Volume 1
Capítulo 43: A reconciliação
— Vossa Graça. O… o Jovem… Mestre… está de volta! — Reportou um soldado, tendo um tom bastante estranho em sua voz.
— Hmm… Mandem-no vir imediatamente — respondeu Lytian severamente, guardando para si mesmo a estranha reação do seu subordinado.
Afinal, durante esses quatros meses, Lytian cuidadosamente começou sua busca por aqueles que alvejavam sua posição.
Na verdade, Lytian já tinha alguns suspeitos. Contudo, não tinha provas, e criar um grande alarde poderia trazer muitas desvantagens. Ainda mais no estado fragilizado em que estava a Família Fayfher; que perdeu sua maior fonte de renda, onde poucos indivíduos estavam dispostos a morar agora nas montanhas.
Passos! Ruídos!!
Ouvindo seu filho chegando em direção ao escritório, Lytian não pode evitar de se sentir estranho ao ouvir os suspiros estranhos e admiradores de seus servos.
Preocupado, sentindo-se estranhamente curioso. Quando a porta se abriu, Lytian levantou-se inconscientemente de sua cadeira, tremendo, quando seus olhos se arregalaram, tendo seu coração pulsando violentamente.
— Estou de volta, pai! — comentou calmamente Hyan, sorrindo diante a expressão inesperada de Lytian.
Chocado, quase não acreditando que essa pessoa era realmente seu filho. Lytian viu um jovem alto, bem estruturado, com um corpo esplendidamente bem definido, era quase como se seus músculos quisessem pular de seu próprio corpo.
E não somente sua aparência tinha mudado, mas sua figura exalava uma aura poderosa, onde Lytian sentiu algo completamente diferente do passado, não contendo assim um único traço de sua infantilidade.
Distraído, ainda descrente que esse era realmente seu filho. Lytian observou com cuidado seu semblante, que era evidentemente delineado, quando presenciou um rabo de cavalo, prendido atrás de sua cabeça, acrescentando um grande charme a sua aparência.
Quanto aos seus olhos, afiados e profundos, não importava como olhasse, definitivamente era um homem atraente. E se não fosse esses traços únicos, herdado de si mesmo, Lytian definitivamente não acreditaria que era seu próprio filho.
— O que aconteceu? — resmungou Lytian inconscientemente, vendo Hyan fechando as portas do escritório, deixando todos os presentes que o observavam perplexamente de fora.
— Precisamos conversar… — expressei, vendo a expressão do meu pai se recompondo rapidamente.
— Sim. Precisamos absolutamente conversar — declarou Lytian, sentando de volta em sua cadeira, se mantendo observando-me silenciosamente. E apesar de nossas palavras, ficamos observando um ao outro, sem ninguém dizer nada.
Honestamente, “conversar” era uma palavra estranha a ser dita na frente do meu pai. Na verdade, nunca conversamos verdadeiramente em minha vida passada, era somente um homem jogando suas ambições descabidas em cima de uma criança.
— Como você sabe, lhe dei tempo o suficiente para resolver a questão. Contudo, o que vejo quando volto? Tudo o que encontro são o lixo repugnante dessa família andando pelos corredores do castelo — expressei, quebrando o silêncio constrangedor.
— Mesmo agora, ainda consigo ouvir suas palavras se gabando do “nome” de nossa família, como era algo importante, ao qual devemos proteger acima de nosso próprio orgulho. Entretanto, onde está esse nome atualmente? — Rosnei, deixando que as palavras escapassem de minha boca.
— Quantas vilas foram dizimadas por trás de suas costas? O que fez quando seu povo foi descaradamente escravizado, sendo vendidos a seus inimigos? — Bufei, mostrando nitidamente meu desprezo pelo homem em minha frente.
— Você…! — Ouvindo suas palavras, Lytian nunca experimentou tamanha raiva. Porém, ao ver os olhos cansados e experientes de seu filho; o sangue que deveria subir para sua cabeça não aconteceu.
Na verdade, por algum motivo, tudo o que sentia era inesperadamente um sentimento inexplicável de vergonha e decepção.
Ondulação!
— Oi! Garoto! Eu pensei que você ia conversar com o seu pai? Essa não era a conversa que eu tinha em mente, sabe…
— Você deve contar o que aconteceu, somente assim ele pode entender, vocês precisam trabalhar em conjunto se quiserem resolver as coisas… — Enfatizou Sheridan, aparecendo subitamente, demonstrando assim sua desaprovação.
Punhos cerrados!
— Droga! Eu não consigo! Eu não consigo deixar a minha indignação de lado! Mesmo agora, tudo o que você se importa é com o maldito nome da Família Fayfher! — gritei, dando evasão as minhas emoções.
— Quantas vezes sua esposa indiretamente pediu sua atenção? Quantas vezes seu filho implorou pelo seu amor? Quantas vezes seu povo chorou diante a injustiça?! — Clamei, deixando minhas emoções tomarem conta dos meus pensamentos, deixando minha energia exalar, tornando assim a atmosfera mais desagradável.
— Você deveria como líder ter sacado a muito tempo a sua maldita espada! Deveria ter matado cada filho da puta nesse maldito lugar! Principalmente o seu querido irmão jurado, aquele que você demonstrou mais apreço que sua própria família! Onde o maldito vendeu esse território para a Família Shaen! — Rosnei, ignorando sua surpresa.
— Consegue entender agora?! Quando você vai tomar uma atitude? Depois de ver sua esposa morta? Depois de ver a esperança desaparecendo dos olhos de seu filho! Você…!
— CHEGA!!! O QUE VOCE SABE? O QUE UM MALDITO FEDELHO SABE…!! — Rugiu Lytian Fayfher, soltando toda sua presença, quando não suportava mais, querendo assim impor sua autoridade sobre seu filho.
Contudo…
— Eu sei mais que você… eu vi com esses olhos o território da Família Fayfher desaparecendo, presenciei seu povo chorando desesperadamente enquanto eram mortos miseravelmente… — declarei, tornando inconscientemente meu tom de voz cada vez mais sutil.
— Presenciei como a esperança é algo frágil, e que a luz muitas vezes é engolida pela escuridão… — falei calmamente, tendo uma voz profunda e cansada.
— De para mim a liderança dessa família. Deixe-me banhar esse maldito lugar em sangue, onde punirei corretamente esses desgraçados corruptos, livrando assim as ruas dessa cidade do desespero e da desesperança.
— Eu tornarei esse lugar realmente um território adequado para se viver… — proclamei firmemente, vendo a expressão estoica do meu pai como sempre.
Suspiro, vendo aquele olhar, aquela sensação de distância, não importava como procurasse as palavras, parecia que essa distância nunca iria desaparecer.
E cerrando violentamente meus dentes, olhando indignadamente para meu pai, declarei uma última vez.
— Me dê aquele cadáver no salão de tesouros, mesmo que você nunca me reconheça, se eu o possuir posso encontrar uma forma de manter essa família viva… — expressei, olhando-o intensamente.
Porém, vendo sua expressão, sem conseguir dizer mais palavras; eu simplesmente sai do escritório, onde não conseguia ficar mais nesse lugar, pois não sentia que pertencia aquele mundo, sempre me senti melhor em meio as pessoas normais.
E vendo seu filho sair assim, Lytian queria dizer algo, mas nada saiu.
As palavras de seu filho ainda estavam ressoando em seus ouvidos. E mesmo sua postura ainda podia ser refletida em seus olhos. Afinal, Lytian não sabia o porquê, mas sentia como se tudo em seu entorno tivesse se tornado mais sombrio.
— Urgh! Eu sabia que as coisas poderiam se tornar assim. Diabos! Eu não sou parte dessa família! Porque tenho que ficar resolvendo essa merda de cachorro?! — Uivou Sheridan, sentindo Lytian olhar inesperadamente em sua direção.
— Pequeno Lytian, eu comecei a desgostar de você nesses últimos anos. Entretanto, querendo ou não, participei dessa família por quase uma maldita década!
— Ouça as palavras do seu filho, de a maldita autoridade que ele deseja, deixe ele seguir com seus planos, somente assim você conseguira manter esse território vivo — declarou Sheridan.
— Isso…! Você está se ouvindo, ele é uma criança! Hyan ainda nem fez quinze anos, dar a auto…
— Ah!! Que saco! O seu filho já despertou a muito tempo! Na verdade, ele provavelmente vai se tornar mais forte que você em poucos meses… — declarou Sheridan diretamente, cortando as palavras de Lytian.
— Não é da minha responsabilidade relatar os fatos, mas… Tsk! Se continuar assim, vocês dois somente iram se destruir. Eu não quero vê-los cometer o mesmo erro… — Resmungou desanimadamente Sheridan, puxando uma cadeira, começando assim a recontar tudo o que sabia.
— Você… você está brincando, certo? — indagou Lytian estranhamente, sua aparência estoica tinha completamente desaparecido, e tudo o que podia se ver era um homem perdido, confuso e indeciso.
— Eu queria estar brincando. Contudo, é uma simples e pura verdade, não existe um Mestre Ferreiro. Além disso, seu filho de fato despertou, como montou um Rei Bestial e lutou com um enorme grupo de mercenários.
— E ainda o mais impressionante, ele detém lembranças de uma pessoa que viveu no futuro, assumindo uma segunda identidade conhecida como Arcanista — proclamou Sheridan, vendo estranhamente a mente de Lytian sendo envolvido por um enorme turbilhão.
— Ele… ele ainda pode ser realmente considerado meu filho…? — murmurou hesitantemente Lytian, sentindo um grande desconforto em seu peito com essas palavras.
— Isso… eu… eu não posso lhe dar uma resposta, cabe a você decidir por si mesmo — declarou Sheridan, escolhendo assim se retirar silenciosamente.
Sozinho, ficando distraído por um longo tempo, Lytian, pela segunda vez em sua vida, seus olhos continham uma grande confusão e vazio.
A última vez que se sentiu assim perdido, foi quando seu pai morreu logo após se casar na tenra idade de quinze anos. Como não tinha uma mãe, depois disso, se tornou um alvo fácil para todos os nobres na região, que queriam engolir sua família, possuindo todos os seus pertences.
Lytian ainda se lembra como se sentiu desamparado, tendo ninguém para confiar, ao qual teve que lutar com unhas e dentes para sobreviver. E foi também nessa época que sua disposição espontânea e gentil desapareceu completamente.
Afinal, tendo que se mudar para sobreviver, para permanecer seguro, suas emoções não podiam ser facilmente vistas, mesmo que tivesse que mentir, tinha que fazer isso com uma expressão estoica e fria.
E para chegar nesse patamar, para sobreviver, Lytian perdeu muitas coisas, principalmente o afeto da mulher que mais amava nessa vida.
Desta forma, sem saber quando começou; Lytian se viu andando pelos corredores a noite, era desolado e frio, muito correspondente com sua atitude, pelo menos, era assim que as pessoas se referiam a ele por trás de suas costas.
Assim, perdido em pensamentos, começando a lembrar todo o percurso que fez até chegar em sua posição. Lytian começou a ponderar se realmente tinha escolhido um caminho errado. Confuso, indeciso, antes que percebesse se deu de frente com uma pessoa.
— Lytian…? — indagou suavemente Adália, parando de observar a noite estrelada, um hábito que criou antes que percebesse com a saída de seu filho do castelo.
— Adália… eu … eu não esperava que você gostasse de observar as estrelas — falou inconscientemente Lytian, esquecendo de pensar cuidadosamente em suas palavras, percebendo assim seu ato vergonhoso.
— Eu… eu me sinto sozinha desde que nosso filho saiu… como não sei para onde ele foi… observo as estrelas, pedindo que me mostrem o caminho — explicou graciosamente Adália, tentando se lembrar quando foi a última vez que teve esse tipo de conversa com seu marido.
Afinal, nesse momento, Adália sentiu que aquela barreira chamada “autoridade” tinha desaparecido, tornando mais fácil falar com seu marido, algo que não presenciou por muitos anos, lembrando-se do amor fervoroso e inocente que teve por esse homem em sua juventude.
Lytian, ouvindo as palavras de sua esposa, o sorriso sereno diante a luz da lua e das estrelas, sentiu seu coração bater incontrolavelmente.
Não por algo que o surpreendeu; mas devido a um sentimento de proteção, querendo proteger aquela frágil figura sob seus braços, algo que sabia que não merecia, reprimindo intensamente seus sentimentos.
Mas, nesse momento, tomando os mesmos hábitos que fez durante tantos anos, sem saber, lembrou das palavras ferozes de seu filho, quando sentiu seu coração apertar violentamente, quando inconscientemente suas palavras saíram.
— Adália… como você agiria se nosso filho mudasse consideravelmente, tanto que não fosse possível ver um vislumbre de seu antigo ser… — indagou Lytian, olhando para sua mulher, que sorriu lindamente diante a luz da lua.
— Eu ouvi sobre o que aconteceu no escritório, e apesar de não saber em detalhes o ocorrido, também fiquei assustada com sua abrupta transformação…
— Entretanto, Lytian; quando o presenciei, quando o abracei, não julguei por sua aparência, não julguei por seu discernimento… foi o meu coração que me disse que aquela pessoa é definitivamente meu filho — explicou Adália gentilmente.
— Não importa quanto tempo passe, não importa o quanto ele mude, foi eu que lhe dei à luz, não importa os truques que as pessoas façam, não importa os rumores, meu coração nunca irá errar.
— Aquele menino é definitivamente nosso filho, Lytian… — declarou Adália, olhando com uma tremenda convicção seu próprio marido.
Ba-dum! Ba-dum!
Ouvindo suas palavras, Lytian pela primeira vez escutou verdadeiramente seu coração. E antes que percebesse, estava abraçando gentilmente sua esposa em seus braços.
Porém, uma leve resistência veio contra seu peito.
E voltando à realidade, se recompondo, vendo Adália o afastar gentilmente, Lytian soltou seu aperto, mas estranhamente suas mãos não queriam soltar seu corpo.
— Adália… Eu sei que não mereço, eu sei que a muito tempo decepcionei as pessoas que realmente são importantes para mim… — expressou Lytian, tomando um fôlego durante suas palavras.
— Mas… Eu ainda preciso saber, eu posso ser perdoado, eu posso ser novamente amado por você e por meu filho?
— Eu ainda posso ter essa ínfima esperança… — expressou Lytian, sentindo as mãos suaves de sua esposa empurrando seus braços, tornando-o abaixar inconscientemente seu rosto.
— Seu maldito homem tolo! O que você esperou ao me ver permanecendo nesse lugar por tantos anos… você sabe quanto tempo me fez esperar? — Desabafou Adália, tornando Lytian a olhar abruptamente para o seu rosto, aturdido.
— Eu já estou velha, não despertei minha energia interna, estou fadada a morrer feia e mal-amada. Enquanto você, sempre será meu cavaleiro brilhante, encantando a todos com seu heroísmo… — declarou Adália inesperadamente em lágrimas, sorrindo diante a luz da lua.
Vendo essa cena, Lytian sentiu seus olhos a muito tempo secos, umedecerem. E abraçando aquela delicada mulher em seus braços, Lytian finalmente percebeu.
Um homem deve enfrentar o mundo com uma expressão estoica e fria, não demonstrando seus sentimentos a seus inimigos, companheiros ou até mesmo seu povo.
Mas nunca deve, definidamente, esconde-los de sua mulher, ela deve ser a única a ver sua verdadeira face, sua fraqueza e seu frágil coração.
Desta forma, pela primeira vez em quase quinze anos, Lytian deixou o amor florir por seu coração gelado, demonstrando verdadeiramente a vontade de proteger aquela bela mulher em seus braços, sentindo seu calor se espalhando vagarosamente por seu ser.
Adália, que já tinha desistido dessa realidade impossível, sentiu seu coração se agitar com uma emoção a muito esquecida.
E naquela noite, ambos dividiram o quarto pela primeira vez, deixando que suas emoções demonstrassem verdadeiramente os seus sentimentos.