Volume 1
Capítulo 34: A decisão
— Urgh! — Acordando com fortes dores, Amelia abriu seus olhos lentamente, percebendo assim que não conseguia reconhecer o ambiente em que estava.
E pressionando sua memória, tendo as lembranças aos quais queria esquecer vindo em sua mente, Amelia se lembrou das palavras cruéis que o homem sussurrou em seus ouvidos em sua extrema dor, quando sentiu seu coração sendo perfurado por diversas adagas.
Devastada, perdendo primeiramente seu amado marido, que corajosamente se voluntariou em busca de ajuda pela sobrevivência da vila. Amelia ainda lembrava do deboche dos subordinados do Mestre de Escravos falando dos corpos encontrados na floresta.
Então foi sua filha, que por mais que colocasse sua vida em risco, tudo o que poderia ver era sua figura frágil fugindo pela floresta infestada de monstros.
Arrasada, percebendo que perdera tudo e a todos que amava, Amelia se perguntou qual era o motivo de ainda continuar vivendo.
Barulho! Tenda se abrindo!!
Assim como Amelia estava perdendo rapidamente a luz presente em seus olhos, ela percebeu que alguém adentrou a tenda com uma tigela em mãos.
E vendo seu rosto; por um instante ela não conseguia acreditar, quando sua boca abriu várias vezes, mas as palavras não conseguiam escapar.
— Amelia! — Gritando, Dylan deixou a tigela cair de suas mãos, abraçando apressadamente sua esposa, que tremeu violentamente em seus braços.
— Eu… me desculpe… Dylan… nossa filha… eu… — Chorando, Amelia não conseguia dizer as palavras que corroíam seu coração.
— Está tudo bem! Está tudo bem, Amelia! Nossa filha está presente e segura. Quem deveria pedir desculpas sou eu! Desculpe por ser um homem fraco e patético, por não conseguir proteger nossa família…
— Eu prometo, de hoje em diante não deixarei que mais nenhum mal lhe aconteça… por favor, não me deixe… — Desabafou Dylan, tendo lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto escutava o choro amargo de sua esposa.
E após chorarem por um longo tempo, Dylan e sua esposa se acalmaram, quando as palavras naturalmente escaparam de suas bocas, dando evasão as suas emoções, preocupações, e finalmente o alívio.
Cansada, Amelia se sentiu sonolenta depois de tantas emoções, tendo seu marido indicando que descansasse sossegadamente.
E observando sua esposa dormindo, Dylan repassou os últimos dias em sua mente. As palavras que disse para sua esposa não eram mentiras, nunca em sua vida se sentiu tão impotente, tão desesperado ao ver o estado lamentável de sua mulher e filha.
Desta forma, como homem, como poderia ainda levantar sua cabeça quando sua filha e esposa sofreram tanto? Que tipo de homem ainda conseguiria manter seu orgulho diante de tais ocorrências?
Reafirmando sua convicção, decidindo tomar uma atitude em sua vida, Dylan saiu determinadamente da tenda. E vendo o acampamento, que se tornou cheio com a chegada dos sobreviventes, Dylan se dirigiu para a parte mais tumultuosa, vendo um jovem ajudando os sobreviventes a quebrar o selo de escravidão.
Determinado, andando em sua direção, dando passos firmes e convictos; ignorando os olhares de todos. Dylan se ajoelhou diante o jovem, quando encostou sua cabeça no chão, dizendo:
— Por favor, Jovem Mestre Hyan, deixe-me servi-lo! Posso não ser um cultivador, posso só saber golpear com uma picareta, mas meu corpo é forte… — expressou Dylan convictamente, enquanto as emoções o envolvia.
— Como sabe, a Vila Montales não tem mais salvação, minha família não tem mais um lugar para retornar…
— Mas enquanto eu puder fazer minha esposa e filha felizes, prometo suportar qualquer tipo de provação, então, por favor, me aceite! — Implorou Dylan determinadamente, não ousando levantar sua cabeça, esperando assim ansiosamente por minha resposta.
— Eu… — Surpreso, um pouco perdido com a repentina situação, fiquei verdadeiramente perplexo com o seu pedido, ao qual tive dificuldades para achar as palavras certas a serem ditas.
Passos! Determinação!!
E assim que estava pronto para dar minha resposta. Uma jovem rapidamente se adiantou, tomando a mesma posição de Dylan.
— Jovem Mestre Hyan, por favor, também desejo o servir, assim poderei compartilhar os fardos do meu pai.
— Além disso, quero agradecer por ter me salvado, assim como minha mãe. Se o Jovem Mestre Hyan permitir, desejo servir ao benfeitor da minha família!! — declarou Bella, curvando-se ao lado de seu pai.
— Benfeitor! Também desejo lhe servir!! Posso ser um simples minerador, mas até eu consigo compreender a magnitude que nos demonstrou hoje. — Clamou outro homem em meio à multidão.
Deslumbrado, ficando sem palavras com a convicção dessas pessoas, de repente um espetáculo se desenrolou diante dos meus olhos. E cada sobrevivente, sem exceção, desejou servir sobre minha liderança.
Honestamente, não sabia se era realmente a gratidão que moviam essas pessoas, ou se era o simples desespero ao ter seu antigo lar completamente destruído.
Contudo, nada disso importava, quando virei inconscientemente para Xim e os soldados assistindo a tudo.
— Jovem Mestre Hyan, se me permiti a palavra, quero também aproveitar a situação para dar minha resposta à sua pergunta… — proclamou Xim, contendo um sorriso sutil em seu rosto.
Sem terminar sua frase, Xim desembainhou sua espada, quando ficou sobre um joelho, estendendo-a com ambas as mãos, curvando-se sutilmente, demonstrando assim sua sinceridade.
Desembainhar! Ajoelhamento!!
Seguindo o exemplo, sem quaisquer palavras a serem ditas, cada soldado seguiu decididamente atrás de seu líder, puxando suas espadas e estendendo-a para seu senhor, demonstrando suas intenções.
— Pessoal, eu… eu estou sinceramente movido. Eu realmente não me considero um homem bom ou justo. Entretanto, nunca maltratei as pessoas ao meu lado — proclamei, presenciando cada olhar presente focando-se explicitamente em minha presença.
— E para comprovar esse fato, como também para agradecer sua escolha e lealdade, quando voltarmos para a Cidade de Eydilian, prometo despertar a energia interna de cada um dos presentes… — expressei, vendo as expressões dos presentes mudando violentamente.
— Apesar de vocês terem passado da idade para cultivarem, o despertar ira lhes trazer uma vida mais longa, assim como terão uma vida mais saudável…
— Quanto aos soldados, não menti sobre minhas palavras na noite anterior, quando voltarmos irei lhes ensinar pessoalmente, e no futuro, irei lhes atribuir o título de cavaleiro… — declarei, vendo o tumulto rapidamente crescendo, ao qual sinalizei.
— Eu entendo, sei que muitos de vocês tem suas dúvidas; entretanto, espero que sejam pacientes… Tudo o que peço é que não importa o significado das minhas palavras, tudo deve ser mantida entre nós, estamos entendidos? — Confirmei gentilmente, vendo o olhar chocado dos presentes.
— Jovem Mestre Hyan… Você… Você pode realmente despertar essas pessoas? — indagou Xim incredulamente, não acreditando em seus ouvidos.
Silêncio! Nervosismo!! Expectativa!!!
Ouvindo a pergunta que todos tinham em seus corações, o acampamento ficou em completo silêncio.
— Suspiro. Despertar as pessoas não é difícil. Enquanto dizem que os cultivadores são escolhidos, tudo isso não passa de meras bobagens, escondendo a verdade de todos — expliquei, vendo a expressão complicada de todos os presentes.
— A presença da energia interna é uma prova que estamos interligados com a natureza, participando evidentemente do ciclo da vida.
— Quanto ao motivo dos não-praticantes não conseguirem sentir a energia interna, é porque seus canais de energia estão atrofiados, aos quais são facilmente resolvidos com um determinado processo.
— Porém, as coisas não são tão simples. Se tais rumores fossem espalhados, problemas intermináveis surgiriam. O domínio humano é controlado pelos escolhidos, ou seja, a “nobreza” como gostam de serem intitulados… — expressei calmamente, olhando a miríade de emoções que os envolveu.
— Imaginem, o que aconteceria se cada pessoa nesse mundo pudesse despertar? Acham que os plebeus que foram por eras suprimidos ainda se manteriam calados? — declarei, vendo os presentes em completo silêncio.
— Portanto, tudo o que disse nesse lugar deve ser mantido em segredo. Caso contrário, não só minha família seria completamente erradicada, mais cada membro presente também seria morto; isso é um teste que estou concedendo a vocês.
— Além disso, estou falando todas essas coisas pois preciso de ajuda. Na verdade, estou precisando de pessoas ao meu lado, como podem ver, minha família essa infestada de escórias…
— O mundo que almejo não é assim, não me importo com a diferença entre plebeus e nobres, tudo o que vejo são pessoas.
— Independentemente do que digam, todos nos sangramos, todos nós temos sentimentos, como também pessoas que amamos — proclamei, vendo uma sutil mudança nos olhos dos presentes.
— Estou cansado ao ver pessoas nas ruas sendo mortas, estrupadas e violentadas… enquanto outros passam a ver e simplesmente viram a cara.
— Claro, não me considero um herói, sei que no mundo que almejo pessoas ainda irão sofrer longe dos meus olhos… — declarei calmamente, tornando meus olhos a brilharem com determinação.
— No entanto, esse foi o caminho que escolhi trilhar. Não sei se era isso que vocês esperavam ao oferecerem sua lealdade a mim.
— Contudo, esse é o tipo de pessoa que sou, irei devolver dez vezes a gratidão daqueles que me estenderam a mão. Entretanto, devolverei cem vezes mais intensamente a inimizade daqueles que decidiram me prejudicar.
— Enfim, deixando essas palavras. Agora é o momento, se você simplesmente foi influenciado pela atmosfera e se arrependeu de suas ações, basta se levantar e sair, não permitirei que ninguém lhe faça mal…
— Pelo contrário, prometo que irei acompanha-lo de volta a Cidade de Eydilian em segurança, como não irá sofrer nenhum tipo de retaliação — proclamei, vendo a multidão com um sorriso calmo, tendo ninguém se prontificando diante as minhas palavras.
— Entendo, acredito que mais palavras são desnecessárias. A partir de hoje estarei sob os seus cuidados. Quanto as questões diárias, qualquer problema pode ser direcionado as pessoas ao meu lado.
— Agora, preciso concluir uma questão importante, Dylan, por favor, acompanhe-me — declarei, vendo todos acenando suavemente em concordância.
— Meu Senhor… — disse nervosamente Dylan, estando em uma tenda sozinho ao meu lado.
— Não precisa ficar nervoso. Além disso, basta me chamar de Jovem Mestre Hyan como de costume, não é como se eu tivesse mudado somente com algumas palavras.
— Na verdade, pode ser um pouco indelicado da minha parte, já que sua esposa ainda está em recuperação, mas gostaria que me levasse para onde encontrou a Pedra Xuan — falei diretamente, vendo seu aceno em consentimento.
— Eu o levarei, Jovem Mestre Hyan. É o mínimo que posso fazer por você depois de salvar a minha família — responde Dylan honestamente.
Decidido, colocando meu objetivo em pratica, Dylan voltou para a tenda de sua esposa e filha, se despedindo brevemente de sua família, assim como fazendo seus próprios preparativos.
Quanto a mim, instrui os soldados a proteger a área e não saírem para caçar, já que ainda detinha bastante comida, mesmo com o aumento súbito de pessoas.
Na verdade, ainda estava um pouco inseguro, desconfiado que mais homens do meu tio estivessem perambulando pela área, algo inevitável com o andamento das coisas, e com a morte do grupo do Mestre de Escravos, a situação provavelmente só iria piorar.
Portanto, ciente que era melhor que se mantivessem juntos, assim poderiam evitar o máximo possível de quaisquer tipos de eventualidades.
Enfim, terminando de fazer os meus preparativos, me despedindo de todos, coloquei minha máscara, indicando para Dylan que também vestisse a mesma, quando começamos a partir.
Entretanto, no momento que nos dois estávamos saindo, uma pessoa veio rapidamente em nossa direção, trajando também sua máscara.
— Você não pretendia partir sem mim, certo? — resmungou Elise, tendo as mãos sob a cintura, enquanto me olhava inconformadamente.
— Elise, posso te pedir algo? — perguntei impotente, vendo o seu olhar ficando visivelmente desagradável.
— Não! — respondeu Elise diretamente, enquanto ocupava um lugar ao meu lado, não dando-me oportunidade de se quer questiona-la.
— Pensei que esse seria o caso. Vamos! — Suspirei indefeso, saindo imediatamente em direção ao meu objetivo.