A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 41: A transformação

 

 

 

— Garoto. Porque voltamos para esse lugar? Não me diga que você planeja enterrar o cadáver do Rei Bestial aqui? — indagou Sheridan de forma estranha, sabendo que o corpo de tal ser era um tesouro inestimável.

— Velho, não seja ridículo; por mais que tal ideia passasse por minha mente, mesmo se eu o enterrasse, outras bestas monstruosas ainda o alvejariam com seu faro aguçado, começando uma disputa por sua posse — esclareci, revirando os olhos diante sua atitude.

— Além disso, não existe tal formalidade na selva, qualquer cadáver não passa de comida para os sobreviventes… — Bufei, olhando entristecidamente a cena em minha frente.

— Eu… eu somente o retirei para que meus irmãos pudessem se despedir… — falei sutilmente, vendo os dois filhotes chorando suavemente diante o cadáver.

E deixando que os filhotes desabafassem suas emoções, em um momento posterior acabei guardando o cadáver no Sharky. Quando indiquei que os mineradores avançassem com seu trabalho, ao qual se dispuseram a participar tanto da mineração como no cuidado dos filhotes.

Porém, sinceramente, não senti muita confiança nesses homens. Nesse momento, sem palavras diante suas atitudes, eles estavam com uma expressão vazia, olhando até então medrosamente para o cadáver gigante de Asuma.

Bem, não sei se tinha sido uma boa ideia, mas acho que era natural se borrarem diante tal existência, mesmo que estivesse morta.

Enfim, cansado, deixando essas pessoas de lado. Concentrando-me no meu verdadeiro objetivo, me aproximei da imensa cratera no fundo da caverna, retornando assim o mar de sangue ao seu legítimo lugar, enquanto o observava em silêncio.

— Garoto. Eu sei que você tem seus planos. Entretanto, não force as coisas, tal tesouro natural é um veneno para os humanos. — Alertou Sheridan, observando-me peculiarmente.

— Mesmo que você tenha cultivado essa tal técnica secreta, isso ainda não impedira do seu corpo sofrer com uma intensa dor, no pior dos casos, você pode acabar morrendo. — Aconselhou Sheridan, considerando minha atitude insana ao se refinar em tal ambiente.

— Eu compreendo sua lógica, Sheridan. No entanto, você subestima os meus inimigos, aquela transformação é só uma parcela de suas capacidades.

— Além disso, o Demônio Sanguinário é um dos meus “muitos” inimigos. Eu não tenho tempo para cultivar pelos métodos seguros — respondi, vendo o silêncio do meu partido.

Passos! Passos!

— Eu também irei… — declarou Elise, ficando ao meu lado.

— Elise, você sabe que não despertou sua energia ainda, certo? Mesmo que utilize minha energia interna para ajudá-la, se um imprevisto ocorrer, você pode morrer.

— Além disso, não posso garantir que tal procedimento não será extremamente doloroso — expliquei, observando sua expressão decidida e teimosa, não mudando sequer um milímetro diante minhas palavras.

— Suspiro. Você de fato é uma pessoa única, Elise — comentei, vendo sua expressão surpreendida, me dando um lindo sorriso.

— Lunáticos — resmungou Sheridan ao lado, revirando os olhos.

— Todos, eu não sei quanto tempo pode durar esse procedimento. Contudo, contarei com vocês para lidar com os filhotes, assim como minerar as Pedras Xuan — falei, acenando sutilmente com a cabeça para cada presente.

Assim, decidido, tirando duas Frutas do Desabrochar Celeste, estendi uma a Elise, dizendo:

— A Fruta do Desabrochar Celeste tem a capacidade de nutrir a Alma e o Espírito, isso irá ajudar a suportar a intensa transformação que seu corpo irá sofrer — expliquei, começando a comer a fruta, quando estendi a mão em sua direção, sendo pega firmemente por Elise.

E sem dizer mais quaisquer palavras, olhando uma última vez para seu rosto decidido, a puxei, mergulhando determinadamente nas profundezas do mar de sangue.

Seja dito a verdade, o processo seria extremamente doloroso.

E no momento em que pulamos, pude sentir minha pele sendo alvejada por milhares de agulhas, mesmo que convergisse apressadamente minha energia interna entre nossos corpos, ativando as runas pertencentes a técnica secreta, tudo era muito doloroso.

Nesse momento, sentindo tal dor, não precisava mencionar Elise. Somente por sentir o seu aperto violento no entorno da minha mão fazia o meu coração sentir um pouco de arrependimento.

Mas tal processo era necessário, se quiséssemos vencer meus inimigos e proteger minha família, tínhamos que passar por uma transformação, concluindo assim a cultivação da técnica secreta.

Claro, Elise não precisava enfrentar isso de frente, e como era eu que estava controlando a energia interna para moldar nossos corpos, era o único que precisava ficar consciente.

Assim, induzindo minha energia em direção a sua consciência, a forcei em um estado adormecido, tornando mais fácil a sua transformação.

Rangido!

Sentindo algo rangendo dentro do meu corpo, a energia monstruosa que alvejava minha pele passou a invadir meus músculos, carne e sangue.

E passando um longo tempo nessa etapa, sentindo meu corpo ranger constantemente, apesar da dor, senti uma sensação inexplicável de força se espalhando em cada canto, em cada fibra do meu ser.

Era algo irreconhecível mesmo com a minha vasta experiência, era como se eu estivesse moldando um novo corpo por inteiro.

E sem saber quanto tempo se tinha passado, perdendo a completa noção do tempo, continuei a convergir com cuidado a energia monstruosa por nossos corpos.

Desta forma, sentindo que em um momento o meu corpo se acalmou com as intensas transformações, prevendo que avançaria para a próxima etapa. Senti a energia monstruosa convergir para os meus ossos, representando a última parte da transformação.

Assim, sentindo uma dor extremamente dolorosa; ao qual não consegui evitar de me debater, essa situação quase me obrigou a largar o meu aperto sobre a mão de Elise, que por sorte não teve uma reação tão intensa em seu estado adormecido.

Enfim, afirmando meu aperto no entorno de sua mão, me mantive cerrando os dentes por um longo período, quando senti finalmente a dor se tornando mais suportável, percebendo que o refinamento da estrutura óssea estava chegando ao fim.

E apesar do longo período de refinamento, o sangue não parecia ter se reduzido grandemente.

Na verdade, olhando por um momento para Elise que ainda estava em um estado adormecido, a partir do meu sentido espiritual, consegui sentir sua figura, e apesar de não conseguir ver perfeitamente seus traços, sabia que Elise tinha completado a transformação do seu corpo.

Desta forma, me preparando para sair do mar de sangue, acabei induzindo minha energia para despertar Elise.

Contudo, em um momento completamente súbito, assim como estava prestes a me mover, saindo do mar de sangue; estranhamente a energia monstruosa começou inundar descontroladamente o meu corpo.

Ohm! Ohm!!

Chocado, sem entender com precisão o que estava ocorrendo, a energia monstruosa convergiu totalmente fora do meu controle. Assim, uma quantidade ridícula de energia monstruosa começou a se infiltrar no meu Centro de Energia.

E sentindo uma dor latente surgindo em meu interior, não consegui entender tal desenvolvimento, quando a dor envolvendo o meu corpo começou a ficar cada vez mais insuportável.

E sentindo que estava prestes a perder a consciência, percebendo pequenos movimentos do corpo de Elise, não hesitei diante a situação, convergindo assim ao máximo a minha força, quando joguei decididamente Elise para fora do mar de sangue.

Felizmente, mesmo que não tivesse capacidade para joga-la muito longe, Sheridan parecia estar atento a situação, agindo apressadamente.

Aliviado, se livrando da minha maior preocupação; não entendi esse desenvolvimento, mas sabia que era algo benéfico a minha própria força, quando minha consciência se esvaiu fora do meu controle.

 

 

Acordando, estando um pouco confuso diante o incidente; recobrei a minha consciência, quando me vi em pé sob um espaço completamente escuro.

E observando com confusão esse ambiente, estranhamente esse espaço era me familiar.

Assim, tentando resgatar essa memória em minha mente, forçando as lembranças associadas a esse local, não consegui encontrar absolutamente nada a respeito.

Pressão! Turbulência!!

Contudo, conforme estava confuso, pensando sobre esse inesperado sentimento. Um som estranho de repente ecoou pela escuridão. E antes que percebesse, uma quantidade absurda de sangue começou a cair inesperadamente do céu escuro como breu.

A visão era realmente incrível. Entretanto, não consegui apreciar o espetáculo.

E o motivo disso era muito simples; pois se não me protegesse, poderia acabar me machucando, já que a enorme torrente de sangue parecia alvejar-me precisamente.

Baque! Estrondo!!

Ansioso, sem conseguir fugir a tempo; o meu corpo não correspondeu aos meus movimentos, e apesar de ser atingido, não senti absolutamente nenhuma dor.

Tudo o que consegui fazer no momento era assistir como um mar de sangue começou a se formar lentamente nesse espaço obscuro.

Ohm! Ohm!

Confuso, não sabendo o que estava acontecendo, de repente pequenas vertentes começaram a escapar do mar de sangue. E diante os meus olhos perplexos, as linhas constituídas de sangue começaram a formar símbolos.

Não, espere! Na verdade, era como se fossem minhas runas suspensas, enfeitando todo o espaço antes obscurecido completamente pela escuridão.

Estrondo!!

E conforme tentava interpretar esses padrões, de repente cinco chamas surgiram no entorno deste espaço. As cores seguiam a seguinte coloração. A primeira era Marrom, então uma Dourada, depois Azul, Verde e finalmente, Vermelho.

A princípio, observando as chamas de cinco cores diferentes, não conseguia entender o ocorrido.

Pelo menos, não até que as chamas começassem a ressoar com minha alma; foi somente nesse momento, sofrendo uma epifania, que meu corpo começou a tremer violentamente.

Em minha vida passada, em um momento crítico da minha vida, tinha desesperadamente fragmentado minha alma em cinco fragmentos, mantendo somente minha essência interna, quando gravei em minha própria alma a Matriz das Cinco Armas Arcanas, quase morrendo no processo.

Naquela época, usei esses fragmentos para aperfeiçoar e refinar cinco Armas Arcanas.

Entretanto, quando acabei morrendo e regressando para essa vida, minhas Armas Arcanas tinham desaparecido completamente, mesmo os fragmentos de minha própria alma tinham desaparecido.

Porém, nesse momento, percebi que tinha cometido um grande engano.

Os fragmentos de minha alma, que tinham no final se tornado novas formas de vida sob minhas mãos; não tinham desaparecido, mas estavam hibernando dentro do meu corpo devido ao meu estado enfraquecido.

E conforme despertavam, senti as cinco chamas engolindo desesperadamente o mar de sangue em minha frente.

Era como se estivessem morrendo de fome por um longo tempo, e conforme despertavam, podia sentir a alegria que as envolvia, interagindo ansiosamente com meu próprio espírito.

Contudo, conforme observava alegremente a situação, percebi que meus “filhos” não tinham as formas que as concedi em minha vida passada.

Se tivesse que comparar, eram semelhantes aos pequenos embriões que se formaram logo após eu fragmentar a minha alma, exceto que eram mais fortes e definidos.

Surpreso, ponderando calmamente, percebi que assim como adquiri um corpo “diferente” nessa vida, meus filhos também tinham perdido sua forma original, precisando que um novo corpo fosse moldado por minhas mãos.

Ohm! Ohm!!

E sentindo minha forma espiritual se dissipando, percebi que era o momento de retornar, onde acabei me despedindo brevemente dos meus filhos, sentindo assim que meu espírito estava prestes a ser puxado a força para fora deste espaço.

Desta forma, sentindo minha visão se distorcer, saindo assim do espaço; pelo canto dos olhos, no fundo do mar de sangue que se esvaziava em uma velocidade surpreendente, uma enorme porta de duas cores estava inesperadamente presente.

Ba-dum! Ba-dum!

E vislumbrando-a de relance, senti meu coração palpitar violentamente ao ver um enorme portão entre preto e branco, contendo assim diversas runas e correntes o envolvendo. Objetos aos quais nunca presenciei em minha vida, estando assim presentes dentro do meu corpo.

Infelizmente, por mais que quisesse me manter nesse espaço, descobrindo o motivo por ter tal coisa em meu interior; percebi que meu cultivo era extremamente fraco, impossibilitando-me de continuar observando esse estranho fenômeno.

Assim, presenciando meu corpo desaparecendo impotente. Prometi a mim mesmo que descobriria no futuro o que estava acontecendo, quando acabei sendo expulso do meu espaço espiritual.

— Oi! Garoto! Você está bem! Rapidamente! Responder! — gritou Sheridan, esbofeteando o rosto de Hyan adormecido pacificamente no chão.

— Urgh! — Sentindo uma dor inesperada em meu rosto, abri lentamente os meus olhos, quando percebia onde estava.

Desta forma, percebendo que estava de volta a caverna, estranhamente o local parecia diferente. Na verdade, não consegui encontrar rastros do mar de sangue.

Confuso, tentando me acalmar, lentamente presenciei o velho mago. Quando tentei me recompor, presenciando assim seus olhos estranhamente peculiares sobre o meu corpo.

— Aberração… — Sem explicar qualquer coisa, como se sentisse o meu olhar; Sheridan simplesmente resmungou, quando se levantava para sair.

— Hyan! Você finalmente despertou! — exclamou Elise se aproximando alegremente.

E ouvindo sua voz, inconscientemente olhei em sua direção, estando secretamente aliviado em meu coração. Contudo, quando meu olhar pousou em seu corpo, por um momento fiquei sem palavras.

Elise, que normalmente era uma jovem muito atraente, devido a sua idade, apesar de seu constante treinamento, ainda mantinha muitos traços infantis, como seu corpo ainda não expressava a sensualidade natural de uma mulher.

Entretanto, nesse momento, Elise tinha crescido por volta de vinte centímetros, seu corpo estava mais definido, seu busto estava modestamente mais aparente, onde mesmo seu traseiro estava levemente arrebitado, tendo seu cabelo antes em seus ombros chegando facilmente em sua cintura.

— Linda… — resmunguei inconscientemente, vendo Elise se envergonhar diante minhas palavras.

— Hmpf! Se eu fosse você, é melhor se controlar. Caso contrário, irá se arrepender amargamente… — Bufou descaradamente Sheridan, me olhando estranhamente.

E sentindo um estranho sentimento diante suas palavras, olhei para meu próprio corpo, percebendo tardiamente que estava somente com uma pele sobre minha cintura.

Surpreso, sentindo inesperadamente meu coração tremer, percebi quase tardiamente o significado de suas palavras, entendendo perfeitamente o desprezo do velho homem.

— Maldição. Vocês poderiam me dar um momento de privacidade? — perguntei depreciativamente, sentindo me envergonhado.

 

 


Um pequeno presente aos leitores...



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