalmente iria destrincha-lo.

Entretanto, o proprietário da pousada proibia explicitamente esse tipo de atividade, tendo muitos problemas devido a incidentes passados.

Impotente, sem ter um ambiente adequado para o trabalho, indiquei a Elise para irmos em direção ao distrito inferior, onde muitos moradores estavam dispostos e preparados para fazer esse tipo de trabalho em troca de uma pequena quantia.

Assim, buscando por um curto período, encontramos um homem que estava bastante habituado com o serviço, onde concordamos em lhe oferecer uma parte da carne como pagamento.

Infelizmente, ao ver o homem retirando cuidadosamente o interior de seu terceiro olho, sem ter nenhuma sorte, carecia completamente de um núcleo espiritual.

Aborrecido, perdendo totalmente o meu interesse no restante do trabalho, decidi dar uma volta pelo distrito inferior, esperando que o homem terminasse a sua parte.

Elise, percebendo que repentinamente me tornei chateado, em silêncio, veio em minha companhia, enquanto percorríamos vagarosamente os corredores sinuosos do distrito inferior.

E sem a necessidade de palavras, observamos o sol lentamente se pôr, dando vagarosamente o lugar para a noite e as estrelas. Apesar de nenhum de nós dois dizer quaisquer palavras, a simples companhia um do outro tornava esse passeio mais confortável e reconfortante.

Agradecido, prestes a dizer obrigado, tendo o meu humor melhorando consideravelmente em sua companhia. Gritos miseráveis começaram a ressoar logo a nossa frente, estragando completamente a atmosfera tranquila.

Surpreso, tendo Elise olhando-me em um dilema, tornamo-nos a andar apressadamente em direção ao tumulto, onde na distância, concentrando minha energia interna em meus olhos, consegui vislumbrar com perfeição o ocorrido.

Desta forma, não muita à frente, em uma casa bastante simples, dois homens tinham maltratado consideravelmente um morador, que estava evidentemente bêbado, enquanto gritavam diversas coisas que tornava a distância bastante difícil de discernir.

Porém, ao ver seus gestos, não era muito difícil de entender a situação em geral. Quanto a mulher, provavelmente esposa do homem bêbado, estava ajoelhada, enquanto implorava para os dois homens, que exigiam alguma compensação.

Exasperado, acostumado com situações semelhantes, acabei franzindo as minhas sobrancelhas, e prestes a indagar Elise sobre as nossas ações, percebi tardiamente que ela avançou sem quaisquer considerações, pretendendo assim imediatamente intervir, sem observar adequadamente as circunstâncias.



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