A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 5: O Círculo Arcano

 

Sozinho, desamarrando e colocando os odres de lado, peguei novamente a adaga dentre as minhas coisas, quando me aproximei de uma grande pedra sob a floresta. E com muito cuidado, comecei a gravar antigas runas por sua extensão, mais precisamente, um enorme círculo arcano.

Assim, terminando sua circunferência, tendo pequenas runas por sua extensão, existia oito runas centrais, onde peguei um dos odres preenchido com sangue, quando comecei meticulosamente a preencher com cuidado e precisão.

Desta forma, um pouco ansioso, levando um tempo bastante considerável para terminar meu trabalho com êxito; comecei a tirar vagarosamente as minhas roupas, quando adentrei o centro do círculo arcano, sentando-me em uma posição meditativa, onde comecei a convergir minha energia mental para as runas presentes em meu entorno.

Brilho! Vivacidade!!!

Semelhante a uma cena mágica; ao receber minha energia mental, as runas no decorrer do círculo arcano ganharam vida, quando vagarosamente começaram a mudar de posição, se direcionando ao centro, percorrendo e se aprofundando assim sob minha pele, envolvendo completamente o meu corpo.

Entorpecido, experenciando uma sensação dolorosa, observei as runas se posicionando particularmente em oito partes do meu corpo.

Assim, enquanto mantinha sem interrupções o fluxo de energia que transmitia para o círculo arcano, as runas antigas se apegaram profundamente a minha pele, músculos e sangue.

E apesar do trabalho cansativo e complexo, precisando de muita concentração para não me perder durante o processo, ainda tive que entoar um determinado encantamento, quando a energia ambiente começou a convergir para cada runa.

Desta forma, tornando-as a brilhar intensamente, fundindo-as totalmente ao meu corpo, com o tempo começaram eventualmente a desaparecer, deixando assim marcas sutis, aos quais mal dava para perceber a não ser que se olhasse atentamente.

Enfim, concluindo com sucesso a cultivação dessa técnica secreta, soltando um leve suspiro, apesar do cansaço, não consegui esconder a satisfação em meu rosto, assim como a alegria que envolveu o meu coração.

Nesse momento, tinha acabado de cultivar com sucesso os primeiros passos da antiga Técnica Secreta – Essência do Corpo Bestial, pavimentando com sucesso o meu futuro.

Essa técnica secreta ajudava a desenvolver e transformar a essência natural do corpo, era um processo lento que tirava proveito da Energia Monstruosa, um poder formidável, que estava contido no sangue das bestas monstruosas e muitas vezes se destacava além da Energia Carnal, ao qual os seres humanos eram capazes de utilizarem.

Assim, concluindo com sucesso todos os meus objetivos para hoje, olhando para a grande pedra contendo o círculo arcano desgastado, utilizei o restante do sangue para gravar uma runa sob o círculo, quando uma pequena explosão ocorreu abruptamente, eliminando completamente quaisquer vestígios de minhas ações.

Satisfeito, observando o entardecer, lembrei que deveria retornar imediatamente à Cidade de Eydilian, ou teria sérios problemas, acabando por imaginar como seria ficar de castigo após tantos anos de independência.

Enfim, sorrindo alegremente, contendo um pouco a minha imaginação que correu solta, comecei a me vestir, retornando calmamente aos campos de plantação, onde passei novamente pelos soldados em vigia, como considerei que não seria um problema chegar a tempo no castelo.

Além disso, durante meus passos, recordei do Duende Mucoso, onde acabei lembrando de mais uma pequena tarefa que precisava exercer antes de meu retorno.

E foi nesse momento, durante um breve pensamento, que senti uma estranha sensação me envolver, algo proveniente da minha longa experiência e instinto.

Claro, não demonstrei abertamente a minha descoberta. E percorrendo tranquilamente o caminho que levava de volta à cidade, onde fingindo trilhar calmamente o meu caminho, confirmei surpreendidamente que a partir de um determinado momento, comecei realmente a ser perseguido.

Surpreso, um pouco descrente com meu próprio descuido, conclui que fui negligente ao esquecer por um instante que não poderia manter meu sentido espiritual constantemente ativo, como também não detinha muitos motivos a ser vigilante, desde que não tinha inimigos nessa idade.

Entretanto, não importa como pensei a respeito do assunto, ainda foi um grande erro, percebendo tardiamente as repercussões que isso poderia ocasionar.

Inconformado, decidindo silenciosamente como deveria agir nessa circunstância, levei o meu perseguidor a uma área isolada, quando olhei abruptamente em sua direção, expressando calmamente:

— Você tem me perseguido já por algum tempo, não está no momento de revelar-se? — comentei casualmente, pois podia ver uma figura embaçada a partir do meu sentido espiritual, olhando assim confiantemente em uma determinada direção, mesmo diante o longo silêncio.

No entanto, sem receber uma resposta satisfatória após um longo tempo, acabei por desembainhar lentamente a minha espada, tendo finalmente o meu perseguidor se revelando.

Surpreso, chocado ao vislumbrar meu perseguidor, não consegui expressar corretamente os meus sentimentos. E demorando a me recompor, reprimindo grandemente a minha raiva e insatisfação, acabei saindo em descontentamento, retornando em silêncio a percorrer o meu caminho.

Contudo…

— Espera! Jovem Mestre Hyan… eu não queria… por favor, não entenda erroneamente. — Gritou Elise nervosamente, saindo apressadamente de dentro da plantação, enquanto expressava seu nervosismo.

— Não entenda erroneamente?! Então porque estava se escondendo?! Patético, não esperava isso de você. — Bufei indignadamente, retirando minha máscara, enquanto olhava-a severamente.

— Eu… eu só estava preocupada… quanto a me esconder, pensei que me revelar só causaria problemas, não é algo que fiz com má intenção… — murmurou Elise, entrelaçando seus dedos, enquanto olhava desconfortavelmente para o chão.

— Hmpf! Vou pedir uma única vez. Se você tentar inventar uma desculpa tão esfarrapada, esqueça qualquer simpatia que te demonstrei, irei te expulsar do castelo! — proclamei severamente.

— Não! Por favor, não… eu… eu estava curiosa! — exclamou Elise, quando não sabia como se explicar.

— O Jovem Mestre Hyan sabia especificamente o meu nome, mesmo que eu nunca o tenha mencionado anteriormente, como também sabia precisamente da minha situação pessoal… eu… além disso… no castelo… — Esclareceu Elise nervosamente, gaguejando entre as palavras, não sabendo como se expressar devidamente.

— Desculpe… eu estava indo buscar meus pertences depois de receber um quarto de Albert. Porém, vislumbrei de relance o Jovem Mestre adentrando uma loja de equipamentos…

— Assim, depois de ver os equipamentos em seus braços… não consegui conter minha curiosidade… desculpe, eu realmente sinto muito… — declarou Elise apressadamente, se atrapalhando toda, quando se ajoelhou no chão em arrependimento.

— Tudo bem, chega! É o suficiente. Fingirei que isso nunca ocorreu, contudo, esteja ciente que nada disso pode escapar para a minha família, estamos entendidos?! — Ordenei severamente.

Assim, colocando a máscara de volta, sabendo que talvez tal situação fosse inevitável, algo que provoquei com minhas próprias ações, achei tolerável ao pensar em como a abordei em nosso primeiro encontro.

Desta forma, sem dizer mais nada, estava prestes a voltar em minha caminhada, quando Elise novamente me interrompeu, dizendo:

— Jovem Mestre Hyan… isso… dentre os seus pertences, é a pele de um Coelho Cinzento?! — indagou Elise com surpresa, olhando para uma parte da pele saindo dentre uma das bolsas.

— Não sei. Na verdade, não me importo, era somente uma criatura fraca — falei indiferentemente, fazendo-a ficar imediatamente em silêncio.

Contudo, ao dar alguns passos à frente, percebendo sua expressão triste, aquela solidão que a envolvia inconscientemente, relembrei do passado que passamos juntos.

Assim, acabei por me arrepender das minhas ações, quando interrompi meus passos, indicando que me acompanhasse, exceto para que tomasse cuidado, não mencionando assim meu nome.

— Jovem Mes… hmm… *Tosse*… você sabia que o Coelho Cinzento é um adversário bastante complicado para os novos despertados? — indagou Elise animadamente.

— Essa criatura costuma atacar qualquer indivíduo que invada o seu território, um comportamento completamente diferente de seus semelhantes… — Esclareceu Elise calmamente, sorrindo estranhamente entre sua explicação.

— Posso ver também pelo resto de sangue que tal criatura foi abatida recentemente, isso é bastante incrível…

— Quero dizer, eu já sabia que você era incrível, principalmente ao lutar com aqueles dois despertados para me salvar. Mas ainda não consigo evitar surpreender-me, estou admirada… — comentou Elise alegremente, tentando estabelecer uma atmosfera agradável entre nós dois.

— Você se impressiona muito facilmente, esse Coelho Cinzento não tinha nada demais, qualquer despertado que tivesse o mínimo de treinamento poderia lidar com ele. — Expliquei indiferentemente, percebendo tardiamente o meu deslize, vendo sua estranha reação.

— Verdade, podemos dizer que isso é um fato… contudo, você ainda não despertou sua energia interna, certo? — Apontou Elise estranhamente, tornando-me a parar os meus passos.

— Urgh! Diga, seja clara, o que você quer? — perguntei diretamente, entendendo finalmente suas intenções.

Assim, sendo indagada, Elise ficou brevemente em silêncio, quando vislumbrei sua expressão mudar sutilmente, onde poderia sentir claramente a seriedade em seu semblante, enquanto ela olhava diretamente em meus olhos.

— Eu… você poderia me ensinar? Eu quero aprender a lutar… quero vingar meu pai, quero eliminar essas malditas bestas monstruosas, evitando que não aconteça com outros o que ocorreu com minha família… — expressou Elise sutilmente, elevando seu tom, como se suas palavras acompanhassem suas emoções.

— Também… desejo a força para impedir que outros criminosos desprezíveis realizem aqueles atos cruéis… quero mudar a realidade em minha volta, impedindo os constantes atos de maldade… como desejo proteger aqueles que me são importantes.

— Então… por favor, me conceda sua força… — declarou decididamente Elise, cerrando seus punhos, quando se ajoelhou abruptamente, tocando sua testa no chão.

Surpreso, vendo suas ações, não consegui evitar de me sentir estranho.

Honestamente, algo não se encaixava, eu era muito jovem, e não precisava dizer que era desqualificado a ensinar, certo? Pelo menos, era isso que imaginava ao me colocar na visão de outras pessoas.

— Você não está pedindo para a pessoa errada?! Afinal, sou apenas um jovem inexperiente, que qualificações tenho para lhe ensinar? Se pedisse para um adulto, acredito que seria muito mais eficiente para o seu desenvolvimento… — Argumentei casualmente, observando atentamente sua atitude.

— Não! Você está errado! Eu sou somente uma plebeia, apesar do meu pai ser um aventureiro, tendo de fato despertado, minha mãe era uma não-praticante, e só deus sabe se conseguirei despertar…

— Além disso, não vamos falar na demanda que as pessoas pedem ao transmitir suas técnicas e habilidades.

— Quanto ao Jovem Mestre Hyan, você estava lutando na Floresta da Perdição Rubra sem se quer completar quinze anos, sem falar que você retornou sem um único ferimento, a partir disso posso ver que é especial…”.

— Sendo assim, levando em conta nosso relacionamento, algo me diz que o Jovem Mestre não irá me rejeitar… então, por favor… ensine-me, eu farei qualquer coisa… — expressou Elise decididamente, se prostrando novamente, deixando claro sua convicção.

Em silêncio, observando-a atentamente, não consegui evitar de me sentir hesitante. Afinal, pensando cuidadosamente no assunto, era verdade como era incrível as minhas ações, desde que não era possível despertar antes dos quinze anos sem passar pelo Ritual do Despertar.

Entretanto, a dúvida e a incerteza não desapareceriam facilmente do meu coração. Eu tinha muito o que ensinar, coisas que estavam completamente além do bom senso.

No entanto, também estava ciente como esse “conhecimento” poderia mexer com a cabeça e o coração das pessoas. Portanto, tinha que tomar o devido cuidado para quem ensinaria.

Quanto a Elise, uma boa parte de mim confiava nela, ainda mais por ter se sacrificado ao me salvar em minha vida passada. Entretanto, essa “Elise”, e a que me deparei no passado, não necessariamente eram a mesma pessoa.

— Eu posso lhe ensinar, entretanto, deixarei algo claro, não me importo com a diferença entre classes sociais, não me importo se a pessoa ao qual se prostra e me pede ajuda seja um talento incomparável, ou tenha habilidades medíocres…

— A única coisa que aprecio é a Lealdade. Se você me trair, não irei me preocupar com explicações desnecessárias, tirarei pessoalmente sua vida… — declarei severamente, enquanto a olhava diretamente nos olhos, emanando um pouco da minha energia mental, assim como intenção assassina, lhe causando um grande choque.

— Eu juro…!! — gritou Elise imediatamente, tremendo visivelmente, quando se prostrou apressadamente ao sentir aquela estranha aura emanando em meu entorno.

— Ótimo! Retorne silenciosamente ao castelo, e após chegar de um tempo, então vá me visitar em meu aposento no calar da noite. — Ordenei casualmente, me despedindo, quando me prontifiquei a andar em direção à Cidade de Eydilian.



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