A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 59: O Empreendimento (3)

 

 

 

— Além disso, os dois instrumentos mágicos não foram o suficiente para causar tanto alarde. Honestamente, os Arrais de Ocultação e os Arrais de Interferência criaram uma repercussão irreal. E somente não geraram ainda mais comoção devido as poucas unidades que tínhamos a venda.

— Seja dito, no começo muitas pessoas tratavam nossos produtos com ceticismo. Mas agora, o que mais escuto são palavras lisonjeiras, aos quais essas pessoas esperam esperançosamente adquirir benefícios exclusivos — desabafou Dylan com desdém, lembrando como essas pessoas se comportavam.

— Oh! Na verdade, acabei escutando falar sobre esses arrais. No final, o que são? Acabei escutando algumas conversas aleatórias sobre esses itens durante meu caminho pela cidade — indagou Elise, bastante curiosa ao ver a expressão de Dylan.

— Bem, os Arrais são uma espécie de condutor, sua forma é muito semelhante a um pequeno bastão, onde seu uso se resume em ser enfincado na terra para formar uma área de atuação, que deve, no mínimo, ser formado por três arrais.

— Veja isso como uma espécie de matriz menor, e quanto maior a quantidade de arrais, maior será a área de atuação. Quanto aos seus efeitos, os Arrais de Ocultamento servem para ocultar as pessoas em seu interior, podendo ser usado para emboscadas, assim como um método de segurança no entorno de um acampamento.

— Quanto aos Arrais de Interferência, simplesmente interferem no fluxo natural de energia, enfraquecendo bestas monstruosas, como também outros cultivadores.

— E apesar do seu uso mais complicado, se usado adequadamente com o ambiente, pode se criar armadilhas mortais, algo que realmente pode mudar completamente o rumo de uma batalha.

— Enfim, seus usos são bastante versáteis. Porém, como detém efeitos muito potentes, tem uma limitação de uso, assim gerando uma grande demanda — expliquei, vendo a expressão inusitada de Elise.

— Eu nunca teria imaginado que você teria criado tantas coisas em um período tão curto, Hyan — falou Elise, demonstrando sua admiração.

— Na verdade, eu não fui o único, Colak e o novo grupo de encantadores trabalharam diligentemente. Se estamos prosperando, tudo se deve a seus esforços. Além disso, acredito que não acabou, certo? — Brinquei, vendo o sorriso caloroso de Dylan.

— O Jovem Mestre Hyan está certo. Ainda detemos instrumentos mágicos que são capazes de gravar imagens, conhecido como Orbe Ilusório, ou mesmo reproduzir uma parte de nossas memórias, que seria a Esfera dos Sonhos.

— Devo dizer, a variedade é muito grande, e todas podem ser usadas em vantagem de explorações ou estudos — expressou Dylan orgulhosamente, lembrando das reações de seus clientes.

— Mas…! — Assim como Dylan estava prestes a continuar sua menção.

Ondulação! Presença!

Uma de nossas sombras oscilou nitidamente, quando Celine surgiu, cumprimentando a todos com um sorriso calmo, quando sentou gentilmente ao meu lado.

— Oh! Faz algum tempo, Celine. Como você tem passado esse período? — perguntei gentilmente, vendo-a sorrindo para mim, enquanto colocava o cabelo atrás da orelha.

— Estou bem. Todos têm me tratado agradavelmente. Na verdade, passei na Associação de Ferreiros como de costume e fiquei sabendo que finalmente saiu da reclusão. Portanto, vim te receber, desde que estou com algumas dúvidas sobre o meu controle interno de energia — esclareceu Celine, com um sorriso.

— Entendo. Esteja tranquila, irei esclarecer suas dúvidas mais tarde. Dito isso, e quanto ao seu “empregador”, conseguiu descobrir se era realmente Lionyr Fayfher por trás das cenas? — indaguei, vendo sua expressão mudar sutilmente.

— Eu ainda não consegui descobrir sua identidade. Eles sempre são desconfiados com quaisquer perguntas, sempre me questionando quando tento me aproximar, é como se quisessem encontrar falhas.

— Além disso, tive que até mesmo mencionar que minha relação com o Jovem Mestre era um pouca ambígua — explicou Celine hesitante, desviando um pouco o olhar.

— O que você quer dizer com ambígua — indagou Elise, olhando-a estranhamente, quando sem saber sentiu um desconforto.

— Bem, você pode não saber, mas muitos jovens da nobreza nessa idade tem uma certa necessidade de aliviarem suas tensões a noite. Dito isso, você pode dizer que sou responsável em apaziguar essa chama ardente no coração do nosso querido Jovem Mestre — explicou Celine, enquanto me observava atentamente.

— Compreendo. Realmente faz sentido, seria insensato dizer que seria possível espionar minha família na presença de Sheridan, sua ideia é muito mais plausível. E acredito que rumores semelhantes já se espalharam sobre minha relação com Elise… — ponderei, consentindo com seu julgamento.

— Desde que este seja o caso, acredito que não seria indesejado da minha parte lhe acompanhar por um período, certo? — indagou Celine, quando algo brilhou em seus olhos.

— Hmm… não tem qualquer problema. Você é sempre bem-vinda para estar ao meu lado, Celine. — Afirmei, conversando brevemente com ela, quando voltei a puxar conversa com Dylan, sobre as questões da Mansão do Resplandecer Prateado.

— Pois bem. Eu somente tenho um único ponto a relatar. Na verdade, é sobre o último grupo, que se resume aos membros da nobreza — declarou Dylan, mas sem o sorriso habitual.

— Como devem saber, nossos produtos mais caros se tratam de Artefatos de Proteção, que inesperadamente se baseiam em joias preciosas. O que antes eram usadas somente como acessórios entre os encontros da aristocracia.

— E tendo essa revelação, muitos nobres apareceram em nosso estabelecimento, querendo forçadamente de quaisquer maneiras que comprovássemos a seguridade desses artefatos.

— Claro, não tínhamos a obrigação, nem pressa, o que acabou acarretando em um grupo de nobres adquirindo forçadamente um de nossos produtos… — recontou Dylan, enunciando um pouco de insatisfação em sua voz.

— Logicamente, o Artefato de Proteção foi bem-sucedido. E seja dito de passagem, foi desagradável aqueles malditos nobres tentando decapitar um escravo somente para assegurar seus efeitos.

— Enfim, com isso, surgiu uma nova questão. Os nobres estavam querendo nos forçar a transformar suas joias pessoais em artefatos. — Sorriu Dylan zombeteiramente.

— Nos recusamos, certamente. No entanto, a questão mudou levemente. Agora, eles estavam querendo vender suas joias por valores exorbitantes, e sua união cresceu de uma forma quase inacreditável — explicou Dylan, perdendo evidentemente sua calma.

— Normalmente, isso não seria muito importante, desde que a paciência seria a chave para a vitória. Contudo, o Jovem Mestre desejava as joias para distribuir entre seus subordinados, pedindo-nos para agilizarmos o possível; portanto, entramos em contato com esse grupo problemático.

— E explicando que o polimento de tais pedras influenciaria em sua qualidade e proteção. Apesar de não estarem dispostos, acabamos por chegar em um acordo.

— Assim, com a venda de suas joias preciosas por um valor justo, elaboramos uma lista de prioridades, onde os nobres poderiam determinar uma joia de sua escolha para ser transformada em um artefato, chegando a uma margem de preço que satisfaria ambos as partes… — recontou Dylan, tendo um semblante desagradável.

— Entretanto, para chegar na conclusão desse acordo, uma cláusula foi determinada. As joias escolhidas pelos nobres deveriam ser mantidas em segurança; caso contrário, se ocorresse danos ou roubo, a Mansão do Resplandecer Prateado assumiria os danos, assim como forneceríamos uma apropriada compensação.

— Assassinos… — falei sutilmente, interrompendo Dylan, enquanto observava sua indignação.

— Certo. O Jovem Mestre acertou, eu e um outro funcionário fomos alvos de assassinos, e apesar dos soldados resolverem facilmente a questão… ainda foi desagradável, pois temo por minha filha… — relatou Dylan.

— Esses desgraçados…! — Rosnando indignadamente, Elise cerrou seus punhos, não conseguindo suportar a insatisfação e a repugnância que sentia em direção a essas pessoas.

— Suspiro. Desculpe, Dylan… — disse, sentindo-me impotente com a coragem e o atrevimento desses nobres.

— Não! Por favor, Jovem Mestre Hyan. Você avisou anteriormente sobre os perigos. Além disso, os soldados estão fazendo um ótimo trabalho, sem mencionar que todos estão atualmente em posse de um artefato — falou Dylan, querendo assim se explicar, sentindo-se desconfortável diante as ações de seu Jovem Mestre, mas foi interrompido.

— Estou ciente que pessoas inevitavelmente o alvejariam. Contudo, esse esquema foi claramente exposto em plena luz do dia.

— Portanto, não podemos esquecer que esse empreendimento é apoiado por minha família, tal ousadia só teria um motivo, alguém da Família Fayfher os apoia — esclareci, não conseguindo conter o sorriso sinistro em meu rosto.

E vendo minha expressão cruel, todos os presentes ficaram em silêncio, tornando essa conversa a princípio alegre em algo desagradável.

— Enfim. Vamos encerrar a conversa por hoje. Agradeço seu trabalho diligente, Dylan. E prometo que resolverei essa questão — relatei, me despedindo.

Desta forma, saindo assim do estabelecimento, acompanhado de Elise e Celine. Aproveitei para me despedir também de Bella, acabando por ver um colar requintado com uma linda joia em seu centro, na parte interna do balcão.

E como se sentisse meu olhar, Bella deu um sorriso meio desajeitado. Mas a devolvi com um sorriso satisfeito, vendo-a se alegrar diante minha expressão, ao qual, seja dito a verdade, Bella estava vagarosamente demonstrando sua aptidão, e isso me alegrava de verdade.

Assim, finalmente me despedindo de todos, acabei por ir em direção ao castelo. E por mais que estivesse me acostumado com a vida em companhia de Colak, Elise e o restante do grupo.

No final, ainda era um nobre com obrigações a serem cumpridas, ainda mais quando tinha refeito as pazes com meus pais, tendo me tornado o centro das atenções recentes no território, precisando em algum momento deixar essa vida de lado.

Desta forma, decidido, passando pelo distrito superior, acabei me despedindo de Elise, que me olhava com consternação, assim como Celine. Onde as observei brevemente em silêncio; dizendo:

— Elise, passamos um bom tempo juntos, e foi algo que definitivamente me agradou imensamente. Porém, pelo menos durante esse curto período até chegar o Ritual do Despertar, devemos nos separar, ao qual acredito que seja melhor você ficar na residência de Colak.

— Afinal, isso se deve a atenção demasiada que minha família atualmente está enfrentando, algo que não mais se restringe a esse território. Portanto, não posso afirmar que a situação irá se manter estável, ainda mais quando acabamos de ser informados sobre os recentes acontecimentos.

— Portanto, por favor, entenda. Inimigos nas sombras são definitivamente os piores tipos a se lidarem, por isso não desejo que mais imprevistos ocorram — esclareci, suspirando ao ver sua expressão.

— Nesse período, basta ficar treinando com Xim e seus homens, não é como se não fossemos mais nos ver, como podemos nos encontrar sempre que quisermos durante o dia, ao qual podemos conversar para o conteúdo de nossos corações — expliquei, lhe abraçando gentilmente, enquanto alisava seu cabelo avermelhado.

Honestamente, voltando ao castelo, teria que lidar com muita gente desagradável, e não era algo que desejava que Elise presenciasse. Afinal, meus pais poderiam ter me aceitado, assim como terem reconhecido Elise, deixando-a ficar ao meu lado.

Mas outros nobres provavelmente demostrariam seu preconceito, seu desprezo. E como não queria ver a confiança e a determinação em seus olhos se perderem lentamente diante a discriminação demasiada dessas pessoas. No final, após pensar cuidadosamente, foi a escolha ao qual cheguei.

— Celine. Nosso relacionamento pode não ter durado tanto quanto desejado, mas já detenho grande confiança em suas capacidades, e como a mais experiente, deixo a segurança do grupo aos seus cuidados — falei, dando-a um sorriso sutil.

— Quanto aos rumores, podemos nos encontrar a noite em alguns lugares do castelo, dando mais credibilidade as suas palavras — relatei, acenando levemente, quando me preparava para sair.

Assim, despedindo-me das duas garotas, indicando para Feng e Lya me seguirem, comecei a caminhar em direção ao castelo.

 

 

— Ele é um homem bastante interessante, não concorda? — indagou Celine de repente, observando as costas de Hyan já desaparecendo na distância.

— O que você quer dizer…? — indagou Elise confusamente.

— Sabe, conheci muitos nobres durante meus anos como escrava. Muitos ao ponto de despreza-los e odiá-los profundamente — falou Celine, olhando para o sol se pondo.

— Honestamente, mesmo agora não entendo o que me manteve persistindo até o momento. Mas sabia que provavelmente seria tratada como uma mera ferramenta por toda a minha vida. — Bufou depreciativamente Celine, tentando conter sua tristeza.

— Na primeira vez que nos conhecemos, vendo você surgir toda machucada… Eu consegui ver a preocupação, o temor em seus olhos ao presenciar sua situação, assim como ele se esforçava para levar ao máximo seus sentimentos em consideração…

— Naquele momento, não consegui evitar de pensar se em algum momento da minha vida seria tratada dessa forma, presenciando esse carinho, esse cuidado meticuloso — Narrou Celine, vendo o silêncio completo de Elise.

— Quando ele quebrou repentinamente o selo de escravidão, realmente pra mim, tudo parecia simplesmente um sonho… Pensei que talvez meus desejos internos se realizassem, que pudesse encontrar uma pessoa que me aceitasse e compreendesse, podendo recomeçar a minha vida em algum lugar desse mundo.

— Mas sabe, o engraçado… era que mesmo sem as correntes em meu pescoço, pulsos e tornozelos; as pessoas me olhavam da mesma maneira… — falou Celine, enquanto relembrava o passado.

— Não. Na verdade, ao saberem que detenho a energia sombria, por causa dessa estranha sensação que acabo emanando inconscientemente, elas me olhavam ainda pior do que quando era uma escrava. — Corrigiu Celine calmamente.

— Contudo, naquele dia, encontrando-o novamente… não tinha justificativas para que ele me tratasse indulgentemente. E por mais que pudesse ver a raiva nítida em seus olhos, eu não encontrei o preconceito que detinha em outras pessoas. Na verdade, desde o começo ele sabia das minhas origens…

— Nesse momento, percebendo essas emoções, foi quando percebi… porque procurar desesperadamente alguém que me aceitasse e compreendesse se essa pessoa estava bem em minha frente?

— Naquele momento, apesar do medo e da insegurança em meu coração, arrisquei, arrisquei tudo na esperança de encontrar o que mais desejava — declarou Celine, olhando de repente para Elise.

— Por que está me contando tudo isso? — indagou Elise, sentindo algo inesperado em seu coração.

— É porque quero que saiba que não irei desistir. Posso ver que você sente algo por ele. Mas, mesmo sabendo disso, não pretendo desistir… Um dia definitivamente irei faze-lo prestar atenção em minha existência. — Afirmou Celine convictamente, ignorando assim a expressão de Elise, quando saiu em direção a sua residência.

 

 

                      



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