A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 60: Um jantar entre familiares

 

 

 

De volta ao castelo, me vendo de novo em meus aposentos, não consegui evitar de me sentir estranho. Afinal, depois de tantos meses tendo que depender de mim mesmo, agora, tendo empregados para quase toda tarefa era algo realmente desconfortável.

E vestindo um conjunto elegante de roupas de seda, um luxo reservado a nobreza; inesperadamente naquele mesmo dia, estava tendo um jantar em família.

Assim, querendo comparecer, sendo guiado por Albert como de costume. Adentrei o maior salão do castelo, vendo diversas mesas espalhadas pelo ambiente. E como se quisesse se destacar das demais, três mesas eram maiores que a maioria dos presentes.

A primeira, estando em um local prestigiado do salão, a única com um formato retangular, era a mesa principal; onde meu pai estava sentado no centro, tendo minha mãe ao lado direito, e o esquerdo estava vazio, reservado para a minha chegada, tendo o restante ocupado pelos principais cavaleiros do meu pai.

A segunda mesa era ocupada por Lionyr Fayfher, sua esposa, e seus homens de confiança. Alguém que um dia meu pai chamou de irmão, crescendo em sua companhia, tendo sua ramificação originada na época do meu bisavô, sendo o líder originalmente seu irmão — ao qual poderia sentir seus olhos me fitando intensamente.

Quanto a terceira mesa, era reservada ao terceiro ramo da família, um ramo bastante antigo, que remontava a época gloriosa da família. Contudo, seu único ancião não se mostrava, o jovem herdeiro desse ramo também nunca esteve presente no território, sendo seu representante o segundo tio, mesmo sua esposa raramente se mostrava.

Quanto ao restante, eram familiares sem muita influência na família, como pessoas que acabaram adotando o sobrenome Fayfher.

Enfim, tendo Albert esperando na entrada do salão; caminhei para a mesa principal, ao qual cumprimentei os cavaleiros presentes, aos quais, logicamente, eram os cinco cavaleiros que me juraram lealdade.

— Filho. Não pensei que iria comparecer a esse jantar em família — falou Adália de repente, com seu sorriso habitual, enquanto me observava gentilmente.

— Na verdade, também fui pego de surpresa. Mas como estava presente no momento, acabei escolhendo por participar — comentei, cumprimentando também meu pai, que acenou em silêncio, observando cada um dos presentes.

E vendo seu foco, não quis atrapalhar; optando por conversar com minha mãe, ao qual, honestamente, tinha negligenciado durante esse período. Enfim, adentramos em uma conversa acalorada, onde, impotente, minha mãe voltou a mencionar sua ânsia por descendentes, tornando-me a sorrir rigidamente.

— *Tosse*… Mãe, você sabe que ainda vou fazer quinze anos, certo? — confirmei, vendo-a tomar seu vinho animadamente, nunca tendo testemunhado tal alegria no passado, tornando-me a olhar inconscientemente para meu pai.

— De novo com essa desculpa, será possível que meu filho não gosta… — Parou Adália em choque, tornando-me a franzir as sobrancelhas, percebendo finalmente como já estava alterada, pensando seriamente em retirar seu vinho; mas repensei, considerando tal cena algo vergonhoso.

— Sim! É verdade! Algo assim seria impossível, certo? O seu pai falou que outra jovem estava agora ao seu lado, sendo bastante bonita também. Hehe! Você deve apresenta-la a sua mãe! Quem diria, meu filho realmente é do tipo mulherengo. — Riu Adália, ignorando todos a sua volta.

Derrotado, não tendo mais energia para confronta-la, entendi porque meu pai estava em completo silêncio. E tentando comer algo enquanto tentava ignorar seus devaneios. Olhei impotente para as feições desamparadas dos cavaleiros presentes, assim como a feição do meu pai, que parecia inabalável.

Entretanto, tinha quase a certeza que em seu interior se sentia envergonhado e tremendamente desamparado ao ter sua esposa neste estado. Honestamente, parecia que tinha escolhido o momento errado para voltar ao castelo, percebendo que era melhor ter ido dormir mais cedo.

Batida! Tintilar!!

E assim como estava desconcertado com a situação. Um som ressoou pelo salão, originando-se da mesa do meu primeiro tio, que batia sua colher contra a taça de vinho, tornando tanto eu, quanto meu pai, a franzir as sobrancelhas.

— Senhores, meus queridos familiares aqui presentes! Queria aproveitar o momento para que pudéssemos ter um pequeno debate em família — proclamou Lionyr, atentando as pessoas em sua direção.

— Como sabem, nossa Família Fayfher tem passado por tempos turbulentos, muitos fenômenos estranhos tem ocorrido, sendo um deles quase a destruição completa das vilas responsáveis pela mineração na Montanha Ginsei, pertencente ao nosso território.

— E tendo todos aqui presenciado, tínhamos contraído dívidas enormes devido a esse incidente, aos quais trouxe grande medo e terror a todos os membros.

— Claro, se estamos hoje aqui presentes tendo esse maravilhoso encontro, é porque nosso Patriarca conseguiu reverter a situação.

— Não sei se estão cientes, mas novos empreendimentos começaram a se desenvolver em nosso território com o apoio da família.

— Além disso, quem aqui não conhece o Mestre Qian? Acredito que muitos de nós temos espadas e armaduras feitas por suas mãos, e sempre foi desejado que ele se tornasse um vassalo direto de nossa Família Fayfher…

— Porém, após anos tentando recruta-lo, não só finalmente decidiu por se submeter a nossa causa, mas também desenvolveu seu negócio de maneira esplendida…

— Ouvi até mesmo dizer que muitas pessoas talentosas, antes escondidas ou sem um local adequado de trabalho, decidiram se ajuntar totalmente ao que denominaram atualmente como Associação de Ferreiros. — Exultou Lionyr, prestando atenção em cada presente no salão.

— Mas se realmente tivemos que descrever algo realmente incrível, então não poderia deixar de dizer sobre a Mansão do Resplandecer Prateado. Sejamos honestos, ainda não consigo entender como nosso Patriarca chegou em tal empreendimento genial.

— Quantos de nós no inverno não se isolaram em nossos aposentos, usando pedras elementais de fogo para nós aquecermos, além de peles de primeira qualidade de bestas monstruosas amontoadas ao monte? — expressou Lionyr, rindo sutilmente.

— Mas agora, gastando um único dunar de ouro, algo sem muito valor, onde mesmo um plebeu poderia acabar adquirindo-o, podemos viver confortavelmente sem sermos torturados pelo frio extenuante, sem se preocupar em nunca mais acordar…

— O que dizer então desse tal Sigilo Glacial? Como sabem, mesmo nós nobres temos nossas dificuldades quando se trata da preservação prolongada de mantimentos.

— Por isso, quantos empregados nossos acabam ocupados secando nossas carnes ao sol após uma longa caçada? Quantas pedras primitivas ou pedras elementais de gelo não utilizamos para manter nossa formação de preservação em constante ativação? — declarou Lionyr apaixonadamente.

— Mas agora, com a presença do Sigilo Glacial, não somente pode ser alocado em casas, pousadas e em acampamentos… é possível utilizar até mesmo em nossos escritórios, uma forma bastante prática e agradável, aproveitando de tal instrumento mágico.

— E quem ainda não presenciou, esse instrumento mágico como mencionado, tem a capacidade raríssima, igual aos preciosos anéis interespaciais; criando uma grande área capaz de congelar e preservar os alimentos, tudo sem utilizar uma única pedra primitiva — recontou Lionyr, cativando todos os presentes.

— Lionyr! Aonde você está querendo chegar com suas palavras? — interrompeu Lytian, tendo sua voz fria ressoando por todo o salão.

— Onde estou querendo chegar? De forma alguma, Lytian. Pelo contrário, estou extremamente satisfeito com o progresso atual, acredito que nossa família finalmente pode se reerguer nessa região desolada e cheia de perigos, tudo graças a sua liderança — respondeu Lionyr cordialmente.

— Entretanto, ouvi dizer que nosso Jovem Mestre Hyan entrou em uma disputa desnecessária com o representante da Família Balgary, tudo por causa de uma simples plebeia… — relatou Lionyr de repente.

— Claro, não estou dizendo que não devemos nos valorizar. Contudo, deixar o gerenciamento de tal preciosidade nas mãos de um jovem inexperiente… até onde podemos progredir desta maneira? — Clamou Lionyr, olhando para todos os presentes.

— Hoje, nossos produtos são aclamados, são intensamente desejados, mas e se amanhã surgirem imitações; como podemos manter nossa influência se sempre nos mantivermos arrogantes e impassíveis?

— Acredito que muitos aqui presentes se ofereceram para ajudar de bom grado nesse desenvolvimento, levando nossa Família Fayfher a glória. Contudo, você insiste em continuar mantendo segredos mesmo entre seus parentes. — Agitou Lionyr, presenciando vozes condizentes entre a multidão.

Contudo…

Rapidamente uma voz estrondosa começou a rir descontroladamente no salão. E quando todos olharam, se tratava do seu Jovem Mestre Hyan, que ria das palavras que acabara de ouvir.

— Engraçado! Realmente muito engraçado! Então, depois você iria dizer que esse conhecimento pertence a todos da família. E que o nosso Patriarca está fazendo não passa de um grande egoísmo egocêntrico, certo? — indaguei, olhando-o com desdém.

— Certamente! Mesmo o Jovem Mestre Hyan… — Falou Lionyr querendo afirmar sua posição, mas uma voz autoritária sobressaiu sob a sua.

— Cale-se! Primeiramente, o tesouro da Família Fayfher não pertence à família em um todo, mas a “família”. Em outras palavras, a minha família, ao qual contém o sangue e o direito de sucessão.

— Em segundo lugar, quem de vocês tem a confiança de dizer que um simples tesouro equivale aos conhecimentos obtidos de um Grande Mago? — Vociferei, olhando-os desagradavelmente.

— Todos vocês têm a confiança em afirmar que um Grande Mago veio ao nosso território, localizado no fim do mundo, somente para obter o nosso precioso tesouro? Eu nunca ouvi tanta merda em minha vida! — Zombei, não dando qualquer cara as pessoas presentes.

— Além disso, quem de vocês veio com sugestões, alternativas, ou mesmo desejava sacrificar seus tesouros particulares quando a Família Fayfher estava em seu pior estado?

— Quanto de vocês cerraram verdadeiramente os punhos no entorno da empunhadura de suas espadas para enfrentar as bestas monstruosas que nos trouxeram tanta calamidade e prejuízos? — narrei, cada vez mais rudemente.

— Vocês não passam de covardes que a muito tempo parasitaram nessa família em busca de benefícios! Tudo para satisfazer seus egoísmo, apoiando cegamente aqueles que lhe oferecerem mais mordomias, iguais a um indivíduo invejoso que nunca aceitou a posição de meu pai, gostando de tagarelar sem qualquer sentido. — Zombei friamente diante a expressão desagradável de todos.

— Você…! Como um mero fedelho ousa ter tanta ousadia diante os mais velhos! — Grunhiu um dos cavaleiros ao lado do meu primeiro tio.

Porém…

Pressão! Frio tenebroso!!

— Cuidado com suas palavras, Cavaleiro! Qualquer desrespeito ao meu filho em minha frente não será tolerado!! — Rosnou Lytian de repente.

— Afinal, por mais que não concorde completamente com suas palavras, ele ainda é meu filho e o futuro herdeiro dessa família! — relatou Lytian, encarando intensamente o cavaleiro com seus olhos brilhando em um azul celeste, tornando-o a tremer friamente, incapaz de encara-lo.

— Quanto ao assunto em questão, deixei claro que nenhum de vocês tem o direito de intervir, mesmo que meu filho seja inexperiente e acabe levando o empreendimento ao fracasso.

— Afinal, nenhum de vocês estava relacionado desde o princípio, então, não cabe a vocês julgarem. Entendeu, Lionyr?! — declarou Lytian, pressionando-o com sua aura, tornando suas pernas a tremerem diante a pressão.

— Certamente, Patriarca! Não ousaríamos ir contra sua vontade — respondeu Lionyr. Mas Lytian poderia ver a fúria, a humilhação e o rancor queimando profundamente em seus olhos, tornando-o a se perguntar como não tinha visto até agora as suas verdadeiras intenções.

Desta forma, terminando assim o jantar em família, muitos membros saíram com diversas emoções em seu coração.

E seja a atitude completamente inesperada de seu Jovem Mestre Hyan, ao qual antigamente era bastante tímido nessas ocasiões; como a postura indescritivelmente dura de seu Patriarca, demonstrando seu poder e autoridade.

Estava claro para alguns membros mais astutos que algo estava ocorrendo nas sombras, e esse incidente deixou claro quem tinha a vantagem.

Na verdade, muitos começaram a investigar cuidadosamente qualquer rumor, por mais ultrajante que fosse, enquanto especulavam das sombras, tomando cuidado com suas ações, não pretendendo escolher um lado precipitadamente.

No final, aquele que mais sentiu a agitação causada com esse jantar foi Lytian, imaginando que algo assim ocorreria quando inesperadamente vislumbrou sua figura.

 

 

 

                      



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