A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 25: O salão de tesouros (2)

 

 

 

Continuando, chegando eventualmente na metade do salão, estava um pouco decepcionado com os tesouros da minha família, quando finalmente vislumbrei alguns itens que realmente me interessavam.

O primeiro deles era as Pedras Elementais, um recurso geralmente originado em locais com grande concentração de energia elemental, como vulcões, lagoas, assim como em grandes cavernas.

Lugares que poderia proporcionar grandes perigos, sendo desbravados por corajosos aventureiros.

E apesar de seu valor não ser elevadamente considerável, seus usos normalmente eram destinados a serem usados como matérias no processo de refinamento de armas elementares, ou assim que deveria ser o caso, tendo as técnicas de forjamento em sua maior parte perdidas, restando somente algumas pertencentes aos reinos superiores.

Na verdade, esses recursos eram mais utilizados em matrizes simplórias, como em armazenamento de alimentos, aquecedores de ambiente, entre outras funcionalidades. Tudo com o objetivo de facilitar as comodidades da aristocracia, uma perda óbvia de recursos, usando pérolas para alimentar os porcos.

Claro, nem todos usavam esse precioso recurso dessa maneira descabida. Os magos usavam como fonte de energia externa, assim como reatores mágicos, amplificando suas matrizes mágicas, algo inteligente de se fazer, desde que na própria arte arcana existiam métodos semelhantes.

O segundo, foi Cristais da Alma, um recurso verdadeiramente raro, onde precisava de um local abundante em energia, exceto que nascia de terrenos cobertos de incontáveis cadáveres, normalmente originando-se em cemitérios de bestas monstruosas ou antigos campos de batalha.

Esse recurso em particular era bastante precioso para mim atualmente, pois tinha uma ótima ressonância com a minha Energia Mental, podendo até servir como uma pequena central de comando em determinadas Matrizes Arcanas.

E o terceiro, o que realmente acabou me deixando satisfeito, era Titânio e Mithril. Duas ligas metálicas criadas respectivamente por Anões e Elfos. Sendo o primeiro menos valioso, já que algumas tribos de anões estavam dispostas a comercializar com os humanos.

Quanto ao segundo, sendo bastante valioso e versátil, era normalmente acompanhado com grande derramamento de sangue, portanto, uma preciosidade no domínio humano.

— Suspiro. Eu vou levar somente esses itens por enquanto. — Ordenei, pedindo que meu pai os colocasse dentro do Anel Interespacial.

— Urgh! Você realmente parece o discípulo de um Mestre Ferreiro — murmurou Lytian, não conseguindo acreditar na decepção nítida no rosto de seu filho, vendo-o não olhar duas vezes para itens que normalmente deixariam qualquer cultivador entusiasmado.

Ignorando-o, continuei seguindo em frente, sem conseguir vislumbrar algo útil novamente.

Assim, quase chegando ao final do salão de tesouros, tendo minha esperança desvanecendo lentamente; deparei-me com algo realmente inacreditável.

Em minha frente, bem diante dos meus olhos, estava presente a carcaça de uma antiga besta monstruosa.

E muito semelhante a um enorme lagarto, existia incontáveis pilares de metais envolvendo seu corpo, ou mais precisamente, o metal era seu próprio corpo, era quase como um mar de espinhos, que brilhavam reluzentemente diante os feixes de luzes vindos das pedras de luz dentro do salão.

Esse fenômeno demonstrava claramente a nitidez e a pureza que detinham esses metais, mas não era tudo o que realmente tinham para impressionar.

Na verdade, envolvendo todos esses pilares metálicos, veias avermelhadas contornavam o seu corpo, pulsando em uma certa frequência, em um indescritível tom escarlate.

A criatura era tão única, que você não poderia encontrar olhos, ouvidos, ou qualquer cavidade nasal; somente existia uma enorme boca, contendo uma infinidade de presas.

Uma situação que não era ocasionado por um ferimento, mas simplesmente o fato que além de sua boca, veias pulsantes iguais que surgiam por seu corpo convergiam em uma quantidade maior em seu rosto.

“Ual! Nunca pensei que encontraria esse tipo de criatura dentro do Salão de Tesouros. Um Abyssador, sem sombras de dúvida, algo que talvez esteja repousando aqui desde a criação da Família Fayfher.

“Além disso, posso ver que morreu devido ao dano em sua alma, não por ferimentos externos. E o mais incrível, ainda detém um traço de força vital… mantendo assim um fragmento persistente de sua alma, mas não o suficiente para traze-lo de volta dos mortos…”. Considerei, tendo meus olhos brilhando exultantemente.

“Na verdade, se eu obtiver com sucesso esse “Metal Demoníaco” conseguiria provavelmente forjar uma arma incrível, poderia até mesmo materializar minha sede de sangue em algo concreto, podendo ser de grande utilidade nos confrontos futuros”.

“SIM! Eu devo absolutamente obter esse cadáver”. Pensei interiormente, cerrando meus punhos em determinação, quando me virei decididamente para vislumbrar o rosto do meu pai.

— Não! Esse é o maior tesouro da nossa Família Fayfher. Sem o consentimento de todos os anciões, ou recebendo em troca um grande benefício, absolutamente não irei entregar esse tesouro a ninguém — respondeu decididamente Lytian ao ver o olhar cobiçoso de seu filho.

— Mas…! — Tentei contestar, mas sem sucesso, vislumbrando a resolução em seus olhos.

— Hyan, deixei claro anteriormente que alguns itens não poderiam sair desse salão em hipótese alguma, e esse cadáver é um deles…

— Esse item é algo deixado por nosso ancestral, e até hoje, não surgiu uma única pessoa que pudesse usar sua carcaça para forjar uma indescritível armadura — falou Lytian determinadamente, não se deixando levar pelas palavras persuasivas de seu filho.

Impotente, lançando lhe um olhar descontente, não consegui de forma alguma mudar sua decisão.

Assim, desapontado, perdendo até mesmo um pouco da empolgação que detinha anteriormente na procura por tesouros, estava prestes a anunciar nossa partida, acreditando que não existiria mais nenhum item relativamente valioso. Quando, inesperadamente, algo me chamou atenção pelo canto dos olhos.

E diferente da carcaça do “Abyssador”, que era deslumbrante com um único olhar. Ao seu lado, repousava um simples saco de moedas.

E contendo uma aparência completamente negra, detendo um cordão dourado contornando belamente sua abertura.

Era um item bastante comum dentre os aldeões, tornando as pessoas pensarem por que diabos tal item simplório estaria repousando no salão de tesouros da Família Fayfher.

— Você está interessado no saco de moedas? — indagou Lytian, surpreso.

— Tsk! Não vai me dizer que também é um item que não pode ser retirado do Salão de Tesouros? — Bufei, olhando-o indignadamente.

— Não. Não necessariamente. Na verdade, esse saco de moedas vem com uma longa história em nossa família, muito de nossos antepassados o usaram como um símbolo de nossa vontade e ambição — expressou Lytian distraidamente, como se lembrasse da história de sua família.

— Exceto, após o surgimento dos anéis interespaciais, se tornou algo dispensável. Mas se gostar, ainda detém algum valor, tendo uma alta resistência e uma pequena capacidade regenerativa — comentou Lytian, sentindo-se confuso com a expressão incrédula de seu filho.

— Algum problema? — indagou Lytian, vendo que seu filho não conseguia se recompor.

— *Tosse*… Não. Nenhum problema. Vou definitivamente leva-lo — falei decididamente, enquanto o amarrava apressadamente em meu cinto.

— Bom… fico feliz que gostou. Quando era mais novo, o utilizei por muitos anos, realmente é um ótimo item. Nunca foi destruído independentemente do quão feroz foi as batalhas que participei. — Acenou Lytian satisfeito, não percebendo o sorriso rígido de seu filho.

— Então? Gostaria de continuar? — indagou Lytian solenemente.

— Não, estou satisfeito com os itens que obtive. Entretanto, se puder me disponibilizar algumas pedras primitivas, seria grato… — Ressaltei, percebendo que não detinha nenhuma no salão de tesouros, normalmente sendo utilizada na manutenção e sustentação de formações.

— Claro, eu poderia fornecer um punhado, mas… gostaria de fazer outra pergunta. — Sondou Lytian, vendo a expressão indignada de seu filho.

— Esqueça. Não preciso de mais nada, vamos embora. — Bufei indignadamente, caminhando assim para a saída.

— Espera. Não precisa se zangar, estava apenas brincando. Irei pedir que um dos guardas pegue algumas pedras primitivas para você em nosso armazém — expressou Lytian, balançando a cabeça em desapontamento.

Suspirando, Lytian imaginou quando as coisas começaram a mudar tão drasticamente. Quando se lembrou claramente do passado, na época que seu filho tremia de medo e respeito sempre que colocava uma aparência forte. Mas agora… Ah! A vida de um pai as vezes era difícil.

Portões se fechando!

— Então… você está partindo, certo? — perguntou Lytian. Suspirando, vendo seu filho sorrindo desajeitadamente para sua companheira, que ficou bastante tempo esperando o seu retorno.

— Sim. Tenho muitos preparativos a fazer. Além disso, por favor, peça desculpas a mãe em meu nome. Não sei quando poderei visita-la, mas acredite, irei zelar por minha segurança apropriadamente — esclareci, vendo a impotência em seu rosto.

Assim, pegando as pedras primitivas que um soldado trouxe, indiquei para Elise que deveríamos pegar o nosso caminho.

Honestamente, fiquei surpreso com o comportamento calmo e composto de meu pai depois de tantas revelações; deixando assim um gosto estranho na boca, tornando-me a sentir que algo parecia definitivamente fora de ordem.

Contudo, não sabendo necessariamente do que se tratava, apesar da sensação que sentia, tudo o que poderia fazer no momento era esperar e observar pacientemente.

Afinal, independentemente de seu objetivo, sabia que suas ações não deveriam representar um perigo para os meus planos. Portanto, me mantive composto, esperando assim as repercussões que ocorreriam depois de revelar tantos segredos

 

 

Observando seu filho partindo do castelo através de uma das janelas, esperando que fosse embora, Lytian Fayfher voltou a caminhar pelos corredores, retornando assim para o salão de tesouros.

Em seu interior, se dirigindo para uma área reclusa, ao qual seu filho não tinha chegado a prestar a devida atenção.

Uma runa estava gravada disfarçadamente entre os diversos tesouros, quando a pressionou, tendo uma passagem secreta surgindo, ao qual Lytian percorreu com um rosto severo.

E andando por um breve período, um pequeno laboratório poderia ser visto, ao qual, solenemente, sem se quer prestar atenção ao seu convidado. Um homem velho, detendo uma longa barba branca, vestia uma linda e magnifica túnica vermelha.

Ao vê-lo, Lytian não se adiantou, mas esperou pacientemente, não querendo assim atrapalhar o trabalho do velho homem.

Era quase como se naquele lugar sua posição e autoridade como Senhor Feudal não representasse absolutamente nada, demonstrando assim o quão especial era este indivíduo.

— Eu esperava que você retornasse, mas foi muito mais rápido do que imaginei… não teme outros descobrirem sobre minha presença? — Bufou o velho homem, sem tirar os olhos de seu trabalho.

— Grande Mago Sheridan. Acredito que nada passe despercebido de seus olhos e ouvidos… fico pensando… o que achou do meu filho?

— Apesar de seu temperamento um pouco insolente, acredito que não lhe falta talento — expressou Lytian nervosamente, sabendo que a existência a sua frente era alguém que mesmo seu rei, a quem devia lealdade, não iria facilmente desrespeitar.

— Heh! Ouvi muitos boatos de seu filho; e seja dito a verdade, é alguém bastante detestável. Não são muitos indivíduos que tem a ousadia de dizer que meu trabalho é somente engenhoso nesse mundo.

— Além disso, não importa como tente, seu maior desejo é impossível, não pretendo ter discípulos…

— Mas devo admitir que a atitude de seu filho anteriormente foi bastante intrigante; portanto, não custa vigia-lo um pouco. Entretanto, devo esclarecer para que não tenha a ideia errada, só desejo ter um encontro com esse seu suposto mestre — esclareceu Sheridan, bufando ao ver seu sorriso desinibido.

— Sem problemas, Grande Mago Sheridan. Estou ciente que não tenho nenhum direito de lhe pedir quaisquer favores, e que somente sua presença é uma grande honra para a minha família.

— Porém, espero que nesse curto período, por favor, cuide do meu filho indigno. Ele ainda é jovem, e está naquela fase de rebeldia, talvez nem saiba o quão perigoso é a questão que está se envolvendo. — Pediu Lytian humildemente, agradecendo ao velho, mesmo que sua atitude a respeito tenha sido somente bufar diante o seu apelo.

Afinal, como a única pessoa ciente de sua presença atualmente, Lytian estava mais que consciente de sua força avassaladora, pode se dizer que manter tal especialista ao seu lado foi tudo devido a um encontro fortuito.

Ainda mais quando não existiam magos no Reino Ershter, ou melhor dizendo, talvez detivesse um ou dois magos na corte real, mas eram magos medíocres em relação a existência presente em sua frente.

Enfim, Lytian ainda se lembrava quando encontrou o velho mago gravemente ferido, quase à beira da morte. E após salva-lo, o Grande Mago Sheridan lhe prometeu devolver o favor.

Claro, por mais que o favor de um grande mago fosse algo imensamente precioso, como lorde de uma pequena terra perto da fronteira do domínio humano, tal benefício não tinha muito valor.

Mas conforme conversavam durante sua recuperação, a situação acabou por se desdobrar ao seu favor. E apesar de nunca descobrir quem eram os seus perseguidores, o grande mago não tinha para onde ir, foi nesse ponto que Lytian aproveitou a oportunidade e lhe ofereceu abrigo.

Movido pelo gesto, Sheridan reconstruiu o salão de tesouros de sua família, assim como montou a matriz de proteção em seu entorno.

E após concluir o seu trabalho, fingiu partir da cidade, tomando o devido cuidado para não deixar nenhum de seus rastros e informações para seus inimigos, quando voltou ao local, se estabelecendo secretamente.

Desde então, mesmo se mantendo oculto, o grande mago ajudou seu território de diversas formas, permanecendo nesse local por quase uma década. Claro, sua presença também consumiu quantidades exorbitante de recursos, mas a Família Fayfher não poderia reclamar com os conhecimentos que adquiriram com sua presença.

No entanto, o Grande Mago Sheridan tinha encontrando um impasse em sua pesquisa, querendo sair para o mundo exterior em busca de respostas. Assim, Lytian fez o seu melhor para mantê-lo presente na Família Fayfher, conseguindo persuadi-lo devido ao seu débito.

Porém, devido a esse incidente, Sheridan deixou claro que não interferiria mais de forma alguma com os assuntos mundanos, caso tivesse que se expor, ajudaria a Família Fayfher uma única vez, então consideraria seu débito quitado, partindo imediatamente do território.

— Bem. Eu irei partir agora — declarou Sheridan com indiferença. Olhando assim pela primeira vez o rosto que o observava atentamente da distância.

E sentindo seu olhar, Lytian tremeu sutilmente, sendo envolvido abruptamente por uma sensação de ardência; era como se seu próprio sangue estivesse começando a ferver.

E sabendo que não poderia suportar por muito tempo seu olhar, Lytian rapidamente abaixou sua cabeça, tornando-o sempre a relembrar como era fraco e impotente diante dessa poderosa figura.

Desta forma, bufando ao ver sua postura frágil, Sheridan não tinha vontade de dizer mais nada. Ele estava mais que ciente de suas intenções ocultas. Entretanto, não se importava nenhum pouco, pois diante de sua força, esquemas eram desnecessários.

Além disso, Sheridan tinha um pressentimento que logo teria sua oportunidade para pagar o seu débito.

Assim, com um movimento de sua mão, uma luz reluzente envolveu todo o laboratório. E diante o chocado Lytian Fayfher, Sheridan tinha desaparecido completamente, sem deixar quaisquer vestígios.

 



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